quarta-feira, 28 de abril de 2010

Celibato é discutível

Correio Braziliense - 28/04/2010

Celibato é discutível
Depois de relacionar pedofilia à homossexualidade, o cardeal Tarcisio Bertone, o número dois do Vaticano, deu ontem mais uma declaração que pode render polêmica. “O celibato não é intocável”, afirmou o religioso em uma entrevista à televisão pública catalã TV3, acrescentando que “existem igrejas orientais e também católicas que têm padres casados”. Assinalou, entretanto, que no catolicismo o celibato é uma tradição positiva e frutífera. “A não observância do celibato, que leva a graves riscos, e tem consequências que, depois, são muito dolorosas e prejudiciais”, destacou o secretário de Estado do Vaticano em visita oficial a Barcelona. Em uma entrevista ao jornal La Vanguardia, Bertone disse no domingo que a proliferação de escândalos de pedofilia entre os religiosos católicos não tem uma relação direta com o celibato dos padres.

PARLAMENTO DA UCRÂNIA
Guerra de ovosDurante uma sessão tensa, que provocou violentos incidentes entre deputados os e grandes protestos nas ruas de Kiev, o Parlamento da Ucrânia aprovou ontem, com os votos de 236 dos 450 representantes (10 a mais que o necessário), um polêmico acordo sobre a permanência da frota militar russa na Crimeia., na costa do Mar Negro, até 2042. Na Duma, a Câmara Baixa russa, o acordo foi aprovado por unanimidade: 410 deputados votaram a favor e nenhum contra. O texto deve ser votado na quarta-feira pelo Conselho da Federação, a Câmara Alta. No fim da sessão, o presidente da Câmara dos Deputados da Ucrânia, Volodimir Litvin, foi atacado por ovos. Ele encerrou a votação protegido por dois guarda-chuvas abertos por assessores.

MALCOLM X
Assassino está livreDepois de passar mais de quatro décadas na prisão, Thomas Hagan, assassino do ativista dos direitos dos negros Malcolm X, ganhou ontem liberdade condicional. De acordo com Linda Foglia, porta-voz do departamento de serviços penitenciários de Nova York, ele ainda deverá passar duas noites por semana numa prisão comum, em Manhattan. Malcolm X, um dos mais carismáticos líderes negros dos Estados Unidos, foi morto a tiros em Nova York durante um discurso, em 21 de fevereiro de 1965, no Harlem. Recebeu 13 tiros, na frente da mulher, Betty, que estava grávida, e de suas quatro filhas. Enquanto Martin Luther King apostava em uma resistência pacífica como arma para enfrentar o racismo, Malcolm X defendia a separação das raças, a independência econômica e a criação de um Estado autônomo para os negros. Viajava pelos principais estados americanos para pregar suas ideias.

EM PARIS
Noriega encarcerado
A justiça francesa ordenou ontem a prisão preventiva do general panamenho Manuel Noriega, extraditado dos Estados Unidos, enquanto aguarda julgamento, em Paris. Ele é acusado de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico. O juiz que presidiu a audiência pública no Palácio de Justiça da capital francesa considerou que a libertação de Noriega, de 76 anos, poderia resultar na fuga do ex-ditador. “A prisão preventiva é o único meio de mantê-lo à disposição da justiça”, explicou o juiz, que encaminhou Noriega para a prisão de Santé, no sul de Paris. Na decisão, foi feito um pedido às autoridades penitenciárias para que acompanhem o estado de saúde de Noriega, que disse sofrer de hipertensão. Os advogados Olivier Metzner e Yves Leberquier, defensores de Noriega, vão recorrer nos próximos dias.

ITÁLIA
O fantasma do VesúvioO despertar do vulcão Vesúvio, localizado em frente à baía de Nápoles e a nove quilômetros de distância da homônima cidade do sul da Itália, representa o “maior problema de segurança” do país, afirmou o diretor da Defesa Civil italiana, Guido Bertolaso. “Por enquanto o vulcão está tranquilo, mas sabemos que no dia em que despertar, a situação se tornará imediatamente dramática. Cidades inteiras estão aos pés do Vesúvio e podem ficar submersas em caso de erupção”, disse Bertolaso. Nas 18 cidades da região vulcânica vivem entre 500 mil e 650 mil pessoas. Alguns estudos sustentam que a próxima erupção poderia ser muito violenta e comparável à registrada em 1631, que deixou 4 mil mortos. A coluna de fumaça, lava e cinzas poderia alcançar 20km de altitude e afetar um raio de 25km, de acordo com o chefe da Defesa Civil, que se prepara para lidar com uma eventual catástrofe. As autoridades vêm estudando um plano de emergência, que incluiria, em caso de ameaça de erupção, a evacuação de 1 milhão de pessoas de Nápoles.

DECRETO PALESTINO
Produtos proibidos
O presidente palestino, Mahmud Abbas, assinou um decreto que proíbe a venda e qualquer tipo de negociação de produtos fabricados nas colônias judias da Cisjordânia ocupada. “Essa lei se depreende do fato de que as colônias são metástases no corpo da Palestina, que atacam o tecido, a terra e o destino do povo palestino”, afirmou, em um comunicado, Hasan al Auri, conselheiro de Abbas, acrescentando: “Por esse motivo, devemos lutar contra estas colônias com todos os meios a nossa disposição”. Quem for considerado culpado por negociar produtos saídos das colônias pode receber uma pena que vai de dois a cinco anos de prisão, além de uma multa de 16.000 euros (R$ 37,2 mil).

terça-feira, 27 de abril de 2010

O evangelho segundo Lula


Sentindo-se solitário e triste na escuridão do final dos tempos, disse Lula: “Fiat Dilma!” E Dilma se fez. E Lula viu que estava razoável, contratou um instituto de beleza e outro de opinião, e viu que com ele ninguém podia, e resolveu separar os bons dos maus e a luz das trevas, para uma nova batalha celeste. E acalmou seu rebanho indócil e arregimentou profetas de outras colônias para sua nova missão; chamou os anjos mensaleiros, convocou os santos antigos e ungiu velhos inimigos convertendo-os à Guerra Santa pelo báculo Lulista. “Vai ser fá­­cil!”, bradou ele na Assembleia do Purgatório, e os anjos abraçados fizeram “Hurra! Hurra! Hurra!” E Lula viu que isso era muito bom e foi descansar.
E no segundo dia Lula resolveu desenterrar o Príncipe das Trevas, o satânico FHC, e viu que isso era bom; e lançou contra ele a Voz do Senhor, e separou as águas puras das impuras, o Bem do Mal, o Fim e o Início dos Tempos, e decidiu que o inimigo era FHC, e não o Can­­didato; e viu também que o Candidato não saía da moita, e augurou tempestades nas hostes dos inimigos, aflitos de indecisão, e viu também que isso era muito bom, e foi descansar.
No Terceiro Dia, o Senhor Lu­­la viajou pelos quatro cantos da Terra para levar sua palavra e re­­fazer o mundo; e ganhou muitos adeptos, santinhos autografados e fotografias na primeira página, e ele viu que isso, sim, era muito bom; e resolveu comprar avião de guerra, mas sem dizer, dizendo, de quem compraria; e ele viu que isso era bom, e tocou o barco pelos oceanos até que a água baixasse; e mandou uma pomba de paz com uma camisa da Seleção para o Irã, que soltou mísseis em regozijo, e um grande abraço para Cuba, que não soltou ninguém, porque os passos do Se­­nhor Lula são inescrutáveis e os fiéis abrem caminho, e isso, ele viu, é muito bom.
No Quarto Dia o Candidato das Trevas levantou-se da tumba e proclamou-se o primeiro da lista, aquele que sucederia ao Senhor; e sua voz foi ouvida e um murmúrio correu entre os pastores e homens do povo, e seu nome subiu nas pesquisas; e vendo Lula que isso era realmente muito ruim, arregimentou o Profeta Ciro para combatê-lo; e o Profeta Ciro subiu ao monte e bradou, sacudindo o cajado, que o Candidato Inimigo era mais feio por dentro do que por fora, e o Senhor Lula cofiou a barba pensando se aquilo era mesmo bom; e teve sonhos intranquilos.
No Quinto Dia, decidiu Lula tirar o Profeta Ciro do caminho, e com retórica divina convenceu a seita de Ciro a colocá-lo para escanteio; e o Conselho do Lim­­bo deliberou pela Palavra do Senhor, e Ciro foi despojado de sua mitra e seu microfone, e condenado a passar 40 dias e 40 noites no deserto, e Lula viu que isso era ótimo; e encerrando a Obra em cinco dias, mandou Dilma fazer milagres e andar sobre as águas, abriu uma cervejinha e foi descansar, à espera do Dia do Juízo Final.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Documento oficial sugere que papa lance camisinhas

Autor(es): DA REDAÇÃO
Folha de S. Paulo - 26/04/2010

O Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido emitiu ontem um pedido formal de desculpas ao papa Bento 16 após a publicação de um memorando interno no qual funcionários afirmavam que o pontífice poderia abrir uma clínica de aborto, lançar uma linha de preservativos ou cantar um dueto com a rainha Elizabeth 2ª durante sua visita de quatro dias ao país, agendada para setembro.
O texto, que teve partes publicadas pelo jornal "Sunday Telegraph", também sugeria que o papa poderia abençoar um casamento gay e reconhecer os abusos sexuais de crianças praticados por clérigos criando um número de telefone para que as vítimas pudessem fazer denúncias.
O memorando foi redigido por funcionários de baixo escalão da Chancelaria após uma reunião que discutiu ideias para a visita, a primeira ao Reino Unido de um chefe da Igreja Católica desde a de João Paulo 2º, em 1982.
O embaixador britânico no Vaticano, Francis Campbell, se reuniu com autoridades da Santa Sé e ofereceu uma desculpa formal. A Chancelaria informou ainda que um dos envolvidos na redação do texto foi transferido para outra função."A Chancelaria lamenta esse incidente e está profundamente arrependida pela ofensa que ele causou", disse o ministério em um comunicado.
O porta-voz do Vaticano, reverendo Federico Lombardi, confirmou o recebimento da desculpa formal. "Eles providenciaram todas as explicações", disse. "Para nós a questão está encerrada e não pode absolutamente atrapalhar a visita do pontífice ao Reino Unido, prevista para setembro", completou Lombardi, desmentindo assim boatos da imprensa britânica segundo os quais o caso poderia levar ao cancelamento da visita do papa.
Na viagem que fará à Escócia e à Inglaterra entre 16 e 19 de setembro, o papa deve fazer um discurso em Londres e participar de uma cerimônia ecumênica na abadia de Westminster e de um evento público no parque Bellahouston, em Glasgow.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Amazônia peruana é nossa

Autor(es): Marcos Sá Correa
O Estado de S. Paulo - 23/04/2010


Os brasileiros estão se metendo, como sempre sem perceber, numa briga feia com os peruanos. Está em marcha uma invasão do Peru por investimentos do Brasil, com estradas, poços de gás e petróleo, lavras, hidrelétricas, hidrovias, linhões e oleodutos, num "pacote não anunciado oficialmente" que promete transformar aquele filão de Amazônia alheia num fornecedor quase passivo "de energia e de matérias-primas baratas, além de permitir o acesso aos portos do Pacífico".
O ataque econômico está descrito, com forte sotaque de indignação, no livro Amazonia Peruana en 2001, de Marc Douroujeanni, Alberto Barandián e Diego Douroujeanni. O livro se baseia em dados oficiais e desenha "uma hecatombe biológica". E entope o leitor de argumentos ambientais e exemplos históricos para mostrar que, se 100% do que está previsto for feito, lá por 2141 terão escapado da praga desenvolvimentista menos de 30% da Amazônia peruana.
Ora, nós aqui não fazemos nada 100%, dirão os otimistas. O problema, respondem os autores, é que, do ponto de vista dos "impactos ambientais e sociais", os piores projetos são os que têm maiores probabilidades de serem feitos: estradas, exploração madeireira, hidrelétricas, mineração e produção de combustíveis. Há três rodovias e duas ferrovias para ligar o Brasil ao Pacífico. Serão sete as hidrelétricas brasileiras do lado de lá. Uma delas, a de Inambari, ao custo de 40 mil hectares inundados.
Não se trata de plano de desenvolvimento. São propostas empurradas por um acordo de cooperação, concebidas por empresas privadas, estatais e bancos, que o Brasil encabeça com BNDES, Furnas, Eletrobrás e as construtoras OAS, Camargo Correa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão. E há projetos que se sobrepõem ou se anulam. Há uma rodovia prevista para uma área destinada a sumir sob uma hidrelétrica. Só um detalhe parece resguardado: "O interesse dos investidores."
"Não se pode exagerar a dificuldade encontrada para construir a base de dados para esse estudo", dizem os autores. Foi preciso colher informações em "instituições de todo tipo, dentro e fora do país". Os dados mudam "de fonte a fonte". Ou se contradizem em "documentos publicados pela mesma instituição". Isso inclui "cronogramas, dimensões e distâncias, volumes, potências, superfícies" e "montantes de investimento, fontes de financiamento, executores, e o local e os nomes das obras".
O livro saiu no Peru há um mês, com estrondo. O ruído foi ouvido instantaneamente pelos meios acadêmicos dos Estados Unidos e nos gabinetes dos bancos de fomento de Washington. Mas ainda não fez barulho no Brasil. De lá para cá, a fronteira continua remota demais para uma notícia dessas atravessar.

Procurador vê ação anti-Serra de sindicato

Greve anti-Serra pode ser punida
Autor(es): Agencia O Globo/Adriana Vasconcelos e Flávio Freire
O Globo - 23/04/2010

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recomendou ao TSE multa de mais de R$ 50 mil contra o sindicato dos professores de SP, acusado de propaganda eleitoral negativa contra o tucano José Serra.
Procurador-geral pede ao TSE pena máxima para Sindicato dos Professores de SPBRASÍLIA e SÃO PAULOO procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhou ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) parecer que considera procedente a denúncia apresentada por PSDB e DEM acusando o Sindicato dos Professores de São Paulo de usar a greve da categoria, em março, para fazer propaganda eleitoral negativa contra o candidato tucano à Presidência, José Serra.
Para Gurgel, o movimento grevista, que devia destinar-se ao debate das condições de trabalho dos professores da rede estadual, voltou seu foco “à depreciação do candidato ao cargo majoritário do governo federal pelo PSDB”, propagando a ideia de que ele não era apto para o exercício da função e estimulando o eleitor a não votar nele nas próximas eleições.
Ao admitir que a denúncia dos partidos de oposição tem procedência, Gurgel recomendou a aplicação da penalidade máxima prevista pelo descumprimento da Lei das Eleições, pela qual caberá ao Sindicato dos Professores e a sua presidente, Maria Izabel Azevedo Noronha, arcar com uma multa de 50 mil Ufirs (pouco mais de R$ 50 mil) ou o valor gasto com a propaganda eleitoral negativa.
Durante a greve, foram divulgados em carros de som gravações e discursos de locutores e da própria presidente do Sindicato pregando o voto contra o candidato Serra. No parecer, Gurgel cita trechos dos discursos de Maria Izabel como aquele em que ela questiona a competência do então governador: “Esse senhor tem competência para ser presidente? Não. Não.Mil vezes não. Você não foi e não será.
É o bota-fora Serra deste país”.Sindicalista desafia Justiça EleitoralPara o procurador-geral da República, esse tipo de pronunciamento pretendia atingir o candidato Serra e o PSDB, e “não foi voltado para o então governador de São Paulo”, como alegou a defesa do Sindicato dos Professores.
Tampouco Gurgel aceitou o argumento da defesa de que a conduta do movimento grevista “não teve potencialidade para desequilibrar as futuras eleições”, já que a maior parte das manifestações ocorreu em frente ao Palácio dos Bandeirantes.“Ao promoverem e financiarem as aludidas manifestações realizaram propaganda eleitoral antecipada negativa.
O não voto em época pré-eleitoral viola o artigo 36 da Lei das Eleições tanto quanto o pedido de voto.
A propaganda se caracteriza por levar ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, mesmo que apenas postulada, ou a ação política que se pretende desenvolver ou as razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais apto ao exercício da função pública”, diz o procurador em seu parecer.
Em São Paulo, a presidente do sindicato, Maria Izabel, a Bebel, que é filiada ao PT, disse ontem que o parecer da Procuradoria não vai intimidála e que a categoria está disposta a enfrentar, com manifestações, qualquer sanção. Segundo ela, o parecer é uma forma de tentar “amordaçar” os professores descontentes com a política adotada por Serra em sua gestão como governador. Para Bebel, a procuradoria e os partidos políticos podem entrar “até com 400 representações”, que a associação vai manter as críticas ao tucano, mesmo durante a corrida eleitoral.
— Nós vamos continuar com a avaliação de que Serra foi péssimo para São Paulo e não serve para ser presidente do Brasil. O problema é que o Serra é pior até que o Paulo Maluf, que admitia ser xingado e avaliado.
Já o boneco do Serra não quer ser contrariado — disse ela, para quem as manifestações promovidas pelo sindicato durante a greve dos professores tinham como objetivo avaliar a política educacional do governo paulista: — Ora, o Serra pode nos avaliar e a gente não pode avaliar o governo dele? Para mim, isso é uma tentativa clara do PSDB e do DEM de tentar nos amordaçar.

Professor fez greve política, diz procuradoria

Greve de professor foi política, diz procurador
Autor(es): SILVIO NAVARRO - DO PAINEL
Folha de S. Paulo - 23/04/2010

Parecer enviado ao TSE afirma que manifestação organizada por sindicato de SP teve caráter de propaganda anti-Serra Representação é de autoria do PSDB e do DEM; sindicato dos professores argumenta que o tucano ainda não era candidato à época da greve


Parecer enviado ontem pela Procuradoria-Geral Eleitoral ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirma que a greve organizada pela Apeoesp (sindicato dos professores da rede estadual de São Paulo), em março, teve caráter de "propaganda eleitoral antecipada negativa" contra o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. A representação é de autoria do PSDB e do DEM.
No documento, a Procuradoria argumenta que os discursos e as faixas utilizados no protesto não fizeram referência à gestão da administração estadual, e sim "à suposta inaptidão de Serra em ocupar o cargo de presidente". O relator do caso no tribunal é Aldir Passarinho, um dos ministros que recentemente votaram a favor de multar o presidente Lula por campanha antecipada em evento do PAC.
"Constata-se evidente propaganda eleitoral antecipada negativa, a qual voltou seu foco à depreciação da imagem do candidato ao cargo majoritário do governo federal pelo PSDB", diz o parecer, que leva a assinatura do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
A Procuradoria rebate a defesa do sindicato e de sua dirigente, Maria Izabel Noronha, segundo quem o tucano ainda não era candidato à época da greve. A pré-candidatura de Serra foi lançada oficialmente no último dia 10, em Brasília. "Já era veiculado em toda a mídia nacional que José Serra era candidato à Presidência."
O órgão também recusa o argumento da defesa de que o ato foi direcionado a um público específico. "A categoria alvo [professores] é extremamente grande e influente entre outros eleitores, além de estar situada no maior colégio eleitoral do país. E a manifestação ocorreu em lugar de grande circulação de pessoas e onde qualquer eleitor poderia parar para ouvir discursos."
O protesto, supostamente por aumento salarial, promovido no dia 26 de março em frente ao Palácio dos Bandeirantes, reuniu 5.000 pessoas segundo a Polícia Militar, e 20 mil na versão do sindicato. Terminou em confronto entre policiais e professores. Houve ao menos 20 feridos, 10 deles policiais.
O relatório do procurador cita o discurso de Maria Izabel durante o ato: "Esse senhor que quer ser presidente da República não será!". "Estamos aqui para quebrar a espinha dorsal desse partido e desse governador." Chamada de Bebel, ela é filiada ao PT na chamada Articulação Sindical, ligada à CUT.
Gurgel defende que houve afronta à lei 9.504/1997, que regulamenta as eleições. "O movimento grevista, que deveria se destinar ao debate das condições de trabalho, terminou sendo utilizado para fazer críticas e veicular propaganda negativa do PSDB e seu pré-candidato, certamente com o objetivo de levar ao conhecimento de todos que este não é o mais apto ao exercício da função pública e de levar ao eleitor a nele não votar nas eleições que se avizinham."
Ele termina recomendando ao tribunal a aplicação de multa "no valor máximo" pela "gravidade da conduta" da Apeoesp e de sua presidente.

Professor fez greve política, diz procuradoria

Greve de professor foi política, diz procurador
Autor(es): SILVIO NAVARRO - DO PAINEL
Folha de S. Paulo - 23/04/2010

Parecer enviado ao TSE afirma que manifestação organizada por sindicato de SP teve caráter de propaganda anti-Serra Representação é de autoria do PSDB e do DEM; sindicato dos professores argumenta que o tucano ainda não era candidato à época da greve


Parecer enviado ontem pela Procuradoria-Geral Eleitoral ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirma que a greve organizada pela Apeoesp (sindicato dos professores da rede estadual de São Paulo), em março, teve caráter de "propaganda eleitoral antecipada negativa" contra o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. A representação é de autoria do PSDB e do DEM.
No documento, a Procuradoria argumenta que os discursos e as faixas utilizados no protesto não fizeram referência à gestão da administração estadual, e sim "à suposta inaptidão de Serra em ocupar o cargo de presidente". O relator do caso no tribunal é Aldir Passarinho, um dos ministros que recentemente votaram a favor de multar o presidente Lula por campanha antecipada em evento do PAC.
"Constata-se evidente propaganda eleitoral antecipada negativa, a qual voltou seu foco à depreciação da imagem do candidato ao cargo majoritário do governo federal pelo PSDB", diz o parecer, que leva a assinatura do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
A Procuradoria rebate a defesa do sindicato e de sua dirigente, Maria Izabel Noronha, segundo quem o tucano ainda não era candidato à época da greve. A pré-candidatura de Serra foi lançada oficialmente no último dia 10, em Brasília. "Já era veiculado em toda a mídia nacional que José Serra era candidato à Presidência."
O órgão também recusa o argumento da defesa de que o ato foi direcionado a um público específico. "A categoria alvo [professores] é extremamente grande e influente entre outros eleitores, além de estar situada no maior colégio eleitoral do país. E a manifestação ocorreu em lugar de grande circulação de pessoas e onde qualquer eleitor poderia parar para ouvir discursos."
O protesto, supostamente por aumento salarial, promovido no dia 26 de março em frente ao Palácio dos Bandeirantes, reuniu 5.000 pessoas segundo a Polícia Militar, e 20 mil na versão do sindicato. Terminou em confronto entre policiais e professores. Houve ao menos 20 feridos, 10 deles policiais.
O relatório do procurador cita o discurso de Maria Izabel durante o ato: "Esse senhor que quer ser presidente da República não será!". "Estamos aqui para quebrar a espinha dorsal desse partido e desse governador." Chamada de Bebel, ela é filiada ao PT na chamada Articulação Sindical, ligada à CUT.
Gurgel defende que houve afronta à lei 9.504/1997, que regulamenta as eleições. "O movimento grevista, que deveria se destinar ao debate das condições de trabalho, terminou sendo utilizado para fazer críticas e veicular propaganda negativa do PSDB e seu pré-candidato, certamente com o objetivo de levar ao conhecimento de todos que este não é o mais apto ao exercício da função pública e de levar ao eleitor a nele não votar nas eleições que se avizinham."
Ele termina recomendando ao tribunal a aplicação de multa "no valor máximo" pela "gravidade da conduta" da Apeoesp e de sua presidente.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Enfim, um beato homossexual

Autor(es): Redação CartaCapital
Carta Capital - 19/04/2010

Como saber se um prelado é hétero ou homo desde que fez voto de castidade? Há qualquer coisa de muito intrigante na declaração do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone: “Numerosos psiquiatras e psicólogos demonstraram que não existe ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram que existe entre homossexualidade e pedofilia”.
Pronunciada no começo da semana, atiçou um vespeiro global. Das organizações e associações gays, de boa parte da mídia, até da chancelaria francesa erguem-se protestos, a ponto de provocar na quarta um comunicado em que o Vaticano pretende esclarecer: Bertone apenas se referia aos homossexuais de batina. Com a seguinte revelação: dos 3 mil casos de pedofilia registrados pelas autoridades eclesiásticas (e rigorosamente mantidos sob sigilo) nos últimos 50 anos, 10% são de pedofilia stricto sensu enquanto 90% são, a bem da santíssima verdade, de efebofilia, ou seja, envolvem adolescentes. Reminiscências gregas. Destes, 60% correspondem a práticas homossexuais e 30%, hétero.
O que não fica esclarecido é como a Igreja consegue catalogar com tamanha precisão as atividades sexuais dos seus padres, dos quais os fiéis esperam outros gêneros de comportamento. Mas não haverá de ser por acaso que o próprio Bento XVI viaja para a Inglaterra em setembro próximo para a beatificação do cardeal teólogo John Henry Newman, o qual pediu para ser enterrado ao lado do amigão reverendo Ambrose St.-John. Quanto este morreu, o cardeal confessou que sua dor era igual à de um marido, ou de uma esposa.
Vale assinalar ainda o surgimento na Áustria de uma associação filantrópica destinada a proteger e educar os filhos abandonados por padres heterossexuais. Uns e outros seriam bastante numerosos.

Católicos divididos

Autor(es): Alan Rodrigues
Isto é - 19/04/2010

Pela primeira vez em três décadas, os principais movimentos sociais não estarão ao lado do PT nas eleições presidenciais


Uma transformação política silenciosa vem ocorrendo no seio da Igreja Católica do Brasil, cujo papel político nas últimas décadas esteve intrinsecamente ligado ao Partido dos Trabalhadores. É cada vez mais evidente o fim da hegemonia do PT entre as lideranças religiosas e os leigos que atuam nos movimentos sociais ligados à Igreja Católica. Espécie de caixa de ressonância do petismo nas camadas mais pobres da sociedade, boa parte das chamadas pastorais sociais resolveram sair da clausura e proclamar o rompimento com o governo Lula. Com ataques duros direcionados ao Palácio do Planalto, muitas dessas organizações agora apostam suas fichas em outras legendas. Considerada nos bastidores da Igreja como o maior racha político depois da redemocratização do País, a divisão dos católicos ganhará visibilidade a partir do dia 4 de maio, em Brasília, quando mais de 300 prelados brasileiros estarão reunidos na 48ª Assembleia- Geral dos Bispos do Brasil, evento anual tido como o mais importante encontro da cúpula católica do País. “É o fim de uma hegemonia política, os católicos ficaram mais maduros”, entende dom Cristiano Jakob Krapf, bispo de Jequié (BA). “A Igreja nunca esteve tão dividida”, admite dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás, um dos fundadores da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
A portas fechadas, a reunião dos bispos debaterá durante nove dias a conjuntura política nacional e, prioritariamente, o novo papel das comunidades eclesiais de base (CEBs) – grupo interno da Igreja que surgiu na década de 60 incentivado pelo Concílio Vaticano II para ampliar a leitura dos textos litúrgicos. No Brasil, alinhadas à teologia da libertação, as CEBs ganharam musculatura lutando contra a ditadura militar. Assim como o sindicalismo, do qual veio o presidente Lula, as comunidades eclesiais de base tiveram um papel fundamental na construção e fundação do PT. Como braço dos petistas dentro da Igreja, elas assumiram funções importantes em todas as eleições de Lula e, claro, na sua chegada ao poder.
“O PT, na verdade, não soube tratar a Igreja como parceira histórica”Toningo Kalunga, líder das comunidades eclesiais de base
No novo cenário político católico, os dirigentes dessas comunidades – elas são quase 50 mil espalhadas pelo Brasil – estão migrando em massa para o PV, o PSOL e até para o PSTU. “Perdemos a capacidade de nos indignar”, escreveram na última semana as lideranças das Cebs em uma carta entregue aos bispos que participarão da reunião da CNBB. “Está tudo muito confuso, existe muito ressentimento com Lula por causa da defesa do neoliberalismo e do lançamento do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH)”, avalia dom Tomás. A defesa da legalização do aborto e da união civil entre pessoas do mesmo sexo, proposta pelo PNDH, indignou todas as correntes da Igreja Católica e as unificou na crítica ao governo petista. “O PT não soube tratar a Igreja como parceira histórica”, avalia o vereador petista Toningo Kalunga, da cidade de Cotia (SP), dirigente das comunidades de base.
Mas, nesse novo cenário, Dilma pode ganhar o apoio de um segmento da Igreja que historicamente esteve ligado ao PSDB: a Renovação Carismática. Com a transferência do vereador paulistano – e provável candidato ao Senado – Gabriel Chalita do PSDB para o PSB, boa parte desse movimento católico que tem como estrelas principais os padres celebridades Marcelo Rossi e Fábio de Melo tende a apoiar a candidata governista. Isso, claro, se o principal nome do PSB, o deputado cearense Ciro Gomes, desistir de disputar a Presidência da República.
“Para evitar uma eleição plebiscitária e assegurar que a questão ecológica entre como prioridade na pauta das eleições, muitos religiosos estão investindo no apoio a Marina Silva e a outras legendas”, explica Sérgio Coutinho, professor de teologia do Instituto São Boaventura, em Brasília. Assessor da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Coutinho alerta que, hoje, as lideranças da Igreja estão divididas basicamente em três setores: os ambientalistas, os desenvolvimentistas e os espiritualistas, esses últimos, defensores da “volta para a sacristia” dos religiosos militantes. “De certa forma, a Igreja se despolitizou”, diz.
Ainda é cedo para avaliar os possíveis estragos que esse racha provocará na campanha eleitoral, mas o certo é que, para não ficar “pagão”, Lula terá que se desdobrar para atrair a cúpula da CNBB e transferir seu prestígio entre os 73% de católicos brasileiros. O PT e o governo sabem disso e não querem comentar a crise entre os dirigentes religiosos, mas estão à procura de um novo Frei Betto, ex-assessor de Lula e uma das vozes mais respeitadas entre os católicos de esquerda, para acenar a bandeira branca para os católicos.

Impunes, eles vão atacar de novo




A abolição do celibato é apontada agora como solução para os casos de abuso sexual na Igreja. Expulsar e punir os padres pedófilos seria mais eficiente
Ana Claudia Fonseca


No quadro As Tentações de Santo Antão, do pintor holandês Cornelis Massys (1513-1579), um monge desvia o olhar, pudico, de duas mulheres nuas. O monge é Antão, um rico egípcio que no século III abandonou a família e abriu mão de sua fortuna para adotar uma vida de privações e abstinência sexual. Prática que acompanha o cristianismo desde o seu início e que a Igreja Católica tornou obrigatória para seus sacerdotes no século XII, o celibato agora está levando a culpa pelos crimes de pedofilia cometidos por padres na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Nas últimas semanas, a revelação de documentos de paróquias alemãs e de cartas enviadas pelo Vaticano a bispos americanos deu indícios de que o papa Bento XVI, quando ainda era apenas cardeal, ajudou a encobrir o abuso de menores por parte de padres católicos. Pressionado, o Vaticano divulgou na semana passada a íntegra de uma norma de 2003 na qual recomenda que as denúncias de abuso sexual na Igreja devem ser comunicadas não apenas à Congregação da Doutrina da Fé, o tribunal canônico, mas também à Justiça civil. Além de dar mais transparência às regras internas para lidar com desvios sexuais dos clérigos, o papa estuda tornar a pedofilia um crime imprescritível. Atualmente, o delito deixa de ser punido pela Igreja dez anos após a vítima ter atingido a maioridade. A pena máxima para um padre pedófilo é a excomunhão.



A abstinência sexual não é um dogma da Igreja. Trata-se de uma disciplina espiritual que assumiu a força de lei eclesiástica com o passar dos anos. Muitos pensadores do início do cristianismo não viam sentido no casamento, pois consideravam que o apocalipse estava próximo e que no reino de Deus todos seriam anjos, portanto assexuados. Embora os escritos indiquem que Jesus Cristo não era casado, acredita-se que os seus discípulos o eram. Segundo consta no Evangelho de São Mateus, Pedro tinha uma sogra e, portanto, uma esposa. Já o apóstolo Paulo recomendava o celibato, mas aceitava o casamento para quem não era forte o bastante para seguir esse modo de vida. Durante os primeiros séculos do cristianismo, no entanto, o celibato era principalmente uma escolha pessoal cujo objetivo era o melhoramento espiritual e moral. A maioria dos padres e alguns papas, como Adriano II (792-872), contudo, eram casados. O celibato na vida sacerdotal começou a ser valorizado no século XI, quando ganhou força a ideia de que esse era um sinal de devoção que aproximava o clero de Deus. O Concílio de Latrão, em 1123, instituiu o celibato entre os padres. Como eles continuaram mantendo amantes e tendo filhos, a Igreja, temendo perder dinheiro e terras para herdeiros bastardos, decretou durante o Concílio de Trento, entre 1545 e 1563, o celibato como "um estado de vida superior", impondo a excomunhão a padres e freiras que o violassem. A norma vale até hoje. As únicas exceções são os diáconos, homens casados com autorização da Igreja para celebrar casamentos e batismos, os sacerdotes católicos de rito oriental, como os maronitas, e os padres anglicanos que aceitem se converter ao catolicismo.

Na semana passada, o secretário de estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, descartou a possibilidade de a Igreja iniciar discussões para rever a regra do celibato, conforme sugeriram alguns bispos e padres europeus no calor dos recentes escândalos de pedofilia. Para os sacerdotes reformistas que defendem o fim do voto de castidade, a abstinência sexual não é uma prática saudável porque reprime impulsos sexuais naturais e, como consequência, acaba levando a perversões. "Isso não faz sentido porque, se um padre não resiste aos desejos sexuais, pode perfeitamente buscar uma pessoa adulta para satisfazê-los. Não há nenhuma razão para romper a castidade justamente com uma criança", diz Thomas Plante, professor de psicologia da Universidade Santa Clara, na Califórnia, e autor do livro Perdoe-Me Pai, Pois Eu Pequei – Perspectivas sobre Abusos Sexuais Cometidos por Padres Católicos, lançado nos Estados Unidos em 1999. O mesmo argumento serve para rechaçar a afirmação de Bertone de que os abusos de menores estão relacionados à homossexualidade. A psicologia considera a pedofilia um distúrbio independente de outras práticas sexuais. São comuns os casos de abusadores de meninos que não têm atração por adultos do sexo masculino. Nem todo pedófilo, portanto, é celibatário ou homossexual, da mesma forma que nem todos os solteiros ou gays molestam crianças. Disse a VEJA Ernie Allen, presidente do Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, dos Estados Unidos: "O fato de haver tantas denúncias de pedofilia envolvendo padres deve-se ao modo como a Igreja lida com o assunto, apenas mudando os acusados de paróquia, sem afastá-los de suas atividades. Isso dá oportunidade a eles para atacar de novo".

Ex-presidentes da Bolívia sondam asilo

Ex-presidentes da Bolívia já sondam asilo no Brasil
Autor(es): Marcos de Moura e Souza, de São Paulo
Valor Econômico - 22/04/2010




Os três últimos presidentes da Bolívia - e um ex-vice-presidente - podem se asilar no Brasil para evitar uma longa temporada na cadeia. Eles negam publicamente, mas já sondam autoridades brasileiras sobre os procedimentos de asilo.

Três ex-presidentes da Bolívia e um ex-vice-presidente podem se ver compelidos a pedir asilo no Brasil para evitar a prisão. Os acusados negam publicamente, mas já sondam autoridades brasileiras sobre como seria o processo de obtenção de asilo.
Eduardo Rodríguez Veltzé (presidente de 2005 a 2006), Carlos Mesa (de 2003 a 2005), Jorge Quiroga Ramírez (de 2001 a 2002) e Víctor Hugo Cárdenas (vice-presidente de 1993 a 97) estão sendo acusados em casos controversos, que envolvem crimes de responsabilidade e de traição à pátria.
Os quatro são críticos do atual presidente, Evo Morales.
As acusações contra os três ex-presidentes foram formuladas pelo próprio Morales, quando ele ainda era deputado. A acusação contra o ex-vice foi feita pelo ex-ministro de Hidrocarbonetos de Morales, Andrés Soliz Rada.
Recentemente, Morales se referiu aos quatro como membros de um "sindicato de delinquentes". E, mesmo tendo tomado lado na questão, ganhou o direito de indicar os juízes que decidirão os processos.
O advogado Carlos Alarcón, que assessora os ex-mandatários disse que os quatro estão sendo vítimas de perseguição política e que o objetivo do governo é criar uma situação tão desfavorável que eles acabem tendo de fugir do país para evitar a prisão.
Mesa e Quiroga são acusados de terem assinado contratos com petroleiras sem a devida autorização do Congresso. Rodríguez é acusado num nebuloso caso em que militares americanos desativaram e retiraram da Bolívia 28 mísseis chineses. Cárdenas é acusado de ter assinado um acordo supostamente irregular entre uma estatal boliviana e a falida americana Enron.
Segundo Alarcón, a pena média a que a seus clientes podem ser condenados é de 10 anos.
"O governo criou uma engenharia legal destinada a conseguir a condenação dos ex-presidentes", disse Alarcón à reportagem por telefone na terça-feira. Ele é advogado de Mesa e colaborador da defesa dos outros três acusados. Alarcón foi vice-ministro da Justiça no governo Mesa.
O advogado se refere a uma lei já aprovada pelos deputados que autoriza Morales a designar juízes para decidir os casos. O fato de poder indicar magistrados cria uma situação injusta, critica o advogado, uma vez Morales é autor das acusações e pode escolher quem dará o veredito sobre elas.
Nenhum dos quatro acusados diz considerar ainda a possibilidade de asilo, segundo Alarcón. No mês passado, o ex-ministro do Interior Guillermo Fortún pediu asilo ao governo Peru para fugir a uma acusação de apropriação indébita de fundos públicos. O Peru negou o pedido.
"O governo fica encantado com a possibilidade sairmos do país. O governo quer que deixemos o país, mas isso significaria que somos culpados", disse à reportagem por telefone o ex-presidente Carlos Mesa.
Perguntado se acredita na possibilidade de que o processo acabe levando-o para a cadeia, Mesa respondeu: "Claro que sim. Sou inocente, mas não confio no mecanismo judicial da Bolívia". Mesmo assim, diz ele, "vamos lutar judicialmente, vamos fazer denúncias e possivelmente vamos apelar à comunidade internacional".
Por e-mail, Rodríguez disse que tampouco considera a possibilidade de asilo. "Tenho absoluta convicção sobre minha inocência em relação a todas as essas acusações que fizeram contra mim, assim que não recorrerei a nenhum pedido de asilo", escreveu ele.
Mas, como Mesa, Rodríguez se diz preocupado "com a desordem institucional na qual se manipulam os tribunais, se produzem as leis e a mesquinharia dos políticos que usam a justiça para seus fins e não para encontrar a verdade", escreveu ele.
O Valor apurou que dois dos acusados sondaram a possibilidade de pedir asilo ao Brasil na hipótese de se verem na iminência de uma longa pena de prisão. A vinda ao país seria um último recurso.
Apesar de relação amistosa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales, o Brasil, não é tão alinhado com La Paz quanto outros sul-americanos, como Venezuela e Equador. No governo da Argentina também não haveria, de antemão, disposição de acolher os acusados num hipotético pedido de asilo.
No mês passado, os quatro acusados emitiram uma nota dizendo que os julgamentos aos quais o governo quer submetê-los viola direitos humanos e convenções internacionais. Apesar de não terem sido diretos sobre isso, essa argumentação os avalizaria como candidatos a asilo político.
Eles criticaram a chamada Lei de Responsabilidade, apoiada pelo Executivo, e já aprovada pelos deputados. O texto retira privilégios de presidentes, vice-presidentes e membros do Judiciário; nega direito a recursos; permite ao atual presidente da República indicar juízes para atuar nos processos; e, em casos de corrupção, as novas regras valerão retroativamente.
O texto ainda precisa passar pelo Senado, onde o governo também tem maioria.
As acusações contra os quatro ex-mandatários estão pendentes no Congresso e seriam retomadas no âmbito da nova lei.
Se um ou alguns dos acusados vierem a pedir proteção no Brasil, a relação do país com a Bolívia poderia sofrer um esfriamento, depois dos vários gestos feitos pelo governo Lula nos últimos de apoio ao governo Morales. Mas, se os acusados forem presos em condições jurídicas discutíveis, após terem feito gestões frustradas junto ao Brasil, o ônus político para o governo Lula seria grande, ainda mais se isso ocorrer num ano eleitoral.
O Brasil tende a aparecer como uma escolha mais lógica numa hipótese de asilo, em primeiro lugar, pelo seu peso regional e pelas relações que manteve com os governos bolivianos anteriores a Morales. Depois, porque um pedido de asilo a Colômbia, por exemplo, poderia levar os ex-presidentes a serem vistos como próximos dos EUA - que têm em Bogotá seu principal aliado na região. No caso do Chile, ainda há feridas políticas abertas decorrentes de uma guerra no século XIX. Argentina, Venezuela e Equador parecem também estar fora de cogitação.

Filmagem de padre é vendida em Arapiraca por meio de celular

Autor(es): FÁBIO GUIBU - DA AGÊNCIA FOLHA, EM ARAPIRACA (AL)
Folha de S. Paulo - 22/04/2010

Vendedores enviam por transmissão de dados vídeo em que padre acusado de pedofilia faz sexo com ex-coroinhaPreços das imagens entre os vendedores ambulantes chega a R$ 10; compradores são, na maioria, pessoas curiosas, dizem camelôs


Via Bluetooth -imagens e som transmitidos, sem uso de fios, de celular para celular-, é mais barato. O mais caro promete "imagens originais". Gravações das cenas de sexo envolvendo um ex-pároco de Arapiraca (122 km de Maceió) e um suposto ex-coroinha estão sendo vendidos clandestinamente na cidade a preços que variam entre R$ 5 e R$ 10. O valor depende da qualidade das imagens e da mídia utilizada.
As imagens via Bluetooth exibem cenas borradas por computador. A venda é feita por camelôs e pessoas que circulam em locais públicos, sem gerar desconfiança. Abordados sobre o assunto, eles negam, de início. Só admitem negociar após serem apresentados por "amigos e conhecidos".
Segundo um vendedor, o vídeo mais procurado é o "completo", supostamente com a íntegra da gravação feita por um dos ex-coroinhas que acusam três religiosos de abuso sexual.Os compradores, disse, "são quase todos apenas curiosos".
Um mês depois de ser exposto na TV, o escândalo sexual de Arapiraca ainda é motivo de polêmica na cidade. Religioso respeitado até o surgimento da denúncia, o monsenhor Luiz Marques Barbosa, 82, um dos pivôs da história, é hoje motivo de vergonha para muitos.
Uma das mais tradicionais unidades particulares de ensino da cidade, a escola de ensino fundamental Monsenhor Luiz Marques decidiu trocar de nome após a divulgação do caso.As escritas nas paredes que identificavam o local foram pintadas. De lembrança da antiga escola, hoje em reforma, restou um banco verde de concreto, próximo à entrada do prédio, com o nome do monsenhor impresso em relevo.
Fiéis da igreja onde Barbosa pregava divergem sobre o caso.
Alguns criticam o religioso e pedem punição rigorosa. Outros acham que ele pecou, mas não cometeu crime."Vergonha""Vergonha e desonra" são os sentimentos descritos pelo bispo de Penedo, dom Valério Breda, em uma carta aos fiéis sobre as acusações de pedofilia a padres de Arapiraca, que fica sob sua jurisdição. Milhares de cópias foram distribuídas em paróquias da região em 11 de abril, um mês depois do surgimento das denúncias. Na carta, o bispo pede perdão em nome da igreja.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Venezuela acerta empréstimo de US$ 20 bilhões com a China

Valor Econômico - 19/04/2010

A Venezuela obteve um empréstimo de US$ 20 bilhões da China, concordando em formar uma " joint venture " para extrair petróleo de um bloco na bacia do Orinoco, informou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao prometer que vai satisfazer as necessidades energéticas do país asiático. Chávez disse que o financiamento de US$ 20 bilhões é uma operação separada de um fundo bilateral de investimentos já existente envolvendo os dois países, que totaliza US$ 12 bilhões.
Atualmente, a Venezuela envia para a China 460 mil barris de petróleo por dia para pagar um empréstimo de US$ 8 bilhões que financia projetos de infraestrutura no país sul-americano. O país comandado por Hugo Chávez é quarto maior fornecedor de petróleo para o país asiático.
" Nós acertamos um grande plano de financiamento de longo prazo " , disse Chávez, em programa na televisão estatal. " A China precisa de segurança energética, e nós estamos aqui para fornecer a eles todo o petróleo que eles necessitarem. "
Maior produtor de petróleo da América Latina, a Venezuela está diversificando seus mercados de exportação e buscando empréstimos da Rússia ao Japão para ampliar a produção de petróleo e financiar programas sociais. Chávez espera que US$ 120 bilhões em investimentos se destinem a projetos na bacia do Orinoco nos próximos sete anos, de modo a acrescentar mais de 1 milhão de barris por dia à capacidade de produção do país.
A estatal petrolífera venezuelana PDVSA e a China National Petroleum Corp. assinaram um acordo de parceria para extrair e refinar petróleo cru do Bloco Junin 4, localizado na bacia do Orinoco. A PDVSA ficará com uma participação de 60% na " joint venture " .
Uma delegação chinesa esteve presente à cerimônia de assinatura do contrato, depois que o presidente da China, Hu Jintao, cancelou a viagem à Venezuela e ao Chile, por causa do terremoto que matou mais de 1,4 mil pessoas na província de Qinghai. A expectativa é que a visita de Hu à Venezuela seja remarcada.
Os dois países planejam ainda construir três usinas de energia elétrica movidas por coque de petróleo, cada uma com capacidade de 300 MW, afirmou Chávez. Ele também informou que uma usina termelétrica será construída no Estado de Mérida, para produzir 500 MW.
Equador quer desapropriar campos de estrangeiras
Jornal do Brasil - 19/04/2010

O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou neste sábado que vai propor uma lei ao Congresso para desapropriar os campos das companhias petroleiras estrangeiras que se negarem a assinar novos contratos, que dariam ao Estado o controle total da produção de petróleo.
– Estamos mandando uma lei à Assembleia Legislativa para que possamos desapropriar os campos petroleiros caso estas petroleiras não queiram assinar os novos contratos de prestação de serviços – afirmou Correa em seu informe semanal.
Correa, que em 2007 reduziu de 50% a 1% os lucros extraordinários das petroleiras por causa do alto preço do petróleo, endureceu sua posição contra as multinacionais dentro de seu projeto para recuperar o controle total sobre a produção dos hidrocarbonetos. Desde 2008, o Equador iniciou negociações com as companhias privadas que exploram sob sua jurisdição para receber os rendimentos totais da produção nestas áreas.
O Equador, o menor membro da Opep, extraiu 466 mil barris diários (b/d) de petróleo entre janeiro e fevereiro de 2010, dos quais 41% correspondeu às petroleiras estrangeiras.Em 2009 o país produziu 486 mil b/d de petróleo, dos quais exportou 327 mil b/d.

China oferece US$ 20 bilhões para Venezuela

Autor(es): FLÁVIA MARREIRO - DE CARACAS
Folha de S. Paulo - 19/04/2010

A China ofereceu crédito de US$ 20 bilhões à Venezuela, anunciou anteontem o presidente venezuelano, Hugo Chávez, aprofundando relação bilateral na qual Caracas se compromete a fornecer petróleo para Pequim.
O governo venezuelano anunciou ainda a participação de empresas chinesas, com a presença majoritária da estatal PDVSA, na exploração do petróleo ultrapesado do bloco Junín 4 da faixa do Orinoco, uma das maiores reservas do mundo. Os acordos foram fechados no sábado após reunião entre Chávez e uma comitiva de Pequim.

Chávez faz festa para a revolução

Autor(es): Agencia O Globo/Mariana Timóteo da Costa Correspondente • CARACAS
O Globo - 19/04/2010

E o McDonald's pode ser fechado

Na casa onde nasceu Simón Bolívar, no centro de Caracas, e cercado por crianças vestidas como o militar, ou como índios e camponeses, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu início ontem às celebrações pelo bicentenário da independência da Venezuela.
Como parte das comemorações, o governo vai inaugurar, no próximo dia 30, um busto em bronze de Fidel Castro, que pode acabar com o hambúrguer e a batata-frita de quem trabalha ou vive no centro de Caracas.
É que o monumento ficará no boulevard em frente à Assembleia Nacional, onde há lojas das redes americanas Wendy’s e McDonald’s. Chavistas já deram sinais de que o governo pode ordenar a remoção dos estabelecimentos, para “não prejudicar” a homenagem ao líder cubano.
— É uma incoerência ideológica ter dois negócios identificados com o império dos Estados Unidos em nosso boulevard revolucionário.
Não se trata de xenofobia, mas a homenagem ao líder cubano não pode ser prejudicada — disse Gerson Pérez, coordenador do Partido Socialista Unido de Venezuela, o PSUV de Hugo Chávez, que domina a Assembleia.
Ruas do centro da capital foram fechadas e monumentos históricos foram reformados para que hoje, feriado decretado pelo governo, Chávez lidere uma parada cívicomilitar, entre outros atos oficiais com a participação de líderes da região.
Além da festa, o presidente venezuelano promove uma cúpula da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).
As comemorações vão lembrar o 19 de abril de 1810, quando uma junta formada por militares e sociedade civil passou a não reconhecer mais o domínio espanhol.
Bolívar, um dos principais nomes do processo de independência, é constantemente citado por Chávez.
— Passaram-se 200 anos e ainda não somos completamente independentes — disse Chávez às crianças que o acompanhavam. — Cabe também a vocês, jovens, tornaremse patriotas. Sendo patriotas, vocês serão socialistas, como Bolívar, como Cristo. Eles pensavam um mundo em que todas as pessoas eram livres e iguais.
Nós, 200 anos depois de Bolívar, continuamos lutando por isso — completou.
Os eventos terão participação de líderes como o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa, o cubano Raúl Castro, bem como a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que discursará na Assembleia Nacional a convite de Chávez.
Para muitos, o presidente não tem motivos para realizar tamanha festa. Integrantes do partido Primeira Justiça saíram às ruas de Caracas pedindo por uma “declaração de independência alternativa”.
— Após 200 anos, nós estamos novamente sob uma detestável dominação estrangeira — disse o líder do partido, Julio Borges, acusando Chávez de se “submeter indignamente” aos irmãos Castro.

Papa Bento XVI chora ao conversar com vítimas de abusos em Malta

Autor(es): Agencia O Globo
O Globo - 19/04/2010

Pontífice afirma que Igreja vai proteger as crianças de pedófilosVALLETTA, Malta. Com lágrimas nos olhos, o Papa Bento XVI fez ontem sua maior declaração pessoal em resposta às acusações de pedofilia na Igreja: em Malta, o Pontífice disse que “não medirá esforços para proteger as crianças” no futuro, e que faria o possível para levar culpados à Justiça.
Em viagem de dois dias a Malta, o Papa se encontrou com oito vítimas de abusos sexuais cometidos por padres nas décadas de 1980 e 1990 no orfanato católico Saint Joseph Home, em Santa Venera. Esta foi a primeira vez que Bento XVI conversou com vítimas de abusos desde que o escândalo sobre pedofilia na Igreja se agravou, no início deste ano.
O encontro foi um pedido das vítimas, que queriam “fechar esse capítulo doloroso” de suas vidas.
— Vi o Papa chorar — disse Lawrence Grech, uma das vítimas.
— Bento XVI apoiou sua mão sobre a cabeça de alguns dos participantes, abençoandoos. Senti-me liberado e aliviado de um grande peso.
Grech, hoje com 35 anos, completou dizendo que agora se sente um “católico convicto”, considerando o encontro com o Papa “o maior presente que recebi depois do nascimento da minha filha”.
O grupo foi recebido pelo Papa numa capela privada da Nunciatura Apostólica, em Rabat, após a celebração de uma missa na Praça dos Celeiros, em Floriana.As vítimas acusaram em 2003 quatro sacerdotes por pedofilia; o caso, no entanto, ainda não foi julgado. Três dos sacerdotes vivem em Malta e um em Roma.
Na missa, acompanhada por cerca de 40 mil pessoas, o Pontífice pregou que os homens precisam da “divina misericórdia” para curarem “feridas espirituais e feridas do pecado”. Muitos fieis portavam cartazes e faixas desejando “boas-vindas” ao Papa; outros oraram por uma Igreja Católica “sem manchas nas futuras gerações”.
Em texto lido por uma menina, os católicos recordaram que Bento XVI completa cinco anos como Pontífice.O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que não sabia o que o Papa havia dito a cada uma das vítimas, porque tudo foi dito num tom de voz baixo, “com familiaridade e carinho”.

Advogado da Califórnia defende Vaticano
A Igreja Católica tem recebido apoio inusitado, como o de um advogado de Berkeley especialista em direito comparativo que decidiu ser o advogado do Papa nos Estados Unidos.
Jeffrey Lena se empenhou em sua tese de como a Igreja deveria agir diante da crise moral e pode-se dizer que acabou influenciando a decisão do Vaticano de não tentar encobrir as acusações. Lena é o porta-voz não-oficial do Vaticano nos Estados Unidos. O ex-professor de história evita os holofotes; diz que tem recebido ameaças por defender a Igreja, e que tem encontrado dificuldades em parceiros.
O último projeto do advogado é defender que o Papa Bento XVI não tentou omitir ou encobrir os casos de pedofilia na Igreja.
— O que é importante as pessoas saberem é que o Papa entende a gravidade das denúncias, e que seu coração está tocado. Ele verificou os arquivos e tomou providências muito antes de outros — disse.
Bento XVI concluiu ontem sua viagem ao arquipélago de Malta. Em Malta existem 45 religiosos e sacerdotes acusados de abusos. Em 1999 a Igreja maltesa formou uma comissão para analisar as denúncias de abuso sexual praticados por padres, mas a própria comissão absolveu metade dos membros do clero acusados. A Justiça, no entanto, ainda julga os casos de pedofilia, que contam com 10 testemunhas.

Papa chora em encontro com vítimas de abuso

Folha de S. Paulo - 19/04/2010

DA REDAÇÃO
O papa Bento 16 rezou e chorou ontem com oito vítimas de abuso sexual cometidos por padres católicos, em Malta, e prometeu que a igreja está fazendo "tudo o que está em seu alcance" para levar a julgamento os responsáveis e "proteger os jovens", anunciou o Vaticano.
"Foi emocionante. Todos choraram", afirmou Lawrence Grech, uma vítima hoje com 37 anos, após ter participado do encontro com o papa, em seu último dia de visita à ilha.
O encontro, anunciado somente após seu encerramento, foi o primeiro gesto de Bento 16 desde que a recente onda de escândalos de pedofilia tomou conta da Igreja Católica. O papa já havia se encontrado com vítimas de abusos em ao menos outras duas ocasiões: nos EUA e na Austrália, ambos em 2008.
Segundo o Vaticano, o papa "rezou com eles [...], ficou profundamente emocionado com suas histórias e expressou vergonha por aquilo que as vítimas e suas famílias sofreram".
"Perdi minha fé nos últimos 20 anos", disse Grech. "Eu lhe disse: "Você não pode preencher o vazio, preencher o que os padres tiraram de mim quando eu era jovem. Esta experiência [de encontrar o papa] irá mudar minha vida. Agora posso dizer à minha filha: "Eu acredito'", concluiu, em lágrimas.
O grupo baseado nos EUA Snap (Rede dos Sobreviventes de Abusos por Padres) criticou o Vaticano por afirmar que está fazendo tudo em seu alcance contra os abusos sexuais.
"É fácil prometer, difícil é entregar, especialmente em uma monarquia antiga, rígida, evasiva e inteiramente masculina", disse o porta-voz Peter Isely.

Homem de gabinete, Bento 16 reage com morosidade a ataques

Autor(es): JOÃO BATISTA NATALI - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Folha de S. Paulo - 19/04/2010

Padre por apenas 15 meses e avesso a viagens, papa já desagradou judeus e muçulmanos
Bento 16 completa hoje cinco anos de pontificado com a igreja altamente encrencada pelas acusações de acobertamento, por seus dirigentes, dos escândalos de pedofilia. No fundo, era só o que faltava. Pequenos incidentes já haviam indisposto Joseph Ratzinger com muçulmanos e judeus.
Caso não reaja com a energia e a rapidez proporcionais aos ataques recebidos, o papa estará dando indiretamente razão ao semanário alemão "Der Spiegel", que qualificou de "malogro" o atual pontificado e descreveu "a tragédia de um homem forjado para escrever livros [foram mais de 40] e que apenas no final de sua vida foi eleito para assumir a hercúlea tarefa de chefiar o Vaticano".
É até possível que Bento 16 se lembre, agora angustiado, de sua primeira reação ao encabeçar, no conclave de 2005, a primeira votação dos cardeais que elegeriam o sucessor de João Paulo 2º. Dias depois ele diria a peregrinos alemães ter rezado para que Deus não o colocasse no trono de São Pedro. "Escolha alguém mais forte", teria pedido ele na oração.
O problema é que o Vaticano não é uma estrutura burocrática com a agilidade ou o modelo empresariais. Suas reações são lentas, sua linguagem é excessivamente metafórica. Não há receitas de uma contraofensiva violenta. A igreja está hoje numa morosa defensiva, enquanto vítimas de padres pedófilos tiram proveito, e com razão, da velocidade da internet.
"Temos problemas de comunicação, poderíamos fazer melhor", disse há dias Giovanni Maria Vian, editor do "L"Osservatore Romano", jornal oficial da Igreja Católica.Alguns vaticanistas acreditam que Bento 16 iniciou seu pontificado com as mãos vazias. A grande tarefa da igreja, que ele cumpriu sob João Paulo 2º, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Inquisição), foi a de neutralizar a teologia da libertação e conter o clero progressista.
Sem os sobressaltos que se seguiram, o papa poderia se limitar a apenas gerir as questões correntes da igreja.
Ratzinger é um homem de gabinete. Foi padre de paróquia por apenas 15 meses. Não gosta de se ver cercado de gente. Viaja relativamente pouco -apenas 14 viagens ao exterior e 17 visitas pastorais dentro da Itália. Escreveu três encíclicas.
Nenhuma delas teve o impacto da conferência que fez em setembro de 2006 na universidade alemã de Regensburgo, quando citou um imperador bizantino que caracterizava o profeta Maomé como alguém que impôs o islã "pela espada".
A reação verbal do mundo muçulmano foi esperadamente violenta, e o papa acrescentou mais um problema à viagem que faria em novembro daquele ano à Turquia.
Sem dar ao diálogo ecumênico o mesmo peso que seus predecessores, Bento 16 também desagradou aos judeus ao restaurar na liturgia uma oração da Sexta-Feira Santa que pede a conversão deles ao cristianismo. A comunidade judaica tampouco perdoa o papa pela punição insuficiente de um cardeal que negou o Holocausto ou por se empenhar na canonização de Pio 12, acusado de ambiguidades diante dos extermínios em massa durante a Segunda Guerra Mundial.

Comunicação falha fragiliza legado de papa

Autor(es): LUCIANA COELHO - DE GENEBRA
Folha de S. Paulo - 19/04/2010

Bento 16 celebra 5º aniversário de seu pontificado em meio a crise de imagem da Igreja Católica por gafes e escândalos

Estudiosos ouvidos pela Folha avaliam que pontífice não consegue divulgar o que faz de bom e responder a respeito do que faz mal

Avanços houve poucos, mensagens houve muitas, e mudanças, quase nada. Mas o que mais bem define os cinco primeiros anos de pontificado de Bento 16, para os que observam e registram o dia a dia da Igreja Católica, não é uma palavra. É exatamente a falta dela.
A Folha ouviu alguns dos mais proeminentes estudiosos da Igreja Católica em busca de uma avaliação deste primeiro quinquênio -ou o que alguns definiram como primeira metade do papado de Joseph Ratzinger, dados seus 83 anos de vida. O ponto consensual: a igreja sob Bento 16 está falhando em se comunicar com os fiéis. Sua imagem está em risco.
"Comunicação é o maior problema deste papado. E isso se reflete nas pesquisas", diz Thomas Reese, padre, jornalista e pesquisador da Universidade Georgetown (EUA). Em sondagem do instituto Pew, de 2008 para cá saltou de 20% a 44% a parcela de americanos para a qual o papa conduz mal a crise da pedofilia no clero.
Não há acordo, porém, sobre se o alemão, que por duas décadas liderou a Congregação para a Doutrina da Fé -a instituição que resguarda a ortodoxia da igreja-, está conseguindo acabar com o relativismo no catolicismo, sua bandeira quando ascendeu ao trono de Pedro.
Para o teólogo suíço Hans Küng, que na última semana divulgou uma carta aberta aos bispos na qual listava oportunidades perdidas pelo atual papado, a resposta é um sonoro "não" (por e-mail, sua única palavra veio acompanhada de um ponto de exclamação).
Já Andrea Tornielli, vaticanista do conservador "Il Giornale", afirma que aos poucos a inclinação à menor flexibilidade começa a permear o rebanho. "É um sentimento que está crescendo para quem se dá o trabalho de ler seus escritos, sobre a necessidade de um catolicismo mais aderente e próximo do que é essencial à fé. Mas sem cobertura midiática."
Essa dicotomia, de não conseguir divulgar o que faz de bom e não conseguir responder sobre o que faz de ruim, pode comprometer um projeto mais amplo para o pontificado.
"Neste momento, acho que Bento 16 não esperava um ataque desta proporção, a ponto de impedi-lo de manter seu caminho", afirma Marco Ansaldo, vaticanista do jornal italiano progressista "La Repubblica". "E é difícil entender neste momento para onde ele vai."
Em relação a João Paulo 2º, pouco foi mudado no funcionamento da igreja, dizem os especialistas. O contraste surge na percepção do público.
"João Paulo 2º foi ator quando jovem e aprendeu a prestar atenção em sua plateia. Bento 16 nunca teve esse tipo de experiência, ele era um professor alemão. Enquanto seu antecessor era muito sensível sobre como sua mensagem estava sendo ouvido e percebida, Bento está mais preocupado em ter certeza de que sua linguagem está tecnicamente correta", afirma Reese.
Para ele, isso só salienta o distanciamento do papa e seu público em um momento em que a religião concorre por atenção com a cultura pop. "Você não pode usar linguagem do século 13. Nem do 19."

Alienação
Se os fiéis católicos estão confusos com as mensagens contraditórias, os crentes de outras religiões estão alienados. Outro paradoxo nascido de gafes e declarações dúbias (veja quadro ao lado), dado que o ecumenismo e o diálogo interreligioso, em tese, são uma prioridade para Bento 16.
Para completar, cresce a percepção de que o papa fez ao menos uma escolha errada: tornar seu braço direito o cardeal Tarcísio Bertone -que relacionou homossexualidade à pedofilia em um momento em que Bento 16 tenta mostrar que a igreja está atuando contra o problema.
"Espero que no próximo conclave, os cardeais estejam atentos [ao fato que] o papa é um porta-voz muito visível da Igreja Católica e tem de estar apto a se comunicar pela mídia e com o mundo. Senão, haverá mais problemas," diz Reese.

ORA, JOÃO PAULO II É QUE FOI ATOR E BENTO XVI É QUE TEM CARA DE PERSONAGEM DA FAMÍLIA ADAMS!

Sacerdote é preso por pedofilia em Alagoas

Autor(es): Ricardo Rodrigues
O Estado de S. Paulo - 19/04/2010


O monsenhor Luiz Marques Barbosa, de 82 anos, foi preso ontem à noite, após prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito que apura casos de pedofilia no Brasil. A prisão foi pedida pelo presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES), em Arapiraca, a 146 quilômetros de Maceió, após outro sacerdote acusado de abuso sexual de menores, padre Edilson Duarte, fazer um acordo de delação premiada.
Duarte não apenas admitiu que abusou sexualmente de ex-coroinhas como disse que os outros dois acusados ? Barbosa e o também monsenhor Raimundo Gomes ? praticavam o mesmo crime contra os três denunciantes, desde que eles tinham 14 anos. Além disso, Duarte afirmou que dinheiro do dízimo era usado para pagar os menores aliciados pelos três acusados.
Em acareação com Duarte, os monsenhores negaram as acusações. "Isso é um absurdo. Uma mentira deslavada", afirmou Barbosa, que aparece num vídeo fazendo sexo com um ex-coroinha de 19 anos. Os ex-coroinhas confirmaram as acusações e deram detalhes dos relacionamentos.
Duarte também começou por negar as acusações, mas decidiu assumir o crime e denunciar os demais em troca da delação premiada. Depois disso, disse-se ameaçado de morte e pediu proteção à CPI. Malta disse que aceitava o pedido e que solicitaria proteção à Polícia Federal.
"Peço segurança porque monsenhor Raimundo é muito perigoso e pode querer acabar com a minha vida", afirmou Duarte. Questionado, monsenhor Raimundo disse que não representaria nenhuma ameaça ao colega.
Monsenhor Luiz também confirmou que fez sexo com o jovem do vídeo, mas disse que foi apenas daquela vez. E ainda se disse "surpreso" com a prisão, que atribuiu ao fato de ter tirado passaporte recentemente ? ele afirmou que não tinha intenção de fugir. Seu motorista e sua empregada também foram presos, por falso testemunho.

John Allen Jr.: Pedofilia ofusca virtudes do papa, diz especialista

Crise expõe paradoxo do papado de Bento 16

Autor(es): LUCIANA COELHO - DE GENEBRA
Folha de S. Paulo - 19/04/2010

Para vaticanista americano que biografou o papa quando ele ainda era o cardeal Ratzinger, Santa Sé é inepta ao tratar de escândalos
O PAPADO DE Bento 16, que completa hoje cinco anos, é um grande paradoxo. De um lado, a mensagem de amor divino, compaixão e humildade que ele tenta transmitir aos fiéis e a um público mais amplo. De outro, a inépcia do Vaticano, que em idas, vindas e declarações dúbias impede essa mensagem de ser ouvida.Não há exemplo melhor desse paradoxo do que o atual escândalo de pedofilia na Igreja Católica e o modo como ele engolfou o atual pontificado, avalia o vaticanista John Allen Jr.Uma das vozes mais ponderadas no turbilhão de críticas e contra-ataques, o jornalista americano que biografou Bento 16 quando ele era o cardeal Joseph Ratzinger vê desse embate um saldo que julga "estapafúrdio": o homem que mais combateu os abusos por sacerdotes é agora o rosto da inoperância da igreja ante os crimes."Bento 16 pensa em séculos, e isso lhe dá liberdade, pois ele não se preocupa com as manchetes de hoje", diz.Em tempos de imediatismo, porém, o erro tático do Vaticano pode ter efeito perpétuo. Prevaleceriam então não os preceitos filosóficos que o "papa professor" quer legar ao mundo, mas os escândalos e as gafes.Allen conversou com a Folha por telefone de Roma na sexta-feira, antes de seguir para Malta, onde acompanhou a visita papal do fim de semana.


FOLHA - Quando Bento 16 se tornou papa, suas declarações apontavam para uma abordagem mais retilínea do catolicismo, focada nos "verdadeiros fieis". Essa ideia funcionou? JOHN ALLEN JR. - Não sei se concordo que fosse esse exatamente o projeto, mas, se a pergunta é se ele conseguiu alcançar os católicos mais fiéis, acho que sim. Até aí qualquer papa pode fazê-lo. A dúvida é se ele conseguiu alcançar alguma outra pessoa, e eu diria que o grande paradoxo deste pontificado é que ele tem uma mensagem muito atraente para o mundo lá fora, mas que infelizmente ninguém está ouvindo. Afinal, para o mundo lá fora este é um papado definido por seus desastres, que pula de crise em crise. A dos abusos sexuais é só o exemplo mais recente.
FOLHA - O problema de comunicação deste papado não aliena os fiéis e os demais? ALLEN - Depende de como você define os fiéis. Claramente, há fiéis que veem essas críticas como uma campanha difamatória, então é capaz que tudo isso os esteja tornando até mais fiéis ao papa.Para a maioria do mundo, no entanto, este papado é visto apenas como uma fileira de escândalos e desastres de relações públicas. O que chama atenção neste pontificado é o contraste entre a percepção de dentro e a de fora.
FOLHA - E o sr. discorda da percepção dos escândalos. ALLEN - Discordo, acho que há uma história bastante positiva para contar sobre Bento 16. Só que o Vaticano é totalmente incapaz de contá-la.
FOLHA - E o que, nestes cinco anos, não esteve na mídia? ALLEN - Este é um papa professor. A coisa com o que Bento 16 mais se preocupa, que lhe é mais cara e pela qual ele se define são seus ensinamentos. Suas três encíclicas, os discursos que ele faz em suas viagens, os ensinamentos católicos que ele transmite em suas audiências às quartas-feiras.Se você ler o que ele produz, vai perceber como é inteligente e bem articulado, profundo, independentemente de concordar ou não. Mas pouco desses ensinamentos chega ao público. O emaranhado de crises dominou a percepção pública.
FOLHA - Isso não tem um pouco a ver com a personalidade do papa e o fato de ele não ser midiático como João Paulo 2º? É algo que venha mesmo do Vaticano como um todo ou há culpa parcial da imprensa? ALLEN - É uma combinação de tudo. A imprensa, com algumas exceções, tem sido descuidada e parcial na cobertura, e Bento 16 não é o astro pop que João Paulo 2º era. E também é verdade que as pessoas ao redor do papa, no Vaticano, têm mais atrapalhado do que ajudado.Combinação fatídica.
FOLHA - Como o sr. vê a atuação do Vaticano na crise? Na carta do papa aos católicos irlandeses, ele condena os sacerdotes pedófilos e os bispos que os acobertaram e se desculpa. Mas vem o cardeal Tarcisio Bertone e relaciona pedofilia à homossexualidade, e você vê bispos e cardeais dizendo que tudo que está acontecendo é uma mera campanha difamatória. Um pouco confuso, não? ALLEN - Quando me perguntam sobre a estratégia de comunicação do Vaticano, digo que, assim que eu vir algum sinal de sua existência, eu comentarei.A tática deles para lidar com a crise piorou tudo significativamente. [Veja] os comentários públicos que têm sido feitos por outras autoridades eclesiásticas que parecem ter a tendência de meter os pés pelas mãos.
FOLHA - E o papa? Qual o papel dele em relação à crise em si, às acusações de que teria ajudado a abafar alguns dos casos, e que tal sua reação agora? ALLEN - Recentemente ele não tem falado muito, e isso é parte do problema: deixar que outros falem por ele. Mas, historicamente, para alguém que cobre esse assunto há 15 anos, a ideia de que Bento 16 vire o símbolo do problema é surrealista, estapafúrdia.Aqui todo mundo sabe que, há uma década, quando ninguém em Roma queria levar esse problema a sério, foi Ratzinger [à frente da Congregação para a Doutrina da Fé] que o fez e que muitas vezes insistiu sozinho em reformas que permitiriam à igreja impedir que padres abusadores trabalhassem no ministério.Sabe o Rudolph Giuliani?
FOLHA - Sim, o prefeito nova-iorquino que reduziu a violência urbana nos anos 90 com um plano de tolerância zero e depois protagonizou escândalos. ALLEN - Pois é. Falar do Ratzinger como símbolo do problema do abuso sexual é o mesmo que acusar o Giuliani de ser mole com a criminalidade. É absurdo. É a completa inépcia do Vaticano em relação à comunicação. Pois este papa é a melhor história que eles têm para contar sobre o combate aos abusos sexuais, e deixaram que ele passasse a ser definido como símbolo do problema.
FOLHA - Há cerca de duas décadas vemos eclodir escândalos sobre pedofilia na igreja, e não me lembro de João Paulo 2º ser atingido. Por que com Ratzinger é diferente, se ele é a melhor história sobre o caso? ALLEN - Eu queria conseguir explicar porque eles deixaram a peteca cair. Se dependesse de mim, na última década eles teriam promovido entrevistas coletivas a cada seis meses só para falar de quantos casos foram levados ao Vaticano e o que foi feito a respeito, o que aconteceu com as reformas que Ratzinger iniciou... Por que eles não fizeram isso é um mistério.De qualquer forma há dois fatos: um, mesmo que você ache a resposta da igreja ruim ou insuficiente, e Deus sabe que há muita crítica legítima, seria muito pior se não fosse Bento 16; dois, o Vaticano falhou ao contar essa história.
FOLHA - A Igreja Católica é hoje mais vulnerável do que era 10 ou 20 anos atrás? ALLEN - É. Com João Paulo 2º eles tinham uma grande história para a mídia nas mãos. E o próprio João Paulo 2º tinha uma personalidade tão envolvente que conseguia que a igreja, o Vaticano e seu pontificado tivessem uma cobertura positiva, mesmo havendo críticas.
FOLHA - O sr. citou coisas boas deste pontificado. O que ele conseguiu em cinco anos? ALLEN - Bento 16 se vê -e provavelmente é assim que a história o verá- como o papa professor. Logo, seu maior feito são seus ensinamentos. Agora, se você diz feitos no sentido de reformas internas, mudanças tangíveis na forma como a igreja funciona, muito pouco foi mudado, exatamente por ser um papa professor, não um papa governante. Não é com liturgia que ele se preocupa.
FOLHA - Quando ele foi escolhido, falou-se que em termos ideológicos seria a continuidade do papado de João Paulo 2º. Tem sido, até agora? ALLEN - Acho que em termos de ideias, sim. A principal diferença é que João Paulo 2º era um papa ativista, queria mudar a história aqui e agora, e algumas vezes conseguiu, como é evidente no caso do colapso do comunismo. Com Bento 16, ao invés de um ativista, você tem um papa intelectual, interessado em contribuir para o debate de seus dias -coisa que ele fez, aliás, mas é muito menos visível, com o imediatismo.Acho que há continuidade nas ideias, mas muita diferença no estilo e, logo, no impacto.
FOLHA - Mas vivemos na era do imediatismo, parece. ALLEN - Pois esse é o ponto. Porque Bento 16 pensa em termos de séculos, isso lhe dá uma tremenda liberdade, pois ele não se preocupa com as manchetes de hoje, o que é algo positivo, de certa forma. Por outro lado, não vivemos em um mundo dos séculos, vivemos no mundo do hoje. E no mundo de hoje este é um papado em crise.
FOLHA - O sr. argumenta que o papa no futuro será visto pelo legado de ensinamentos. Isso não pode ser ofuscado pelo imediatismo? ALLEN - Pode ser. Entendo o que Bento 16 acha que está fazendo e aprecio a importância. Mas também vejo a crise de governança neste papado, que quase destruiu sua imagem pública. Eis a ironia: Bento 16 quer que seus ensinamentos se disseminem, mas precisa parar um pouco de ensinar e lidar com a crise de governança.
FOLHA - Essa atitude pode mudar nos próximos anos? ALLEN - Poder, pode. Se eu vejo algum movimento nessa direção neste momento? Não.

domingo, 18 de abril de 2010

O olhar dos haitianos

Autor(es): Agência O Globo/SHAKIRA
O Globo - 18/04/2010

Domingo passado visitei o Haiti. Nunca havia visto um lugar em tal situação de destruição. Um país onde não restou nenhum tipo de infraestrutura — água, saneamento, eletricidade, escolas ou hospitais —, com 86% da população desempregados e um milhão e oitocentos mil deslocados de suas casas, bairros e cidades.Vi mães que perderam seus filhos, filhos que perderam seus pais, mulheres que perderam famílias inteiras. Vi um país que perdeu quase tudo, mas que ainda mantém sua força.
Guardo o olhar de homens e mulheres que não se sentem derrotados nem vencidos. Jovens prontos para reconstruir, esperançosos. Crianças que ainda sorriem e sonham com uma vida melhor. Essa força representa a oportunidade dessa nação, que hoje espera toda a ajuda internacional possível; que depende de nossas promessas e de nossa boa memória, porque, mais grave que a mesma catástrofe, seria para o Haiti sofrer o esquecimento.
Me deixa otimista, no entanto, ter me encontrado com pessoas de distintos lugares, estudantes e profissionais, anônimos ou famosos, que decidiram doar seu tempo e esforços para se instalar no Haiti e ajudar. Sean Penn, por exemplo, conduz, pessoalmente, um dos maiores campos de refugiados. Vive há quase três meses em um daqueles acampamentos. Dorme sob um pequeno toldo, precário, nada diferente das acomodações dos 60 mil deslocados que ali vivem enquanto ele procura meios de realocá-los. Já conseguiu enorme ajuda internacional e segue inspirando com o seu trabalho diário a tanta gente que, como ele, se dedica à ajuda, muito necessária.
As novas gerações absorvem estes exemplos e sabem que no mundo de hoje os problemas de um só povo são problemas do mundo inteiro. Minha esperança é que, via educação e comunicações, essa mensagem se difunda e seja o legado que deixemos a nossos filhos e aos filhos dos seus filhos.
No Haiti entendi mais: que só construindo escolas e hospitais a sociedade haitiana poderá recuperar sua dignidade e seguir adiante. Percorri áreas possíveis para se erguer uma escola, onde as crianças possam receber alimentação e educação adequada.
Participei de reuniões com algumas organizações não governamentais e possíveis sócios estratégicos para poder começar as obras nos próximos meses. Iniciaremos a construção de uma escola no Haiti que, se tivermos sorte, deverá estar concluída no final deste ano.
Logo vai chegar a temporada de furacões e só espero que o povo haitiano possa encontrar refúgio ante as inclemências do clima e que possamos estar ali para eles. Quis compartilhar minha experiência porque sei que há muito por fazer e individualmente podemos ser gotas de água, mas juntos somos um oceano. Isso me ensinou um garoto de 11 anos, que viu pouco, mas que já sabe tanto da vida.

Igreja está “ferida”

Correio Braziliense - 18/04/2010

O papa Bento XVI afirmou aos jornalistas que acompanham sua viagem a Malta, o menor país da União Europeia, que a Igreja Católica está “ferida pelos pecados de seus membros”, em referência aos casos de pedolifilia praticada por padres. Durante a visita, o pontífice poderá reunir-se com um grupo de homens que teriam sido vítimas de abusos nos anos 1980. O Vaticano não confirmou a realização do encontro. Em 1999, a cúria maltesa criou uma comissão para investigar casos de pedofilia no país. Desde então, foram recebidas 45 denúncias. Bento XVI comemorou seus 83 anos na última sexta-feira, e amanhã completará cinco anos de papado.

Terremoto na China Corpos incinerados
O governo chinês comandou operação para incinerar centenas de corpos de vítimas do terremoto que atingiu a província de Qinghai, no último dia 14, e matou ao menos 1.484 pessoas, segundo balanço oficial. A intenção é evitar epidemias nas áreas atingidas pelo tremor, que teve epicentro no distrito de Yushu — província autônoma que tem 90% de tibetanos na sua população. O líder espiritual dos budistas do Tibete, o dalai-lama, parabenizou o governo chinês por ter visitado a região atingida pelo terremoto e pediu que as autoridades deem livre acesso à imprensa e às organizações internacionais. O próprio religioso manifestou intenção de visitar a região, onde ele nasceu.

Recuperação chilena
Taxa de reconstruçãoAs indústrias do Chile ajudarão a financiar a reconstrução do país, que sofreu danos de infraestrutura após o terremoto de fevereiro, que alcançou a magnitude 8,8 na escala Richter. O presidente Sebastían Piñera anunciou ontem a cobrança de um imposto corporativo, com alíquota de 3% em 2011 e 1,5% em 2012. Haverá também mudanças nos royalties pagos pela exploração do cobre e aumento de tributos para a indústria do tabaco. Só fugiram à regra os proprietários dos imóveis mais caros do país: mesmo sem representarem a indústria, eles também terão aumento provisório de taxas. O valor ainda não foi anunciado.

Paquistão Terror mata 35
Duas explosões mataram ontem pelo menos 35 pessoas e feriram mais 50, em um ataque a um acampamento de refugiados no noroeste do Paquistão. Os homens-bomba atingiram uma multidão que aguardava a doação de alimentos. Desde o ano passado, a região do atentado, na fronteira com o Afeganistão, é palco de conflitos armados entre o Exército paquistanês e militantes islâmicos. As autoridades estimam que 210 mil civis perderam suas casas, incluindo 50 mil que fugiram da zona de conflito.

Protesto palestino Homenagem a presos
Uma manifestação reuniu milhares de pessoas na cidade de Ramallha, na Cisjordânia, para lembrar o Dia do Prisioneiro, celebrado ontem pelos palestinos. A mobilização, convocada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), preencheu as ruas com cartazes e bandeiras que pediam a liberdade dos mais de sete mil palestinos detidos em Israel. Dados divulgados na semana passada pelo Escritório Central Palestino de Estatísticas revelaram que, entre os detidos, 270 são menores de idade, 34 são mulheres e 780 cumprem pena de prisão perpétua.

Equador Ameaça a petroleiras
O presidente do Equador, Rafael Correa, está cada vez mais determinado a retomar o controle sobre os campos de petróleo do país. Correa anunciou ontem que vai enviar projeto de lei à Assembleia Nacional para autorizar a expropriação dos campos, caso as empresas estrangeiras não topem renegociar acordos de participação na exploração. As manobras começaram em 2008, quando o governo manifestou a intenção de receber os rendimentos integrais da extração de óleo. A Petrobras, a espanhola Repsol YPF, a italiana Eni e o consórcio chinês Andes Petróleo operam no Equador.

Combate às Farc Explosivos detonados
O Exército colombiano detonou de maneira controlada mais de 2t de explosivos apreendidos no noroeste do país e pertencentes, segundo as autoridades, a uma frente guerrilheira das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O material bélico foi encontrado em um esconderijo na zona rural da cidade de San Francisco, no departamento de Antióquia, a 184km da capital nacional, Bogotá. O material, descrito pelos militares como o explosivo R-1, seria supostamente utilizado em atentados terroristas na região de Medellín e na fabricação de mais de 13 mil minas terrestres. Desde o início do ano, o Exército da Colômbia já destruiu mais 9t de explosivos apreendidos da guerrilha ou de grupos paramilitares.

JOÃO UBALDO RIBEIRO Zapeando


O GLOBO - 18/04/10
Não dá para continuar a ver e ouvir, no close dado pelo noticiário de TV, o único sobrevivente de uma família dizimada pelos deslizamentos de terra e lixo no Rio de Janeiro. As estatísticas que já transformam em números essas famílias e pessoas não apagam – para mim e para, tenho certeza, a maioria de vocês – suas histórias individuais e é muito doloroso pôr-se, mesmo que tão vicariamente, na pele deles. Gente confrontada por vicissitudes terríveis, mas espantosamente forte e capaz ainda, em meio a perdas irrecuperáveis e desnorteantes, de pensar racionalmente, de fazer planos, de ainda acreditar em alguma coisa. Gente de muito mais fibra do que eu, com toda a certeza, que esfrio de pavor só em imaginar achar-me em situação semelhante.
Mas o telejornal muda de foco e passa a ouvir as autoridades. Os adjetivos comumente atados à palavra "autoridades", ou seja, "responsáveis" ou "competentes", parecem agora empregados em lugar de seus antônimos, soam como ironia de quem fala. Diz uma dessas autoridades que as chuvas que causaram os desmoronamentos resultaram em catástrofes tão inevitáveis quanto os tsunamis, como se as vítimas destes construíssem residências em palafitas de compensado no meio do oceano, ou qualquer coisa assim. Diz mais ainda que não mandou chover, e suponho que os munícipes devem agradecer por ele se abster de fazer isso, ainda que abdicando de um privilégio singular.
Sim, claro que a responsabilidade não é de ninguém e quem pagou foi quem morreu e seus sobreviventes. Tudo dentro da normalidade, da mesma forma que a outra reportagem que apareceu depois que mudei de canal, desta vez sobre o ex-governador Arruda. Ouço que está muito abatido, talvez em depressão. Lembro das minhas velhas aulas de Medicina Legal, quando me ensinavam que muitos criminosos não ficavam abatidos devido a remorsos pelos seus atos, mas, sim, ao fato de terem sido descobertos ou desmascarados. Não será esse o caso em questão, talvez. Deve atentar-se à circunstância de que o ex-governador não é criminoso ainda, mas apenas suspeito, não só porque não foi condenado nem se sabe se será, como porque aquela gravação em que aparecia metendo a mão na granolina deixa muita margem para dúvida, conforme observado pelo presidente da República. Apresso-me a informar que, acima, usei "criminosos" apenas como força de expressão e também tenho sérias dúvidas sobre aquela gravação. Teriam sido notas de cem, cinquenta ou sortidas? Eram todas verdadeiras, nenhuma falsa? Eram novas ou usadas? Por aí vai, é dúvida demais para continuar a sustentar acusações levianas.
O abatimento do ex-governador deve persistir, talvez com altos e baixos, pelo menos enquanto o julgamento não se realizar, se se vier a realizar. Funciona bastante, aqui no Brasil. O comentário é "coitado, é muito difícil para ele, um homem com poder e status como ele tinha, agora nessa situação, é o castigo mais duro que ele pode receber". É possível. Pelo menos no nosso direito consuetudinário, ficar abatido e deprimido funciona bastante, podendo redundar até mesmo em exclusão de punibilidade. Já vi um delegado explicar a um jornalista que o atropelador bêbedo, por ele preso depois de atropelar cinco ou seis pessoas, aleijar todas e matar uma, tinha acordado morto de remorsos, coitado, um verdadeiro farrapo de sentimento de culpa, vergonha e arrependimento, tanto assim que, mal acabara de ser solto mediante uma pequena fiança, procurara atendimento psicológico e estava sob tranquilizantes.
Mudo de canal, mas que vejo? Brasília é também objeto das notícias deste aqui, só que agora a respeito das novas eleições para governador do Distrito Federal. Eleição disputada, muitos candidatos. Ainda bem que, como nos bons tempos, é indireta, não vai dar muita despesa. Entre os seletos eleitores, um deputado recém-egresso de uma temporada na cadeia de Papuda. Bonito colégio eleitoral, essa nossa capital é um exemplo. Vislumbro nisso mais um tento para nós, na legislação paradisíaca que imaginamos existir no cobiçado Primeiro Mundo. Podemos ser os pioneiros em dar aos presidiários direito a eleger, dentre os outros presidiários, seus representantes no Congresso, sem prejuízo dos que já estão lá, é claro. Os eleitos serão soltos e empossados e, se voltarem a assaltar, sequestrar ou estuprar, estarão novamente sujeitos às rigorosas penas da lei, caso o foro especial a que terão direito os condenar.
Quem sabe, talvez um dos canais anteriores traga notícias que inspirem pensamentos menos inquietantes. Mas não, aqui está o caso do psicopata que matou vários jovens, depois de violentá-los. Como se sabe, havia sido preso e condenado, mas teve a prisão relaxada por bom comportamento. Certamente esse bom comportamento se deveu em grande parte ao fato de não haver meninos na penitenciária. Todo mundo sabe que psicopata não se cura nem se recupera e esse ilustrou isso claramente, quando voltou a matar apenas dias depois de ter saído da prisão. Mas quase ninguém, inclusive, ao que parece, o juiz responsável pela soltura, ligou para isso. E não importa tantos meninos terem sido assassinados, o que importa é que nossas leis são as mais adiantadas do mundo (sempre me pareceu que lei adiantada para país atrasado é que significa atraso, mas deve ser burrice minha) e nossa Justiça funciona.
Tanto funciona que também se noticia que um cidadão que reagiu a um assalto domingo e matou um dos assaltantes ficou preso até a quarta-feira passada. Foi em legítima defesa e a arma era do próprio assaltante, mas somente a Justiça poderá determinar isso, sabe-se lá quando. É o que dá o sujeito reagir a assalto e não morrer. Vai preso, para aprender a não desobedecer à orientação da autoridade. E, libertado, ainda viverá com medo de uma possível vingança do assaltante sobrevivente. É, parece que não adianta muito mudar de canal.

sábado, 17 de abril de 2010

Papa diz que Igreja está "ferida," mas não fala sobre abusos

Sáb, 17 Abr, 05h05
Por Philip Pullella
VALLETTA (Reuters) - O catolicismo foi "ferido por nossos pecados," disse o papa Bento 16 no início de uma visita de dois dias a Malta, neste sábado, mas ele evitou referir-se diretamente aos escândalos de abusos sexuais que afetam a maior igreja cristã do mundo.
O pontífice, de 83 anos, não mencionou os escândalos que vêm sendo revelados na Europa e nos Estados Unidos nem usou a palavra "abuso" em seus comentários a repórteres no avião para Valletta, a capital maltesa. Em Malta, dez homens que disseram ter sido vítimas de abusos cometidos por padres querem se encontrar com o papa.
O papa, natural da Alemanha, já se reuniu antes com vítimas de abusos na Austrália e Estados Unidos e poderia se encontrar com outras, disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, mas não foi informado se ele iria fazer isso durante sua curta estada em Malta, uma ilha do Mediterrâneo.
Falando em italiano, Bento 16 disse que Malta, país em que 95 por cento da população é católica, ama a Igreja, "mesmo se este corpo estiver ferido por nossos pecados".
Lombardi disse a jornalistas que o papa estava se referindo dessa maneira aos muitos casos de abusos sexuais de crianças por padres em décadas passadas, que vieram à tona nos últimos meses.
Representantes de vítimas de abuso sexual ficaram desapontados com os comentários feitos pelo papa no avião.
"O papa tem de parar de falar de estupro e abuso sexual e de encobrimento por autoridades eclesiásticas de tantas crianças católicas usando vagas metáforas pastorais, estando a 30 mil pés de altura", afirmou Peter Isley, de uma entidade com sede nos EUA que reúne vítimas de abusos de padres.
"Ele precisa iniciar e participar diretamente de um processo aberto e transparente de responsabilização e reforma, com grupos de vítimas, autoridades da justiça criminal internacional e outros", declarou Isley à Reuters, por e-mail.
O próprio papa foi acusado de ter feito vistas grossas em 1980, quando era arcebispo de Munique, para o caso de um padre enviado para lá para uma terapia depois de abusar sexualmente de crianças, logo depois transferido para trabalho na paróquia.
O Vaticano negou que o papa soubesse da transferência.
Embora o papa não tenha mencionado o assunto em sua chegada, o presidente de Malta, George Abela,disse que padres algumas vezes "infelizmente vão para o caminho errado" e é "a obrigação da Igreja e até mesmo do Estado trabalhar lado a lado" para evitar abusos e punir os responsáveis.
Centenas de casos de abuso físico e sexual de jovens, em décadas recentes, estão vindo a público na Europa e Estados Unidos à medida que as revelações acabam encorajando vítimas que permaneciam em silêncio por muito tempo a expressar abertamente suas queixas.
Em sua referência indireta à crise de abusos, Bento 16 também mencionou o naufrágio de São Paulo, grande missionário dos primórdios do cristianismo, em Malta, há 1950 anos -- esse é o motivo da viagem do papa à ilha.
Do mesmo modo que o naufrágio levou o cristianismo a Malta, disse ele, "os naufrágios de nossa vida podem trazer o projeto de Deus para nós e ser úteis para um novo começo de nossa vida".

CERTAMENTE TERIA SIDO MELHOR PARA OS CRISTÃOS SE ALÉM DO NAUFRÁGIO DE PAULO TIVESSEM AFUNDADO TAMBÉM SUAS IDÉIAS.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Papa pede penitência aos fiéis

Correio Braziliense - 16/04/2010

Depois de mais de um mês, o papa Bento XVI voltou a referir-se sobre o escândalo da pedofilia na Igreja para uma vez mais apontar um “ataque” à instituição e convocar “os católicos” a fazer “penitência pelos nossos pecados”. O tom de “contra-ataque” por parte da Santa Sé teve eco também na iniciativa do prefeito da Congregação para o Clero, o cardeal brasileiro dom Claudio Hummes, que enviou carta a 400 mil padres e 5 mil bispos convocando um ato em massa de desagravo ao pontífice na Praça de São Pedro, no Vaticano.
“Ante os ataques do mundo, que falam dos nossos pecados, lembramos que é necessário fazer penitência e, assim, reconhecer os erros cometidos em nossa vida”, disse Bento XVI ao pronunciar a homilia em uma missa reservada assistida por integrantes da Comissão Bíblica, na Capela Paulina. Falando a maior parte do tempo de improviso, o líder da Igreja referiu-se sempre “aos católicos”, sem distinguir sacerdotes e fiéis. “Nos últimos tempos, temos evitado a palavra penitência”, reconheceu. “Agora, vemos que é necessária a contrição, para nos abrirmos para o perdão.”
O tom ambíguo do pontífice, que menciona “erros” e “pecados” sem admitir explicitamente a responsabilidade da Igreja e de sua hierarquia pelos milhares de casos de abuso de menores por sacerdotes em todo o mundo, parece encorajar o Vaticano ao confronto com a mídia e a opinião pública. Foi o que transpareceu na iniciativa de dom Claudio Hummes, de convocar o maior número possível de religiosos ao Vaticano, em junho, para “oferecer ao nosso papa, o bem-amado Bento XVI, toda nossa solidariedade, nosso apoio e nossa confiança”. A ideia é aproveitar o encerramento do ano sacerdotal, entre 9 e 11 de junho, para contar com “a presença em massa dos padres no Vaticano, junto com Ele (sic)”, para manifestar “rejeição aos ataques injustos de que (o papa) é vítima”.
Movimento semelhante, porém em direção oposta, foi feito pelo teólogo suíço Hans Küng, um expoente da Teologia da Libertação, punido em 1979 pelo cardeal Joseph Ratzinger, na época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé — posto que ocupou até ser eleito papa, em 2005, sob o nome pontifício de Bento XVI. Em carta aberta endereçada aos bispos e publicada pela imprensa europeia, Küng convocou o clero a rebelar-se contra o chefe da Igreja, atingida, na opinião do teólogo, por “uma crise de liderança e de confiança sem precedentes”. Küng pediu a convocação de um sínodo, ou mesmo um concílio, e explicitou seu chamado à rebelião contra o pontificado: “A obediência incondicional só se deve a Deus. Nenhuma autoridade humana merece essa obediência incondicional”.

BOM, ESPEREMOS QUE MUITOS, MUITOS, PADRES DO MUNDO INTEIRO SE DIRIJAM AO VATICANO. MAS SERÁ QUE ELES PRECISAM DEPOIS VOLTAR?????
Papa diz que Igreja deve cumprir penitência
Autor(es): Agencia O Globo
O Globo - 16/04/2010

Vítimas reclamam da falta de ações concretas e tacham o raro pronunciamento de inócuo
CIDADE DO VATICANO.
O Papa Bento XVI quebrou ontem o silêncio sobre a série de escândalos de abusos sexuais envolvendo padres pedófilos e reconheceu que a Igreja precisa cumprir penitência por seus pecados. Ele também condenou os ataques que a Igreja vem sofrendo. Não houve menção explícita aos casos de pedofilia, mas o Vaticano confirmou posteriormente que Bento XVI, criticado pelas vítimas por não se pronunciar firmemente sobre os casos, referiase aos escândalos.
— Agora, sob ataque do mundo que nos fala sobre nossos pecados, podemos ver que a capacidade de cumprir penitência é uma graça e vemos o quanto é necessário cumprir penitência e então reconhecer o que está errado em nossas vidas — disse o Papa durante uma missa no Vaticano, na primeira menção ao assunto desde a carta a vítimas de abusos na Irlanda, divulgada em 20 de março.
Segundo Bento XVI, isso envolveria “abrir-se para o perdão, preparar-se para o perdão, permitindo que se seja transformado”. Mas o Papa também atacou os críticos da Igreja, retratando-os como escravos de uma “ditadura” do conformismo.
— Conformismo que torna obrigatório pensar e agir como todos os outros, e a sutil, ou não tão sutil, agressividade contra a Igreja demonstra o quanto essa conformidade pode ser realmente uma verdadeira ditadura — afirmou.
Protesto reúne 200 pessoas na Alemanha O principal grupo de vítimas de abusos nos Estados Unidos imediatamente reagiu, dizendo que o comentário de Bento XVI é inócuo se não for acompanhado de medidas concretas para proteger crianças de padres pedófilos.
— O reconhecimento de fatos não é “ataque” e penitência não protege ninguém — rebateu Mark Serrano, porta-voz da Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês). — Quando o Papa não consegue proferir as palavras “padre pedófilo”, “crimes sexuais contra crianças”, “encobrimento” ou “bispos cúmplices”, é difícil acreditar que ele seja capaz de lidar efetivamente com essa crise crescente.
As declarações de Bento XVI também coincidiram com a publicação de uma carta aberta a bispos de todo o mundo em que o respeitado teólogo progressista alemão Hans Küng classifica a crise da Igreja como a mais aguda desde o Concílio da década de 1960.
Na Alemanha, terra natal de Bento XVI, cerca de 200 vítimas e simpatizantes marcharam ontem por Berlim para chamar atenção não apenas aos abusos sexuais, mas também físicos e morais dentro de instituições de ensino da Igreja. Alguns seguravam cartazes e faixas com frases como “abram os arquivos”. Uma mulher empunhava um cartaz que dizia “tive de comer vômito”.
Claudio Hummes e Odilo Scherer defendem Bento XVI Também na Alemanha, o arcebispo Robert Zollitsch e a ministra da Justiça, Sabine LeutheusserSchnarrenberger, fizeram uma reunião e concordaram em cooperar mutuamente para solucionar os casos no país.
Por parte do Brasil, o prefeito da Congregação para o Clero, Dom Claudio Hummes, e o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, voltaram a defender o Papa. Dom Claudio conclamou padres a apoiar e comparecer em massa a um encontro de sacerdotes em Roma em junho e Dom Odilo criticou a cobertura dos escândalos pela imprensa.“Houve uma fúria em querer culpar pessoalmente o Santo Padre, talvez com algum objetivo ainda não manifestado”, lamentou Dom Odilo Scherer ao jornal italiano “La Stampa”.
Hoje, Bento XVI viaja para uma visita de dois dias a Malta, onde todos os olhos estarão voltados a um possível encontro do Pontífice com um grupo de dez vítimas de abusos por padres na ilha. O Vaticano já adiantou que a possível reunião seria realizada a portas fechadas, longes dos holofotes da imprensa.
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