tag:blogger.com,1999:blog-34456265344637189512024-03-05T07:38:25.379-08:00CENSURADOOs conteúdos desse blog são sujeitos à uma rígida censura!Unknownnoreply@blogger.comBlogger492125tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-47711487692969993222012-08-31T10:30:00.000-07:002012-08-31T10:30:04.663-07:00"Só punindo os torturadores a tortura acaba"<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Ângela Mendes de Almeida <br /> Isto é - 27/08/2012 <br /> <br /> <br /><br />Ex-mulher do jornalista Luiz Eduardo Merlino, morto pela ditadura em 1971, a cientista social comemora as primeiras decisões judiciais contra o major Ustra, e diz que esse tipo de violência ainda existe no Brasil <br /><br />por Rachel Costa <br /><br />Julgar e condenar os agentes do Estado como responsáveis pela violência cometida durante a ditadura militar é um objetivo antigo de sobreviventes e familiares de vítimas do regime. Por décadas, porém, esse foi um sonho distante. A realidade, agora, parece mudar após duas decisões recentes da Justiça relativas ao major Brilhante Ustra, oficial que esteve à frente do Destacamento de Operações de Informações, o DOI-Codi, da ditadura, entre 1970 e 1974, e que se tornou conhecido pela frieza e crueldade com que comandava sessões de tortura. Em caso inédito no Brasil, o oficial foi condenado em primeira instância a indenizar os familiares do jornalista Luiz Eduardo Merlino por sua morte em 1971. Também foi mantida, em segunda instância, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, a condenação do major pela tortura da família Teles, ocorrida em 1972. À frente da ação sobre o caso Merlino está sua ex-companheira e ex-militante do Partido Operário Comunista (POC), a cientista social Ângela Mendes de Almeida, 74 anos. A indenização é estimada em R$ 100 mil. "Não queremos esse dinheiro. Queremos que outros torturadores vejam que podem vir a pagar pelos crimes que cometeram", afirma. <br /><br />Istoé -Recentemente, em duas ações diferentes, a Justiça responsabilizou o major Ustra por abusos cometidos durante a ditadura. Por que é importante que haja a responsabilização pessoal e não do Estado? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Na maior parte dos casos, a opção por mover ações tendo como réu o Estado ocorreu porque não se conhecia o nome dos torturadores. Poucos estão identificados e um desses poucos é o coronel Brilhante Ustra, que era o comandante do DOI-Codi à época e não escondia isso de ninguém. <br /><br />Istoé -Na ação de vocês, pela primeira vez um agente da ditadura é condenado a indenizar familiares de mortos pelo regime. Como foi a decisão de entrar com o processo? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Para nós, era terrível não poder fazer nada. Parecia que já se havia explicado a morte dele e não mais se falaria sobre isso. Decidimos entrar com a ação em 2007, tomando como exemplo o processo da família Teles, também contra o Ustra, e que foi agora referendado pelo TJ-SP. No caso deles, o casal, a cunhada e as crianças foram sequestrados, levados para o DOI-Codi e barbaramente torturados, em 1972, um ano após a morte do Merlino. Tentamos fazer o mesmo, mover uma ação declaratória (na qual seria declarada a responsabilidade dele, porém não haveria indenização), mas, diferentemente da família Teles, não deu certo conosco. <br /><br />Istoé -Por que não deu certo com vocês? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Em 2008, os advogados do coronel Ustra propuseram ao Tribunal de Justiça um embargo à ação, alegando que o coronel estava coberto pela Lei da Anistia e que eu não tinha direito de entrar com o processo, pois não era formalmente casada com o Merlino. Esse embargo foi julgado e decidiu-se pela extinção do processo. <br /><br />Istoé -Foi a partir daí que vocês decidiram pela ação indenizatória? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Sim. Nesse julgamento, os desembargadores sugeriram, não formalmente, que seria o caso de uma ação por danos morais. Sempre vacilamos em mover uma ação desse tipo porque não temos interesse no dinheiro. Mas não tínhamos alternativa. No Brasil, há uma interpretação da Lei da Anistia – e digo interpretação porque isso não aparece na própria lei – que impede que se movam processos criminais contra os torturadores. Por isso os processos que temos, como nos casos do Vladmir Herzog e do Manoel Fiel Filho, são processos na área cível, não na área criminal. Ganhamos a ação em primeira instância. O coronel, porém, recorreu e agora aguardamos o julgamento em segunda instância, sem data marcada. <br /><br />Istoé -A decisão do TJ-SP sobre a família Teles dá mais segurança de que a condenação de Ustra no caso Merlino também será mantida? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - No Poder Judiciário não existe 100% de certeza, mas a condenação em segunda instância no caso da família Teles é, certamente, um passo importante para o nosso processo. <br /><br />Istoé -O advogado do coronel alegou, no caso Teles, que o correto seria a situação ser avaliada pela Comissão da Verdade. Qual a opinião da sra. sobre essa estratégia? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Isso é uma bobagem que não tem tamanho. Se a Comissão da Verdade investigar os casos em que o Ustra foi um ator preponderante, isso só vai piorar a situação dele. É uma coisa sem nexo. Não é o Ustra quem vai se valer dos resultados da comissão. <br /><br />Istoé -Só a ação cível é pouco? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Sim. Nós gostaríamos que esses torturadores fossem identificados e julgados pelos crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de corpos. Ninguém está pedindo para torturar os torturadores. Nós queremos que os casos sejam investigados e sejam aplicadas a eles as leis que se aplicam a todas as pessoas que cometem esses crimes. <br /><br />Istoé -A sra. conhece outras famílias que estão tentando mover ações contra torturadores do regime militar? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Famílias, se existem, a gente não conhece, mas há algumas iniciativas do Ministério Público. <br /><br />Istoé -Como a família soube da morte de Merlino? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Tudo indicava que ele seria mais um desaparecido do regime militar. No atestado de óbito, diz-se que ele havia sido levado para uma reconstituição de cena no Rio Grande do Sul, fugido e se suicidado sob um caminhão na BR-116, na altura de Jacupiranga (SP). A família não foi avisada de nada. Por sorte, o Adalberto, marido da Regina, irmã do Merlino, era delegado de polícia e recebeu um telefonema avisando sobre a morte. A família, que vivia em Santos, veio então a São Paulo e foi ao Instituto Médico Legal. Lá, o diretor disse que não havia nenhum corpo com esse nome. Por ser delegado, o Adalberto conseguiu entrar pelos fundos e foi abrindo porta por porta das geladeiras até que em uma delas ele encontrou o cadáver com sinais evidentes de tortura. Só então o corpo foi entregue à família, em um caixão lacrado. Adalberto foi o único familiar a ver o Merlino morto. <br /><br />Istoé -Como vocês descobriram o que de fato ocorreu? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - A partir da audição de sete testemunhas foi possível reconstituir diversos momentos que fechavam uma história sobre o que ocorreu. Merlino foi preso no dia 15 de julho de 1971 e, segundo as testemunhas, torturado no pau de arara, tendo, em seguida, recebido choques elétricos por quase 24 horas. A partir daí ele foi jogado em uma solitária e depois retirado, pois estava com as pernas gangrenando. No testemunho do Otacílio Cecchini, outro militante do POC, ele diz que estava em uma sala com o major Ustra quando o militar recebeu um telefonema do hospital. Na conversa, perguntavam ao comandante se era para consultar a família do preso porque, para salvá-lo, seria preciso amputar suas duas pernas. E o major Ustra respondeu para não avisar a família, ou seja, ele decidiu pela morte do Merlino. <br /><br />Istoé -A sra. encontrou o major Ustra durante o julgamento? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Não, nunca o encontrei pessoalmente. O réu não é obrigado a comparecer e ele não compareceu. <br /><br />Istoé -A sra. sabe quem entregou o nome de Merlino aos militares? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Sei, mas eu procurei esquecer, porque tenho certeza de que a pessoa falou isso também sob tortura. Era um militante sem nenhuma importância dentro do POC e que, por um acaso, sabia o nome do Merlino. <br /><br />Istoé -A morte dele foi uma surpresa? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Sim. Ele havia trabalhado na "Folha da Tarde", não estava na clandestinidade e muita gente que o conhecia nem imaginava que ele militava. Também havia o fato de que o POC não era uma organização visada, pois não fazíamos ações armadas mais ostensivas. Foi uma surpresa para todos. <br /><br />Istoé -A sra. considera que a atuação da presidenta Dilma Rousseff na elucidação dos crimes cometidos na ditadura tem sido satisfatória? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Não. Ela está muito aquém do que deveria. Houve um pequeno avanço quando ela proibiu os quartéis de comemorar a data do golpe militar, porém ela poderia ter feito mais. E, de uma forma particular, acho que ela não tem demonstrado nenhuma sensibilidade com a tortura que acontece nos dias de hoje. A ONU tem incentivado um protocolo que permitirá a grupos de pessoas entrar em locais onde há tortura, sem pré-aviso, para poder detectar e dificultar a tortura. A Dilma deveria ser a primeira a abraçar essa proposta, mas tem feito justamente o contrário e dificultado o trâmite. <br /><br />Istoé -A Comissão da Verdade, do modo como funciona, é um avanço? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Tenho bastante preocupação com a comissão. Quando ela foi formada, analisaram-se as emendas do DEM e do PSDB, mas não se deu nenhuma atenção às propostas dos familiares de mortos e desaparecidos. <br /><br />Istoé -Que propostas são essas? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Um exemplo é o período definido para a atuação da comissão, de 1946 a 1988. Ninguém entende por que essa definição. Esse período é um absurdo. Por que 1946? Deveríamos então retornar até 1937, que é o período da ditadura varguista. Ou, ainda mais sensato, estabelecer que as investigações fossem a partir de 1964. Só que o Exército não queria essa menção direta ao golpe militar, pois eles queriam que a Comissão da Verdade estudasse os crimes da ditadura e os crimes da esquerda. Só que os crimes da esquerda não foram cometidos por agentes do Estado. <br /><br />Istoé -Por que fazer a diferenciação entre os crimes dos militares e os da esquerda? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - As pessoas têm de pôr na cabeça que crime de lesa-humanidade é aquele cometido por agentes do Estado. Vamos abandonar a questão de que morreram pessoas dos dois lados, tanto militares quanto militantes de esquerda. Não é essa a questão. A questão são os crimes cometidos em nome do Estado. <br /><br />Istoé -Por que julgar os torturadores é importante? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Além de fazer justiça a nós, familiares, a punição dos torturadores serve para a sociedade entender que a tortura é um crime. Ainda torturamos, só que hoje quem pratica essa violência é a polícia e o foco não são mais os militantes políticos, mas, sobretudo, os pobres. Só punindo os torturadores a tortura acaba. <br /><br />Istoé -O Brasil é um país tolerante à tortura? <br /><br />Ângela Mendes de Almeida - Sim, e não vem só da ditadura, vem da escravidão. Os castigos públicos estão inseridos na mentalidade brasileira. A sociedade precisa entender que os policiais são funcionários públicos e não têm o direito de torturar e matar, mesmo que estejam diante de criminosos. A ditadura acabou, mas o terrorismo de Estado não, porque a polícia continua torturando e matando.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-8353929716317925062012-08-26T05:44:00.001-07:002012-08-26T05:44:47.634-07:00Revista Brasileira de Ciências Sociais - Questões não só alemãs<a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69091998000200010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt#.UDoaGjg5Lws.blogger">Revista Brasileira de Ciências Sociais - Questões não só alemãs</a>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-13781078134147657842012-08-19T08:24:00.001-07:002012-08-19T08:30:05.781-07:00Ditadura: Nova versão para morte de Anísio Teixeira é investigada<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Anísio Teixeira, morte sob suspeita<br />
Autor(es): » RENATO ALVES » GIZELLA RODRIGUES<br />
Correio Braziliense - 18/08/2012<br />
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Professor baiano diz que o ex-reitor da Universidade de Brasília teria sido sequestrado, torturado e morto por agentes da repressão em 1971 — e não caído acidentalmente em um poço de elevador, no Rio, segundo a versão oficial. O caso será investigado pela Comissão da Verdade da UnB.<br />
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Comissão de Memória e Verdade da UnB investiga nova versão sobre o fim da vida do ex-reitor da instituição. Segundo depoimento, ele teria sido sequestrado e torturado por agentes da repressão antes de ser morto<br />
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Anísio Teixeira morreu a pancadas, após ser sequestrado, levado para uma unidade da Aeronáutica e torturado por agentes da ditadura, em 1971. A nova versão para a morte do ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) é investigada pela Comissão de Memória e Verdade, criada pela instituição de ensino superior. Na história oficial, contada pelos militares, ele perdeu a vida após cair acidentalmente no poço do elevador de serviço do prédio onde morava o amigo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em Botafogo, no Rio de Janeiro.<br />
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A recente explicação foi apresentada à comissão da UnB pelo professor João Augusto de Lima Rocha, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Biógrafo de Anísio Teixeira, ele disse saber do assassinato por meio de duas fontes. Uma é o ex-governador baiano Luís Viana Filho (1967-1971), acionado pelos familiares de Teixeira após ele desaparecer, em 11 de março de 1971. "A família do ex-reitor entrou em contato com o então governador da Bahia pedindo ajuda para encontrá-lo. Viana Filho foi informado por agentes do Rio de Janeiro que o educador estava detido na Aeronáutica", contou Lima Rocha.<br />
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Essa detenção nunca havia sido revelada pelos militares, pelo ex-governador nem pelo professor, apesar de Viana Filho e Lima Rocha terem publicado biografias de Anísio Teixeira. Outra fonte do professor é o também docente e crítico literário Afrânio Coutinho. "Em uma entrevista para o livro (a biografia de Teixeira), ele me contou ter presenciado a necropsia do corpo do ex-reitor. Disse ter visto quase todos os ossos quebrados, o que indica a tortura", lembrou Lima Rocha. Teixeira ainda teve traumatismo na cabeça e no ombro, devido a pancadas com objeto de forma cilíndrica, possivelmente feito de madeira, de acordo com o apurado por seu biógrafo.<br />
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A família do ex-reitor da Universidade de Brasília admite a versão contada pelo professor Lima Rocha, que a apresentou à Comissão de Memória e Verdade da universidade na semana passada. Anísio Teixeira morreu em 13 de março de 1971. Oficialmente, o educador teria sofrido uma queda acidental no fosse do elevador no momento em que subia ao apartamento do amigo Aurélio Buarque de Holanda.<br />
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"Subversão"<br />
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A Comissão da Verdade da UnB reúne documentos para apurar a morte de Anísio Teixeira, como o relato de Afrânio Coutinho, registrado nos arquivos da Academia Brasileira de Letras. "Por lei, só poderíamos ter acesso a esse documento em 2021, mas, com as prerrogativas da comissão, vamos tentar uma cópia dele o mais rápido possível", explicou o professor José Otávio Nogueira Guimarães, do Departamento de História da UnB e integrante do grupo.<br />
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Quando desapareceu, Anísio Teixeira estaria com documentos do Partido Comunista, do qual o filho fazia parte. "Isso foi relatado pelo filho dele (do Anísio). Ele contou ainda que o pai vinha sendo ameaçado de morte", disse Lima Rocha. "Os depoimentos revelados até agora confirmam que a hipótese de ele (o ex-reitor) ter sido morto pelos ditadores é plausível", afirmou Guimarães.<br />
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A UnB formou a própria Comissão da Verdade após série de reportagens do Correio, publicada em abril. Elas mostraram como os militares atuaram na instituição de ensino superior. Entre outras revelações, o jornal comprovou que o governo continuou a espionar a comunidade universitária durante a democracia. Mostrou ainda que, para os agentes da repressão, os primeiros reitores da UnB nomeados pelos militares não tinham pulso firme para conter as ações contra a ditadura no câmpus. Mais de uma vez, os espiões pediram a troca de comando na instituição e foram atendidos.<br />
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Então diretor da Faculdade de Medicina Ribeirão Preto (SP) e ex-secretário de Saúde do estado de São Paulo, o médico Zeferino Vaz foi o primeiro reitor da UnB nomeado pelo governo. Ele tomou posse em 13 de abril de 1964, após o regime extinguir o mandato de Anísio Teixeira. Para justificar tal mudança, os militares se basearam em relatórios do SNI.<br />
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Entre outras observações e conclusões, os arapongas afirmam que, na gestão de Teixeira, "chegou-se a preparar, no próprio câmpus, a mobilização da luta armada. A população foi conclamada a estruturar-se numa frente estudantil-operária-camponesa". Diante desse quadro, em 9 de abril de 1964, nove dias após o golpe militar, tropas do Exército e da PM de Minas invadiram a UnB sob a alegação de investigar denúncias de "subversão e indisciplina".<br />
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Perfil<br />
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Pioneiro na educação Como educador, o baiano Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) viajou à Europa e aos Estados Unidos para observar os sistemas escolares. No Brasil, defendeu o conceito de escola única, pública e gratuita como forma de garantir a democracia. Foi o primeiro a tratar a educação com base filosófica. Instituiu na Bahia, em 1950, a primeira escola parque, que procurava oferecer à criança uma escola integral. Fundou a Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) da UnB.<br />
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Repressão na academia<br />
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Com o golpe instaurado em 1964, os militares aterrorizaram a UnB<br />
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9 de abril de 1964<br />
Nove dias após o golpe militar, tropas do Exército e da PM de Minas Gerais invadem a UnB sob a alegação de investigar denúncias de "subversão e indisciplina". Prendem 12 professores para interrogatório. No mesmo mês, a ditadura extingue o mandato do reitor, Anísio Teixeira. No lugar dele, é nomeado o médico Zeferino Vaz.<br />
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8 de setembro de 1965<br />
Professores entram em greve por 24h em resposta à demissão dos colegas Ernani Maria de Fiori, Edna Soter de Oliveira e Roberto Décio de Las Casas, afastados por "conveniência da administração". Dias depois, os alunos aderem ao movimento. O reitor, Laerte Ramos de Carvalho, pede o envio de tropas ao câmpus.<br />
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11 outubro de 1965<br />
As tropas chegam durante a madrugada e cercam as entradas do câmpus. Alunos e professores são impedidos de ter acesso aos prédios. Os soldados também proíbem qualquer agrupamento de pessoas.<br />
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18 de outubro de 1965<br />
Pedem demissão 223 dos 305 professores da UnB, após a publicação de lista de desligamento de 15 colegas. Zeferino Vaz renuncia e o professor de filosofia Laerte Ramos de Carvalho assume a reitoria.<br />
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28 de março de 1968<br />
Comandados por Honestino Guimarães, cerca de 3 mil alunos da UnB protestam contra a morte do estudante secundarista Edson Luis, morto por PMs no Rio de Janeiro. Sete universitários acabam detidos, entre eles, Honestino (foto), que seria dado como desaparecido após ser preso por militares da Marinha, no Rio, em 1973.<br />
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29 de agosto de 1968<br />
A UnB é invadida pelas polícias Militar, Civil, Política (DOPS) e do Exército. O estudante Waldemar Alves é baleado na cabeça e passa meses em estado grave no hospital.<br />
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25 de maio de 1976<br />
Doutor em física e oficial da Marinha, José Carlos de Almeida Azevedo assume a reitoria. Recomeçam as manifestações. Alunos protestam contra a má qualidade do ensino, a ociosidade e a falta de professores.<br />
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1977<br />
A UnB sofre três invasões militares no ano. Em 31 de maio, estudantes decidem entrar em greve por tempo indeterminado. O reitor, José Azevedo, chama a PM para intimidar os universitários. A reitoria pune 64 estudantes com expulsão ou suspensão de prazos diversos.<br />
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1984 e 1985<br />
Em maio de 1984, a comunidade universitária elege o professor Cristovam Buarque para reitor. Mas ele toma posse apenas em 26 de julho de 1985. Nesse período, os militares tentaram empossar no cargo um nome escolhido pelo presidente João Figueiredo, o último ditador no poder. Professores resistiram e criou-se o impasse por meses.</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-36540369158747599702012-08-15T15:13:00.000-07:002012-08-15T15:13:04.758-07:00Religião e história nutrem conflito sírio<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Por Bill Spindle e Sam Dagher | The Wall Street Journal<br />Valor Econômico - 14/08/2012<br /> <br />Muçulmanos sírios e libaneses fazem oração, enquanto um líder salafita prega a favor do Exército Livre da Síria, um dos principais grupos rebeldes a combater o regime do presidente Bashar al Assad<br /><br />Perto da cidade síria de Aleppo, a Igreja de São Simeão Estilita comemora o asceta do século V que se tornou uma celebridade antiga ao viver no topo de uma coluna por décadas para demonstrar sua fé. O Krak dos Cavaleiros, castelo imponente nas proximidades de Homs, foi uma fortaleza da ordem dos Cavaleiros Hospitalários em sua missão de defender um reino das Cruzadas. Seydnaya, um imponente mosteiro na cidade de mesmo nome, foi provavelmente construído no tempo de Justiniano.<br /><br />Uma freira desse mosteiro falou recentemente sobre a atual crise da Síria em uma alcova à luz de velas, cercada por ícones votivos de mil anos, doados por fiéis russos ortodoxos, e pingentes de prata com formas de partes do corpo que os suplicantes procuravam curar: pés, cabeças, pernas, braços e até um par de pulmões e um rim.<br /><br />"Não é algo de pequenas dimensões o que estamos enfrentando", disse ela, se referindo tanto à situação do país quanto de sua religião. "Nós simplesmente desejamos que a matança cesse."<br /><br />Poucos lugares são tão centrais como a Síria na longa história do cristianismo. Saulo de Tarso fez sua conversão aqui, supostamente na Rua Chamada Direita, que ainda existente em Damasco. Foi nessas terras que ele praticou suas primeiras missões com a meta de atrair não judeus para a nascente fé.<br /><br />Um século atrás, o Levante tinha uma população possivelmente 20% cristã. Agora, está mais próxima de 5%. A Síria hoje hospeda comunidades vibrantes, embora minguantes, de diversas antigas seitas: sírios ortodoxos, sírios católicos, gregos ortodoxos, gregos católicos e armênios ortodoxos.<br /><br />Mas as comunidades cristãs na Síria estão sendo severamente testadas pela revolta que angustia o país há mais de um ano. Elas relembram o ano de 636, quando o imperador bizantino cristão Heráclio viu seu exército ser derrotado pelas forças muçulmanas ao sul da atual Damasco. "A paz esteja contigo, Síria. Que bela terra serás para os nossos inimigos", lamentou o imperador, antes de fugir para a Antioquia. No Século VIII, uma famosa igreja em Damasco foi demolida para dar lugar a uma mesquita omíada, hoje um dos lugares mais sagrados do Islã.<br /><br />Não poucos cristãos na moderna Síria temem que a atual crise possa terminar da mesma maneira, para eles, se Bashar al Assad e seu regime forem derrotados pela insurgência rebelde.<br /><br />Conflito torna-se cada vez mais sectário e oprime algumas das mais antigas comunidades cristãs na Terra<br /><br />Sob muitos aspectos, é uma preocupação estranha. Cristãos e muçulmanos viveram lado a lado com um mínimo de atrito durante as décadas em que a família Assad esteve no poder. Historicamente, comunidades cristãs locais por vezes acolheram até mesmo senhores muçulmanos, quando os libertaram da mão pesada de Constantinopla ou de Roma. Em muitos lugares, os dois grupos continuam, ainda hoje, a estender as mãos uns aos outros. Até mesmo extremistas rebeldes dizem também nada ter contra os cristãos.<br /><br />Mas, à medida que o conflito no país assume contornos sectários cada vez mais acentuados, pois a maioria dos cristãos se posiciona a favor do regime ou pelo menos não se opõe ativamente a ele, algumas das mais antigas comunidades cristãs da Terra estão se sentindo oprimidas.<br /><br />"Levamos uma vida que tem sido inveja de muitos", diz Isadore Battikha, que até 2010 foi arcebispo de Homs, Hama e Yabroud para a Igreja Católica greco-melquita. "Mas, hoje, o medo é uma realidade."<br /><br />O padre Battikha é um dos muitos apoiadores ferrenhos do presidente Assad.<br /><br />Desde o início do atual conflito, história e religião têm desempenhado um papel fundamental no fomento das paixões em ambos os campos na Síria. E isso tornou-se mais pronunciado à medida que o conflito foi se arrastando, tornando-se mais sangrento e perverso.<br /><br />Uma das afirmações frequentemente repetidas feitas pelo regime sírio explora com eficácia antigas rivalidades. O conflito, alega-se, é uma tentativa de neo-otomanos na Turquia e ultraconservadores muçulmanos de ambições expansionistas na Arábia Saudita, conhecidos como wahhabitas, de conquistar terreno na Síria.<br /><br />Essa narrativa, segundo a qual uma maioria de muçulmanos sunitas domina e reprime as minorias, é agora matéria de noticiários noite após noite na televisão estatal síria. O regime sabe que essa mensagem repercute bem entre os cristãos e outras minorias.<br /><br />Os otomanos, turcos que governaram a Síria de 1516 até a Primeira Guerra Mundial, relegaram os cristãos a um status de cidadãos de segunda classe. Eles foram autorizados a praticar sua religião e a governarem-se em assuntos que não diziam respeito aos muçulmanos. Mas também foram obrigados a pagar impostos especiais e havia muitas restrições a eles no que dizia respeito a interações com os muçulmanos. O wahhabismo, a forma ascética e fortemente conservadora do islamismo praticado na Arábia Saudita, é ainda mais duro em relação aos cristãos.<br /><br />Os rebeldes facilitaram, para o regime, a manipulação desse tipo de temor. Num esforço para inspirar seus próprios combatentes e obter favores e apoio de estrangeiros, principalmente da Arábia Saudita e do Catar, o único outro país onde o wahhabismo é a religião estatal, alguns caracterizam o conflito como uma luta para restaurar as glórias dos califados islâmicos e resgatar a Síria do domínio dos infiéis.<br /><br />Isso transparece claramente nos nomes adotados para identificar as brigadas do Exército Livre da Síria - a frouxa articulação de milícias locais e desertores do Exército. Muitas das milícias receberam seus nomes em homenagem a figuras reverenciadas por muçulmanos sunitas como o terceiro califa Umar ibn al -Khattab, cujo título principal era al Farouq, que significa "aquele que distingue verdade de falsidade", e o guerreiro islâmico e comandante militar Khalid ibn al Walid.<br /><br />Foi Ibn al Walid, combatendo pelo califa Umar, quem derrotou o imperador Heráclio em 636, durante a primeira onda da conquista muçulmana proveniente da Península Arábica nos anos que se seguiram à morte do profeta Maomé.<br /><br />O principal alvo dos rebeldes de inclinação mais sectária não são os cristãos. São os alauitas, grupo minoritário ao qual pertence a família Assad. Os alauitas, que compõem cerca de 12% da população da Síria, praticamente o mesmo percentual dos cristãos, são uma seita heterodoxa que ramificou-se do Islã. São considerados heréticos por extremistas muçulmanos, muito piores do que os cristãos.<br /><br />O regime sírio frequentemente explora com eficácia antigas rivalidades religiosas<br /><br />Apesar disso, muitos cristãos temem que um governo que venha a substituir o regime de Assad possa ser dominado por grupos como a Irmandade Muçulmana, que poderiam devolvê-los à condição de cidadãos de segunda classe. Eles também temem que suas comunidades possam ser devastadas pelo fogo cruzado entre a insurgência predominantemente muçulmana sunita síria e o bem armado regime alauita, da mesma maneira que os cristãos no vizinho Iraque muito sofreram durante as guerras sectárias lá nos últimos dez anos.<br /><br />A expansão do conflito a Damasco e Aleppo, as duas maiores cidades sírias, amplificou os temores dos cristãos. Eles estão sob pressão tanto do regime como dos rebeldes para que tomem partido e declarem suas alianças. Aqueles que querem evitar tomar partido estão deixando o país.<br /><br />Por ora, muitos refugiados - tanto cristãos como muçulmanos e outros - mudaram-se para áreas onde se sentem mais seguros na Síria ou no vizinho Líbano. Até agora, não emergiu o padrão visto no Iraque, onde muitos cristãos emigraram definitivamente para países ocidentais.<br /><br />Os exemplos mais claros de adesão de cristãos ao regime ocorreram em Homs. Na cidade de Qusayr, a sudoeste de Homs, uma família cristã ajudou as forças de segurança pegando em armas e operando postos de controle. O resultado foi uma reação contra todos os cristãos, e a cidade ficou praticamente esvaziada de cristãos a partir de então.<br /><br />Em Wadi al Nasara - o Vale dos Cristãos, outro enclave em meio a cerca de 30 aldeias a oeste da cidade de Homs -, uma família de cristãos pró-regime combateu ao lado de elementos leais a alauitas, dizem moradores que recentemente fugiram da área. Cristãos pro-regime tomaram, no belíssimo vale, dois palácios de propriedade de diplomatas árabes do Golfo, disseram eles.<br /><br />Perto dali, combatentes sunitas estabeleceram uma base no Krak dos Cavaleiros, castelo que é um marco histórico do Século XII e pertencia às cruzadas. "Agora é impossível para um muçulmano descer até o vale", disse um morador da área.<br /><br />O padre Paulo Dall"Oglio, sacerdote jesuíta italiano que viveu na Síria durante três décadas, mas foi expulso pelo regime em junho, diz que muitos membros da igreja têm velhos laços com o regime e com os serviços de inteligência, o que moldou sua posição.<br /><br />"Muitos cristãos na Síria acreditam não haver alternativa ao regime de Bashar al Assad", diz o padre Dall"Oglio.<br /><br />Alguns cristãos, porém, estão se esforçando para superar esse fosso, tentando um diálogo com a oposição e os rebeldes, ou pelo menos lançando uma ponte sobre o abismo sectário que cada vez mais os separam.<br /><br />Basilios Nassar, um sacerdote ortodoxo grego da cidade central de Hama, foi baleado e morto por franco-atiradores do governo em janeiro, enquanto ajudava a evacuar os feridos em confrontos em um bairro, dizem ativistas cristãos.<br /><br />Eles dizem que os franco-atiradores provavelmente o confundiram com um combatente islâmico por causa de sua barba e vestes negras. Sua igreja disse que ele foi morto por "um grupo terrorista armado".<br /><br />Caroline, uma ativista cristã que pediu para ser identificada apenas por seu primeiro nome, foi presa pelas forças de segurança em abril, em Damasco, enquanto distribuía ovos de Páscoa para filhos de cristãos, de sunitas e de famílias alauitas expulsas pelos combates em Homs.<br /><br />Tiras de papel com passagens do Alcorão e da Bíblia acompanhavam os ovos. Caroline disse que esse ato fazia parte de suas tentativas de eliminar gradualmente as barreiras que agora separam os grupos religiosos na Síria devido ao conflito.<br /><br />Anteriormente, ela fez questão de ajudar as esposas e filhos de homens mortos em combate na cidade predominantemente sunita de Douma, nos arredores de Damasco, distribuindo provisões de comida e envelopes com dinheiro.<br /><br />Ela também procurou realizar reuniões com líderes eclesiásticos para pedir-lhes que "não impusessem uma posição em relação a todos os cristãos". Ela disse que a maioria a repreendeu por ser contra o regime ou não quiseram dialogar com ela.<br /><br />O padre Nawras Sammour, um jesuíta de 44 anos de idade originário de Alepo, dirige um programa de assistência em todo o país, denominado Serviço Jesuíta para Refugiados. O grupo está atualmente prestando assistência a 6.000 famílias sírias em todo o país que deixaram suas casas, afetadas pela violência: muçulmanos sunitas e xiitas, drusos, alauitas e cristãos.<br /><br />Ele acredita que somente mediante diálogo entre diferentes grupos religiosos os cristãos continuarão sendo uma presença vibrante nessas antigas terras. Ele admite os problemas e diz compreender as preocupações dos cristãos.<br /><br />"Veja o Iraque, veja o Egito", diz ele, listando os países vizinhos onde turbulência política e a substituição de um governante autoritário por uma ressurgência islâmica impactou comunidades cristãs há muito estabelecidas. "Mas, apesar disso, temos de construir pontes. Esses são os princípios do Evangelho. Não podemos simplesmente escolher um lado e aderir a ele".<br /><br />Alexandre Haddad, um residente com 66 anos de idade na aldeia serrana de Maalula, está preocupado com o destino de sua antiga comunidade cristã, mas assume uma perspectiva de longo prazo. Como outros moradores no vilarejo, ele fala uma variante do aramaico, a língua falada pelo próprio Jesus.<br /><br />"Muitas pessoas passaram por este país - bizantinos, muçulmanos, tamerlanos, mongóis, otomanos", disse Haddad, sentado à sombra do convento de Santa Tecla, heroína da lenda bíblica "Os Atos de Paulo e Tecla".<br /><br />"Jesus era originário de [uma região] um pouco ao sul. São Paulo esteve em Malula ", diz ele. "O cristianismo é muito forte aqui"</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-79698476729925654082012-08-10T10:37:00.001-07:002012-08-10T10:37:20.137-07:00Depois da euforia (IV): educação<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br /><br /> <table summary="detalhe notícia"><tbody>
<tr class="clipping-generico">
<td>Autor(es): Fabio Giambiagi </td>
</tr>
<tr class="clipping-generico">
<td>Valor Econômico - 08/08/2012</td>
</tr>
<tr>
<td> </td>
</tr>
<tr>
<td><div style="text-align: justify;">
<div align="justify">
<br /></div>
Este é o quarto artigo acerca do meu livro com Armando Castelar
("Além da euforia", Ed. Campus) referente aos problemas da nossa
realidade e que serão um obstáculo para a continuidade do crescimento.
Depois de um primeiro texto geral, os artigos posteriores trataram da
nossa baixa produtividade e da poupança doméstica e hoje iremos abordar
o tema da educação. O desenvolvimento sustentável, para além da "etapa
fácil" da ocupação de capacidade ociosa e da redução da taxa de
desemprego, se constrói sobre alicerces que, no Brasil, deixam a
desejar - realidade essa que, se não for modificada, irá conspirar
contra nosso êxito no longo prazo.<br />
O capítulo sobre educação foi escrito por Marcio Gold Firmo, cujas
informações acerca do tema são aqui sintetizadas. A tabela é um bom
indicador para medir nosso atraso relativo. É verdade que entre 2000 e
2010 o número de anos médios de escolaridade da População
Economicamente Ativa (PEA) no Brasil aumentou 1,1 ano. Ocorre que:<br />
i) na década anterior, tinha aumentado 1,9 anos;<br />
ii) na primeira década deste século, a escolaridade média se elevou
também 1,1 ano nos países selecionados da periferia europeia e nos
"tigres" asiáticos e em 0,9 anos nos maiores países da América Latina
exceto Brasil; e<br />
iii) no conjunto de países da tabela, em 2010 o Brasil fica muito atrás em qualquer comparação feita.<br />
Estamos mal na foto - e o filme não chega a ser animador. O Brasil
evoluiu, mas o resto do mundo também. Consequentemente, nosso atraso
relativo permanece. Uma realidade similar se observa em diversos
indicadores. Na nota de matemática do Programme for International
Student Assessment (Pisa), hoje o melhor "termômetro" comparativo da
qualidade da educação em diversos países, mesmo considerando o avanço
recente, ficamos atrás não apenas dos países desenvolvidos, mas também
de países como Argentina, México, Chile, Uruguai e também atrás de
Rússia, Sérvia, Turquia e Cazaquistão. No mesmo PISA, em 2009, o
percentual de alunos com desempenho abaixo do adequado em matemática
foi de 8% na Coreia do Sul, 22% na média dos países da OCDE, 23% nos
EUA, 30% na Grécia, 42% na Turquia e constrangedores 69% no Brasil. Nos
exames do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o
percentual de alunos com desempenho em Matemática considerado adequado
à sua série já é baixo no 5º ano do Ensino Fundamental (apenas 33%) e
cai ainda mais, para apenas 15%, no 9º ano e para 11% no 3º ano do
Ensino Médio.<br />
Alguém poderia alegar que o problema é de escassez de verbas. Essa é
uma questão controversa, mas objetivamente: a) o gasto em educação no
Brasil passou de 3,9% para 5% do PIB entre os anos de 2000 e 2010; e b)
neste último ano, o gasto em educação no Brasil como fração do PIB,
pelos dados da OCDE, era maior do que nos EUA e do que a média da OCDE,
além de ser também superior ao de Polônia, Holanda, Canadá, Espanha,
Coréia do Sul, Alemanha, Austrália, Chile e Japão.<br />
País prioriza o ensino direcionado à formação do cidadão, ao invés de ensinar matemática e português<br />
Parte do nosso atraso vem de longa data e resulta da opção que as
elites dirigentes fizeram há décadas ao adotar um modelo fortemente
concentrador de renda e com escassas preocupações com a melhora de
oportunidades para os filhos das famílias mais humildes, através da
priorização da educação. A Coreia do Sul fez exatamente o contrário a
partir dos anos 50, com resultados espetaculares.<br />
Parte do problema, porém, deriva de escolhas recentes, como aquelas
associadas a certo tipo de ensino voltado para a formação do cidadão,
em oposição à priorização do aprendizado de matemática e português. Sem
uma base forte nessas disciplinas, é impossível esperar que o aluno
tenha um bom desempenho nas demais. Cabe destacar, como um bom sinal, o
empenho do setor privado e da academia em favor do avanço da avaliação
da eficácia de diferentes tipos de intervenções educacionais, a
despeito da resistência de parte do setor de educação pública. É
imperativo que os governos assumam o papel de multiplicadores das
experiências inovadoras de sucesso.<br />
Na educação, o Brasil tem hoje uma atitude oposta à que assume no
futebol, no qual o segundo lugar é visto como uma derrota.
Comparativamente, a autocongratulação em relação aos resultados
educacionais de nossas crianças e jovens é de uma complacência
inadmissível. Aspirar a um crescimento sustentável de 5% ao ano, desse
jeito, é apenas um sonho.<br />
Fabio Giambiagi, economista, coorganizador do livro "Economia
Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora Campus), escreve
mensalmente às quartas-feiras.<br />
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-65955804939498633032012-08-02T05:55:00.000-07:002012-08-02T05:55:03.559-07:00Sete décadas depois, a revisão da história<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Correio Braziliense - 28/07/2012<br /> <br />Favelas do Rio, como a Rocinha, foram ocupadas pelo tráfico, mas recentemente retomadas pela polícia, reacendendo a imagem de pacificação, tão presente em Brasil, país do futuro<br /><br />Setenta e um anos separam o Brasil que Zweig percorreu em 1941 e o Brasil dos dias de hoje. No início dos anos 1940, o Brasil possuía 41 milhões de habitantes. Hoje, tem quase cinco vezes mais – 190 milhões. Entre 1940 e 2012, a expectativa de vida do brasileiro quase que dobrou, passando de 42,7 anos para 73,1 anos, segundo as últimas estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).<br /><br />De uma nação que mal havia começado a entrar na era industrial e cuja maioria da população ainda vivia no campo, o Brasil é hoje a sexta economia mundial, embora a crise econômica europeia esteja começando a mostrar seus reflexos por aqui também. No campo político, o Brasil alternou períodos de ditadura com experiências democráticas. Embora problemas como a corrupção não estejam ainda sob controle, o Brasil é hoje um Estado democrático consolidado. Não seria o caso de se perguntar, então, se o futuro imaginado por Zewig finalmente não chegou?<br /><br />Para o sociólogo Rudá Ricci, diretor do Instituto Cultiva, não se pode dizer que o futuro chegou integralmente, pois o país tem problemas sérios de eficiência no setor público e na sua infraestrutura, como apontou estudo sobre a competitividade do Brasil no mundo elaborado pela escola de admistração suíça IMD (ver artigo nas páginas 22 a 24). Por outro lado, com base no mesmo estudo, ele entende que, para algumas áreas o futuro chegou, ainda que com percalços. "Caminhamos para ser o quinto maior mercado consumidor do mundo, temos uma população majoritariamente de classe média, somos o terceiro país do mundo em acesso às redes sociais e o quinto em atração de investimento produtivo externo. Mas caminhamos aos solavancos. Nossas instituições políticas são arcaicas e se ressentem de seus vícios de origem, como o Senado, que foi criado para dar lugar às oligarquias rurais regionais (como nos EUA) e não para, efetivamente, representar os estados que compõem nossa federação", afirma Rudá.<br /><br />A mesma visão tem o antropólogo Luiz Eduardo Soares, que foi secretário nacional de Segurança durante o governo Lula. Para ele, o país avançou muito a partir de 1994, com o Plano Real, que, segundo ele, estendeu para a economia e a administração pública as condições indispensáveis para a vigência da institucionalidade democrática que havia sido recentemente conquistada e fora formalmente consagrada na Constituição de 1988. "Os governos FHC e Lula, a despeito de seus problemas e limites, e sem prejuízo de suas diferenças, contribuíram para a consolidação democrática, a redução das desigualdades e a retomada do crescimento."<br /><br />Porém, segundo Luiz Eduardo Soares, os problemas a serem superados para que o país chegue ao futuro ainda são muitos. "A representação política está deteriorada, a confiança popular está profundamente abalada, a desigualdade no acesso à Justiça permanece abissal, corroendo sua credibilidade, o racismo ainda não foi reconhecido como um dos mais dramáticos problemas nacionais, a violência não foi enfrentada com racionalidade, nos marcos da legalidade, a homofobia e a brutalidade contra a mulher intensificam-se, violações aos direitos humanos prosperam em todo o país e a pobreza tem sido criminalizada como nunca." Em resumo, segundo Luiz Eduardo Soares, o Brasil continua sendo o "casamento perverso entre o atavismo regressivo e o progressismo inspirador, dançando na corda bamba entre avanços e recuos, sombras e luzes. Somos o país do passado e do futuro", define.<br /><br />O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega considera que o futuro chegou não pelas razões apontadas por Stefan Zweig: extensão territorial e recursos naturais. "O futuro chegou porque construímos as instituições básicas que geram a prosperidade: democracia, Judiciário independente – que garante direitos de propriedade e respeito aos contratos – e imprensa livre e independente. Ainda não está assegurada nossa integração ao mundo rico, mas dificilmente voltaremos aos tempos de instabilidade política e inflação sem controle", afirma Maílson, que é autor do livro O futuro chegou, editado em 2005.<br /><br />Para Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, o futuro imaginado por Stefan Zweig em 1941 está longe de se concretizar. "Um país que se acostumou à cópia, à repetição acrítica de tudo o que soa popular e à supressão do contraditório. Esse é o Brasil do século 21, no qual a invenção é vista como contravenção e a imaginação só é permitida quando a serviço da embromação mercadológica. Tudo é imagem, ficando a substância das coisas soterrada sob a complacência generalizada de quem teria o dever da crítica. É verdade que a mediocridade brasileira não resulta de alguma transformação recente. Excetuando-se talvez a música, a sociedade brasileira jamais produziu algo de original. Consumidores para sempre: esse é o futuro do Brasil", afirma Cláudio Weber Abramo.<br /><br />Bem menos pessimista é a avaliação do jurista Ives Gandra, especialista em direito tributário. Para ele, o Brasil é, ao mesmo tempo, um país do passado, do presente e do futuro. "Como país do passado, mantém estruturas políticas arcaicas, concepção de que a autoridade é mais importante que o cidadão, departamentos burocráticos anacrônicos, sem ter adotado, salvo exceções, a burocracia profissionalizada, e não ter ainda modernizado seu sindicalismo e sua legislação trabalhista e previdenciária. É um país do presente com um sistema financeiro e eleitoral melhor que das nações desenvolvidas e, graças ao setor privado e não aos governos, um país economicamente estável e emergente. E é um país do futuro, pois ainda há muito a mudar para destravar os quatro gargalos da nossa economia: excesso de tributos, excesso de encargos trabalhistas, excesso de burocracia e excesso de corrupção, a que acrescento escassez de patriotismo em nossos políticos."<br /><br />O empresário Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também entende que no Brasil dos dias de hoje, o presente e o futuro caminham juntos. "Soubemos, sim, aproveitar todo o potencial que Zweig via em nosso país e, a partir dele, construir o que é hoje uma grande democracia e a sexta maior economia do mundo. Moderna e inovadora, inclusiva e transformadora". Para Robson Andrade, seguir adiante é o desafio do Brasil de hoje, "em um mundo em constante e acelerada evolução e asfixiado por grave crise econômica e financeira". Nesse sentido, ele considera como maior obstáculo a ser vencido o de trabalhar pelo aumento da produtividade e da competitividade da economia. "Como fez Zweig em seu diagnóstico premonitório, essa é uma indeclinável convocação à sociedade brasileira, o que, mais uma vez, implica perscrutar o futuro para definir como agir no presente", afirmou Robson Andrade.<br /><br />O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da Universidade Nacional de Brasília (UnB) e profundo conhecedor da obra do escritor austríaco, analisa a utopia de Stefan Zweig por um outro ângulo. Para o senador, o cenário ideal imaginado por ele há 70 anos é outro, embora muitos países, entre os quais inclui o Brasil, estejam trabalhando para se tornarem peças ativas deste mesmo cenário. "Nesse mundo que está aí, dessa civilização industrial predatória, não seremos o país do futuro. Somos emergentes tardios. Emergimos para um mundo em extinção, que é o mundo do consumo, da depredação ambiental. Estamos apenas imitando o ocidente e não construindo uma alternativa. Quem não constroi alternativa, não é futuro. É rabeira. Vai atrás dos outros. Para ser futuro, tem que trazer novidade", afirmou Cristovam Buarque, para quem o cenário futuro de descrito por Zweig não existe mais. "O futuro também morre. E aquele futuro morreu".<br /><br />A professora emérita também UnB Bárbara Freitag lembra que o livro Brasil, país do futuro, foi escrito para dois públicos distintos: o europeu e o brasileiro. O europeu poderia ter a chance de superar iniciar uma vida nova sem os traumas do nazismo. Para os brasileiros, que não tiveram a vivência da guerra e dos campos de concentração, a promessa de felicidade consistia, segundo Freitag, em sair da pobreza, da ignorância, da fome e do desemprego. Para ela, nos últimos 60 anos, a situação mudou para melhor, tanto para os europeus que vieram para o Brasil, quanto para os próprios brasileiros, "que hoje buscam sua sorte, em liberdade, dentro e fora do país". Ela afirma que não se importa com o fato de que o futuro sonhado por Stefan Zweig para o Brasil possa ser interpretado com uma utopia: "A utopias existem para serem perseguidas".</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-85954672442679592962012-08-02T05:46:00.000-07:002012-08-02T05:46:02.030-07:00Educação é a base de tudo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Correio Braziliense - 28/07/2012<br /> <br /> Queda do PIB ajudou a reduzir a competitividade internacional do Brasil nos últimos dois anos<br />Carlos Arruda e Fabiana Madsen *<br /><br />Em 2010, o Brasil chegou à 38ª posição entre os países mais competitivos do mundo. Nos últimos dois anos, interrompeu essa ascenção e caiu para o 56º posto, apenas três na frente do lanterna. Os pesquisadores Carlos Arruda e Fabiana Madsen, da Fundação Dom Cabral (FDC), instituição que coordena a coleta de dados do estudo no Brasi, analisam essa retrocesso e apontam as saídas. Para que isso ocorra, é preciso que o país se antecipe ao futuro.<br /><br />O índice geral do World Competitiveness Yearbook 2012 mostra que o Brasil está menos competitivo no cenário internacional. Com uma queda de duas posições em relação a 2011, o país chegou à 56ª colocação entre os 59 países analisados. Para retomar o ganho competitivo que acompanhou a economia nacional entre 2007 e 2010 – quando ocupou a 38ª colocação – e alavancar o crescimento do país, o curto prazo não pode ser o foco principal das medidas adotadas tanto por governos quanto por empresas. As ações devem ser planejadas considerando o longo prazo, e assim permitirem retorno positivo e sustentado para o Brasil. A análise detalhada do desempenho da economia brasileira em todos os indicadores que compõem o relatório mostra que em 2012 a perda de competitividade é consequência de deficiências acumuladas nos últimos anos.<br /><br />Como principais destaques negativos, tem-se o crescimento tímido do PIB em 2011, de 2,7%, quando comparado com o crescimento de 2010, que chegou a 7,5%. Obviamente o baixo crescimento do PIB resulta em perda de competitividade em inúmeros outros fatores, como crescimento da renda per capita, participação no comércio internacional, etc. Revés também foi observado nos investimentos internacionais, em especial no fluxo de investimentos do Brasil no resto do mundo. Em 2011, resultante das crises econômicas vividas na Europa e EUA e uma perspectiva ainda positiva para a economia brasileira, houve uma inversão na direção dos investimentos diretos no exterior por empresas brasileiras que retornaram cerca de US$ 9,3 bilhões para o país, ao mesmo tempo em que investidores estrangeiros trouxeram cerca de US$ 66 bilhões em investimentos diretos. O indicador de comércio internacional também permanece desfavorável. No último ano, conforme dados do Banco Central, o Brasil apresentou um déficit de US$ 52,6 bilhões em seu balanço de transações correntes. Este déficit recorde no país ocorreu apesar do superávit de US$ 58,6 bilhões no balanço de pagamentos em 2011, e de um saldo de US$ 29,8 bilhões na balança comercial do mesmo ano.<br /><br />Quando analisado o comportamento do indicador de crescimento real da produtividade total, verifica-se um ligeiro aumento no último ano. Em 2010, essa variável fechou em -0,96% (em relação ao PIB) e, em 2011, a taxa de crescimento foi de 0,62%. Ainda assim, esse valor é muito aquém do ideal, quando comparado à taxa de crescimento médio da produtividade das demais economias mundiais, que foi de 2,06%. A produtividade do trabalho em paridade do poder de compra (indicador que elimina a diferença entre o custo de vida dos países) indica que o trabalhador brasileiro produz, em média, o equivalente a US$ 12,56 por hora trabalhada, enquanto a média mundial é de US$ 31,84 por hora trabalhada.<br /><br />A análise comparativa da competitividade brasileira sugere, no entanto, que o Brasil tem fortes fundamentos para uma potencial melhora em seu desempenho competitivo. Praticamente todos os indicadores de eficiência dos negócios (diversidade, qualidade da gestão, profissionalismo, etc.) indicam de forma consistente a existência de um ambiente empresarial positivo e confiante em seu desempenho – apesar da perda produtiva apresentada anteriormente. Em se tratando do mercado de trabalho, o Brasil se mantém entre os 20 países que têm seus mercados de trabalho mais competitivos. Em 2010 e 2011, conforme apresenta o relatório, a força de trabalho cresceu timidamente (3,05%), chegando a um patamar de 102,5 milhões de pessoas. Pesquisa de opinião realizada anualmente pela Fundação Dom Cabral sobre as práticas gerenciais, atitudes e valores das empresas mostra a confiança do corpo empresarial no potencial de suas atividades.<br /><br />Ademais, o relatório apontou um ganho de seis posições no conjunto dos indicadores de infraestrutura, indicando a interrupção de um ciclo de três anos de declínio em relação aos 58 países pesquisados. Apesar disso, o Brasil ainda está entre as economias menos competitivas do grupo. O avanço geral em praticamente todas as variáveis relacionadas à infraestrutura sugere que o país está na direção correta, mas talvez a velocidade esteja aquém do necessário. O mesmo se pode observar nos ganhos relacionados ao desenvolvimento tecnológico e à capacidade de geração de novas tecnologias a partir da cooperação entre empresas e entre estas e as universidades. Estes ganhos, importantes, mas tímidos, não resultaram em aumento no número de patentes e novas tecnologias geradas no país, tampouco em exportações de produtos com maior valor agregado. Os ganhos competitivos existem, mas também sinalizam para um problema enfrentado pelo Brasil e do qual tanto o setor público quanto o privado estão cientes: o atraso do país na eficiência e técnica para a criação e desenvolvimento de novas tecnologias e inovações, principalmente devido à ineficiência nos sistemas educacionais, cooperação entre os setores público e privado, marco regulatório adequado para incentivo e apoio à pesquisa tecnológica, à inovação e ao empreendedorismo.<br /><br />A combinação de marco regulatório inadequado, sistema tributário ultrapassado, sistemas educacionais de baixa qualidade e baixos investimentos no país, tanto por parte dos governos quanto da iniciativa privada, trava a competitividade brasileira no curto, médio e longo prazos. A produtividade deveria ser, em nossa opinião, a grande prioridade, uma vez que por ela passa uma série destes e outros aspectos que necessitam atenção imediata. A capacidade produtiva de um país é um dos fundamentos determinantes para avançar na competitividade. Quanto mais riqueza é obtida com a mesma quantidade de capital e com o mesmo número de trabalhadores, mais competitivo será o país. No caso brasileiro, o crescimento do emprego, tão necessário e tão citado como base dos avanços recentes, não tem gerado crescimento de riqueza na mesma proporção.<br /><br />Em seu momento atual, o Brasil gera empregos mas não riqueza – a taxa de crescimento do emprego saiu do nível de 0,3% entre 2009 e 2010 para o nível de 2,1% entre 2010 e 2011. Estão sendo criados empregos que exigem menor qualificação do trabalhador, em setores que agregam pouco valor à economia. Ou seja, apesar dos óbvios benefícios econômicos e sociais que acompanham a positiva geração de postos de trabalhos estes não estão sendo adequados para a reestruturação e crescimento do setor produtivo brasileiro. Os dados do relatório mostram que é pequeno o número de profissionais com a qualificação necessária para transformar a simples pesquisa em um processo de desenvolvimento (os dados mais recentes apresentados, para 2007, mostram que o percentual de graduados em cursos de ciência e tecnologia no Brasil está em 15,2%, enquanto no resto do mundo esse percentual chega a 34,46%).<br /><br />Além disso, os profissionais precisam desenvolver um comportamento empreendedor e inovador menos avesso ao risco, característica raramente encontrada no país. Uma pesquisa recente feita pela FDC com cerca de 220 gestores mostrou que aproximadamente 80% deles estão investindo em inovação para atender pressões competitivas do mercado. Apenas 9% estavam aplicando recursos no desenvolvimento de novos produtos e serviços que podem fazer a diferença nos mercados nacional e internacional.<br /><br />Na busca pelo equilíbrio, a economia brasileira deverá alocar seus recursos de maneira mais eficiente. Para resultados mais imediatos, esses recursos precisam ser destinados, principalmente, à melhoria técnica no ensino do país, que carece de mão de obra qualificada, e na infraestrutura (tanto física como científica e tecnológica). Considerando o longo prazo, o investimento na educação básica é fundamental para garantia de melhorias na capacidade do capital humano que se forma, assim como na estruturação de um modelo de incentivos e cooperação voltado ao desenvolvimento e à inovação. No final dos anos 90, um estudo conduzido pelo Fórum Econômico Mundial perguntou que fatores determinavam a capacidade de um país de se tornar competitivo. Uma das principais conclusões foi a capacidade do país de se antecipar ao futuro. No Brasil o futuro é agora! Não podemos perdê-lo.<br /><br />* Carlos Arruda é coordenador do Núcleo Bradesco de Inovação, diretor-executivo de Internacionalização e professor da Fundação Dom Cabral (FDC) na área de inovação e competitividade<br /><br />* Fabiana Madsen é graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atua como pesquisadora no Núcleo Bradesco de Inovação e na equipe de competitividade da FDC</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-13794787112253251422012-08-02T05:40:00.005-07:002012-08-02T05:40:57.603-07:00Como a história assombra o euro<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Barry Eichengreen<br />O Estado de S. Paulo - 29/07/2012<br /> <br />BARRY EICHENGREEN - o autor é professor de Economia e Ciência Política da Universidade da Califórnia em Berkeley. Escreve a cada dois meses para o "Estado" - O Estado de S.Paulo Depois de passar boa parte da semana no Brasil, tive a impressão de que havia um único assunto na cabeça dos meus interlocutores: a crise na Europa. É difícil ser encorajador. Não há muito que o Brasil possa fazer para se isolar da crise na zona do euro. A saída da Grécia e a crescente intensidade das ondas de choque financeiro irradiadas a partir da Europa estão se aproximando, e não há muito que possamos fazer quanto a isso. O melhor conselho, que não chega a ser muito útil, é fechar bem as escotilhas, pois teremos mares agitados pela frente. Na verdade, minhas conversas no Brasil levantaram uma questão importante a respeito da crise na Europa. É claro que a Europa tem muitos problemas. O continente vive uma crise de endividamento, uma crise bancária, uma crise de competitividade e uma crise política. Mas alguns desses problemas têm sido desnecessariamente agravados pela falta de flexibilidade do Banco Central Europeu. O BCE tem sido lento no corte aos juros. Cortes nos juros implementados pelo BCE tornariam mais fácil o pagamento dos encargos das dívidas nacionais - principalmente se os cortes nos juros forem acompanhados pelo afrouxamento quantitativo, com o BCE comprando títulos no mercado secundário. Além disso, a relutância do BCE em fazer cortes manteve a taxa de câmbio do euro demasiadamente fortalecida. Um câmbio mais fraco é exatamente o que a Europa precisa para começar a controlar seus problemas. Suas exportações se tornariam mais competitivas. Sua economia começaria a crescer. O crescimento tornaria mais fácil a restauração da confiança entre os países e entre os eleitores, pré-requisito para a formação de um consenso quanto às medidas a serem adotadas. Por fim, um afrouxamento quantitativo adicional por parte do BCE faria com que os preços começassem a subir. O custo dos produtos no sul da Europa precisa cair em relação ao custo na Alemanha. Isso pode ser conseguido de maneira menos dolorosa por meio de uma inflação um pouco mais alta na Alemanha, somada a salários e preços mais estáveis no sul, em vez da estabilidade de salários e preços na Alemanha que implica a necessidade de cortes impossíveis nos países do sul. Mas o BCE se recusa a adotar tais medidas. Tudo que vimos nos últimos meses foi um corte aleatório nos juros e nenhuma medida adotada com relação ao afrouxamento quantitativo. A situação se tornou tão ruim que até o Fundo Monetário Internacional, instituição que não é conhecida exatamente por sua irresponsabilidade, deseja agora medidas de resposta mais agressivas por parte do BCE. Quando indagamos por que o BCE reluta tanto em agir, a maioria das pessoas aponta para o medo que os alemães têm da inflação. Depois da terrível experiência de hiperinflação vivida pelo país nos anos 20, os alemães temem a possibilidade de a inflação estar à espreita, aguardando o momento de atacar. Eles criaram o Banco Central Europeu à imagem do seu próprio BundesBank. Consequentemente, o BCE se recusa a fazer qualquer coisa que possa criar o mais remoto risco de inflação. Em particular, a Alemanha rejeita todas as propostas que pedem a compra de títulos do governo por parte do BCE, temendo que isto leve à impressão de ainda mais dinheiro, incentivando os governos a burlar as regras orçamentárias da UE. E, no ambiente atual, contexto em que é a Alemanha quem dá as cartas na economia europeia, os alemães impõem seu estilo aos demais. É neste ponto que a comparação com o Brasil se torna interessante. O Brasil também tem uma história de alta inflação - ainda mais próxima do que a da Alemanha, já que foi vivenciada em primeira mão pelos brasileiros ainda vivos. O Brasil tem também uma história de governos estaduais que burlam as regras orçamentárias. Mas o Banco Central do Brasil se sentiu livre para cortar os juros acentuadamente na desaceleração atual, como deveria fazer um banco central competente. Diferentemente do BCE, o BCB não foi inibido pela história de inflação do Brasil e seguiu práticas adequadas para uma instituição de seu tipo. Por que tal diferença? Suspeito que os alemães tenham tamanha fobia da inflação - a ponto de colocar em risco sua moeda única - porque a sabedoria popular alemã diz que a inflação causou o colapso da República de Weimar, o fim da democracia e a ascensão dos nazistas. Ninguém no Brasil deseja ver o retorno da inflação, mas a experiência inflacionária brasileira foi menos traumática, pois não levou ao colapso do sistema político. O único problema é que a sabedoria popular alemã está errada. Os estudos modernos concordam que não foi a hiperinflação dos anos 20, e sim a Grande Depressão e o alto desemprego dos anos 30 que fomentaram o apoio político aos nazistas. Ao exigir do BCE que apague imediatamente todas as fagulhas de inflação - algo que, no ambiente atual, só agrava o desemprego -, a Alemanha está portanto alimentando justamente o problema do extremismo político que o pais tanto teme. Não será fácil contrariar a sabedoria popular alemã, algo que, por sua vez, não nos dá muita esperança de uma solução amena para a crise da zona do euro. Mas, no Brasil, a situação é mais alegre. Os brasileiros aprenderam a lição certa com sua própria crise inflacionária. Fortalecer as regras fiscais sob as quais os governos estaduais operam. Dar ao banco central independência estatutária. E então se afastar para que o banco central possa fazer seu trabalho. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-64727700464373048312012-08-02T05:37:00.003-07:002012-08-02T05:37:41.506-07:00"Dossiê Golpe de 64" saiu da gaveta<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Élio Gaspari - Élio Gaspari<br />O Globo - 29/07/2012<br /> <br />Está chegando às bancas a edição de agosto da "Revista de História" da Biblioteca Nacional. Nela desfaz-se um mistério: o que havia nas 22 páginas do "Dossiê - O Golpe de 1964" que foram retiradas da edição de abril, por decisão comunicada em nome do Conselho Editorial da revista, depois de elas estarem prontas, editadas e diagramadas? Resposta: Nada além de um trabalho competente de jornalistas e professores.<br /><br />O "Dossiê", organizado por Bruno Garcia e Nashla Dahás, foi publicado por decisão de todos os profissionais da redação (cinco jornalistas e 12 pesquisadores). Aparece com três meses de atraso, mas tira da revista a macumba de ter engavetado a História.<br /><br />Há no "Dossiê" cinco artigos, dos professores Daniel Aarão Reis (UFF), João Roberto Martins Filho (UFSCar), Jorge Ferreira (UFF), Luis Antonio Dias (PUC-SP), e Mateus Henrique de Faria Pereira (UFMG). São textos de historiadores, só isso. Não revelam onde estão desaparecidos da ditadura, nem quem deu a ordem para matar todos os militantes do PCdoB que estavam no Araguaia a partir de outubro de 1973.<br /><br />Ainda há gente que se inquieta com 1964. É compreensível. Aarão Reis ensina em seu artigo que "é inútil esconder a participação de amplos segmentos da população no movimento que levou à instalação da ditadura em 1964. É como tapar o sol com a peneira."<br /><br />Resta a pergunta das razões que levaram conselheiros a se associar, ou verem-se associados, ao engavetamento. Eram oito historiadores, sete dos quais professores de universidades. O conselho estava envolvido num conflito com a entidade que edita a revista, a Sociedade Amigos da Biblioteca Nacional. Em meados de junho, ele demitiu-se. O conflito nada teve a ver com o conteúdo da publicação. Em abril a revista circularia com artigos que relembrariam um fato histórico ocorrido há 48 anos. Saiu com um levantamento sobre mercenários. Em maio, mês da Abolição, a capa foi para a princesa Isabel.<br /><br />A redação deu final adequado a uma história que deixaria mal uma revista chamada História.<br /><br />À época do engavetamento do "Dossiê", era a seguinte a composição do conselho editorial: Alberto da Costa e Silva (presidente), José Murilo de Carvalho (UFRJ), Lília Moritz Schwarcz (USP), João José Reis (UFBA), Laura de Melo e Souza (USP), Caio César Boschi (PUC-BH), Ricardo Benzaquen (PUC- RJ), Ronaldo Vainfas (UFF), Marieta Moraes Ferreira (CPDOC-FGV) e Luciano Figueiredo (UFF).<br /><br />Lula<br /><br />O comissariado petista diz que Lula vai bem, em relação a seja lá o que for. Apesar disso, reconhece que, com a chegada de agosto, as coisas não evoluíram como se previa.<br /><br />Em outubro passado, quando o câncer de Lula foi diagnosticado, a doutora Dilma previu que no carnaval ele desfilaria com os Gaviões da Fiel. Em abril, Lula achava que em duas semanas estaria nas campanhas de Fernando Haddad e Luiz Marinho.<br /><br />José Dirceu<br /><br />Na quarta-feira, a decisão de José Dirceu era a de não ocupar a tribuna do Supremo para se defender. A tarefa ficaria com seu advogado.<br /><br />O conde Ciano<br /><br />Para quem gosta de histórias da Segunda Guerra, do fascismo ou de espertalhões, saiu um bom livro. É "O Conde Ciano - Sombra de Mussolini", do jornalista americano Ray Moseley.<br /><br />Galeazzo Ciano era um nobre italiano, boa-pinta e vigarista. Casou-se com a filha do ditador Benito Mussolini e tornou-se ministro das Relações Exteriores aos 33 anos.<br /><br />Em 1943, traiu e ajudou a depor o sogro. Foi capturado pelos fascistas, julgado e condenado à morte, junto com quatro outros hierarcas. Na hora de ser passado nas armas, escreveu a melhor página de sua biografia (e do livro). Primeiro, arrumou a disposição dos colegas de viagem de acordo com o cerimonial da precedência, como se acomodasse convidados para um jantar. Recusou a venda e, sentado de costas para o pelotão de fuzilamento, na hora certa virou-se e encarou-o.<br /><br />A tradução é do general Gleuber Vieira, comandante do Exército durante o tucanato.<br /><br />FILME PARA O STF<br />Um curioso sugere que os ministros do Supremo aproveitem as vésperas do julgamento do mensalão para ver o filme "Dois são Culpados" ("La Glaive et la Balance"), do francês André Cayatte. É de 1963, difícil de achar. Dois sujeitos sequestraram um menino e, perseguidos pela polícia, esconderam-se num farol. Quando o prédio foi invadido o menino estava morto e havia nele três pessoas. Durante o julgamento os advogados dos três sustentaram que seu cliente estava lá quando chegaram os criminosos. Foram convincentes, e todos os réus foram absolvidos. Terminado o julgamento, entraram num camburão. A choldra queimou o carro onde estavam Anthony Perkins, Jean Claude Brialy e Renato Salvatori. Assaram os culpados e o inocente.<br /><br />TUNGA<br />O comissariado promete um reordenamento tributário. Poderia dar atenção a um capítulo irracional e retrógrado da barafunda de tungas que impõem aos contribuintes.<br /><br />Um cidadão quer ver um filme que ainda não chegou ao Brasil e resolve importar um DVD pela Amazon. Ele custa US$ 24, mais US$ 17 pelo frete da caixinha. Em cima do total de US$ 42 a empresa cobra, adiantado, US$ 40 de impostos brasileiros. O pobre-diabo toma uma tunga equivalente ao valor da compra.<br /><br />O problema é que outro cidadão pode comprar por R$ 400 um aparelho Apple TV, ou trazê-lo na mala, comprado nos Estados Unidos, por US$ 99. Com essa máquina aluga o filme no iTunes e paga US$ 5. Se quisesse comprá-lo, baixaria a peça por US$ 20, a quarta parte do que pagou a primeira vítima.<br /><br />Proteger a indústria nacional de distribuição de DVDs é uma coisa. Punir os contribuintes com tamanha tributação é outra. Os impostecas nacionais ainda não descobriram o alcance democratizador do comércio eletrônico. Como diziam que os iPads não eram computadores porque não tinham teclado, são capazes de tudo.<br /><br />O CONDE CIANO<br />Para quem gosta de histórias da Segunda Guerra, do fascismo ou de espertalhões, saiu um bom livro. É "O Conde Ciano - Sombra de Mussolini", do jornalista americano Ray Moseley.<br /><br />Galeazzo Ciano era um nobre italiano, boa-pinta e vigarista. Casou-se com a filha do ditador Benito Mussolini e tornou-se ministro das Relações Exteriores aos 33 anos.<br /><br />Em 1943 traiu e ajudou a depor o sogro. Foi capturado pelos fascistas, julgado e condenado à morte, junto com quatro outros hierarcas. Na hora de ser passado nas armas escreveu a melhor página de sua biografia (e do livro). Primeiro arrumou a disposição dos colegas de viagem de acordo com o cerimonial da precedência, como se acomodasse convidados para um jantar. Recusou a venda e, sentado de costas para o pelotão de fuzilamento, na hora certa virou-se e encarou-o.<br /><br />A tradução é do general Gleuber Vieira, comandante do Exército durante o tucanato.<br /><br />O PLANALTO INCENTIVA MAIS UMA GREVE<br /><br />Desde 18 de junho há auditores da Receita Federal namorando uma greve. Por enquanto, fazem operações-padrão e reduzem o lançamento de cobranças. O sindicato da categoria não gosta da ideia, e o movimento não empolgou os servidores.<br /><br />Na quarta-feira os sábios do Planalto ameaçaram substituir eventuais grevistas com funcionários das fazendas estaduais. A ideia não tem base legal sólida e serve apenas para acirrar os ânimos. Em 2002 uma hierarca insultou os auditores dizendo que não precisavam de melhorias porque entre eles havia muitos corruptos. Deu fôlego à greve.<br /><br />Num caso desses, a Receita, silenciosamente, mexe nos canais e reprograma o índice de fiscalização, sem anúncios marqueteiros que apenas estimulam contrabandistas e larápios.<br /><br />A ideia de terceirizar grevistas deu certo nos Estados Unidos em 1981, quando pararam os controladores de voo. O presidente Ronald Reagan convocou militares e interessados nos postos, desempregou 11 mil, quebrou o movimento e destruiu o sindicato. Dilma Rousseff não é Ronald Reagan.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-4205561156344784832012-08-02T05:30:00.003-07:002012-08-02T05:30:54.026-07:00Resgate histórico<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Ana Dubeux<br />Correio Braziliense - 29/07/2012<br /> <br /> O Brasil sempre foi um país condenado ao olhar impiedoso daqueles que o enxergam como o reino do jeitinho, da impunidade, da tibieza de suas instituições. Junto ao crescimento que experimenta na seara econômica e até no jogo político democrático, tem tido a chance de reinventar sua imagem. Os esforços para abrir arquivos da ditadura e instituir a comissão da verdade estão aí para derrubar mais alguns obstáculos nesse caminho. Nesta semana, no entanto, será estendido o tapete vermelho para essa passagem civilizatória. O cidadão acompanhará o julgamento dos réus do chamado mensalão, o escândalo que contaminou o fim do primeiro mandato de Lula e colocou 38 pessoas diante das acusações de formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Não é pouca coisa, principalmente porque significa o desfecho do caso, independentemente do resultado.<br /><br />O maior julgamento da República levará o brasileiro a uma viagem no tempo, ao fechamento de um longo período de sete anos e, principalmente, o resgatará de um esquecimento, tão comum quando se trata de crimes políticos. Nesse período, as pessoas nasceram, morreram, tiveram<br /><br />filhos ou os viram partir, casaram-se, viajaram, trabalharam, compraram a casa própria e tocaram a vida sem que a lembrança de Delúbio Soares, Marcos Valério, Roberto Jefferson e companhia limitada queimasse uma só de suas pestanas. Houve, sim, a decepção, mas o show continua.<br /><br />Passaram a indignação coletiva, as eleições que deram a Lula seu segundo mandato, as outras eleições que colocaram a sucessora de Lula como a primeira mulher a presidir o Brasil. Dilma adoeceu e se curou, Lula adoeceu e se recupera, o delator Jefferson enfrenta problemas de saúde e não estará no Supremo Tribunal Federal durante o longo julgamento. Passaram bois e boiadas, inclusive sobre a cabeça dos brasilienses, que dormiram um dia e acordaram de frente com uma senhora encrenca chamada Pandora.<br /><br />O Brasil continuou perdendo gente para o trânsito, para as doenças crônicas, para as drogas. Perdeu também o fio condutor para uma educação de qualidade, enquanto a classe política discute se o caso mensalão, agora novamente no foco, vai ou não influenciar nas próximas eleições. Mas é bom saber que desta vez não perderá a memória. O julgamento retoma, resgata uma parte da história brasileira, que poderá ser contada com início, meio e fim.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-70413326616076445712012-08-02T05:25:00.000-07:002012-08-02T05:25:06.237-07:00Especial: Os brasileiros que não estudam<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Brasil ainda tem 1 milhão sem escola<br />Autor(es): agência o globo:Carla Rocha Antônio Gois<br />O Globo - 30/07/2012<br /> <br />Dados do IBGE revelam excluídos educacionais até em estados ricos<br /> <br />São apenas cinco letras, mas rabiscá-las é um tremendo desafio. Com um caderno sobre as pernas, Mário, de 11 anos, quase desenha seu nome, a única palavra que sabe escrever, manuseando o lápis sem intimidade. O nome é fictício, a história, real. A deslumbrante paisagem que se vê da casa do menino, que só entrou para a escola há cerca de um mês, revela um problema que ainda persiste mesmo nos estados mais ricos. O franzino Mário vive seu drama particular no Morro do Vidigal, em São Conrado, debruçado sobre os bairros de maior renda do Rio.<br /><br />Os números do Censo do IBGE mostram que, apesar de o problema ser mais grave nas regiões Norte e Nordeste, nenhum estado conseguiu até hoje incluir todas as crianças de 6 a 14 anos na escola. Esta população de não estudantes representa 3% do total da faixa etária. Pode parecer um percentual pequeno, mas é grave quando se considera que é quase um milhão de crianças que ainda não têm garantido um de seus direitos mais básicos, previsto pela Constituição de 1988: estudar. Se a esse grupo forem incorporados as crianças de 4 e 5 anos e os jovens de 15 a 17 (que passam a fazer parte da faixa etária de escolaridade obrigatória a partir de 2016), o número aumenta para 3,8 milhões, ou 8% do total.<br /><br />Tabulações feitas pelo GLOBO nos microdados do Censo mostram que o problema é maior entre os mais pobres e crianças com algum tipo de deficiência. Os números também revelam que a maioria (62%) das crianças que não estudam dos 6 aos 14 chegou um dia a frequentar a escola, mas abandonou os estudos. O problema é ainda mais grave se consideradas as faixas etárias de 4 e 5 anos e de 15 a 17, que desde 2009 passaram a ser também obrigatórias, mas com prazo para adequação dos sistemas até 2016.<br /><br />As razões mais citadas por especialistas para isso são falta de interesse, repetência, gravidez precoce e necessidade de trabalhar.<br /><br />Mas há situações difíceis de entender. Como a de Mário (nome fictício). No Morro do Vidigal, há uma creche municipal e uma escola, a poucos metros da casa dele. Tímido, ele é um menino saudável, apto a aprender e que não esconde de ninguém que queria muito, muito estudar.<br /><br />- Agora eu estou feliz - sorri e mais não diz o menino, que não conhece sequer o "i", uma das vogais de seu nome (o verdadeiro também tem a letra). Ele revela apenas o que pretende fazer com os conhecimentos que começa a adquirir com seu primeiro professor. - Quero ler jornal e gibi.<br /><br />Ex-representante da Unesco no Brasil e doutor em Educação pela Universidade de Stanford, o assessor internacional para a área de educação, Jorge Werthein, diz que o primeiro passo, nada fácil, é identificar essas crianças e adolescentes.<br /><br />- O Brasil é um país de contrastes. Há estados importantes com uma grande periferia urbana e muitas desigualdades econômicas. Há estados com uma área rural significativa que sofrem com a falta de escolas. Num país continental, é uma tarefa árdua chegar a essas crianças e adolescentes por estado, por capital, por região metropolitana. Mas é preciso achá-los e depois convencê-los a ingressar ou a voltar para a escola - diz.<br /><br />- Depois, nós temos que repensar a escola para que ela seja um espaço não apenas prazeroso, mas em que os alunos sintam que estão aprendendo. Uma escola ruim em qualquer lugar do mundo expulsa os alunos, com repetências e abandono. Deixa para eles a mensagem de que não são capazes, o que marca de forma brutal meninos e meninas - completa Werthein.<br /><br />- Houve uma evolução inegável nos últimos dez anos. Mas ainda há muita criança fora da escola, situação agravada pelas desigualdades. Entre 4 e 5 anos, há 83% estudando no Sudeste, o que ainda é ruim, mas pior é haver só 69% dentro de sala de aula no Norte - afirma Andrea Bergamaschi, do movimento Todos pela Educação. - Para reverter este quadro, precisamos de políticas públicas cirúrgicas, específicas para cada situação.</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-10234463488706461342012-08-02T05:20:00.003-07:002012-08-02T05:20:37.039-07:00A educação em ano eleitoral<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Renato Janine Ribeiro<br />Valor Econômico - 30/07/2012<br /> <br />Há vinte anos, quando o ministro Murílio Hingel assumiu a pasta da Educação no governo Itamar Franco, começou a mudar a prioridade na educação brasileira. Com boas intenções, a Constituição de 1988 incumbira o governo central de manter o ensino superior, com um número que depois aumentou de universidades federais, e atribuíra a Estados e municípios o ensino básico. Traduzindo, a União paga as universidades, gastando nelas três quartos do seu orçamento com a educação, enquanto os municípios mantêm os primeiros nove anos de escolaridade (os antigos grupo e ginásio, depois segundo grau, hoje ensino fundamental) e os Estados apoiam esse esforço, respondendo também pelo ensino médio, antigo colegial. Há exceções, substanciais inclusive, mas o desenho constitucional é esse. A boa intenção foi pensar que, colocando a educação mais importante, a de crianças e adolescentes, mais perto do eleitor, ela iria melhorar. O cidadão controlaria de perto a educação dos seis aos dezoito anos, ou mesmo desde as creches.<br /><br />Ledo engano. Daí, surgiram inúmeros problemas. Muitos prefeitos e governadores não são capazes de dirigir sistemas educacionais - quanto mais, de conceber mudanças que valorizem o professor e estimulem os alunos. Na verdade, os maiores avanços da educação básica nestes vinte anos, em que pesem as boas intenções de Murilio Hingel, Paulo Renato de Souza e Fernando Haddad, os ministros mais duradouros no cargo, foram apenas dois. Primeiro: priorizar na pauta de intenções do governo a educação básica. Por ora, é uma intenção. Não é uma realização. Mas já é positivo aumentar a convicção de que essa educação é a mais importante. Infelizmente, falta as famílias assumirem isso.<br /><br />Segundo ganho: a decisão de avaliar a educação. E a percepção de que, para tanto, precisamos de indicadores bons. Isso pode parecer óbvio. Como melhorar a educação, sem uma avaliação constante? Mas o que não é óbvio é o modo de avaliar. Isso é muito difícil. Podemos, sim, fazer uma avaliação bastante básica dela - ver como as crianças menores se saem nas operações fundamentais da matemática e no português. Meu filho, aos oito anos, fez a Provinha Brasil, que eu baixei para ele. Acertou 23 das 24 questões. Uma amiguinha dele teve dificuldades com a última pergunta, que era como se escreve "quintal". Aliás, aproveito para recomendar aos pais que procurem, no site do INEP, as edições anteriores da Provinha e apliquem aos filhos de 7 a 9 anos. É uma brincadeira, mas fará que as famílias se envolvam mais com a educação das crianças. Voltarei a este ponto. Mas lembro que, à medida que a pessoa cresce, é cada vez mais difícil avaliar, e a regra número 1 é que a avaliação não pode inibir iniciativas criativas e emancipadoras.<br /><br />Use seu voto para melhorar a educação básica<br /><br />A avaliação dos sistemas educacionais foi um tema que dividiu, por muito tempo, o PSDB - que a defendia e implantou em escala federal - e o PT, que fechava com os sindicatos de professores na resistência a ela. Entendia o PT, e hoje entendem os sindicatos docentes, que a avaliação é injusta com os professores, punindo-os por deficiências do sistema como um todo e só recompensando alguns deles, os melhores. Mas não há como melhorar a educação, inclusive a remuneração dos profissionais, sem exigir deles um bom desempenho. Sempre fui defensor da qualidade. Achei muito bom que, no governo Lula, o PT mudasse de posição a respeito e, inclusive, aprimorasse os indicadores educacionais. (Vários sindicatos continuam contrários, o que hoje leva parte deles a apoiar os partidos ditos de extrema-esquerda).<br /><br />Recomendo aos pais: olhem no INEP a prova adequada à idade do filho, seja Provinha Brasil, Prova Brasil ou Enem. Peçam ao filho para fazê-la e o acompanhem. E por quê? Não é só para saber como está seu filho, embora isso seja fundamental. Mas é, sobretudo, porque a maior deficiência do ensino brasileiro é que a sociedade não fez, dele, sua prioridade. Muitos consultores e jornalistas dizem que melhorar a educação é condição para o país se desenvolver. Mas sejamos claros. A família pode ajudar na segurança, na saúde e na educação. Pode ensinar os filhos a serem honestos e a se acautelarem dos criminosos. Deve educá-los a ter hábitos higiênicos e cuidar da saúde. Mas não pode substituir a polícia, o médico - nem, aliás, o professor. Só que na educação, a família pode fazer muito mais do que faz. Pode, numa palavra, mostrar que a educação é importante.<br /><br />Exemplo negativo: um conhecido meu, numa crise econômica, mudou os filhos de escola porque a mensalidade estava cara. Só por isso. No mês seguinte, trocou o carro seu e da mulher. Que sinal ele deu para os filhos? Não precisa responder. Mas foi pior do que aquilo que mil governos ruins podem fazer.<br /><br />Sugestão nestas eleições: vejam o que os candidatos a prefeito propõem para a educação. Verifiquem se falam em merenda escolar, transporte, pintura de escolas. Se falarem só nisso ou principalmente nisso, fujam! Provavelmente, eles não têm ideia do que é a educação. Claro que podem - e devem - falar desses pontos, mas o principal é a qualidade do ensino. Vejam também se vão falar em tablets, internet e coisas que tais. Alerta! Esses instrumentos só são úteis se houver alguém que saiba usá-los. Confiram se falam em cursos para qualificar os professores, em aumento de salário vinculado a cobrança de desempenho, e em incentivo aos alunos para que tenham prazer estudando. Aprofundem estes pontos, para ver se eles entendem do que estão falando ou apenas repetem mantras de marqueteiros. Porque, se entenderem disso, podem ser prefeitos bons para a educação.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-34126316994055399982012-08-02T05:10:00.005-07:002012-08-02T05:21:01.941-07:00Educação e competição<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Jairo Martins<br />
Correio Braziliense - 30/07/2012<br />
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JAIRO MARTINS<br />
Superintendente-geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ)<br />
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Nas últimas décadas, o Brasil vem acumulando conquistas políticas, sociais e econômicas, saindo da condição de subdesenvolvido para o grupo das nações emergentes. Ao dominar a superinflação e conquistar a estabilidade da moeda, o país iniciou a preparação do alicerce para que iniciasse a trajetória rumo ao crescimento. Enquanto países, até pouco tempo vistos como prósperos, mergulham num estado de incerteza em relação ao futuro, a economia brasileira demonstra que adquiriu solidez, tornando-se grande valor para a sociedade.<br />
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Para poder aproveitar o bom momento econômico e dar continuidade ao crescimento, o Brasil precisa se desvencilhar dos antigos entraves, que atrapalham a competitividade, a eficiência e o desenvolvimento do país. Um dos principais gargalos diz respeito ao sistema educacional, que não tem conseguido se adequar aos novos desafios e constantes mudanças no âmbito dos negócios, a fim de prover profissionais qualificados e capazes de atender as necessidades do mercado. Em função desse cenário, as empresas atuam globalmente para encontrar e tentar reter o melhor talento.<br />
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Pesquisa realizada pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) com executivos brasileiros, a partir da reprodução da McKinsey Global Survey 2010, mostra que a melhoria na educação, a produtividade do trabalho e a gestão de talentos estão entre as principais forças de transformação que podem influenciar nos resultados das organizações. Quando comparadas à importância para os negócios e às ações efetivas, 94% dos entrevistados confirmam a preocupação com essas questões, enquanto 80% adotam medidas ativas para minimizar a lacuna e aperfeiçoar a gestão de talentos.<br />
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A carência de profissionais qualificados é nítida, especialmente como resultado dos baixos investimentos estatais na área da educação e da falta de integração das três esferas — governo, escolas e empresas — em prol da melhoria da qualidade do modelo de ensino no país.<br />
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Outro estudo realizado com 30 empresas sediadas no país pela PricewaterhouseCoopers (PwC) Brasil, em 2011, revela que a contratação de executivos com o perfil desejado para atender aos objetivos estratégicos é o mais difícil entre os diferentes níveis hierárquicos, assim como os de gestão de pesquisas e desenvolvimento (P&D). Encontrar profissionais técnicos especializados tem sido outro desafio para a gestão de pessoas.<br />
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Diante dessas dificuldades, os programas de retenção de talentos e desenvolvimento de profissionais estão entre os maiores focos das organizações, superando os da contratação e firmando-se como as chaves para consolidar o sucesso das empresas no mercado. Por isso, no cenário de transformações, a gestão de pessoas ganha especial importância e torna-se uma das principais estratégias de muitas companhias que buscam alternativas para suprir as necessidades de qualificação profissional e ganhar competitividade no século 21.<br />
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Assim, o mundo corporativo passa a ser um dos melhores ambientes para formar capital humano, com a implantação de práticas inovadoras e a criação de programas próprios de capacitação, treinamento e desenvolvimento de talentos e novas lideranças.<br />
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Mesmo saindo da sua vocação primária, de prover produtos e serviços competitivos, as empresas se juntam aos governos e às escolas na busca de solução para suprir a lacuna educacional, compreendendo a importância de sua atuação em prol de grandes temas essenciais ao desenvolvimento do Brasil. Cooperar e compartilhar boas práticas e iniciativas de quem já vem exercendo seu papel na formação de profissionais desponta, enfim, como um dos caminhos mais eficazes para mobilizar as demais organizações, incentivá-las a adotar ações gerenciais efetivas e comprovar que o conhecimento profissional pode contribuir para o crescimento e para a inovação corporativa, garantindo a continuidade da expansão econômica brasileira.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-38148786491174826442012-07-24T05:06:00.000-07:002012-07-24T05:06:25.832-07:00Sobre o aumento de gastos públicos na educação<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<h1 class="documentFirstHeading" style="border-bottom-color: rgb(204, 204, 204); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Lucida, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 19px; font-weight: normal; margin: 0pt 0pt 0.25em; text-align: -webkit-auto;">
<br /></h1>
<div style="font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Lucida, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; text-align: -webkit-auto;">
<table detalhe="notícia" style="font-size: 12px;" summary="detalhe notícia"><tbody>
<tr class="clipping-generico" style="color: #5a5a5a; font-size: 11px; font-weight: bold;"><td>Autor(es): Maílson da Nóbrega</td></tr>
<tr class="clipping-generico" style="color: #5a5a5a; font-size: 11px; font-weight: bold;"><td>Veja - 23/07/2012</td></tr>
<tr><td> </td></tr>
<tr><td><div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
E bem-intencionado o aumento dos gastos públicos em educação para 10% do PIB. aprovado em comissão especial da Câmara. Mas é também um enorme equívoco. Não quebrará o país, como se disse, mas vai exigir maior carga tributária (a margem para novas despesas é ínfima) e pode reduzir o potencial de crescimento. Ou seja, menos emprego, menos renda e menos bem-estar, ao contrário do que parece.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
<br /></div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Não é o volume de gastos que melhora a educação. O Brasil já despende 5,1 % do PIB na área, enquanto é de 4,8% a média dos países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), quase todos muito ricos. Segundo as Nações Unidas/Unesco, nossos gastos superam, como proporção do PIB. os de Japão (3,3%), Alemanha (4%), Coreia do Sul (4.5%) e Canadá (4,6%). Mesmo assim, no último teste conduzido pela OCDE/Pisa. ficamos em 53° lugar entre 65 países em leitura, matemática e ciência. À nossa frente estão Colômbia. México, Uruguai. Chile, Tailândia, Turquia e outros países emergentes. A China (Xangai) ficou em primeiro lugar nas três matérias.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Quem faz fé no mérito desse aumento de gastos deveria examinar o caso da China. Lá se despendem menos de 4% do PIB, mas a educação é a alavanca do seu robusto desenvolvimento. Nos últimos vinte anos a taxa de analfabetismo caiu de 22,8% para 5,7% da população adulta (9,7% no Brasil). Para o professor José Pastore, a educação é a arma definida por eles para dominar o mundo, revolucionando a preparação de talentos para ciência e tecnologia. Na última década, o número de jovens chineses nas melhores universidades do mundo cresceu dez vezes. Em 2009, havia 120000 deles em escolas americanas, a maioria em cursos de pós-graduação. Os brasileiros eram 7 500 (3 em pós-graduação). Segundo o Wall Street Journal, em 2011 os chineses compunham quase a metade dos estudantes estrangeiros em cursos mestrado e doutorado nos Estados Unidos.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Com gastos relativamente menores do que do Brasil, a China avançou muito em pesquisa, desenvolvimento, o que requer pessoal de altíssima qualificação. Conforme relatório da Thomson Reuters, em 2011 a China superou os Estados Unidos e o Japão no registro de patentes. Não por acaso. sua economia cresce cada vez mais com em produtos de alta tecnologia, como bens de capital para telecomunicações. Os chineses ganharam da Alemanha a liderança em painéis solares. China é o terceiro país a enviar astronautas ao espaço. Sua estação espacial será concluída em 2020. Há plano de pôr um chinês na Lua até 2025.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
O Brasil precisa mesmo é de uma revolução no uso dos gastos públicos em educação: melhorar a gestão dos recursos, aumentar a qualificação dos professores e remunerá-los bem e por desempenho, como acontece nós países bem-sucedidos em elevar a qualidade da educação. Há que abandonar a resistência ideológica à cobrança de mensalidade nas universidades públicas, o que beneficia essencialmente os estratos mais ricos. A propósito, não existe ensino gratuito. Os respectivos gastos são cobertos pelos contribuintes. Cabe lembrar que os pobres pagam, como proporção) sua renda, mais impostos do que os ricos. Na China, a educação superior é paga. O governo subvenciona os alunos talentosos cujas famílias podem custear seus estudos universitários. O Brasil poderia fazer o mesmo.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
A proposta da Câmara para aumentar os gastos em educação amplia projeto igualmente inconsequente do Executivo, de elevá- los para 7% do PIB. mais do que em campeões de êxito na educação, que relativamente menos: Suécia (6,7%). Noruega (6.4%) e Finlândia (6.1%). O Brasil perderia para Cuba (13,6%). Lá. até camareira de hotel tem curso superior, mas a educação não evita que o país, reprimido pelo comunismo, continue pobre e sem futuro. I</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Entre 2010 e 2050 a população de crianças de até 14 anos diminuirá 42,7%: de 49,4 milhões para 28,3 milhões. Além de estudarem os efeitos da demografia nos gastos em educação, os deputados poderiam ler o excelente texto sobre tema, de Mareio Gold Firmo, no novo livro de Fábio Giambiagi e Armando Castelar Pinheiro (Além da Euforia, Editora Elsevier). Decidiriam melhor.</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-60536931688524113642012-07-24T04:54:00.002-07:002012-07-24T04:54:26.131-07:00Educação protege o meio ambiente?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<h1 class="documentFirstHeading" style="border-bottom-color: rgb(204, 204, 204); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Lucida, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 19px; font-weight: normal; margin: 0pt 0pt 0.25em; text-align: -webkit-auto;">
<br /></h1>
<div style="font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Lucida, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; text-align: -webkit-auto;">
<table detalhe="notícia" style="font-size: 12px;" summary="detalhe notícia"><tbody>
<tr class="clipping-generico" style="color: #5a5a5a; font-size: 11px; font-weight: bold;"><td>Autor(es): Claudio de Moura Castro</td></tr>
<tr class="clipping-generico" style="color: #5a5a5a; font-size: 11px; font-weight: bold;"><td>Veja - 23/07/2012</td></tr>
<tr><td> </td></tr>
<tr><td><div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Neste ensaio, não ataco, não catequizo. Pergunto e tento responder com o melhor que a ciência tem a oferecer. Talvez o assunto do aquecimento global seja controvertido. Mas há evidência sólida de que o meio ambiente está sendo estragado a um ritmo alarmante. Os recursos naturais são escassos e a voracidade no seu uso só tende a crescer. A conta ecológica não fecha. Tampouco se sustenta a dicotomia entre os ecoirresponsáveis e os ecobobos — esses últimos, com sua romântica tirania de que é preciso preservar tudo. O Caminho do Meio é aprender a usar a natureza com parcimônia e inteligência. E o papel da escola nisso tudo? No caso, falamos de escolaridade, pois é o que se pode medir. Que fique claro, escola não faz mágica. A União Soviética cometeu incontáveis barbaridades contra o meio ambiente (por exemplo, secar o Mar de Arai), apesar de ser, na época, uma das nações mais escolarizadas do mundo. E não é o único exemplo de gente escolarizada pecando contra o meio ambiente. Além disso, sem longo tempo na escola, os avanços se tomam muito difíceis. Assim sendo, parece ser condição necessária, mas não suficiente.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Para entender melhor, podemos pensar que ir à escola traz consequências de dois tipos: cognitivas e afetivas. Ou seja, no entendimento e nos valores. Vejamos uma de cada vez. Não parece ser possível usar os recursos naturais com juízo sem entender os processos e ciclos biológicos. Aliás, tanto quanto sei, apenas demografia rala e tecnologia impotente permitiram a povos primitivos não danificar a natureza. Nossos índios praticavam a coivara (queimar/cultivar/abandonar).</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Só não deixaram grandes estragos porque eram poucos. Equilíbrios são delicados. Uma mexidinha aqui estraga algo acolá. Por que as abelhas estão sumindo? E os sapos e as rãs? Em lagos da Nova Inglaterra, os pássaros migratórios escassearam. Eis a razão: o homem matou os lobos e, com isso, a população de veados cresceu, deixando sem comida os passarinhos. E por aí afora.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Sem pesquisa séria não compreendemos os ciclos da natureza e seus acidentes, E, sem um ensino de qualidade para todos, a sociedade não entende as explicações dos cientistas. Sem escola, o entendimento só atinge onde a vista alcança, em assuntos em que muitos problemas não são visíveis a olho nu, como o aquecimento global. Da mesma forma, se eu destruo infinitesimamente. nada acontece. mas, se todos destroem o seu infinitésimo. o somatório é a catástrofe ecológica (caso clássico de falácia de composição). As consequências da educação sobre valores, atitudes, aspirações e hábitos são potentes. Alinho adiante alguns dos resultados mostrados por pesquisas recentes e metodologicamente confiáveis. No espírito do ensaio, apenas constato que quem tem mais escolaridade valoriza mais o futuro e, em prol dele, dispõe-se a abrir mão de gratificações presentes. Pensa mais no filho. no neto e no mundo que deixará para eles. Não é supérfluo lembrar que os mais escolarizados avaliam melhor seus governantes e votam naqueles mais comprometidos com o interesse coletivo.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Pesquisas revelam: a educação reduz a fertilidade. De fato, só há explosão demográfica entre os ignorantes. Também é demonstrado por pesquisas: aumenta com a escolaridade a intolerância para com o ilícito. Apesar de certas manchetes de jomal, o descumprimento da lei ocorre com mais frequência entre os menos educados.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
A expressão "capital social" se associa à propensão para a ação coletiva, confiando e colaborando com os outros, sem a certeza de que os outros farão o mesmo. É a disposição voluntarista de investir no que promove o interesse coletivo. Nos assuntos de meio ambiente, esse investimento sem garantia de reciprocidade é essencial, pois é difícil fiscalizar o que cada um faz de bom ou de ruim para o meio ambiente. E. hoje sabemos, quanto mais escolaridade, maior a facilidade de desenvolver capital social.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Há muito a ser feito para mitigar os impactos de um uso desmedido da natureza ou uma demografia excessiva. Mas a tarefa é infinitamente mais árdua, se não impossível, se é pouca e ruim a educação. Pena que a Rio+20 quase se esqueceu dela.</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-56623944462074243552012-07-23T04:39:00.000-07:002012-07-23T16:12:46.387-07:00Educação premiada<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<h1 class="documentFirstHeading" style="border-bottom-color: rgb(204, 204, 204); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Lucida, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 19px; font-weight: normal; margin: 0pt 0pt 0.25em; text-align: -webkit-auto;">
</h1>
<div style="font-family: 'Lucida Grande', Verdana, Lucida, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; text-align: -webkit-auto;">
<table detalhe="notícia" style="font-size: 12px;" summary="detalhe notícia"><tbody>
<tr class="clipping-generico" style="color: #5a5a5a; font-size: 11px; font-weight: bold;"><td>Brasil S.A - Antônio Machado</td></tr>
<tr class="clipping-generico" style="color: #5a5a5a; font-size: 11px; font-weight: bold;"><td>Correio Braziliense - 18/07/2012</td></tr>
<tr><td></td></tr>
<tr><td><div style="text-align: justify;">
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
<br />
Não há dúvida de que a educação no Brasil espelha o fracasso dos governantes. Essa é a avaliação praticamente consensual. Mas pode ser que alguma coisa mudou para melhor e não nos demos conta — nem o governo Dilma Rousseff, atrapalhado com greves nas universidades federais e com o projeto aprovado na Câmara, que dobra para 10% do PIB em dez anos a aplicação de recursos públicos em educação.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Há controvérsia sobre se a qualidade do ensino seja baixa devido à falta de dinheiro. Essa é uma discussão universal. E mesmo aqui não há elementos conclusivos. Um estudo divulgado esta semana nos Estados Unidos, dissecando o último relatório do National Assessment of Educational Progress (Naep) — ou Avaliação Nacional do Progresso em Educação, que serviu de modelo para o nosso Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) —, confunde um pouco mais o que se sabe da questão. Com base em tal estudo, patrocinado pelo Programa de Política de Educação e Governança da Universidade de Harvard, o Brasil ocupa a terceira posição num ranking que lista os países em que a qualidade do ensino mais avançou entre 1995 e 2009 (de 2000 a 2009, no caso brasileiro). Letônia, Chile e Brasil lideram a lista, seguidos de Portugal, Hong Kong, Alemanha, Polônia, Liechtenstein, Eslovênia, Colômbia, Lituânia, Inglaterra, Singapura, Suíça e Grécia.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
A pesquisa engloba 49 países. Nos últimos lugares, de baixo para cima, houve retração da qualidade do ensino, no período, na Suécia, Bulgária, Eslováquia, República Tcheca, Romênia, Noruega, Irlanda e França. Anote-se: o desempenho dos alunos brasileiros nas matérias consideradas — matemática, ciência e leitura — continua abaixo dos resultados nesses países. Mas, enquanto houve queda absoluta do grau de acerto em todos eles, o desempenho da educação no Brasil avançou mais rápido que em todos os outros, juntamente com Letônia e Chile.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Intitulado Achievement Growth: International and U.S. State Trends in Student Performance, e assinado pelos professores Eric Hanushek, Paul Peterson e Ludger Woessmann, das Universidades de Stanford, de Harvard e de Munique, da Alemanha, respectivamente, o estudo busca avaliar qual a situação da educação nos EUA. A situação do Brasil, assim como de outros países, é apresentada marginalmente, só como medida de onde está a educação nos EUA. Fato é que não saímos mal.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Do Naesp ao Pisa e IEA<br />
A abrangência da metodologia usada pelos autores reforça e amplia as conclusões, já que o ranking é o resultado da consolidação de três outros sistemas internacionais de avaliação do ensino, além do Naep, administrado pelo Departamento de Educação dos EUA. Por um sistema de conciliação estatística das diferentes bases de avaliação, eles incluíram também o Pisa, da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e duas outras medidas de desempenho do ensino, ambas da IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement).</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
O ranking em que Brasil desponta, assim, é o resultado de quatro métricas conceituadas sobre a capacidade de leitura e conhecimento de matemática de alunos das 4ª e 8ª séries em nível internacional. Ao todo, o estudo considerou 28 testes, aplicados a cada três ou quatro anos conforme a entidade. Foram incluídos países que tenham participado, ao menos, de dois ciclos de testes e excluídos os que não têm resultados para um mínimo de nove baterias de avaliação.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Ao ritmo de 4% ao ano<br />
É assim que os autores chegaram a apenas 49 países, demonstrando o rigor do trabalho, disponível no endereço www.hks.harvard.edu. Para o período analisado, o desempenho dos alunos brasileiros nos testes de proficiência em matemática e leitura cresceu a um ritmo anual de 4,05%, só superado pelas taxas de Chile (4,37%) e Letônia (4,70%).</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Nos EUA, o crescimento foi de apenas 1,57% ao ano, um progresso em relação aos anos anteriores a 1995, mas insuficiente, segundo os autores, para atender a necessidade da formação nos tempos atuais. A questão é se tal resultado conversa com a pesquisa conjunta do Instituto Paulo Montenegro e da Ação Educativa, também divulgada estes dias, segundo a qual 38% dos estudantes brasileiros do ensino superior não dominam habilidades básicas de leitura e escrita.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Dinheiro não garante 10<br />
E educação de qualidade depende de dinheiro? O resultado não tem "significância estatística ou substantiva", diz o estudo. Em média, nos EUA, o gasto adicional de US$ 1 mil por aluno é associado a um ganho anual de um décimo de 1% nos exames. Houve aumentos de gasto em educação, diz o estudo, nos estados de Maryland e Massachusetts, e os resultados foram expressivos, mas em Nova York e Wyoming, que também aumentaram a despesa, foram desprezíveis. Mas notável é que houve melhora da avaliação do ensino em estados com o orçamento da educação constante. A polêmica continua.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Quem avalia o professor<br />
A questão da educação de qualidade tem múltiplas facetas, algumas não diferentes do problema vivido pelos EUA, onde a demanda é até maior, sendo uma economia dependente de inovações tecnológicas. Lá e cá as políticas são federais e estaduais, com zonas cinzentas sobre responsabilidades. Uma maneira de clareá-las seria criar um ranking entre os estados, implicando uma sanção moral ao governante relapso. O estudo de Harvard indica quem não faz a lição de casa.</div>
<div style="line-height: 1.5em; margin-bottom: 0.75em;">
Também cabe legislar sobre a progressão continuada, a causa, para muitos, da formação de analfabetos funcionais. E talvez também do resultado pavoroso da pesquisa sobre a formação dos universitários. Na educação, nada é simples, como a avaliação do professorado, com ou sem prêmio de mérito — fórmula aplicada em Nova York e adaptada em São Paulo e Minas. A questão salarial se insere neste contexto, mas com algo que comprometa o sistema nos resultados dos alunos.</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-45792513297982045032012-07-15T08:09:00.000-07:002012-07-15T08:09:57.625-07:00Mais uma catástrofe europeia?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Maílson da Nóbrega - Maílson da Nóbrega<br />Autor(es): Maílson da Nóbrega<br />Veja - 09/07/2012<br /> <br />Na Idade Média, a Europa viveu sua primeira grande catástrofe: a peste negra, que dizimou um terço da população. Depois, as guerras seriam a causa da crescente perda de vidas. Quatro milhões morreram nas guerras napoleônicas (1799-1815), uma média de 250000 pessoas por ano, quase a mesma da guerra franco-prussiana (1870-1871). Na Guerra Mundial (1914-1918), a média anual saltou para quase 4 milhões. Na II Guerra (1939-1945), subiu para 10 milhões. Pereceram 27 milhões de soviéticos e 6 milhões de alemães. O nazismo de Hitler imolou 6 milhões de judeus. A devastação da guerra inspirou a ideia de integração. Se todos tivessem os mesmos objetivos — a democracia, a promoção dos direitos humanos e o desenvolvimento — a grande motivação dos conflitos, a conquista territorial, desapareceria. Sonhou-se que a integração levaria à união política: os Estados Unidos da Europa. Três tratados — os de Paris (1951), Roma (1957) e Maastricht (1992) — deram vida ao mais ousado projeto geopolítico da história da humanidade.<br /><br />O erro foi criar o euro antes do tempo (1999). Muitos estudiosos previram o seu fracasso. Não havia instituições para sustentar a moeda única. A Europa precisava construir o que os economistas denominam “área monetária ótima". Além do Banco Central Europeu e das metas de déficit e endividamento públicos, estabelecidos antes da partida, seria preciso muito mais. Uma união fiscal de transferências minimizaria as assimetrias de produtividade entre os países. Organizações supranacionais formariam uma união bancária para regular o sistema financeiro e lidar com crises de liquidez e falências de bancos.<br /><br />O principal motor da extemporânea decisão teria sido a queda do Muro de Berlim (1989) e a conseqüente reunificação alemã (1990). Ressurgiram temores. Afinal, a Alemanha se havia envolvido nas últimas três grandes guerras europeias. François Mitterrand (1916-1996), então presidente da França, exigiu o compromisso com a criação do euro para que seu país apoiasse a reunificação. O chanceler Helmut Kohl concordou: o destino Alemanha é a Europa, afirmou.<br /><br />A união monetária demandaria elevada solidariedade na região. Acontece que ainda não existem europeus, mas alemães, franceses, italianos, espanhois... Os operosos alemães não aceitam pagar impostos para salvar países tidos como menos esforçados. Eles se aposentam aos 67 anos, mas na França o novo presidente diminuiu essa idade para 60 anos. A resistência de Angela Merkel a moderar a autoridade fiscal e rever os compromissos de reforma é uma resposta às demandas de seus eleitores.<br /><br />A saída da Grécia da zona do euro é vista como inevitável por muitos analistas. Alguns acreditam que assim o país adquiriria competitividade via desvalorização da antiga moeda, a dracma. Ocorre que não é tão simples assim. O abandono do euro provocaria uma corrida bancária, o colapso do crédito e uma depressão que traria o caos social, econômico e político à Grécia. Sua ainda jovem democracia (1974) dificilmente resistiria. Viria a pergunta óbvia: qual será o próximo? Portugal? Espanha? Itália? O contágio se espalharia. Estudos mostram que as economias são muito mais interligadas em tempos difíceis do que em boas épocas.<br /><br />O abandono do euro pela Grécia e outros países tenderia a ser desordenado. Os seus efeitos negativos superariam os da quebra do banco Lehman Brothers (2008). Poderia haver uma depressão mundial como a dos anos 1930. Extremismos políticos tenderiam a se manifestar em muitos lugares. A revista The Economist lembrou que Hitler foi mais um produto da depressão do que da hiperinflação alemã dos anos 1920. O nazismo é, pois, a tragédia a ser lembrada na promoção dos esforços para preservar a moeda única. A Alemanha tenderá a ceder, como começou a fazer na reunião de cúpula do fim do mês passado. Mais de 40% das suas exportações vão para a zona do euro, cuja desintegração não lhe interessa. Em resumo, os benefícios de manter o euro são muito maiores do que os custos. Há riscos, a crise está longe de ter sido resolvida, mas uma nova catástrofe europeia — mesmo que sem a perda de vidas – não é o cenário mais provável.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-45171594476731939752012-07-15T07:57:00.002-07:002012-07-15T07:57:49.198-07:00A nada secreta fórmula da boa Educação<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
O Globo - 12/07/2012<br /> <br />A série de reportagens do GLOBO com as ilhas de ensino público de qualidade em áreas de extrema pobreza oferece argumentos irrespondíveis contra o mito de que a Educação brasileira patina em índices medíocres de avaliação por conta, principalmente, de insuficientes dotações orçamentárias. Com base neste falso pressuposto, desfraldam-se bandeiras em defesa de mais verbas para a rubrica. O movimento mais visível nesse sentido é a mobilização política que leva água para a reivindicação de se dobrar, até 2022, o percentual destinado ao sistema educacional do país, dos atuais 5,1% para 10% do PIB.<br /><br />Defende-se a duplicação dos valores destinados à Educação com uma premissa enganadora - a de que, sem a alocação de mais recursos nas escolas, não se melhora a qualidade do que ali se ensina. A realidade de estabelecimentos escolares públicos em áreas carentes do país que, com orçamentos minguados, dão excelente formação a seus alunos, como relatado nas série de reportagens, derruba a lenda. Os exemplos apresentados pelo jornal comprovam que não é o montante de recursos que determina a excelência da sala de aulas. O comprometimento da comunidade escolar (direção, professores, alunos e o envolvimento direto da família) é que faz a diferença no aprendizado.<br /><br />Há o caso de uma escola estadual no município de Eurinepé, a 1.200 quilômetros de Manaus, no interior do Amazonas, com alunos (80% beneficiários do Bolsa Família) que moram em palafitas, cujo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) pulou de melancólicos 2,7 em 2005 para 8,7 em 2009 (a média dos países desenvolvidos é 6). No Rio, duas escolas cujo corpo discente também está na base da pirâmide social, uma na Zona Sul e outra na Zona Oeste da cidade, têm performance semelhante: alto rendimento na medição do Ideb e baixos valores no caixa. Ao todo, o país tem pelo menos 82 desses pontos de excelência educacional que desafiam a pobreza e os baixos orçamentos.<br /><br />Mas há outro viés que ajuda a desfazer a utopia da melhoria do ensino pelo simples manejo da chave do cofre. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), clube de países industrializados, mostra o Brasil com uma despesa de US$ 18 mil por aluno entre 6 e 15 anos. Comparativamente, é investimento alto para um retorno desproporcionalmente baixo. É uma alocação, por exemplo, que supera em quase 45% a dotação orçamentária da Turquia - mas, no exame do Programa Internacional de Avaliaçao de Alunos (Pisa), o país fica 52 pontos acima do nosso. Nações como Estados Unidos, Noruega e Suíça gastam mais de US$ 100 mil por aluno, mas com resultados abaixo dos obtidos por Coreia do Sul e Finlândia, com investimentos mais modestos.<br /><br />De resto, no caso brasileiro, injetar mais recursos num sistema que gasta mal corresponde apenas a aumentar o fluxo de dinheiro pelo ralo (ou, não raro, a ampliar os buracos por onde são vazadas, para bolsos particulares, as verbas públicas destinadas à Educação). O quadro se repete em outros setores, como Saúde, também vítima de uma estrutura em que parte das deficiências se deve à maneira incorreta como eles são empregados. Uma questão de mau gerenciamento.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-52597261001783607082012-07-15T07:50:00.002-07:002012-07-15T07:50:30.078-07:00Dissertação - você tem de fazer uma! E agora?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Alexandre Barros<br />O Estado de S. Paulo - 13/07/2012<br /> <br />Escrever uma tese ou dissertação para um curso de pós-graduação é um dos processos mais desgastantes da vida de uma pessoa. Primeiro, orientadores costumam ser vaidosos e autoritários: fazem demandas desnecessárias, trabalhosas e desgastantes para gente que só quer cumprir seus requisitos e seguir com a vida. Segundo, a preocupação com a dissertação permeia todo o curso e todos os orientadores dizem ao candidato que tem de fazer uma dissertação, raramente explicam como chegar lá.<br /><br />Alguns dizem: "Vá à biblioteca, olhe algumas teses e você verá como é". Orientação tão útil quanto dizer a qualquer um de nós que pergunte a alguém como fazer um computador e receber esta resposta: "Tire a tampa, olhe lá dentro e você saberá como fazer um computador". É claro que tais respostas não levam a nada. Ver um produto pronto não nos diz como aquele monte de metal ou de plástico virou um automóvel ou como uns pozinhos químicos misturados e comprimidos viram remédios que curam desde uma dor de cabeça até uma complexa hepatite C.<br /><br />Depois de ver o sofrimento de inúmeros estudantes com esses processos e tentar ensinar-lhes o pulo do gato, descobri que o alcance que eu podia ter era muito limitado. Durante a vida posso ter influenciado algumas centenas de estudantes, mas não acredito ter chegado ao primeiro milhar.<br /><br />Conversei com alunos de várias universidades do mundo e lhes perguntei: "Alguém ensinou a vocês como fazer uma dissertação?" Resposta unânime: "Não, disseram-nos que nós tínhamos de fazer uma, mas nunca ninguém nos explicou como chegar lá".<br /><br />Há algum tempo eu só conhecia o YouTube (que tem só 7 anos de idade) de referências, ou de receber links para gatos que tocavam piano ou violino, ou bebês fazendo acrobacias que rivalizam com Carlitos. Um dia me perguntei: por que não? Se escrever um livro gastarei muito tempo e, com muito sucesso, venderei 5 mil exemplares, mas só com muita sorte. O impacto que o livro poderá ter será minúsculo. Que tal testar o YouTube? Gravei um vídeo simples, há pouco mais de dois anos. Será que isso compete com gatos que tocam piano? Claro que não. Agora completou 20 mil exibições. Nada comparado a bebês acrobatas, mas, certamente, muito mais do que um livro. Benefícios adicionais: é grátis, todos podem ver, é infinitamente repetível. Não gasta papel nem tinta.<br /><br />Recebi muitas mensagens, a maioria de estudantes agradecidos porque o vídeo lhes tirou um grande peso das costas. Nem todos gostaram. Uma moça me disse que punha o vídeo para adormecer seu bebê, de tão chato que era. Serendipity: feito para facilitar a vida de quem tinha de escrever uma dissertação, servia também para adormecer bebês! Como tudo o que se diz, escreve ou publica, cada um lê, ouve ou usa como bem lhe parece.<br /><br />Após um ano, resolvi fazer um segundo. O primeiro era sobre como se relacionar com o orientador. O segundo, sobre como organizar ideias e material, enfatizando principalmente que quem ia escrever a dissertação tinha ideias e elas eram boas, o que raros orientadores dizem a seus estudantes. O propósito era duplo: ensinava e dava uma injeção de otimismo e segurança psicológica.<br /><br />Também dei aulas sobre o método. Durante uma aula, um estudante me disse: "Professor, do jeito que o senhor ensina fica tão fácil que parece até conto do vigário". Respondi: "É fácil mesmo. Os orientadores complicam para resolver problemas psicológicos deles, pouco importando o dano que isso possa causar aos alunos".<br /><br />Testei outra ideia: muitas cabeças pensam melhor e mais criativamente que poucas. O método era baseado em livre associação de ideias. Um aluno questionou: "Professor, o senhor acha que funcionaria se cada um de nós, perante a turma, dissesse sobre o que pretende fazer a sua dissertação e ouvisse as ideias dos colegas?" Ponderei que nunca tinha tentado, mas não custaria experimentar. Foi um sucesso. Cada um chegava lá, dizia seu tema e os colegas eram convidados a escrever em diversos papéis soltos os vários aspectos que abordariam se tivessem de fazer uma dissertação sobre aquele tema. Cada aluno saiu com uma pilha de ideias fornecidas pelos colegas e o trabalho dali para a frente era pôr todas aquelas ideias em ordem, usar as importantes e descartar as supérfluas.<br /><br />Todos os estudantes fizeram isso e a produtividade aumentou muito. Princípio básico do capitalismo: se cada um contribuir um pouco, o produto final pode ser melhor e maior.<br /><br />Tecnologias modernas podem ser um complemento para tecnologias antigas. Testar inovação, sobretudo se o preço for barato ou tender a zero, como é o custo de fazer e colocar um vídeo no YouTube, vale. Esta é a beleza do mercado: milhares de pessoas tomarão decisões independentemente de procurar, achar, decidir se vão ou não ver um vídeo, gostar ou não gostar, aproveitar ou não. Cada uma verá com os seus olhos, através de suas lentes, e fará o uso que bem entender.<br /><br />Guttenberg não estava fazendo uma revolução quando inventou a imprensa, apenas produzindo um modo diferente de disseminar ideias. Outros usaram como bem entenderam e a imprensa trouxe progresso. James Watt também não estava fazendo uma revolução quando descobriu que o vapor podia ser usado para tocar máquinas. O mercado adaptou, para melhor. Depois chamou aquilo de Revolução Industrial, um nome mais elegante para um conjunto de técnicas que tornaram a vida das pessoas melhor.<br /><br />Não tenho essa ambição, apenas fico feliz por saber que alguns estudantes estarão sofrendo menos porque decidi testar uma tecnologia nova para um propósito que me pareceu razoável. Se deu certo, tanto melhor, reforça o meu sentimento de ser um otimista a respeito do futuro da humanidade.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-37214900518005705882012-07-11T19:29:00.001-07:002012-07-11T19:29:37.992-07:00Somos todos um pouco trapaceiros<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Danilo Venticinque<br /><br /><div>
Época - 09/07/2012<br /> <br />Desde o início, atesto minha inocência." A frase foi dita num discurso pelo senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) antes que o pedido de cassação de seu mandato fosse encaminhado ao Senado. Mas não causaria estranhamento na voz de qualquer um dos grandes trapaceiros da história. Acusado de envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, ele seguiu a regra clássica de quem é pego na trapaça: dizer-se inocente até o fim e, se possível, acreditar nisso. Para provar quanto a prática é antiga, basta lembrar outro Demóstenes - o político grego (384-322 a.C.), que, acusado de distribuir e receber propinas, morreu sem admitir sua culpa. Seu contemporâneo, o filósofo Diógenes de Sínope (412-321 a.C.), andava pelas ruas com uma lamparina, dizendo estar à procura de um homem honesto. Não há notícias de que o tenha encontrado.<br /><br />A trapaça originou-se muito antes na Grécia Antiga. Em seu livro O gene egoísta, o biólogo Richard Dawkins afirma que a desonestidade é um comportamento incentivado pela seleção natural. O desejo de levar vantagem sobre nossos semelhantes nos torna mais aptos a sobreviver. desde que o segundo homem das cavernas roubou a primeira pedra lascada - para a indignação do primeiro homem das cavernas -, os genes da trapaça prosperam entre os homens. Os honestos, aos poucos, foram se tornando tão escassos que nem a lamparina de Diógenes conseguia encontrá-los. A tendência natural do homem para a trapaça é tão difundida entre os teóricos que o cientista Edward O. Wilson, um dos poucos a dizer que somos altruístas por natureza, foi contestado numa carta que 130 biólogos renomados enviaram à revista Nature com questionamentos aos resultados das pesquisas divulgados em seu livro recente, The social conquest of Earth (A conquista social da Terra).<br /><br />Embora nossa natureza trapaceira seja quase um consenso, o mecanismo da trapaça é objeto de discussões. Segundo o modelo tradicional de custo-benefício, toda vez que nos encontramos numa situação em que a trapaça é possível, calculamos intuitivamente se os benefícios que teríamos justificam o risco de sermos pegos. E então decidimos se vale a pena estacionar naquela vaga proibida, tentar driblar a Receita Federal ou baixar aquela música na internet. Apesar de lógico, esse modelo deixa de fora um fator importante: nosso desejo de parecer honestos, para os outros e para nós mesmos. Mesmo que seja para ter o direito de reclamar das trapaças dos outros, como faz o senador Demóstenes e como fazia sua contra-parte grega há dezenas de séculos.<br /><br />Em seu livro A mais pura verdade sobre a desonestidade (Elsevier, 260 páginas, R$ 69,90), o psicólogo israelense Dan Ariely propõe uma nova explicação para o funcionamento da trapaça. Autor dos best-sellers científicos Previsivelmente irracional e Positivamente irracional, que exploram a irracionalidade de alguns aspectos do comportamento humano, Ariely sugere um modelo mais passional e menos calculista que a análise de custo-benefício. Segundo ele, são poucos os trapaceiros patológicos, capazes de seguir seus impulsos toda vez que se veem em condições de levar vantagem sobre os outros de forma ilícita. Em compensação, todos nós somos capazes de pequenas trapaças ocasionais e acumulamos algumas vantagens ao longo dos anos, sem que sejamos obrigados a encarar nossa desonestidade. Trapaceamos aqui e ali. Mas, como seguimos as regras na maior parte do tempo, continuamos nos achando honestos. Há, dentro de cada um de nós, um pequeno Demóstenes, que permanece dormente, mas mostra as garras de tempos em tempos.<br /><br />Para quem se acostumou a execrar os grandes trapaceiros sem colocar em dúvida a própria honestidade, a ideia causa indignação. “Pensei em chamar meu livro de ‘Por que todos são um pouco desonestos, menos você’, mas achei que as pessoas precisavam refletir sobre seu comportamento”, disse Ariely a Época. “O fato de nos considerarmos honestos mostra como a trapaça ocorre de forma irracional e quão pouco conhecemos nossas personalidades.” A seu convite, decidi fazer um breve e vexatório exame de consciência. Até a chegada do iTunes ao Brasil, meu computador era repleto de músicas de procedência duvidosa. Na escola e na faculdade, participei de pequenas e inocentes fraudes acadêmicas ao lado de meus colegas. Menti algumas vezes para minhas namoradas (todas, menos a atual), nem sempre por motivos nobres. Os pontos em minha carteira de motorista denunciam desobediências ocasionais às leis de trânsito. Por sinal, consegui a habilitação em circunstâncias inusitadas: o examinador me confundiu com um dos inúmeros alunos que haviam comprado a carteira, e confesso não ter me esforçado muito para convencê-lo do contrário. Acabei fazendo uma prova muito mais fácil do que esperava. Apesar desses deslizes, não me considero uma pessoa desonesta nem perdi a capacidade de me indignar diante de grandes trapaças. O que explicaria essa atitude?<br /><br />Como resposta a essa pergunta, Ariely propõe o que chama de “regra dos 15%”. Segundo ele, pessoas comuns tendem a trapacear em 15% das oportunidades. Elas se sentem mais à vontade quando a trapaça rende pequenas recompensas, não grandes vantagens. É mais fácil manter uma imagem honesta de si mesmo sem desrespeitar os instintos trapaceiros. Ariely chegou à regra depois de repetir uma série de experimentos sociais em diferentes países. No experimento mais simples, os voluntários eram convidados a resolver uma série de problemas de matemática e avisados de que receberiam um bônus em dinheiro para cada resposta certa. Candidatos cujas provas eram verificadas e corrigidas por um professor resolviam, em média, quatro de cada dez exercícios, ganhando um total de US$ 4. Noutro grupo, os professores davam aos candidatos uma folha de resultados para conferir suas próprias respostas e, em seguida, dizer quantas perguntas acertaram. A média de acertos - e de ganhos - subiu para quase seis. Alguns trapaceavam muito, mas a maioria se sentia satisfeita com uma pequena dose de desonestidade. “Conseguimos nos sentir bem conosco quando dirigimos a uma velocidade 15% acima do limite de velocidade, ou quando pagamos 15% a menos do que deveríamos no Imposto de Renda, ou até mesmo quando comemos 15% a mais do que planejávamos numa dieta”, afirma Ariely.<br /><br />Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti, autor do livro Autoengano, nossa tendência a esconder de nós mesmos essas pequenas falhas pode ser explicada pela influência da seleção natural na maneira como nos comportamos. “O trapaceiro que engana a si mesmo é mais eficiente que o trapaceiro que age de caso pensado”, afirma Giannetti. “Cada pessoa é desonesta num grau diferente, mas, quando conseguimos nos convencer de que somos honestos apesar dessas pequenas trapaças, é muito mais fácil convencer os outros de que somos honestos.”<br /><br />Numa situação normal, sem grandes estímulos à trapaça, nossos mecanismos de autoengano funcionam bem quando seguimos a regra dos 15%. Mas há fatores que nos tornam capazes de trapacear ainda mais sem manchar nossa boa imagem. Nossas pequenas trapaças se tornam maiores quanto menor for o esforço para explicá-las de modo racional. Nos experimentos feitos por Ariely, os níveis de trapaça aumentavam muito quando as pessoas viam outros trapaceiros em ação - é a desculpa do “todo mundo faz”, eternizada na política brasileira pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de ser acusado no escândalo do mensalão de usar caixa dois em sua campanha na eleição de 2002. Outro fator social que pode nos tornar mais trapaceiros é a vingança. Se, por algum motivo, nos sentimos ofendidos por alguém, as chances de sermos honestos com essa pessoa diminuem quando houver a oportunidade de trapaça. Num teste de honestidade feito num restaurante da Califórnia, 45% das pessoas avisaram o garçom e devolveram o troco quando receberam dinheiro a mais do que deveriam. Porém, quando o garçom interrompia os pedidos para falar ao celular e não pedia desculpas ao cliente, a percentagem diminuía para 14%. Numa escala maior, isso explica por que muitos se sentem mais à vontade para pagar menos impostos ou desrespeitar as leis do trânsito quando não estão satisfeitos com o governo. Das intrigas individuais à indignação com grandes instituições, a vingança é um combustível para a desonestidade em todas as instâncias.<br /><br />Além dos fatores sociais, há características pessoais que nos tornam mais propensos à trapaça. Pessoas mais criativas tendem a trapacear mais - não só por ter mais facilidade para criar justificativas racionais para seus deslizes, mas também pela capacidade de inventar novas maneiras de quebrar as regras. Quem enfrenta vários conflitos de interesse no cotidiano tem mais chance de trapacear e, por isso, está mais exposto ao risco da desonestidade. Quem trabalha em profissões estressantes também tende a ser mais desonesto. O motivo é o esgotamento: como, para manter a honestidade, é preciso fazer o esforço de conter nossas tendências desonestas, o cansaço mental enfraquece nossas defesas. No teste aplicado por Ariely com os problemas de matemática, os participantes cansados trapaceavam até 20% a mais que a média.<br /><br />A importância da primeira trapaça também é grande para definir nossa capacidade de fugir dos deslizes futuros. Quem já trapaceou uma vez tem uma chance maior de repetir a mesma trapaça, muitas vezes em uma escala mais ampla. É o que Ariely chama do efeito “que se dane”. A explicação que usamos para a primeira trapaça se consolida em nossa mente, e a partir daí o conflito moral passa a ser ignorado. É um comportamento análogo ao de quem não consegue se controlar quando está de dieta. Depois do primeiro pedaço de bolo, aumenta muito a chance de comermos o bolo inteiro e deixarmos a salada para a próxima segunda-feira. Com base nisso, Ariely afirma que práticas desonestas consideradas “aceitáveis” pela sociedade podem nos tornar mais trapaceiros em outros setores da vida. Um jovem que baixa músicas ilegalmente na internet, por já ter ignorado uma regra da sociedade, tem mais chance de colar numa prova ou de mentir para um professor do que um jovem contra a pirataria.<br /><br />Isoladas, as pequenas trapaças parecem inofensivas. Somadas, elas causam prejuízos tão graves quanto a ação de um grande trapaceiro. No livro, Ariely cita a investigação do sumiço de US$ 150 mil no balanço de uma rede de lojas de lembrancinhas em museus americanos. A busca pelo responsável pelo desvio do dinheiro não teve sucesso, até que os investigadores depararam com um vendedor que roubara US$ 60. A investigação revelou que o rombo fora causado por centenas de pequenos furtos, feitos por vários dos jovens e idosos que trabalham como voluntários no local. Se todos fossem punidos, mais da metade dos quase 300 funcionários teria de ser dispensada. A solução foi implantar controles mais rigorosos no acesso aos caixas. Numa escala maior, não seria surpreendente se o impacto de pequenas incorreções nas declarações de imposto de Renda de milhões de “trapaceiros ocasionais” fosse tão prejudicial aos cofres públicos quanto as trapaças dos grandes sonegadores.<br /><br />Embora sejam poucos os trapaceiros patológicos, que tentam levar vantagem sobre os outros em todas as oportunidades, uma série de más escolhas e condições favoráveis à desonestidade pode transformar qualquer um em grande trapaceiro. “Essa afirmação pode parecer chocante para uma pessoa normal que se considera honesta, mas os grandes trapaceiros de hoje também não imaginavam essa possibilidade”, afirma Ariely. “E, provavelmente, muitos deles se consideram honestos até hoje.”<br /><br />A busca por uma sociedade mais honesta está longe de ser inviável. Admitir nossa tendência natural à trapaça e ao autoengano é o primeiro passo para que busquemos maneiras de evitar falhas. “Quanto mais entendermos o que nos torna desonestos, mais fácil será o esforço para mantermos a honestidade”, diz Ariely. Se soubermos em que condições temos mais chances de trapacear, é possível fazer um exercício de autocontrole e evitar essas situações. Podemos abrir mão de tomar decisões morais difíceis quando estamos cansados ou de preencher a declaração de imposto de Renda quando estamos muito irritados com a ineficiência do governo (ninguém disse que seria fácil...). Sabendo da influência que a primeira trapaça tem sobre nossas decisões futuras, podemos lutar para combater pequenos deslizes, como baixar músicas na internet ou parar numa vaga proibida. E, conhecendo o funcionamento do efeito “que se dane”, é mais fácil retomarmos a consciência antes de comermos o segundo pedaço de bolo, piratearmos o álbum novo de uma banda que admiramos ou tomarmos mais uma multa por estacionar num local proibido.<br /><br />Da mesma forma que a soma das pequenas trapaças de pessoas normais pode ter um impacto negativo maior que a ação de um grande trapaceiro, a soma dos pequenos esforços individuais para manter a honestidade pode ter um impacto positivo maior que uma “faxina” entre os políticos corruptos. “Quando as leis não têm a adesão das pessoas, não há esforço governamental capaz de impor a honestidade”, afirma o filósofo Eduardo Giannetti. Eliminar a trapaça por completo seria uma utopia - sobretudo na vida pessoal, quando muitas vezes temos de mentir para seguir regras básicas de convívio. “Um homem nunca deve ser 100% honesto na hora de dizer à mulher se ela parece mais gorda”, diz Ariely. “Mas, nos negócios e na política, não haveria prejuízos à sociedade se a trapaça fosse eliminada.” Se nosso instinto natural para pequenas trapaças fosse usado apenas para evitar situações embaraçosas na vida pessoal, o mundo teria menos grandes trapaceiros. E nós, apesar de nossas falhas, poderíamos criticá-los sem correr o risco de sermos desmascarados - como aconteceu com grandes personagens da história e muitos políticos brasileiros.</div>
</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-10329175571397221562012-07-11T16:05:00.002-07:002012-07-11T16:05:36.275-07:00Investimento na educação de qualidade<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Carlos José Marques<br />Isto é - 09/07/2012<br /> <br />Brasileiros voltam a discutir se vale o Estado gastar/investir mais em educação ou não. O teto, revisto para cima, para os desembolsos públicos na área alcançaria 10% do PIB anual até 2022. E nos próximos cinco anos oscilaria na faixa de 7% do Produto Interno Bruto. Hoje esse número gira em torno de 5,1% do PIB. Já foi de meros 3,9% do PIB no final dos anos 90. A questão principal é se esse aumento gradual de investimento na educação equivaleria a uma melhor qualidade do ensino e geraria, por tabela, uma população mais bem formada. A equação não é tão simples. De uns tempos para cá, o ensino público, por exemplo, inverteu a mão. Apostou mais em quantidade de estudantes atendidos e deixou de lado a qualidade do aprendizado. O índice de repetência dos alunos nesse âmbito cresceu vertiginosamente, como também a evasão escolar. Custou mais ao Estado patrocinar a retomada da educação para esses estudantes do que a despesa necessária para o aprimoramento de técnicas e didática de ensino e para a qualificação do corpo docente. No caso valeria a máxima de que prevenir sairia muito menos dispendioso, e mais vantajoso, do que remediar. E esse é apenas um dos aspectos que ilustram a complexidade do tema. O desafio de transformar investimento em bom aprendizado passa necessariamente pela gestão eficiente dos recursos. O Plano Nacional de Educação (PNE), que foi referendado pela Câmara e vai ainda a votação em plenário, põe em lados opostos os defensores de melhoria nas verbas e os que pregam a reorientação disciplinada dos recursos já disponibilizados. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em meio à discussão disse que um gasto de 10% do PIB com a educação “quebra o País”. O PNE propõe ações bem mais amplas que o mero reforço orçamentário. Trata da ampliação de vagas nas creches, equiparação salarial dos professores à de outros profissionais diplomados, erradicação do analfabetismo e adoção do ensino integral em metade da rede de escolas públicas. Todas elas medidas fundamentais. A princípio, ninguém em sã consciência pode ser contra o investimento na educação, mas é preciso olhar com muito critério a destinação e o retorno que esse dinheiro terá, para que o plano não vire mero cabo eleitoral de políticos oportunistas loucos por verbas adicionais para desviar.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-10573255689670168392012-07-11T15:36:00.001-07:002012-07-11T15:36:25.600-07:00Sem educação formal, irmãos ganham prêmios<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Fora de escola desde 2006, os jovens estudam em casa apenas os temas que lhes interessam e não pensam em cursar faculdade<br />26 de maio de 2012 | 21h 44<br /><br />Ocimara Balmant e Fernanda Bassette, de O Estado de S. Paulo<br /><br /><br />Davi e Jônatas estão com as malas prontas para a primeira viagem ao exterior: vão para a Califórnia em agosto. Ganharam as passagens e a estadia para a Campus Party americana após vencerem um concurso na edição brasileira do evento.<br /><br />Por aqui, eles concorreram com mais de 7 mil "nerds", egressos dos cursos de Engenharia e Ciência da Computação. O currículo dos campeões, no entanto, é bem mais modesto. Eles abandonaram a escola antes de concluir o ensino fundamental.<br /><br />Os dois foram educados pelos próprios pais, em casa. "Se eu estivesse no colégio, estaria entrando na universidade. Em casa, foquei apenas no que gosto. Não perdi tempo nas disciplinas que não me interessam", diz Davi, de 19 anos. Jônatas, um ano mais novo, alfineta: "Mesmo porque o melhor é ter uma boa ideia. Depois, se for preciso, coloco um engenheiro para programar".<br /><br />A cada afirmação, os dois olham de soslaio para o pai, sentado no sofá ao lado e se segurando para ele mesmo não responder a todas as perguntas. A cada prêmio dos filhos - só nos primeiros quatro meses deste ano eles já ganharam cerca de R$ 30 mil em concursos - Cléber Nunes se convence ainda mais da decisão tomada no fim de 2005, quando Jônatas e Davi terminaram a 5.ª e a 6.ª série.<br /><br />"Mas, mesmo com todos esses prêmios, ainda dizem que neguei educação para os meninos", diz o pai, referindo-se ao crime de abandono intelectual pelo qual ele e a mulher, Bernadeth Nunes, foram condenados em 2010. Também teriam de pagar uma multa, estimada hoje em R$ 9 mil, pela condenação em um processo na área cível por descumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). "Não quitamos porque temos certeza de que nossos filhos receberam instrução adequada", afirma a mãe.<br /><br />Quem a vê tão convicta nem imagina que ela era terminantemente contra a decisão do marido. Tanto que, na primeira tentativa de Cleber, no fim de 2004, Bernadeth vetou a ideia. Para convencer a mulher, ele foi aos Estados Unidos, conheceu famílias que praticavam o ensino domiciliar e trouxe uma mala cheia de material sobre o tema.<br /><br />Começava aí seu processo de "doutrinação" que só tem ganhado adeptos. A mais nova convertida é a pequena Ana, a caçula da família. Aos 5 anos, ela já sabe ler e escrever, é fluente em inglês e, apesar de nunca ter frequentado uma escola, tem uma opinião formada sobre o que se aprende na instituição: "Nada".<br /><br />Informal. A sala de aula da menina é um cantinho do escritório coletivo que fica no térreo do sobrado em que a família vive, no município mineiro de Vargem Alegre. No espaço, as bonecas ficam junto dos livrinhos de tecido costurados por Bernadeth.<br /><br />Enquanto a mãe ensina a menina a ver as horas, Jônatas desenvolve um software para informatizar as mercearias do município, e Davi é capaz de se esquecer de comer só para programar os códigos que darão origem a um programa capaz de ajudar os candidatos a vereador e a prefeito a mapear redutos eleitorais e traçar estratégias de comunicação.<br /><br />Creditam todo o aprendizado à técnica implementada pelo pai, autodidata que saiu da escola no 1.º ano do ensino médio.<br /><br />Assim que os tirou da colégio, Cléber os ensinou lógica, argumentação e aritmética, base a partir da qual eles poderiam estudar o que lhes conviessem. Davi e Jônatas decidiram ignorar disciplinas como química, biologia e geografia. "Por que eu deveria saber o que são rochas magmáticas?", questiona Jônatas.<br /><br />Das disciplinas oficiais, ficou somente o inglês. Para estimular a fluência, Cléber comprava cursos de informática em inglês e pedia que os filhos legendassem documentários.<br /><br />Atualmente, cada um faz seu currículo e seu horário. Mas nunca são menos de seis horas diárias, seis dias por semana. Jônatas, webdesigner, dispersa fácil, tanto que decidiu sair do Facebook para não perder tempo. Davi, programador, é mais centrado, cumpre à risca a grade horária colada no mural do seu quarto, ao lado de onde se vê um versículo bíblico em hebraico, idioma que ele aprendeu sozinho com o intuito de compreender melhor textos do livro sagrado.<br /><br />Motivação. A retirada dos filhos da escola coincidiu com a decisão da família por uma vida mais simples e de retorno a padrões morais descritos na Bíblia.<br /><br />Cléber abriu mão de sua empresa de produtos de aço inoxidável, como troféus e placas de honra, para fabricar as peças no quintal de casa. Bernadeth, que era decoradora e cursava Arquitetura, abandonou o curso e, desde então, dedica-se a cuidar da casa e a alfabetizar a filha.<br /><br /><br /><br />Por fim, trocaram a cidade de Timóteo, com 80 mil habitantes, pela pequena Vargem Alegre, de apenas 7 mil moradores e quase nenhuma opção de lazer. "O pai nos comunicou sobre a mudança. No começo, estranhamos, mas agora já me acostumei com o passeio na pracinha da igreja", diz Davi.<br /><br />Vez ou outra, jogam futebol com os vizinhos e viajam a Timóteo para encontrar os primos e os ex-amigos de escola. No dia a dia, e sem TV em casa, os cinco estudam, trabalham, fazem as refeições e divertem-se assistindo a vídeos do Youtube. Mas não cansa ficar tanto tempo juntos? Pelo jeito, não. Como acompanhantes da viagem à Califórnia, os meninos não hesitaram: vão levar o pai e a mãe.<br /><br />Educadores divergem sobre metodologia de ensino fora da escola<br /><br />Profissionais da educação divergem sobre a possibilidade de pais educarem seus filhos em casa, fora do ambiente escolar. A pedagoga Maria Celi Chaves Vasconcelos, professora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e na Universidade Católica de Petrópolis, fez uma pesquisa de pós-doutorado analisando a prática no Brasil e em Portugal. Aqui, a legislação não permite. Lá é liberado, dentro de algumas regras - entre elas, avaliação periódica.<br /><br />"Apesar de ser um tema envolto em preconceito, que ainda recebe muitas críticas, as mudanças estão começando e mostram que existem outras maneiras de educar as crianças que não seja na escola", diz Maria.<br /><br />Para o pedagogo Fábio Stopa Schebella, diretor pedagógico da Associação Nacional de Ensino Domiciliar, o preconceito contra o método é falta de informação. Ele, que já deu aulas em escolas regulares, hoje presta consultoria pedagógica para algumas famílias que ensinam os filhos em casa.<br /><br />"Há uma crença equivocada de que as crianças que são educadas em casa não se socializam ou não aprendem direito. E isso é um erro. Elas têm rendimento até melhor, tanto na parte intelectual quanto social", afirma.<br /><br />Equívoco. Quem tira os filhos da escola lhes rouba a oportunidade de se desenvolver integralmente, diz a professora Silvia Colello, da Faculdade de Educação da USP. "Nem a baixa qualidade e a falta de segurança das escolas justificam uma opção radical como essa. Esse tipo de ensino pode preparar a pessoa para o trabalho, mas não para o mundo."<br /><br />Além disso, segundo Silvia, há um problema curricular. Em casa, muitos pais optam por privilegiar os temas de interesse do filho em detrimento de outras disciplinas. "É interessante que a família esteja atenta para captar os interesses e aptidões, mas cabe aos pais abrir perspectivas para novos interesses. Como é que o adolescente diz que não gosta de física, se ele nunca estudou a disciplina?"<br /><br />O argumento de que é direito dos pais decidir o modelo mais apropriado de ensino é rebatido pelos educadores contrários à educação domiciliar: o direito da criança de frequentar a escola é que deve prevalecer.<br /><br />A aceitação dos filhos a esse modelo de ensino, argumenta a pedagoga, tem mais relação com a falta de opção do que com a satisfação. "A maioria das crianças ou nunca foi à escola ou dela foi tirada muito cedo. Não têm parâmetros para comparar porque não conheceram o lado de cá."<br /><br />Leis brasileiras não permitem ensino em casa<br /><br />A legislação brasileira em vigor determina que os pais ou responsáveis matriculem as crianças na rede regular de ensino - o que torna ilegal, portanto, a prática do ensino domiciliar.<br /><br />O artigo 6 da lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases) diz que "é dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos menores, a partir dos 6 anos de idade, no ensino fundamental". Já o artigo 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) determina que os pais ou o responsável têm a obrigação de matricular os filhos ou pupilos na rede regular de ensino.<br /><br />O Código Penal, em seu artigo 246, diz que é crime de abandono intelectual "deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária de filho em idade escolar".<br /><br />As famílias que defendem a educação fora da escola se baseiam no artigo 26.3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um tratado internacional ratificado pelo Brasil, que diz "que os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos".<br /><br />O Ministério da Educação informou, por meio de sua assessoria, que não se manifesta em relação ao tema, pois se trata de uma questão jurídica/legal.<br /><br />Permissão. Embora a legislação não permita a prática, há um projeto de lei do deputado Lincoln Portela (PR-MG) em tramitação na Câmara dos Deputados pedindo a regulamentação da educação básica domiciliar. O ensino deve ser realizada pelos pais, mas com supervisão e avaliação periódica.<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-37583767726957235202012-07-11T15:24:00.004-07:002012-07-11T15:24:34.651-07:00Educação em casa ou na escola?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): Paulo Nathanael Pereira de Souza<br />Correio Braziliense - 09/07/2012<br /> <br />Presidente da Academia Paulista de Educação<br /><br />No Brasil, a preocupação do poder público com as regras do politicamente correto chega a tais minúcias que as regulamentações dos comportamentos individuais e sociais se sucedem com velocidade incalculável. Regula-se tudo por aqui e chego a desconfiar que disso a população em nada se beneficia, eis que o excesso de proteção do Estado acaba não raro em detrimento dos protegidos.<br /><br />A propósito de melhorar a vida das pessoas, o que se faz de fato é continuamente invadir sua privacidade e obrigá-las a submeter-se a procedimentos nem sempre condizentes com a sua liberdade de escolher e de agir. Corre-se o risco de, em breve, alguém inventar uma lei ou um decreto que proíba e puna os que escolherem o suicídio como forma de morrer! Não que ao poder público não caiba competência para combater excessos prejudiciais ao direito de terceiros, mas isso não significa invadir em demasia os limites de cada um. Dentro desses, a liberdade deve ser respeitada, não cabendo ao Estado nela intervir, como se toda a população fosse composta de imaturos e irresponsáveis.<br /><br />Essas observações me assaltam a propósito da leitura de uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo ("Sem educação formal, irmãos ganham prêmio", 27/5/2012), em que se informa o bom resultado de uma educação caseira ministrada pelos pais aos três filhos, na cidade mineira de Vargem Alegre. Impressionam-me alguns comentários de educadores e autoridades, segundo os quais o processo educativo nacional, tal como está regulamentado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), proíbe os pais de educarem os filhos em casa, em vez de enviá-los para a escola.<br /><br />Tenho mais de meio século de intimidade com a legislação do ensino neste país e não estou convencido de que cometem crime os pais que educam crianças e jovens no seio da família, em substituição às escolas. As duas leis citadas pelos entrevistados tratam de casos de omissão dos pais e, principalmente, dos governos, que têm o dever de assegurar educação a todas as crianças e jovens, na rede escolar. Tanto que essa matéria é abordada no capítulo da LDB que cuida de um direito público subjetivo, isto é, o direito da criança de ter sempre matrícula garantida na idade escolar apropriada (artigo 5º). Tanto que os parágrafos desse artigo estipulam as formas de o poder público desempenhar com sucesso essa sua competência.<br /><br />O próprio artigo 6º, que diz ser dever dos pais efetuar a matrícula dos menores na escola, visa mais a obrigar os omissos (geralmente chefes de famílias das camadas mais excluídas da sociedade) a fazê-lo, não implicando necessariamente em crime para os que (talvez até mesmo por excesso de consciência de sua responsabilidade em relação à boa formação dos filhos) prefiram educá-los em casa. E o fracasso escolar da educação básica brasileira nos últimos tempos até que justifica amplamente essa tomada de decisão, a qual, aliás, diga-se de passagem, caracteriza casos de absoluta exceção e não chegam a comprometer a regra, que é a da matrícula da prole no ensino formal.<br /><br />O ECA, por sua vez, o que visa é à defesa da criança e do jovem quanto ao exercício de seu direito à educação, o que, por sinal, não ocorre com aqueles, cujos pais optam por educá-los no recesso do lar. São casos incomuns de educação esses patrocinados pelos pais, e que poderiam, no meu modo de ver, ser praticados livremente e sem crime, eis que as situações que a regra da lei quer prevenir referem-se sempre aos perigos de negação de cumprimento do dever de educar. Ao contrário, no lugar da escola está-se optando por outra educação, quiçá até mais qualificada do que essa que o ensino brasileiro está a oferecer, no momento, a todas as crianças e jovens.<br /><br />A mesma reportagem publicada com tanto destaque pelo jornal paulista refere-se também a um possível projeto de lei de um deputado federal, que pretende regulamentar a matéria da educação básica domiciliar. Uma discutível iniciativa, acho eu. Primeiro, porque se trata de casos excepcionais e, depois porque a própria LDB (artigo 30, §2º) prevê exames destinados a aferir e reconhecer "conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais", o que nos induz a entender não haver crime em ser alguém educado fora do ensino formal.<br /><br />Quiçá valesse a pena prever uma emenda a esse dispositivo, diminuindo a idade limite, para que jovens com menos de 15 e 18 anos possam formar-se respectivamente nos conhecimentos correspondentes aos ensinos fundamental. De qualquer forma, o tema, dada a atualidade, mereceria inspirar seminários de aprofundamento a serem levados a cabo por universidades, faculdades e conselhos de educação.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-41312868870927453792012-07-06T15:03:00.002-07:002012-07-06T15:03:17.268-07:00Demografia ajuda educação<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Política<br />Autor(es): Cristiano Romero<br />Valor Econômico - 04/07/2012<br /> <br />Além de demagógica, a decisão da Câmara dos Deputados de aumentar para 10% do Produto Interno Bruto (PIB) os gastos públicos com educação ignorou as transformações demográficas em curso no país. Com o envelhecimento da população, o número de pessoas em idade escolar está diminuindo. Apenas entre 2009 e 2011 houve queda de 1,8 milhão de matrículas na rede pública do ensino fundamental. Há mais de uma explicação para essa redução. A mudança demográfica é uma delas.<br /><br />O economista Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a diminuição da população de crianças e jovens em razão da transformação demográfica facilitará a tarefa de melhorar a educação brasileira nos próximos anos. "Em 2010, havia 47,1 milhões de pessoas em idade escolar, mas, em 2020, haverá 41,5 milhões, uma redução de 5,6 milhões", diz ele.<br /><br />Arbache faz um cálculo revelador. Nos últimos oito anos, a economia brasileira cresceu, em média, 4,3% ao ano. Neste momento, por causa da crise mundial, está crescendo bem abaixo disso, mas a tendência dos próximos anos é voltar a avançar numa velocidade mais próxima do chamado PIB potencial. Se isso ocorrer e se o setor público (União, Estados e municípios) mantiver o atual nível de gasto com educação - 5,08% do PIB em 2011-, será possível aumentar o investimento por aluno em 45% entre 2010 e 2020, já descontada a inflação.<br /><br />Envelhecimento da população e expansão do PIB ajudam educação<br /><br />"Juntas, economia e demografia farão os investimentos públicos em educação por aluno saltarem de 20% para 25% do PIB per capita no mesmo período, taxa elevada para padrões internacionais", observa o professor da UnB. "É óbvio que quem conhece o Brasil e tem algum bom senso apoia a substancial melhoria da qualidade da educação, mas acho que o caminho sugerido [o aumento puro e simples do gasto para 10% do PIB, uma espécie de número mágico] poderá trazer mais problemas que soluções."<br /><br />O Brasil vem elevando já há algum tempo o dispêndio do Estado com educação. É só lembrar que em 2003 o gasto era equivalente a 3,9% do PIB. Em 2007, a educação pública já consumia 4,3% do PIB; em 2009 chegou a 4,7% do PIB e, no ano passado, a 5% do PIB.<br /><br />O aumento dos investimentos certamente contribuiu para dois ganhos importantes nesse período: a universalização do ensino básico e a melhora dos salários dos professores. O que não acompanhou o ritmo de mudanças foi a qualidade do ensino, apontada de forma unânime por especialistas, à direita e à esquerda do espectro político, como o calcanhar de Aquiles da educação no Brasil.<br /><br />A elevação do gasto público com educação para 10% do PIB, no espaço de dez anos, foi aprovado no âmbito do Plano Nacional de Educação (PNE), que está em discussão no Congresso Nacional. O Ministério da Educação estima que, para viabilizar esse aumento de despesa, o governo teria que retirar R$ 85 bilhões do orçamento anual de outros ministérios da área social.<br /><br />Tirar esse dinheiro de outras rubricas obrigaria o governo certamente a sacrificar programas sociais de combate à miséria bem-sucedidos, como o Bolsa Família. Inviabilizaria também o financiamento de orçamentos importantes, como o da previdência e assistência social.<br /><br />Jorge Arbache chama a atenção para o fato de que o envelhecimento da população obrigará o governo a destinar mais recursos, nas próximas décadas, à saúde pública e ao pagamento de aposentadorias e pensões. "Já em 2026, a população em idade escolar, na faixa etária de 4 a 17 anos, será ultrapassada pela população acima de 60 anos", diz o economista.<br /><br />É preciso considerar, portanto, que a fixação de um percentual elevado e irrealista de PIB para gastos com educação "tende a conflitar com as necessidades fiscais futuras decorrentes do contínuo aumento da população de idosos". O problema da previdência, como se sabe, já é de difícil solução mesmo antes do envelhecimento previsto para a população brasileira nos próximos anos. A previdência, principalmente a do setor público, já é bastante deficitária - o rombo anual de ambas soma R$ 100 bilhões.<br /><br />A ideia de que simplesmente jogar dinheiro do helicóptero vai melhorar a educação no Brasil é um grande equívoco. Especialistas afirmam que o problema não está na falta de recursos. O país já desembolsa nessa área o equivalente ao gasto médio realizado por países desenvolvidos. É possível discutir prioridades - por exemplo: o Brasil destina mais recursos, por aluno, ao ensino superior do que ao fundamental, o oposto do que fazem nações bem-sucedidas em formação educacional, como a Coreia do Sul -, mas está claro que a deficiência não é de caráter financeiro.<br /><br />Arbache acha que o governo deveria definir o orçamento público para a educação de acordo com os recursos necessários para atingir metas educacionais, "política essa que teria que vir acompanhada do aperfeiçoamento da gestão do sistema educacional". "Num primeiro momento, será preciso elevar significativamente a parcela do PIB destinada à educação, mas, numa fase seguinte, quando as metas forem sendo alcançadas, o orçamento da educação poderá se estabilizar e até diminuir, como ocorreu décadas atrás nos tigres asiáticos, que promoveram grandes avanços na educação."<br /><br />"A educação deve ser prioridade de política pública, mas a alocação de recursos para a área deve ser compatível com a realidade demográfica do país. Do contrário, podem ser criados compromissos e pressões fiscais futuras com efeitos deletérios para o crescimento econômico sustentável", insiste Arbache.<br /><br />O economista observa que, embora os investimentos públicos em educação por aluno já estejam crescendo, o Brasil precisa aproveitar as condições econômicas e demográficas favoráveis deste momento para fortalecer ainda mais o orçamento dessa área nos próximos anos, com o propósito de diminuir o hiato que separa a educação pública brasileira "daquela necessária para fomentar o crescimento econômico e alavancar a competitividade internacional da nossa economia".</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3445626534463718951.post-86119277150920326382012-07-06T14:51:00.000-07:002012-07-06T14:51:18.779-07:00A educação e a Rio+20<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Autor(es): agência o globo:Mozart Neves Ramos<br />Correio Braziliense - 05/07/2012<br /> <br />Membro do Conselho de Governança do Todos Pela Educação e do Conselho Nacional de Educação, e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)<br />Garantir crescimento econômico com desenvolvimento e justiça social sem que isso comprometa as fontes de recursos naturais e o meio ambiente é onde se insere o desafio da consolidação do novo modelo de desenvolvimento que o mundo busca: o desenvolvimento sustentável. Conforme aponta o Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas em 1987, o ponto de equilíbrio desse desenvolvimento se encontra na capacidade de resolver as necessidades atuais sem comprometer aquelas das gerações futuras. <br /><br />Valores como direitos humanos, cultura de paz, educação para todos, igualdade de gênero, diversidade cultural e democracia são alguns dos pré-requisitos para o êxito desse processo. Não obstante o desenvolvimento humano se configurar como um processo multifacetado, a oferta de educação de qualidade para todos se traduz como o pilar central das estratégias de transformação e de promoção de valores quanto à conduta ética e na busca do compromisso coletivo. <br /><br />De fato, o capítulo 36 da Agenda 21 estabelecida na Eco-92 já enfatizava a importância da educação na promoção do desenvolvimento sustentável e na melhoria da capacidade das pessoas entenderem os problemas que permeiam as questões ambientais e de desenvolvimento. Por isso mesmo, a Assembleia Geral das Nações Unidas, de 2005, em Brasília, adotou por unanimidade a resolução que proclama o período de 2005 a 2014 como a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. <br /><br />Não foi à toa. Constatava-se, naquela oportunidade, que o mundo ingressava no século 20 com 113 milhões de crianças que cresciam sem nenhum tipo de educação escolar, 880 milhões de adultos na condição de analfabetos plenos, 160 milhões não finalizavam a educação básica e 60% da população sem escolaridade eram mulheres. Como pensar no desenvolvimento de economias e sociedades mais justas e de relações sustentáveis com o meio ambiente com essas condições?<br /><br />Por isso a forma periférica como foi conduzido o debate sobre o papel crucial da educação durante a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Desenvolvimento Sustentável, mundialmente conhecida como Rio+20, causa estranheza. Educação de qualidade para todos é simplesmente o alicerce que viabiliza e mantém as mudanças que precisamos e buscamos. Não se pode aqui desconhecer a potencial mobilização da Rio+20 enquanto evento em prol das questões ambientais, como também o relativo sucesso em função do fortalecimento do multilateralismo, mas faltou o destaque ao pilar social. <br /><br />Um dos principais temas da conferência foi o conceito de uma %u201Ceconomia verde%u201D, com o propósito de assegurar o crescimento econômico, a equidade social e a redução dos riscos ambientais, na tentativa de se propor um caminho comum para o desenvolvimento sustentável. A Rio+20 foi essencialmente uma conferência sobre o meio ambiente. Ficou uma sensação de que poderíamos ter feito mais. <br /><br />O Brasil, anfitrião da conferência, que vem se colocando para o mundo como um país de economia próspera e sólida, já começa a dar sinais de esgotamento do modelo que o levou a esse estágio de desenvolvimento; ao menos foi isso que apontou o relatório do Banco Internacional de Compensações (BIS), o banco dos bancos centrais. Após anos seguidos de elogios ao desempenho da economia brasileira, o relatório deste ano é contundente: o Brasil já vive uma %u201Cdesaceleração acentuada%u201D e precisará agir com urgência para reverter esse quadro. A sua sustentabilidade passa pelo binômio infraestrutura e educação de boa qualidade. <br /><br />Portanto, não haverá sustentabilidade se o Brasil não resolver o seu problema educacional. Assim fazendo, poderá encurtar rapidamente a distância que separa o seu Produto Interno Bruto (PIB), que se encontra na 6ª posição no ranking mundial, do seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que ocupa a 88ª posição no ranking mundial. E a Rio+20, como conferência sobre o desenvolvimento sustentável, e não apenas para tratar das questões ambientais, não poderia ter deixado passar despercebido o tema educação. Seria, por exemplo, excelente oportunidade para aferir como andam as ações previstas para 2005-2014 naquilo que foi discutido na Assembleia Geral das Nações Unidas de 2005.<br /><br />O Brasil pode ser, de fato, um protagonista deste novo século e deste novo modelo de desenvolvimento, e como anfitrião da Rio+20 deveria ter trazido o tema educação para lugar de destaque na conferência. Nem o Brasil, nem outro país o fez: ou subestimaram o papel da Rio+20 ou, em escala mundial, não percebem a educação como prioridade e vetor das mudanças que precisamos.</div>Unknownnoreply@blogger.com0