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Dois fósseis descobertos na África do Sul, dotados de inusitada combinação de características arcaicas e modernas, podem ser ancestrais diretos do homem
Alexandre Salvador
Os últimos quinze dias foram excepcionais para o estudo das origens do homem. No fim de março, uma falange fossilizada, encontrada na Sibéria, revelou uma espécie inteiramente nova de hominídeo que ainda existia há 50 000 anos. Na semana passada, cientistas da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, anunciaram uma descoberta similar. São duas ossadas bastante completas – um menino de 12 anos e uma mulher de 30 – encontradas na caverna Malapa, a 40 quilômetros de Johannesburgo. Devido à abundância de fósseis, a região é conhecida como Berço da Humanidade. Nenhum achado até hoje, porém, apresentou as características do menino e da mulher. As longas pernas, a pélvis bem desenvolvida, o rosto achatado e os dentes pequenos são similares aos das espécies mais antigas do gênero Homo, ao qual pertencemos. Já os braços longos e o formato das mãos sugerem que, apesar da marcha bípede, ainda estavam à vontade nos galhos das árvores. O formato do crânio lembra o do Homo sapiens, a nossa espécie, mas a baixa estatura (1,3 metro) e o cérebro diminuto (420 centímetros cúbicos, um pouco maior que o do chimpanzé) remetem aos australopitecos, os primatas mais antigos na evolução dos hominídeos.
A nova espécie foi batizada de Australopithecus sediba. Sediba significa fonte em sesoto, uma das onze línguas oficiais da África da Sul. As análises mostraram que o menino e a mulher viveram há 1,95 milhão de anos. Até agora, a tese mais aceita entre os estudiosos aponta o Australopithecus africanus, que viveu na África do Sul entre 3 milhões e 2,4 milhões de anos atrás, como o ancestral imediato do gênero Homo. A intrigante mistura de características arcaicas e modernas levou os pesquisadores sul-africanos a apresentar a nova espécie como o melhor candidato a antecessor direto do nosso gênero. A comprovação dessa hipótese ainda depende de estudos posteriores – mas, seja como for, está claro que os fósseis sul-africanos oferecem pistas espetaculares sobre um período especialmente obscuro da evolução humana. "A transição para o Homo continua a ser totalmente confusa", disse à Science o paleontólogo americano Donald Johanson, da Universidade Estadual do Arizona. Johanson é o descobridor da famosa Lucy, na Etiópia, em 1974. Esse esqueleto quase completo de uma fêmea de australopiteco, de 3,2 milhões de anos, está hoje firmemente fixado na árvore genealógica do homem.
O bom estado de preservação dos ossos descobertos na caverna ajudou bastante a apressar o estudo publicado. "Os esqueletos encontrados em Malapa são muito mais completos que os da vasta maioria dos fósseis conhecidos pela paleontologia. Podem-se contar nos dedos das mãos os exemplares semelhantes a esses", diz o paleontólogo americano Lee Berger, o principal autor do estudo. O par, talvez mãe e filho, parece ter caído por uma fenda no teto da caverna. Outros animais, entre eles um felino de dentes de sabre, cujos fósseis também foram achados na caverna, parecem ter sido presas da mesma armadilha natural. A aposta dos cientistas é que tanto os hominídeos quanto os animais estavam em busca de água em meio a uma seca. Agora, os Australopithecus sediba se tornam personagens-chave da paleontologia.
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