segunda-feira, 19 de abril de 2010

Comunicação falha fragiliza legado de papa

Autor(es): LUCIANA COELHO - DE GENEBRA
Folha de S. Paulo - 19/04/2010

Bento 16 celebra 5º aniversário de seu pontificado em meio a crise de imagem da Igreja Católica por gafes e escândalos

Estudiosos ouvidos pela Folha avaliam que pontífice não consegue divulgar o que faz de bom e responder a respeito do que faz mal

Avanços houve poucos, mensagens houve muitas, e mudanças, quase nada. Mas o que mais bem define os cinco primeiros anos de pontificado de Bento 16, para os que observam e registram o dia a dia da Igreja Católica, não é uma palavra. É exatamente a falta dela.
A Folha ouviu alguns dos mais proeminentes estudiosos da Igreja Católica em busca de uma avaliação deste primeiro quinquênio -ou o que alguns definiram como primeira metade do papado de Joseph Ratzinger, dados seus 83 anos de vida. O ponto consensual: a igreja sob Bento 16 está falhando em se comunicar com os fiéis. Sua imagem está em risco.
"Comunicação é o maior problema deste papado. E isso se reflete nas pesquisas", diz Thomas Reese, padre, jornalista e pesquisador da Universidade Georgetown (EUA). Em sondagem do instituto Pew, de 2008 para cá saltou de 20% a 44% a parcela de americanos para a qual o papa conduz mal a crise da pedofilia no clero.
Não há acordo, porém, sobre se o alemão, que por duas décadas liderou a Congregação para a Doutrina da Fé -a instituição que resguarda a ortodoxia da igreja-, está conseguindo acabar com o relativismo no catolicismo, sua bandeira quando ascendeu ao trono de Pedro.
Para o teólogo suíço Hans Küng, que na última semana divulgou uma carta aberta aos bispos na qual listava oportunidades perdidas pelo atual papado, a resposta é um sonoro "não" (por e-mail, sua única palavra veio acompanhada de um ponto de exclamação).
Já Andrea Tornielli, vaticanista do conservador "Il Giornale", afirma que aos poucos a inclinação à menor flexibilidade começa a permear o rebanho. "É um sentimento que está crescendo para quem se dá o trabalho de ler seus escritos, sobre a necessidade de um catolicismo mais aderente e próximo do que é essencial à fé. Mas sem cobertura midiática."
Essa dicotomia, de não conseguir divulgar o que faz de bom e não conseguir responder sobre o que faz de ruim, pode comprometer um projeto mais amplo para o pontificado.
"Neste momento, acho que Bento 16 não esperava um ataque desta proporção, a ponto de impedi-lo de manter seu caminho", afirma Marco Ansaldo, vaticanista do jornal italiano progressista "La Repubblica". "E é difícil entender neste momento para onde ele vai."
Em relação a João Paulo 2º, pouco foi mudado no funcionamento da igreja, dizem os especialistas. O contraste surge na percepção do público.
"João Paulo 2º foi ator quando jovem e aprendeu a prestar atenção em sua plateia. Bento 16 nunca teve esse tipo de experiência, ele era um professor alemão. Enquanto seu antecessor era muito sensível sobre como sua mensagem estava sendo ouvido e percebida, Bento está mais preocupado em ter certeza de que sua linguagem está tecnicamente correta", afirma Reese.
Para ele, isso só salienta o distanciamento do papa e seu público em um momento em que a religião concorre por atenção com a cultura pop. "Você não pode usar linguagem do século 13. Nem do 19."

Alienação
Se os fiéis católicos estão confusos com as mensagens contraditórias, os crentes de outras religiões estão alienados. Outro paradoxo nascido de gafes e declarações dúbias (veja quadro ao lado), dado que o ecumenismo e o diálogo interreligioso, em tese, são uma prioridade para Bento 16.
Para completar, cresce a percepção de que o papa fez ao menos uma escolha errada: tornar seu braço direito o cardeal Tarcísio Bertone -que relacionou homossexualidade à pedofilia em um momento em que Bento 16 tenta mostrar que a igreja está atuando contra o problema.
"Espero que no próximo conclave, os cardeais estejam atentos [ao fato que] o papa é um porta-voz muito visível da Igreja Católica e tem de estar apto a se comunicar pela mídia e com o mundo. Senão, haverá mais problemas," diz Reese.

ORA, JOÃO PAULO II É QUE FOI ATOR E BENTO XVI É QUE TEM CARA DE PERSONAGEM DA FAMÍLIA ADAMS!

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