Autor(es): Agencia O Globo/Mariana Timóteo da Costa Correspondente • CARACAS
O Globo - 19/04/2010
E o McDonald's pode ser fechado
Na casa onde nasceu Simón Bolívar, no centro de Caracas, e cercado por crianças vestidas como o militar, ou como índios e camponeses, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu início ontem às celebrações pelo bicentenário da independência da Venezuela.
Como parte das comemorações, o governo vai inaugurar, no próximo dia 30, um busto em bronze de Fidel Castro, que pode acabar com o hambúrguer e a batata-frita de quem trabalha ou vive no centro de Caracas.
É que o monumento ficará no boulevard em frente à Assembleia Nacional, onde há lojas das redes americanas Wendy’s e McDonald’s. Chavistas já deram sinais de que o governo pode ordenar a remoção dos estabelecimentos, para “não prejudicar” a homenagem ao líder cubano.
— É uma incoerência ideológica ter dois negócios identificados com o império dos Estados Unidos em nosso boulevard revolucionário.
Não se trata de xenofobia, mas a homenagem ao líder cubano não pode ser prejudicada — disse Gerson Pérez, coordenador do Partido Socialista Unido de Venezuela, o PSUV de Hugo Chávez, que domina a Assembleia.
Ruas do centro da capital foram fechadas e monumentos históricos foram reformados para que hoje, feriado decretado pelo governo, Chávez lidere uma parada cívicomilitar, entre outros atos oficiais com a participação de líderes da região.
Além da festa, o presidente venezuelano promove uma cúpula da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).
As comemorações vão lembrar o 19 de abril de 1810, quando uma junta formada por militares e sociedade civil passou a não reconhecer mais o domínio espanhol.
Bolívar, um dos principais nomes do processo de independência, é constantemente citado por Chávez.
— Passaram-se 200 anos e ainda não somos completamente independentes — disse Chávez às crianças que o acompanhavam. — Cabe também a vocês, jovens, tornaremse patriotas. Sendo patriotas, vocês serão socialistas, como Bolívar, como Cristo. Eles pensavam um mundo em que todas as pessoas eram livres e iguais.
Nós, 200 anos depois de Bolívar, continuamos lutando por isso — completou.
Os eventos terão participação de líderes como o boliviano Evo Morales, o equatoriano Rafael Correa, o cubano Raúl Castro, bem como a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que discursará na Assembleia Nacional a convite de Chávez.
Para muitos, o presidente não tem motivos para realizar tamanha festa. Integrantes do partido Primeira Justiça saíram às ruas de Caracas pedindo por uma “declaração de independência alternativa”.
— Após 200 anos, nós estamos novamente sob uma detestável dominação estrangeira — disse o líder do partido, Julio Borges, acusando Chávez de se “submeter indignamente” aos irmãos Castro.
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