O Estado de S. Paulo - 03/04/2010
Márcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Como o senhor vê a mobilização das grandes empresas para resolver o problema da falta de mão de obra qualificada?
A capacitação de funcionários, internamente, já era uma prática usada em outros países. Com a abertura da economia, essas práticas começaram a ser vistas aqui no País, só que naquela época não houve um grande apelo, porque a realidade era de baixo dinamismo econômico e alto desemprego. Agora, essas iniciativas ganham força porque há uma pressão maior por trabalhadores e sinais de escassez de mão de obra. O que temos visto é que as companhias têm preferido melhorar o perfil da educação interna a ter de buscar profissionais fora do País. Importante lembrar que as grandes empresas representam 2% dos estabelecimentos e respondem por um terço total da ocupação.
Isso não torna explícita uma deficiência no sistema educacional brasileiro?
Não dá para justificar o caminho adotado por elas, com eventuais falhas no ensino. O que estamos vendo aqui é algo que já existe em países desenvolvidos, com níveis educacionais altíssimos. O que está em curso é a atuação de grandes empresas, em diferentes países, e que precisam formar trabalhadores que possam atuar em locais dos mais variados. Como se trata de uma formação específica e necessária para a companhia é algo que ela vai fazer mesmo em países avançados.
E como ficam as pequenas e médias empresas que não têm recursos para adotar soluções como essas?
Nesse caso, elas dependem quase que exclusivamente da formação pública ou privada. Por isso, não tenho dúvida de que o sistema público brasileiro de emprego precisa ser reformulado. É preciso combinar benefício monetário com formação. As pequenas e micro empresas também não estão preparadas para selecionar os próprios trabalhadores. Elas precisam de uma intermediação. Essas necessidades exigem um programa e um planejamento nacional a médio e longo prazo.
A última pesquisa do Ipea sobre oferta e demanda de mão obra mostra que o País terá esse ano "um saldo" de trabalhadores qualificados, num momento em que vemos alguns setores desesperados atrás de profissionais especializados. Como explicar os números?
Estamos num país de grande proporção. Frente a esse quadro de crescimento econômico, temos uma oferta de mão de obra qualificada que não está localizada onde o emprego está sendo gerado. Em algumas localidades vai sobrar trabalhadores e em outras vai faltar. A situação que enfrentamos agora revela como a educação ficou em segundo plano no Brasil. Por isso, defendo que esteja entre as prioridades do País um PAC da capacitação, como já temos para a infraestrutura.
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