quinta-feira, 15 de abril de 2010

Correio Braziliense - 15/04/2010

Porta-voz justifica declarações do secretário de Estado da Santa Sé relacionando pedofilia e homossexualismo
O Vaticano tentou esclarecer ontem as declarações polêmicas do seu secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, que na última segunda-feira relacionou a pedofilia ao homossexualismo, provocando reações indignadas em todo o mundo. Segundo o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, “o cardeal referia-se, evidentemente, ao problema dos abusos cometidos pelo clero, não aos cometidos por outras pessoas entre a população”. O porta-voz destacou um estudo estatístico feito pelo Vaticano sobre os escândalos de pedofilia envolvendo a Igreja Católica, segundo o qual em 60% dos casos o abuso sexual foi cometido contra adolescentes do mesmo sexo do religioso acusado.
A análise foi divulgada em março pelo monsenhor Charles J. Scicluna, da Congregação para a Doutrina da Fé — órgão encarregado da disciplina e da orientação teológica da Igreja, que era chefiado pelo então cardeal Joseph Ratzinger até tornar-se o papa Bento XVI, em 2006. O estudo indica que os casos de pedofilia em sentido estrito, referentes apenas a crianças, representam 10% do total. Os 90% restantes são, rigorosamente, casos de efebofilia, ou seja, abusos de adolescentes. Apesar de mostrar apoio à fala de Bertone, Lombardi admitiu que não é da competência de autoridades religiosas fazer alegações generalizadas de caráter psicológico ou médico. “Por isso, elas naturalmente se referem ao trabalho de especialistas ou a pesquisas que estejam em curso”, informou o porta-voz.
Durante visita na última segunda-feira a Santiago, no Chile, o secretário de Estado da Santa Sé afirmou que o abuso de menores estaria mais ligado à orientação sexual do sacerdote abusador que ao regime de celibato imposto aos padres. “Numerosos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não havia relação entre celibato e pedofilia, mas muitos comprovaram, e me disseram recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e abuso sexual infantil”, garantiu Bertone, durante entrevista coletiva. “(Ser homossexual) é uma patologia que atinge pessoas de todas as categorias, e os sacerdotes em percentual menor. O comportamento dos padres, nesse caso, é muito sério, é escandaloso.”
O comentário do cardeal foi uma resposta a setores da Igreja que pedem uma revisão da norma que proíbe os religiosos de se casarem. Para eles, o casamento seria uma forma de desfrutar da vida sexual de maneira saudável.

Reações

A França foi a primeira a criticar as declarações de Bertone, consideradas “uma vinculação inaceitável”. “É um amálgama que condenamos. Lembramos a necessidade de lutar contra as violações dos direitos do homem ligadas à orientação sexual”, ressaltou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Bernard Valero. Já autoridades, médicos e grupos de defesa dos homossexuais chilenos pediram ao cardeal que comprove suas afirmações sobre a relação entre homossexualismo e pedofilia.
“É um absurdo científico. A Organização Mundial da Saúde descreve a homossexualidade como uma variante do comportamento humano. É a pedofilia que é uma patologia, um crime”, protestou Franco Grillini, ex-parlamentar italiano.
O cardeal referia-se aos abusos cometidos pelo clero, não aos cometidos por outras pessoas”
Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano

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