Autor(es): Agência O Globo/SHAKIRA
O Globo - 18/04/2010
Domingo passado visitei o Haiti. Nunca havia visto um lugar em tal situação de destruição. Um país onde não restou nenhum tipo de infraestrutura — água, saneamento, eletricidade, escolas ou hospitais —, com 86% da população desempregados e um milhão e oitocentos mil deslocados de suas casas, bairros e cidades.Vi mães que perderam seus filhos, filhos que perderam seus pais, mulheres que perderam famílias inteiras. Vi um país que perdeu quase tudo, mas que ainda mantém sua força.
Guardo o olhar de homens e mulheres que não se sentem derrotados nem vencidos. Jovens prontos para reconstruir, esperançosos. Crianças que ainda sorriem e sonham com uma vida melhor. Essa força representa a oportunidade dessa nação, que hoje espera toda a ajuda internacional possível; que depende de nossas promessas e de nossa boa memória, porque, mais grave que a mesma catástrofe, seria para o Haiti sofrer o esquecimento.
Me deixa otimista, no entanto, ter me encontrado com pessoas de distintos lugares, estudantes e profissionais, anônimos ou famosos, que decidiram doar seu tempo e esforços para se instalar no Haiti e ajudar. Sean Penn, por exemplo, conduz, pessoalmente, um dos maiores campos de refugiados. Vive há quase três meses em um daqueles acampamentos. Dorme sob um pequeno toldo, precário, nada diferente das acomodações dos 60 mil deslocados que ali vivem enquanto ele procura meios de realocá-los. Já conseguiu enorme ajuda internacional e segue inspirando com o seu trabalho diário a tanta gente que, como ele, se dedica à ajuda, muito necessária.
As novas gerações absorvem estes exemplos e sabem que no mundo de hoje os problemas de um só povo são problemas do mundo inteiro. Minha esperança é que, via educação e comunicações, essa mensagem se difunda e seja o legado que deixemos a nossos filhos e aos filhos dos seus filhos.
No Haiti entendi mais: que só construindo escolas e hospitais a sociedade haitiana poderá recuperar sua dignidade e seguir adiante. Percorri áreas possíveis para se erguer uma escola, onde as crianças possam receber alimentação e educação adequada.
Participei de reuniões com algumas organizações não governamentais e possíveis sócios estratégicos para poder começar as obras nos próximos meses. Iniciaremos a construção de uma escola no Haiti que, se tivermos sorte, deverá estar concluída no final deste ano.
Logo vai chegar a temporada de furacões e só espero que o povo haitiano possa encontrar refúgio ante as inclemências do clima e que possamos estar ali para eles. Quis compartilhar minha experiência porque sei que há muito por fazer e individualmente podemos ser gotas de água, mas juntos somos um oceano. Isso me ensinou um garoto de 11 anos, que viu pouco, mas que já sabe tanto da vida.
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