terça-feira, 6 de abril de 2010
CBN EXPRESS LIVROS
O bichinho da dúvida corrói o colunista
Se a coluna tratasse de gastronomia, seria como falar de uma mesma receita semanas a fio. O problema é que fosse o mercado editorial uma rede de restaurantes, o cardápio seguiria por meses inalterado. Só se fala em iPad. Trezentas mil pessoas compraram o lançamento no último sábado, dia em que foi disponibilizado no mercado americano. Na semana passada, a coluna trouxe a apresentação da editora Penguin voltada para o equipamento. A cada dia falamos mais das novas tecnologias e do impacto sobre os livros. Mas o bichinho da inquietação que corre a mente do colunista vive a perguntar: será que efetivamente falamos aqui de leitura?
O bichinho da dúvida corrói o colunista 2
Ou será que falamos de uma nova linguagem, a que inicialmente chamamos de livro eletrônico, mas que aponta muito além de novas mídias, para novos conteúdos? Se a proposta fizer um pingo de sentido, a aproximação do texto escrito cada vez mais de ferramentas audiovisuais fará com que o livro passe a se dividir em duas vertentes – uma híbrida, que se casa com a evolução tecnológica, e uma sofisticada, em excelente acabamento gráfico, que tais os discos de vinis que são vendidos em edições especiais atenderá a um público muito específico, espécie de seita.
O bichinho da dúvida corrói o colunista 3
E, se esse bichinho danado, além de corroer a frágil mente do colunista, simplesmente se instalar de vez, como um Tirésias do universo editorial, nos oferecendo uma dúvida acachapante: entre o afã tecnológico e o fetichismo do colecionador, em que barco o leitor contumaz haverá de habitar? Ou será que as velhas bibliotecas serão cada vez mais valorizadas? Espécies de templos contemporâneos a quem se dedica ao milenar hábito de se sentar e ler.
O bichinho da dúvida corrói o colunista 4
O colunista, coitado, foi longe melhor. Melhor ouvir o que você que o lê tem a dizer. Você leitor, que compra seu livro na sua livraria favorita e o leva para casa. O que pensa desse futuro? Ou será que toda essa celeuma ainda está distante da rotina de quem efetivamente tem a leitura como um hábito? Ou, voltando à pergunta inicial: falamos aqui de leitura?
Bussunda no papel
Guilherme Fiuza tem uma trajetória interessante. Escrevendo livros de temática diversa, traça, de certo modo, um painel do Brasil contemporâneo. Do tráfico de drogas, em “Meu nome não é Johnny”, aos bastidores da formatação do Plano Real, em “3000 dias no bunker”. Agora ele se debruça sobre a vida de uma das personalidades mais interessantes do nosso showbiz. “Bussunda – a vida do Casseta” (Objetiva, R$ 49,90) é um amplo perfil das turmas que se uniram no Rio de Janeiro dos anos 1980 para fazer um dos melhores humorísticos do país. Centrado na figura ao mesmo tempo exótica e instigante de seu membro mais conhecido, precocemente morto durante a Copa da Alemanha.
José Godoy é escritor e editor. Mestre em teoria literária pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), é editor da área de não-ficção da Globo Livros. Colabora com diversos veículos, como a revista Legado, da qual é colunista, e o jornal Valor Econômico. Desde 2006, apresenta na CBN SP o programa Fim de Expediente, junto com Dan Stulbach e Luiz Gustavo Medina. O blog do programa está no portal G1.
Entre em contato pelo e-mail jgodoy@edglobo.com.br
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