quinta-feira, 8 de abril de 2010

Evo Morales acusa quatro Estados de fraude


Folha de S. Paulo - 08/04/2010
Presidente boliviano diz que processará cortes eleitorais das regiões onde a oposição venceu nas eleições de domingo


Denúncia é rechaçada por autoridades eleitorais, que pediram que mandatário torne públicas as provas das irregularidades cometidas


O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem que entrará com ações penais contra as autoridades eleitorais de quatro departamentos (Estados) do país por suspeitas de fraudes nas eleições regionais realizadas no último domingo.
Segundo resultados parciais de apuração, o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Morales, venceu as disputas para governador nos departamentos de La Paz, Oruro, Potosí, Cochabamba e Chuquisaca.
A ameaça atinge justamente as regiões que o MAS pretendia conquistar, mas foi derrotado. Em Santa Cruz, Beni e Tarija, a apuração indica que a oposição de direita foi a vencedora. Já em Pando, a disputa entre o candidato do MAS e o da oposição está acirrada.
Os quatro departamentos formam a chamada "meia-lua", região que, desde que Morales assumiu o poder em 2006, se opôs às políticas estatista e indigenista do presidente.
"O comportamento das cortes [eleitorais] departamentais de Pando, Santa Cruz, Beni e Tarija é um delito. Agora nossa tarefa é defender o voto saudável, honesto, e tomaremos ações penais contra essas autoridades que jogam contra a democracia", afirmou Morales em Huatajata, antes de se encontrar em La Paz com o assessor da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia.
Segundo o líder boliviano, houve manipulação de votos e cédulas com a cumplicidade das cortes eleitorais dos quatro departamentos, que não teriam adotado nenhuma medida para coibir as irregularidades.
Morales assegurou que em Pando a fraude "está totalmente comprovada", assim como em Beni, onde a candidata do MAS ao governo, a ex-miss Bolívia Jessica Jordan, denunciou que sua cédula desapareceu da mesa onde votou.
"Morales terá que encarar o país para dizer qual é o delito e qual é a prova que tem em mãos", disse o presidente da Corte Departamental Eleitoral (CDE) de Santa Cruz, Mario Parada. "Não se pode denegrir, ameaçar nem atacar uma instituição sem nenhuma base." A mesma linha foi seguida pelos presidentes da CDE de Beni, Víctor Edgar Moreno, e da de Tarija, Miguel Ángel Guzmán.

Calma
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, pediu um "ambiente de tranquilidade" até a conclusão da contagem de votos.
"O respeito pelo processo de apuração e pelos resultados obtidos permitirá redobrar a confiança dos cidadãos [bolivianos] no processo eleitoral", afirmou em um comunicado.
A organização manterá seus observadores eleitorais nos departamentos onde há denúncias de irregularidades até o final da apuração.

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