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Vergonha, fúria e pesar são algumas das palavras que constam na mensagem que bispos da França e do Reino Unido escreveram para o Papa Bento XVI, ao condenar a pedofilia na Igreja Católica. É um tema dramático e traumático, sobre o qual não se deve calar, como sempre desejou parte dos católicos e da alta hierarquia da Igreja.Não se deve calar, mas tampouco faço coro a tudo que sai na imprensa, até porque sei como a maioria das empresas de comunicação se comporta. Neste caso, parte das empresas tem interesse específico, por pertencer a outras igrejas e professar outra fé religiosa. Têm, portanto, interesse direto. Enquanto alguns bispos mandam cartas para o Papa e outros procuram dar explicação a seus fiéis, o próprio Bento XVI escreve aos católicos da Irlanda pedindo desculpas pelos "atos pecaminosos e criminosos" cometidos por padres entre os anos 1930 e 1960.Na Irlanda, os padres cometeram atos, na minha concepção, criminosos e não pecaminosos, contra mais de 15 mil crianças. Para os padres que cometeram estes atos, não havia pecado, pois o pecado é de acordo com a consciência individual. Houve crimes, acobertados pela hierarquia da Igreja Católica Apostólica Romana. Esta é a questão.Há denuncias e muitas, no mundo todo, de pedofilia de padres contra crianças e adolescentes. Muitas das denúncias foram comprovadas por investigação isenta da policia. A questão é: como a cúpula da Igreja Católica se comportou nestes casos?Na maioria das vezes, o padre criminoso foi defendido pelo seu superior e, às vezes, como "punição" foi simplesmente transferido de diocese. A transferência, ao invés de punição, era como um prêmio para o criminoso, pois tinha novas oportunidades em uma comunidade que não o conhecia.O problema novo é que agora as denuncias atingem o próprio Papa. Segundo o "The New York Times", Joseph Ratzinger (Bento XVI), quando arcebispo de Munique, omitiu-se ou acobertou um padre que abusou de 200 crianças numa escola de surdos nos Estados Unidos.Explico: Ratzinger era arcebispo em Munique, mas ocupava o cargo de chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora da Inquisição. Toda e qualquer denúncia sobre o comportamento de membros da Igreja Católica no mundo deve ser levada ao chefe da Congregação, o que foi feito na época.Sendo a pedofilia um crime, não há dados oficiais, a menos que seja descoberto. Há estimativas e suspeitas. Relatório atribuído ao Vaticano informa que cerca de 10% dos padres que vivem no Brasil estão envolvidos em casos de má conduta sexual.Há que se definir o que é má conduta sexual, pois não podemos esquecer que a Igreja exige o celibato. Relação homem (padre) com mulher é má conduta? Ou é considerada a má conduta a pedofilia e o homossexualismo?Escrevo este artigo ainda no Domingo de Páscoa, evento religioso cristão que significa passagem desta "terra para o céu". É a Ressurreição de Jesus Cristo. Os eventos da Páscoa teriam ocorrido durante o Pessach, data em que os judeus comemoram a libertação de seu povo: a passagem da escravidão no Egito para a Terra prometida.Este ano a data do Pessach coincide com a Páscoa. Não sei se por essa coincidência ou não, na liturgia da Paixão de Cristo na Basílica de São Pedro, na sexta feira santa, o sacerdote Raniero Cantalamessa leu uma carta de "solidariedade" ao Papa e à Igreja, que disse ter recebido de um amigo judeu. ] Na preleção, o padre considerou os casos de pedofilia vindos a público como um ataque Igreja e comparou-o ao antissemitismo. A comparação é tão absurda que, horas depois, pediu desculpas. Até o Concílio Vaticano II, os cristãos pediam a conversão dos judeus ao cristianismo e rogavam a Deus o fim da "cegueira deste povo, para que, reconhecida a verdade de sua luz, que é o Cristo, saíssem das trevas".Creio que os cristãos têm que pedir luz aos padres criminosos e, mais, pedir que se faça a justiça dos homens. E também pedir luz aos que estão na terra prometida ferindo, prendendo e matando palestinos. *Médico pediatra e deputado federal (PT-PR) - drrosinha.com.br |
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Vergonha, fúria, pesar
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