sexta-feira, 16 de abril de 2010

Papa diz que Igreja deve cumprir penitência
Autor(es): Agencia O Globo
O Globo - 16/04/2010

Vítimas reclamam da falta de ações concretas e tacham o raro pronunciamento de inócuo
CIDADE DO VATICANO.
O Papa Bento XVI quebrou ontem o silêncio sobre a série de escândalos de abusos sexuais envolvendo padres pedófilos e reconheceu que a Igreja precisa cumprir penitência por seus pecados. Ele também condenou os ataques que a Igreja vem sofrendo. Não houve menção explícita aos casos de pedofilia, mas o Vaticano confirmou posteriormente que Bento XVI, criticado pelas vítimas por não se pronunciar firmemente sobre os casos, referiase aos escândalos.
— Agora, sob ataque do mundo que nos fala sobre nossos pecados, podemos ver que a capacidade de cumprir penitência é uma graça e vemos o quanto é necessário cumprir penitência e então reconhecer o que está errado em nossas vidas — disse o Papa durante uma missa no Vaticano, na primeira menção ao assunto desde a carta a vítimas de abusos na Irlanda, divulgada em 20 de março.
Segundo Bento XVI, isso envolveria “abrir-se para o perdão, preparar-se para o perdão, permitindo que se seja transformado”. Mas o Papa também atacou os críticos da Igreja, retratando-os como escravos de uma “ditadura” do conformismo.
— Conformismo que torna obrigatório pensar e agir como todos os outros, e a sutil, ou não tão sutil, agressividade contra a Igreja demonstra o quanto essa conformidade pode ser realmente uma verdadeira ditadura — afirmou.
Protesto reúne 200 pessoas na Alemanha O principal grupo de vítimas de abusos nos Estados Unidos imediatamente reagiu, dizendo que o comentário de Bento XVI é inócuo se não for acompanhado de medidas concretas para proteger crianças de padres pedófilos.
— O reconhecimento de fatos não é “ataque” e penitência não protege ninguém — rebateu Mark Serrano, porta-voz da Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês). — Quando o Papa não consegue proferir as palavras “padre pedófilo”, “crimes sexuais contra crianças”, “encobrimento” ou “bispos cúmplices”, é difícil acreditar que ele seja capaz de lidar efetivamente com essa crise crescente.
As declarações de Bento XVI também coincidiram com a publicação de uma carta aberta a bispos de todo o mundo em que o respeitado teólogo progressista alemão Hans Küng classifica a crise da Igreja como a mais aguda desde o Concílio da década de 1960.
Na Alemanha, terra natal de Bento XVI, cerca de 200 vítimas e simpatizantes marcharam ontem por Berlim para chamar atenção não apenas aos abusos sexuais, mas também físicos e morais dentro de instituições de ensino da Igreja. Alguns seguravam cartazes e faixas com frases como “abram os arquivos”. Uma mulher empunhava um cartaz que dizia “tive de comer vômito”.
Claudio Hummes e Odilo Scherer defendem Bento XVI Também na Alemanha, o arcebispo Robert Zollitsch e a ministra da Justiça, Sabine LeutheusserSchnarrenberger, fizeram uma reunião e concordaram em cooperar mutuamente para solucionar os casos no país.
Por parte do Brasil, o prefeito da Congregação para o Clero, Dom Claudio Hummes, e o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, voltaram a defender o Papa. Dom Claudio conclamou padres a apoiar e comparecer em massa a um encontro de sacerdotes em Roma em junho e Dom Odilo criticou a cobertura dos escândalos pela imprensa.“Houve uma fúria em querer culpar pessoalmente o Santo Padre, talvez com algum objetivo ainda não manifestado”, lamentou Dom Odilo Scherer ao jornal italiano “La Stampa”.
Hoje, Bento XVI viaja para uma visita de dois dias a Malta, onde todos os olhos estarão voltados a um possível encontro do Pontífice com um grupo de dez vítimas de abusos por padres na ilha. O Vaticano já adiantou que a possível reunião seria realizada a portas fechadas, longes dos holofotes da imprensa.
ESSA GENTE É DESCARADA!

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