Autor(es): LARISSA GUIMARÃES - DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Folha de S. Paulo - 06/05/2010
Para bispo de Blumenau (SC), porém, abuso sexual deve ser punido nos dois casos
Porta-voz de assembleia da CNBB diz que declaração de que "a sociedade é pedófila", feita por arcebispo, não traduz o pensamento da entidade
O bispo emérito de Blumenau (SC), d. Angélico Sândalo Bernardino, disse ontem que é preciso distinguir casos de abusos contra crianças de casos de abusos contra adolescentes.
O bispo opinou a respeito após ser questionado sobre a declaração de outro religioso -o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Dadeus Grings-, que disse anteontem que "a sociedade atual é pedófila".
A frase provocou polêmica no primeiro dia da 48ª Assembleia-Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), realizada em Brasília.
"A sociedade não é pedófila", disse ontem dom Angélico, para completar mais adiante: "Acredito que o meu ilustre colega quis dizer que estamos vivendo num ambiente saturado de uma certa permissividade".
Dom Angélico, da ala progressista da Igreja Católica, quis frisar durante entrevista a jornalistas que há uma "confusão generalizada" entre pedofilia e efebofilia (atração sexual por adolescentes).
"Tocar numa criança é diferente de tocar num adolescente, o que eu não quero dizer que se deva tocar num adolescente. Absolutamente, mas é diferente. E essa distinção comumente não é feita", afirmou.
Questionado se há gravidade maior quando o abuso é praticado contra criança, dom Angélico respondeu: "Avaliem vocês no meu lugar, eu acho diferente. Deve também ser punido, e a lei pune. O próprio Estatuto [da Criança e do Adolescente] faz diferença: uma coisa é pedofilia, outra coisa é efebofilia".
Pelo estatuto, criança é a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente, aquela de 12 a 18 anos. O texto criminaliza práticas como vender imagens com cena de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente. Para a CPI da Pedofilia, tais crimes configuram pedofilia.
Dom Dadeus Grings havia falado sobre pedofilia anteontem e, na ocasião, disse que só 0,2% dos crimes foram cometidos por membros da igreja.
Após a polêmica em torno de sua declaração de que "a sociedade é pedófila", o porta-voz da assembleia, dom Orani Tempesta, afirmou ontem que a frase de Grings não traduzia o pensamento da CNBB.
A questão entra na pauta da CNBB no momento em que a Igreja Católica enfrenta acusações de ter acobertado casos de pedofilia no país e no mundo.
Num caso recente em Arapiraca (AL), um monsenhor acusado de pedofilia disse que "pecou contra a castidade" com pessoa do mesmo sexo, mas nunca com crianças ou adolescentes. Ele admitiu a prática de homossexualismo com um adulto, o que não é crime.
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