sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vamos defender a jornada de 40 horas", diz Patah


ocumento


Autor(es): Raphael Di Cunto
Valor Econômico - 07/10/2011




Patah: "O Kassab fez uma proposta irrecusável de participação no instituto que vai capacitar os filiados, gestão de 50% do fundo partidário e cargos na Executiva"
Presidente da terceira maior central sindical do país, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah era cobiçado por vários partidos, mas decidiu pelo PSD, cujo núcleo original é formado por empresários de associações comerciais, a começar por seu idealizador, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.Patah garante, porém, que o partido defenderá a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, como parte do acordo para sua filiação, e que irá puxar a legenda da direita para o centro, algo que não conseguiria no PSDB, que, "por mais que tenha o nome de social-democrata, é muito distante do movimento sindical e dos trabalhadores".
Patah diz que a UGT atingiu o teto no movimento sindical e precisa agora participar da vida política, com a candidatura de filiados em 2014 para aumentar a representação no Congresso Nacional. A seguir, a entrevista ao Valor na sede da central sindical.
"Nosso papel é puxar o partido para o centro, ter lideranças de trabalhadores para equilibrar nomes como o da Kátia Abreu"
Valor: A UGT ficou quatro anos sem nenhum partido, com o discurso de que é plural. O que mudou?
Ricardo Patah: Não foi a central que se filiou ao PSD, foi o presidente. Não chamei absolutamente ninguém, apenas uns dez companheiros estão me acompanhando. Sempre criticamos as centrais sindicais que tinham um partido único entre os dirigentes, por entendermos que os partidos têm de estar à disposição das representações sindicais, e não o contrário. Minha filiação ocorreu porque, desde seu segundo congresso nacional [em junho], a UGT resolveu que era hora de participar mais ativamente da política nacional.
Valor: Por que essa postura?
Patah: Depois de quatro anos e com mais de mil sindicatos, chegamos ao teto das mudanças que poderíamos fazer no movimento sindical. Há 15 ou 20 anos era um tabu a discussão política no meio sindical, isso não era admitido em hipótese alguma. Acredito que esse foi um tempo perdido porque as questões relativas ao trabalhador quem tem de resolver é o movimento sindical.
Valor: Então por que a UGT não entrou antes na política?
"O PSDB, por mais que tenha o nome de social democrata, é muito distante do movimento sindical e dos trabalhadores"
Patah: Nossa meta num primeiro momento era atender as exigências da legislação para a UGT ser considerada uma central sindical, como número de sócios, de categorias e participação em várias regiões. Ocorrido isso, precisamos discutir com mais clareza a ideologia que queremos nas políticas públicas. No próximo ano, independente do PSD, estamos incentivando vários companheiros a saírem candidatos.
Valor: Até por outros partidos?
Patah: A UGT começou seu 1º congresso [em 2007] com dois deputados e terminou o segundo com seis, sem ter participado ativamente da eleição. Estamos montando a estrutura para que os nossos integrantes possam se candidatar a deputado estadual ou federal em 2014 e mudar o perfil do Legislativo. Estamos sub-representados no Congresso, onde nem 60 dos 513 deputados são do movimento dos trabalhadores. Mesmo no PT a maioria dos eleitos não é de sindicalistas.
Valor: A UGT foi cortejada por PSDB, PMDB e PTB. Por que o PSD?
Patah: O Kassab foi muito mais insistente. E veio com uma proposta irrecusável, nesta mesa mesmo, e disse "olha, é o seguinte: o grupo da UGT que entrar no partido será responsável pelo instituto que capacitará a sociedade e os trabalhadores para a questão política. Outra coisa: 50% dos recursos do fundo partidário serão instrumentalizados pelos trabalhadores. Vocês terão dois cargos na executiva nacional, dois cargos nas executivas estaduais e legenda para todos os trabalhadores que desejarem participar das eleições de 2012."
Valor: A filiação antecipada, antes do julgamento do registro pela Justiça Eleitoral, não foi um risco?
Patah: O Kassab insistiu que tinha que ser feito uma semana antes do julgamento. Argumentei que o partido ainda nem existia, mas ele falou com convicção. Conversei com os dirigentes das estaduais para explicar que estamos ganhando um aliado importante para defender nossa pauta, como a redução da jornada.
Valor: Mas o partido é formado por muitos empresários, contrários ao projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.
Patah: Esse foi um dos principais motivos para entrar no PSD. O partido vai defender a nossa bandeira das 40 horas. Isso é um compromisso. Lógico que dentro vai haver reclamação, mas a redução da jornada tem desdobramentos importantíssimos. É a oportunidade de incluir pessoas que estão a margem do trabalho, empregando mais gente e gerando mais recursos que vão beneficiar as próprias empresas.
Valor: As divergências em torno desse projeto serão só as primeiras com os empresários. Como uma central sindical se enquadra num partido com ideologia liberal?
Patah: Entramos no partido para que exista uma participação efetiva dos trabalhadores. Nossa proposta não é dar ao PSD a roupagem de um partido que tem relação com o movimento sindical. É para efetivamente participar, decidir e construir juntos o caminho que adotaremos. É interessante que no mesmo partido que tem um grupo de trabalhadores de esquerda existam lideranças de direita como a [senadora por Goiás e presidente da Confederação Nacional de Agricultura] Kátia Abreu. Por isso, tenho dito que o nosso papel é puxar o partido para o centro, para equilibrar.
Valor: O PSD está encampando a defesa de uma Assembleia Constituinte. O que o senhor acha disso?
Patah: Fiquei surpreso quando o prefeito defendeu isso. Eu disse para ele que a UGT acredita que este é o único jeito de aprovar a reforma política, mas não tinha ouvido nenhuma discussão, até porque participei nesse processo com o prefeito apenas duas ou três vezes. Ele esteve na minha casa num jantar, estive na casa dele num almoço e ele veio a UGT uma vez, mas não chegamos a aprofundar essas questões.
Valor: O PSDB quis filiar o senhor, que preferiu ir para um partido que nem tinha registro. Por que?
Patah: Quando você participa da construção de um partido tem muito mais condição de defender algumas bandeiras. O PSDB é um partido importante, mas, por mais que tenha o nome de social-democrata, é muito distante do movimento sindical e dos trabalhadores, é muito elitizado. O PSD já veio com essa origem, já propôs que quer nascer com essa perspectiva.
Valor: A oposição do PSDB ao Planalto influenciou na decisão?
Patah: O problema é que o último dirigente do PSDB que tinha ligação com os sindicatos foi o [ex-governador de São Paulo] Mário Covas [morto em 2001]. Esta relação foi perdida e é complicado recuperar, mesmo com as tentativas do governador Geraldo Alckmin, que procura dar um olhar social neste mandato, com um sindicalista na Secretaria de Trabalho [o deputado estadual Davi Zaia, PPS, vice-presidente da UGT]. Mas não são todos no PSDB que aceitam as bandeiras dos trabalhadores. Um exemplo é Minas Gerais. Estamos pedindo há muito tempo para o Aécio [Neves, ex-governador e senador] e o Antonio Anastasia [governador] adotarem o piso nacional dos professores, mas eles não atendem. Fica difícil ir para um partido assim.
Valor: O senhor pretende se candidatar em 2014?
Patah: Não tenho vontade. Mas já disse antes que não iria nem ser filiado a partido, e hoje eu estou filiado, por isso não posso falar que nunca serei candidato.
Valor: Mas essa filiação não indica um caminho nesse sentido?
Patah: Precisava da opinião de duas pessoas antes de me filiar. Da minha mulher - minha vida familiar é complicada, com tantos compromissos, mas ela me disse para ir para o PSD - e do [ex-] presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva], que é a pessoa no mundo político com quem eu mais me identifico. Infelizmente, não consegui falar com ele, mas falei com assessores importantes dele, entre eles o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), que incentivaram.
Valor: Eles o incentivaram?
Patah: Nenhum falou "não vai", mas não estou dizendo que tenham dito "vai". Não houve nenhuma crítica. Acharam importante para mim, como presidente de uma central, ter essa participação política para ir além das limitações do sindicato.
Valor: O prefeito disse quem será o candidato do PSD à Prefeitura de São Paulo?
Patah: Ele fez alguns comentários. Disse que se o José Serra fosse candidato, ele teria um compromisso e o apoiaria. Se fosse o Aloysio Nunes [Ferreira], ele também apoiaria como consequência do acordo com o Serra. Mas se não fosse nenhum deles, o candidato seria o [Guilherme] Afif Domingos, que teve um resultado importantíssimo para o Senado [foi o segundo mais votado em 2006] e é uma pessoa muito coerente com o pensamento construído pelo PSD. Isso foi dito na época, mas não conversamos mais depois.

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