sexta-feira, 8 de junho de 2012

O BRASIL NA ENCRUZILHADA

O PAÍS CRESCEU ECONOMICAMENTE, CONSOLIDOU SUA DEMOCRACIA E GANHOU RELEVÂNCIA GEOPOLÍTICA - O QUE FALTA PARA VIRARMOS UMA NAÇÃO DESENVOLVIDA?
Época - 04/06/2012

A auxiliar de limpeza Gilvanete Maria de Souza, de 49 anos, se orgulha dos diplomas universitários dos dois filhos. A mais velha, Rafaele, de 28 anos, fez faculdade de ciências biológicas, com uma bolsa financiada pelo governo. Rafael, de 25 anos, formou-se em recursos humanos numa universidade particular bancada pelos pais - ambos não cursaram ensino superior. Gil, apelido pelo qual é conhecida, fez magistério. O marido, o metalúrgico aposentado Reginaldo Alves de Souza, de 57 anos, parou de estudar na 5ª série.

Os dois acreditam que a educação é garantia de futuro. “Tem de estudar hoje para ser o patrão de amanhã”, diz Gil. Antes da faculdade, os filhos dela e de Reginaldo sempre estudaram em escola pública. Em 1985, o casal saiu de Gravataí, em Pernambuco, para buscar oportunidades em São Paulo. A primeira casa, um “quarto e cozinha” na região metropolitana, era alugada. Alguns anos depois, compraram um barraco de madeira na favela de Heliópolis, na periferia da capital.

Naquela época, Gil trabalhava em dois turnos: de manhã como auxiliar de serviços e à tarde como vendedora de doces e salgadinhos, na porta de casa, para complementar o salário do marido. Na última década, que coincidiu com a mudança para Ribeirão do Sul, no interior de São Paulo, a qualidade de vida da família deu um salto. “Hoje temos garagem, portão de ferro, dois banheiros e uma despensa”, afirma Gil. Dentro de casa, ela tem cozinha equipada com eletrodomésticos, uma máquina de lavar roupas novinha (a anterior fora comprada usada) e TV de tela plana.

A família Souza é o símbolo do novo Brasil. Assim como eles, cerca de 40 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para ingressar na sociedade de consumo. Esse grupo, genericamente chamado de nova classe média, configura hoje a maioria da população brasileira e faz parte de um exército de 105 milhões de consumidores que constituem o aspecto mais visível do novo Brasil.

Mas o novo Brasil não é formado apenas pela nova classe média. Cresceu também no país o número de ricos e o acesso a bens de todo tipo - daqueles que suprem as necessidades mais básicas aos mais luxuosos. A reportagem da página 124 conta a história de brasileiros de todas as classes sociais que colheram os frutos dessa nova realidade e realizaram seus sonhos. Uns conseguiram seu primeiro sapato ou fizeram sua primeira viagem de avião, outros compraram seu primeiro helicóptero, seu primeiro barco ou fizeram sua primeira cirurgia plástica. Todos são o retrato vivo deste novo Brasil - um país que deixou para trás a inflação, consolidou-se como democracia, construiu a sexta economia do mundo, diminuiu a desigualdade e passa a ser percebido, pela comunidade das nações, como potência emergente, capaz de influenciar, pacificamente, os grandes debates internacionais. É possível reconhecer no país de 2012 alguns traços da instável república de 1952 - ano em que foi fundada a Editora Globo. Mas é inevitável constatar que ocorreu uma mudança profunda. O país mudou a ponto de tornar-se outro.

Nenhuma mudança foi tão notável, e tão cara aos brasileiros, quanto a maturação da democracia. Entre o segundo governo de Getúlio Vargas, em 1952, e o atual governo da presidente Dilma Rousseff, o Brasil viveu de tudo em sua vida pública. Houve o suicídio de um presidente (o próprio Getúlio, em 1954), a renúncia de outro (Jânio Quadros, em 1961), um golpe de Estado (em 1964, que produziu um regime militar que duraria até 1985) e o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992. O país tem tido democracia com normalidade desde 1995. O número de eleitores aumenta a cada ano. Na primeira eleição depois do fim do regime militar, 76 milhões de brasileiros foram às urnas. Hoje, os eleitores são mais de 135 milhões, quase dois terços da população. A democracia brasileira ainda é jovem. Houve apenas seis eleições consecutivas. Mas trata-se de um marco histórico desde a República Velha. O país que foi às ruas em 1984 exigindo Diretas Já vive o período democrático mais longo de sua história, sob a égide da Constituição de 1988.

É inegável também nosso progressivo amadurecimento institucional, com Poderes independentes e atuantes - o Supremo Tribunal Federal se tornou uma corte constitucional que funciona nos moldes das melhores democracias do mundo. Houve ainda avanços em gestão pública, com dispositivos que garantem a solidez de nossos fundamentos econômicos, como a Lei da Responsabilidade Fiscal e uma visão mais técnica e menos ideológica dos juros e da inflação. Houve, por fim, o reconhecimento quase unânime de que o maior desafio do Brasil de hoje é a educação.

A maior dúvida neste momento da história brasileira diz respeito aos limites da transformação que vivemos. O país enfrenta desafios gigantescos - e o modelo que perseguiu até agora será incapaz de superá-los. Os gargalos nas estradas, nos portos, aeroportos e na geração de energia limitam nosso crescimento econômico e a geração de mais riqueza para a população. Embora quase todas as nossas crianças estejam na escola, a qualidade do ensino brasileiro é sofrível em comparação com outros países, e a formação de nossa mão de obra qualificada é deficiente. O Brasil se tornou um exportador notável de commodities e matérias-primas, mas está pouco preparado para competir na economia do conhecimento, em que o crescimento se sustenta sobre as inovações científicas e tecnológicas. Acima de tudo, a Constituição de 1988 trouxe avanços notáveis na garantia de direitos civis - mas gerou um custo gigantesco para a sociedade ao assegurar direitos sociais insustentáveis economicamente. Felizmente, dispomos da ferramenta essencial para vencer nossos desafios econômicos e sociais: o voto.

Enfrentá-los exigirá dos brasileiros, porém, uma mudança de mentalidade. O novo Brasil de hoje precisa encontrar uma identidade nova. Quem somos nós, afinal? Uma democracia com instituições sólidas, transparentes e impessoais - ou uma sociedade em que ainda imperam as relações de privilégio, favorecimento e compadrio? Uma economia pujante e inovadora, capaz de exportar produtos com alto conteúdo tecnológico - ou um mercado fossilizado por leis trabalhistas anacrônicas, uma carga tributária escorchante e uma burocracia infernal? Um povo meritocrata, capaz de encarar o sucesso individual como principal motor do crescimento - ou uma nação que enxerga o Estado como provedor e almeja uma zona de conforto sob sua proteção? Para nos tornarmos um país desenvolvido, será necessário superar essas contradições e demonstrar, em cada uma dessas questões, que o país escolheu a primeira alternativa de modo inequívoco.

As escolas são o elo mais fraco na cadeia do desenvolvimento brasileiro. O Brasil de 1952 tinha poucas escolas públicas, que educavam apenas 26% dos jovens em idade escolar, uma fração mínima e privilegiada da população. Em 2012, a situação se inverteu: 98% dos jovens estão nas escolas. Mas a educação que recebem está aquém das necessidades do país e das legítimas aspirações de quem se senta nas salas de aula. É isso que precisa mudar.

Somos um país em que 50% das crianças do 5º ano em todos os Estados são semianalfabetas. Dos 3,5 milhões de alunos que ingressam no ensino médio, apenas 1,8 milhão se formam. O Brasil apresenta um dos cinco piores resultados entre os 56 países avaliados regularmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Isso significa que, todo ano, jogamos milhões de adolescentes despreparados no mercado de trabalho, sem perspectiva de ascensão social e econômica. Eles são o aspecto mais doloroso de nosso apagão de mão de obra.

A importância da educação para a ascensão social pode ser medida pelas estatísticas que avaliam a participação da mulher na moderna sociedade brasileira. Há mais alunas matriculadas nas universidades que alunos, mesmo nos cursos historicamente dominados pelos homens. Também há mais mulheres cursando mestrado e doutorado. Por causa disso, nos últimos dez anos a renda feminina cresceu o triplo da masculina. Isso comprova, sem uma nesga de dúvida, que a escola continua sendo o atalho mais rápido para o crescimento pessoal e da economia.

O Brasil que precisa educar melhor seus jovens também precisa encontrar um novo balanço entre o Estado e a sociedade. Necessária, a máquina pública brasileira é cara e ruim. Ela gasta onde não há necessidade, em benefício de si mesma, e economiza onde seria essencial - na educação, na segurança, na saúde, nos investimentos em infraestrutura. Nosso Estado pantagruélico produz, como contrapartida, contribuintes extorquidos e cidadãos mal atendidos. Trata-se de uma situação incompatível com o desenvolvimento de longo prazo. O Brasil precisa de uma nova equação de crescimento que nos impulsione pelos próximos 60 anos. De 1952 para cá, o Estado exerceu um papel importante para a atividade econômica. Agora, os tempos exigem que ele melhore sua gestão, gaste menos, concentre-se naquilo de que o país realmente necessita.

Graças ao peso que o Estado exerce sobre a economia - drenando riqueza e poupança -, o Brasil tem investido anualmente apenas 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em obras de infraestrutura, menos que os 3% recomendados pelo Banco Mundial e, mais grave, menos do que investem os outros países do G20. A modernização de estradas, aeroportos, portos e sistemas de geração de energia será crucial para definir se o Brasil terá condições de continuar no grupo das nações que mais crescem no mundo - e de continuar aspirando a uma vaga no time dos países desenvolvidos. Ela não será possível sem mais recursos para investimentos.

Nas grandes cidades, onde vive 84% da população brasileira, a situação dos transportes tornou-se dramática. Só em São Paulo, 1,5 milhão de pessoas deslocam-se todos os dias da Zona Leste em direção ao centro. Cidades como Recife, Porto Alegre ou Manaus, onde congestionamentos eram incomuns há dez anos, hoje são igualmente engarrafadas. Dos quase 80 milhões de veículos que circulam no país, 462 mil são ônibus. O metrô, alternativa de transporte coletivo adotada noutros países há séculos, ainda é incipiente. As linhas de São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília têm, somadas, cerca de 230 quilômetros. Só a cidade de Nova York tem mais de 1.055 quilômetros. Isso explica as aglomerações cada vez maiores nas plataformas. Acabar com elas também exigirá mais investimentos em infraestrutura.

Apesar dos gargalos, o avanço brasileiro das últimas seis décadas na economia tem sido assombroso. O país que importava todos os seus automóveis na década de 1950 é hoje o terceiro maior produtor de carros do mundo. Fabricamos também aviões, satélites, aparelhos eletrônicos. Exploramos petróleo em águas profundas e exportamos milhões de toneladas de alimentos por ano. Mas aí também o peso do Estado se faz sentir. A indústria brasileira só não avança de forma mais rápida devido à tortuosa estrutura trabalhista e tributária, que encarece o produto nacional e o torna presa fácil da competição internacional, dentro e fora do país.

Um dos resultados da nova prosperidade brasileira foi a descentralização econômica e o crescimento acentuado das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Na última década, elas aumentaram dramaticamente sua participação no PIB. O Nordeste é o principal protagonista dessa descentralização. O PIB da região cresce acima da média nacional desde

2008. Bahia e Pernambuco são responsáveis pela guinada, mas Estados historicamente atrasados despontam na corrida estatística. O Piauí registrou o maior crescimento do PIB entre 2002 e 2009, quase o dobro do desempenho brasileiro. A população que antes migrava para o Sul, em busca de melhores condições de vida, está voltando para casa. Pernambuco foi o Estado de maior fluxo migratório de retorno: 23,61% dos que saíram na última década voltaram.

Com as obras da Copa do Mundo de 2014, que se espalham por todo o país, espera-se um avanço rápido em infraestrutura. Além de erguer estádios, o Brasil terá de investir na construção de hotéis, hospitais e na ampliação do transporte público. O desafio é deixar tudo pronto no prazo (em 1950, o Maracanã estreou na Copa sem estar pronto) e dentro do orçamento. A consultoria Value Partners calcula que a Copa poderá gerar R$ 183,2 bilhões até 2019. Será também uma chance de mostrar ao mundo o que o Brasil tem de melhor -e de ganhar em casa o sexto título mundial.

Logo depois da Copa, em 2016 o Rio de Janeiro receberá os logos Olímpicos. Será a primeira vez na história da América Latina. São esperados mais de 10 mil atletas de 205 países, sem contar milhares de turistas. A promessa do projeto do Rio Olímpico, orçado em quase R$ 25 bilhões, é deixar de herança para os cariocas uma cidade renovada.

A transformação vai além da reforma de estádios. A infraestrutura em construção redesenhará a paisagem da cidade, com o surgimento de novas vias, novos modelos de transporte público e recuperação de áreas degradadas. O Parque Olímpico, orçado em R$ 1,4 bilhão, foi projetado para dar lugar a um bairro nobre de 1,2 milhão de metros quadrados, para 30 mil moradores. As obras em torno do estádio do Maracanã, onde será realizada a abertura dos Jogos (e, antes disso, a final da Copa do Mundo em 2014), revitalizarão três bairros históricos adjacentes ao estádio. O impacto será sentido também na vida cultural dos cariocas. Seis museus e centros culturais serão abertos nos próximos quatro anos. O Museu da Imagem e do Som, localizado no centro da cidade desde 1965, muda-se para a nobre Copacabana, num prédio de sete pavimentos e arquitetura contemporânea. Além dele, o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio prometem ajudar a revitalizar a zona portuária.

A Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, quando estaremos sob os olhos de todos, serão vitrines para apresentar o novo Brasil ao mundo. Até lá, precisaremos avançar em todos os nossos desafios, para que a imagem transmitida esteja mais próxima daquilo que almejamos ser. O país cresceu com democracia, estabilizou a moeda com distribuição de renda, tornou-se relevante internacionalmente sem se armar. Tenta proteger a natureza sem abrir mão do desenvolvimento. Mostrou, enfim, que sabe superar impasses. O jeito brasileiro de fazer as coisas nem sempre é rápido. Depende de nós fazê-lo funcionar.

Mobilidade Social

A nova cara da família brasileira

A família da auxiliar de limpeza Gilvanete Maria de Souza, de 49 anos, e seu marido, o metalúrgico aposentado Reginaldo Alves de Souza, de 57 anos, tem a cara do novo Brasil. Ela fez o magistério, ele parou de estudar na 5° série. Agora, os dois têm orgulho dos dois filhos, Rafaele e Rafael, que concluíram a faculdade. O casal saiu do interior de Pernambuco em 1985, trabalhou duro para viver na periferia da cidade de São Paulo e, dez anos atrás, mudou-se para o interior do Estado. No trajeto, compraram bens antes inacessíveis, acumularam conquistas pessoais e, literalmente, mudaram de classe social. Assim como eles, cerca de 40 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para ingressar na classe média na última década. Esse grupo, hoje a maioria da população brasileira, forma um exército de 105 milhões de consumidores. Ele está transformando o país ao transformar sua própria vida - e seu sucesso testemunha, além do crescimento econômico do Brasil, a esperada queda da desigualdade.

Indústria

O voo da produção nacional

O caminho das nações rumo ao desenvolvimento costuma incluir um trecho difícil de superar: encontrar uma vocação para sua indústria. Desde os tempos da Companhia Siderúrgica Nacional, a indústria brasileira passou de produzir aço a fabricar aeronaves. A Embraer se destaca como a terceira maior fabricante de aviões do planeta. Seu sucesso está ligado ao caráter inovador que soube imprimir ao negócio depois da privatização. Seu centro de simulação e realidade virtual, em São José dos Campos, é uma prova de como o conhecimento técnico e científico é fundamental para a competitividade de nossa indústria. Outra questão central é gerar um ambiente favorável à produção, debelando o caos tributário e investindo em qualificação profissional. Só assim será possível à indústria obter os ganhos de produtividade necessários para concorrer com economias mais ágeis. Já superamos o desafio de fabricar. Está na hora de exportar ideias.

A nova mulher

O mundo é delas, cada vez mais

Figura central de uma das revoluções mais importantes do século passado, a nova mulher ajudou a moldar a moderna sociedade brasileira. É ela quem decide tudo em mais de um terço das famílias. Há mais alunas matriculadas nas universidades que alunos. No mercado de trabalho, ainda ganham menos que os homens - mas essa diferença diminui rapidamente. Nos últimos dez anos. a renda feminina cresceu o triplo da masculina. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), somando o emprego e os afazeres domésticos, a mulher trabalha 12 horas a mais por semana que o homem. A sociedade, que antes as impedia de seguir carreira, hoje cobra delas excelência profissional - sem abrir mão da rotina doméstica. O principal desafio da mulher brasileira é encontrar o equilíbrio entre trabalhar demais e educar os filhos, entre cuidar da carreira e cuidar da família.

Democracia

Um país feito por eleitores

O país que foi às ruas em 1984 exigindo Diretas Já vive, desde 1989, ano da primeira eleição presidencial pós-ditadura, o período democrático mais longo de sua história. Só para presidente, foram seis pleitos realizados de maneira livre, direta e universal, sob a égide da Constituição de 1988. Sem contar as eleições estaduais, municipais, plebiscitos e referendos, como aquele que impediu a divisão do Estado do Pará em 2011. Desde a redemocratização, o número de eleitores aumenta a cada ano. Na primeira eleição depois do fim da ditadura militar, 76 milhões de brasileiros foram às urnas. Hoje, os eleitores são mais de 135 milhões, quase dois terços da população. Nesse intervalo, o sistema de votação eletrônico do Brasil tornou-se um exemplo internacional.

Indústria

O novo motor do país

O Sudeste ainda é a região que mais produz riquezas, mas agora o crescimento brasileiro acontece de forma equilibrada. As regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste aumentaram sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) na última década. O PIB do Nordeste cresce acima da média nacional desde 2008. Mesmo Estados historicamente atrasados despontam na corrida estatística. O Piauí registrou o maior crescimento do PIB entre 2002 e 2009, o dobro do desempenho brasileiro. A população que antes migrava para o Sul está voltando para casa. Para Pernambuco, voltaram 23,61% dos que saíram na última década. Para tornar sustentável o crescimento, regiões emergentes precisam investir em educação. "É o caminho para garantir a igualdade entre a população nordestina e a do resto do país”, diz Alexandre Barros, da Universidade Federal de Pernambuco.

Problemas urbanos

A cidade e as multidões

Perto de 84% da população do país vive em áreas urbanas - 160 milhões de pessoas. Sem planejamento, o crescimento das cidades veio acompanhado de problemas de difícil solução. Mais de 11 milhões vivem em favelas, em geral longe do centro. A concentração de moradores em locais distantes é uma das causas do nó do transporte que aflige as regiões metropolitanas. Cidades como Recife, Porto Alegre e Manaus, onde congestionamentos eram incomuns, hoje vivem engarrafadas. Dos quase 80 milhões de veículos que circulam no país, 462 mil são ônibus. O metrô ainda é insuficiente. As linhas de São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília têm, somadas, 230 quilômetros. Só a cidade de Nova York tem mais de 1.055 quilômetros. O desafio é criar novas políticas de moradia e investir no transporte de massa.

Rio Olímpico

Uma cidade renovada

Em 2016, o Rio de Janeiro receberá o maior evento esportivo do planeta.

Será a primeira vez que a América Latina sediará os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. A promessa do projeto do Rio Olímpico, orçado em R$ 25 bilhões, é deixar de herança para os cariocas uma cidade renovada. A infraestrutura em construção redesenhará a paisagem da cidade com novas vias, novos modelos de transporte público e recuperação de áreas degradadas. O Parque Olímpico, orçado em R$ 1,4 bilhão, foi projetado para dar lugar a um bairro nobre para 30 mil moradores. As obras em torno do estádio do Maracanã revitalizarão três bairros históricos adjacentes. O impacto será sentido também na vida cultural. Seis museus e centros culturais serão abertos nos próximos quatro anos. O Museu da Imagem e do Som muda-se para Copacabana. O Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio prometem revitalizar a zona portuária.

Copa do mundo

Os donos da bola

Pela segunda vez na história, o Brasil se prepara para sediar a Copa do Mundo. Talvez por causa da dolorosa derrota para o Uruguai na final de 1950. em pleno Maracanã, alguns bateram na madeira três vezes quando o país foi escolhido. Ou talvez porque a mistura de futebol, dinheiro, obras enormes e prazos draconianos pode produzir desastres. O pais se prepara para receber, em 2014.32 seleções e suas comitivas. Elas farão 64 partidas em 12 capitais, sob os olhos do mundo. A tarefa de um país sede não é pequena. Alguns estádios, como o Itaquerão, em São Paulo, são erguidos do zero. O trabalho se estende para a infraestrutura extra, que envolve hotéis, hospitais e ampliação do transporte público. O desafio é deixar tudo pronto no prazo e sem estourar demais o orçamento inicial, de R$ 22 bilhões. Depois, é chutar para o gol e correr para o abraço.

Infraestrutura

Na fila para o futuro

O Brasil investe 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em infraestrutura. É menos que os 3% recomendados pelo Banco Mundial e muito menos que outros países do G20. Os gargalos são inúmeros - da energia aos portos, das estradas aos aeroportos. Um dos mais críticos está no setor de transportes. O pais depende basicamente de estradas, mas poucas têm bom estado de conservação (33,8% dos 57.000 quilômetros de rodovias federais). As ferrovias respondem por 25% das cargas transportadas, mas o ideal é que escoassem 40%. As hidrovias não atingem nem 3% da movimentação, quando poderiam chegar a 20%. Grandes projetos do governo em parceria com o capital privado nessa área estão emperrados. As empresas privadas podem participar, mas cabe ao governo criar as condições para que isso ocorra. Na falta de infraestrutura adequada, filas como a dos caminhões no Porto de Paranaguá serão mais comuns.

Ciência e Tecnologia

Yes, nós temos pesquisa

O avanço da pesquisa brasileira nos últimos 60 anos pode ser medido em números. O país que tinha 80 pós-graduados na década de 1950, todos formados na Europa ou nos Estados Unidos, fechou 2011 com um quadro de 200 mil pesquisadores e mais de 30 mil artigos publicados apenas naquele ano. Na pesquisa de biotecnologia, o pais ocupa o quinto lugar no ranking mundial. A Embrapa é responsável por 10% de toda a tecnologia agrícola produzida no mundo. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento triplicaram na última década. Mas a pesquisa precisa sair dos laboratórios e virar inovação. Três quartos dos cientistas do país estão nas universidades. Nos Estados Unidos, 80% deles trabalham em empresas privadas. Chegou a hora de fazer a excelência da pesquisa brasileira virar negócio.

Ambiente de negócios

Um país hostil para o empreendedor

O corte de impostos nunca foi um tema capaz de seduzir o eleitor brasileiro. Não deveria ser assim. Vivemos uma perversa combinação de leis trabalhistas anacrônicas, carga tributária escorchante e uma burocracia infernal que dificulta a vida de qualquer um que queira empreender e gerar riqueza no pais. Na semana passada, o impostômetro - placar da Associação Comercial de São Paulo que mede a arrecadação total do país - quebrou um novo recorde, ao ultrapassar os R$ 600 bilhões. Trabalhamos até o último dia 29 apenas para sustentar o governo. Entre os 30 países com maior carga tributária, o Brasil tem o pior desempenho em serviços para a população. E não é só isso. Para cada salário pago a um funcionário, é preciso pagar outro em impostos ao governo. Isso gera desemprego e prejudica a competitividade da nossa economia. Será impossível manter um papel de destaque no cenário global se o Brasil não conseguir se tornar mais hospitaleiro para o empreendedor.

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