Autor(es): Wanda Engel
Correio Braziliense - 07/06/2012
Superintendente executiva do Instituto Unibanco
Em primeiro lugar, é importante destacar que o conflito é fenômeno inerente às próprias relações interpessoais. Basta uma relação entre duas pessoas para que surjam ocasiões em que desejos e interesses se contrapõem, desencadeando situação de conflito. Eles não devem e não podem ser evitados, podendo ser resolvidos de forma construtiva por meio do diálogo ou negativa quando se usam as diferentes formas de violência.
Imaginemos, agora, o potencial de conflitos existentes em uma comunidade escolar, que reúne diferentes atores — alunos e seus responsáveis, professores, profissionais de apoio, equipes de direção — e lida diretamente com outros grupos de interesse, como a comunidade do entorno, representantes dos órgãos centrais da educação, além da própria opinião pública. Cada um deles com seus interesses e sua cultura, que, além de diferenciados, podem ser extremamente antagônicos. Nessa conjuntura, não dá para varrer as divergências para baixo do tapete. É fundamental que se desenvolvam estratégias para lidar com o conflito.
Também nesse campo, o importante é prevenir, identificando-se os possíveis fatores geradores. Talvez os mais importantes sejam os valores dominantes em nossa sociedade. Vivemos em um mundo pautado pelo individualismo, pela falta de ética, pelo desrespeito aos outros e às regras, e pela impunidade. A escola precisa assumir seu papel na formação das novas gerações, desenvolvendo estratégias pedagógicas intencionalmente voltadas para a construção de valores pautados na ética.
Processo que se inicia em atos de cortesia (bom-dia, obrigado, por favor), prossegue na capacidade de se colocar no lugar do outro (empatia) e desemboca no sentimento de solidariedade. A consolidação da ideia de igualdade é fundamental para o desenvolvimento de valores como respeito, confiança e solidariedade, considerados como componentes básicos do capital social. Baixos níveis de capital social estão associados a grupos cujas relações são pautadas na violência, perdendo a capacidade de gerar resultados.
A ênfase na intencionalidade desse processo baseia-se no fato de que, sem a clara determinação de realizar esse trabalho e o desenho de caminhos educacionais mais efetivos para realizá-lo, não será possível reverter a ideia, fortemente hegemônica, de que os seres humanos são melhores ou piores, dependendo da origem socioeconômica, do gênero, da raça, da idade, do peso, da aparência ou da opção sexual. Nessa lógica, caso não seja homem, branco, jovem, magro, bonito, heterossexual e rico, você poderá ser considerado necessariamente inferior, merecendo ser discriminado, marginalizado, violentado psicológica ou fisicamente, ou, no limite, exterminado. Assim, num momento de choque de interesses, aqueles que se enquadram em um dos padrões socialmente valorizados, podem se sentir no direito de impor sua vontade por meio da violência, assim como o discriminado, de se sentir obrigado a utilizá-la para se fazer respeitar.
O uso da violência numa situação de conflito pode também estar ligado à incapacidade de resolvê-lo por meio do diálogo. É através do diálogo e da argumentação que se consegue mediar conflitos e encaminhá-los para uma resolução satisfatória para todos. Assim é que o mais importante antídoto contra o uso da violência, em situações de conflito, parece ser um trabalho efetivo das escolas no desenvolvimento de habilidades dialogais. Uma sociedade democrática prescinde da prática argumentativa.
Enfrentar as duas questões seria agir na raiz do problema, mas, como toda mudança cultural, com resultados a mais longo prazo. A escola precisa, entretanto, preparar-se, a curto prazo, para os complexos conflitos que vem enfrentando, cada vez mais resolvidos por meio da violência. O primeiro passo seria a institucionalização das normas de funcionamento, mediante um estatuto, construído de forma participativa, divulgado amplamente e cumprido de forma justa. Pior do que não ter um estatuto, é tê-lo desconhecido, na gaveta ou usado de forma arbitrária. Começa assim, para as novas gerações, a prática da ausência de normas ou do respeito às normas, aliada ao sentimento de impunidade ou injustiça.
É claro que a escola não é uma ilha, estando sujeita à violência que a circunda e muitas vezes a invade, mas, como formadora de sujeitos sociais, ela também é responsável pela reprodução do seu uso nas situações de conflito. Ter a intenção e desenvolver as melhores estratégia para a formação de sujeitos éticos; estabelecer relações, entre os diferentes atores da comunidade escolar, baseadas no respeito, na confiança e na solidariedade; estruturar-se como instituição baseada em normas claras, consubstanciadas em um estatuto conhecido e aprovado por todos e aplicado com justiça; podem ser os primeiros passos para que as novas gerações aprendam a resolver seus conflitos por meio do diálogo, não da violência.
Correio Braziliense - 07/06/2012
Superintendente executiva do Instituto Unibanco
Em primeiro lugar, é importante destacar que o conflito é fenômeno inerente às próprias relações interpessoais. Basta uma relação entre duas pessoas para que surjam ocasiões em que desejos e interesses se contrapõem, desencadeando situação de conflito. Eles não devem e não podem ser evitados, podendo ser resolvidos de forma construtiva por meio do diálogo ou negativa quando se usam as diferentes formas de violência.
Imaginemos, agora, o potencial de conflitos existentes em uma comunidade escolar, que reúne diferentes atores — alunos e seus responsáveis, professores, profissionais de apoio, equipes de direção — e lida diretamente com outros grupos de interesse, como a comunidade do entorno, representantes dos órgãos centrais da educação, além da própria opinião pública. Cada um deles com seus interesses e sua cultura, que, além de diferenciados, podem ser extremamente antagônicos. Nessa conjuntura, não dá para varrer as divergências para baixo do tapete. É fundamental que se desenvolvam estratégias para lidar com o conflito.
Também nesse campo, o importante é prevenir, identificando-se os possíveis fatores geradores. Talvez os mais importantes sejam os valores dominantes em nossa sociedade. Vivemos em um mundo pautado pelo individualismo, pela falta de ética, pelo desrespeito aos outros e às regras, e pela impunidade. A escola precisa assumir seu papel na formação das novas gerações, desenvolvendo estratégias pedagógicas intencionalmente voltadas para a construção de valores pautados na ética.
Processo que se inicia em atos de cortesia (bom-dia, obrigado, por favor), prossegue na capacidade de se colocar no lugar do outro (empatia) e desemboca no sentimento de solidariedade. A consolidação da ideia de igualdade é fundamental para o desenvolvimento de valores como respeito, confiança e solidariedade, considerados como componentes básicos do capital social. Baixos níveis de capital social estão associados a grupos cujas relações são pautadas na violência, perdendo a capacidade de gerar resultados.
A ênfase na intencionalidade desse processo baseia-se no fato de que, sem a clara determinação de realizar esse trabalho e o desenho de caminhos educacionais mais efetivos para realizá-lo, não será possível reverter a ideia, fortemente hegemônica, de que os seres humanos são melhores ou piores, dependendo da origem socioeconômica, do gênero, da raça, da idade, do peso, da aparência ou da opção sexual. Nessa lógica, caso não seja homem, branco, jovem, magro, bonito, heterossexual e rico, você poderá ser considerado necessariamente inferior, merecendo ser discriminado, marginalizado, violentado psicológica ou fisicamente, ou, no limite, exterminado. Assim, num momento de choque de interesses, aqueles que se enquadram em um dos padrões socialmente valorizados, podem se sentir no direito de impor sua vontade por meio da violência, assim como o discriminado, de se sentir obrigado a utilizá-la para se fazer respeitar.
O uso da violência numa situação de conflito pode também estar ligado à incapacidade de resolvê-lo por meio do diálogo. É através do diálogo e da argumentação que se consegue mediar conflitos e encaminhá-los para uma resolução satisfatória para todos. Assim é que o mais importante antídoto contra o uso da violência, em situações de conflito, parece ser um trabalho efetivo das escolas no desenvolvimento de habilidades dialogais. Uma sociedade democrática prescinde da prática argumentativa.
Enfrentar as duas questões seria agir na raiz do problema, mas, como toda mudança cultural, com resultados a mais longo prazo. A escola precisa, entretanto, preparar-se, a curto prazo, para os complexos conflitos que vem enfrentando, cada vez mais resolvidos por meio da violência. O primeiro passo seria a institucionalização das normas de funcionamento, mediante um estatuto, construído de forma participativa, divulgado amplamente e cumprido de forma justa. Pior do que não ter um estatuto, é tê-lo desconhecido, na gaveta ou usado de forma arbitrária. Começa assim, para as novas gerações, a prática da ausência de normas ou do respeito às normas, aliada ao sentimento de impunidade ou injustiça.
É claro que a escola não é uma ilha, estando sujeita à violência que a circunda e muitas vezes a invade, mas, como formadora de sujeitos sociais, ela também é responsável pela reprodução do seu uso nas situações de conflito. Ter a intenção e desenvolver as melhores estratégia para a formação de sujeitos éticos; estabelecer relações, entre os diferentes atores da comunidade escolar, baseadas no respeito, na confiança e na solidariedade; estruturar-se como instituição baseada em normas claras, consubstanciadas em um estatuto conhecido e aprovado por todos e aplicado com justiça; podem ser os primeiros passos para que as novas gerações aprendam a resolver seus conflitos por meio do diálogo, não da violência.
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