Autor(es): Inês Kisil Miskalo
Correio Braziliense - 04/06/2012
A falta de qualidade da educação brasileira não é de hoje. Já na Primeira República, o educador paulista Orestes Guimarães liderava o movimento de cunho nacionalista chamado "Entusiasmo pela educação", e convocava a atenção da sociedade para o impacto socio-econômico e político do investimento na educação popular. No início do século 20, 80% dos brasileiros eram analfabetos e 46% da população entre sete e 14 anos se encontravam fora da escola. Segundo estatísticas da época, o Brasil estava em penúltimo lugar em índice de alfabetização entre as nações "civilizadas".
Quase um século depois, temos ainda 9,7% de analfabetos na população entre 15 e 64 anos de idade e 3% de crianças de sete a 14 anos fora da escola. Mais: somente 56,1% dos estudantes que concluem o 3º ano do ensino fundamental aprenderam o que era esperado em leitura; e 42,8%, em matemática. E continuamos a ocupar os últimos lugares nos rankings mundiais de educação, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
É um contrassenso que o Brasil, considerado a 6ª economia do mundo, esteja na lanterna nos rankings internacionais de educação. Os últimos resultados do Pisa confirmam essa discrepância entre o poder econômico de um país e o nível educacional de seus cidadãos. A avaliação da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o PIB per capita tem influência para o sucesso educativo, mas só explica 6% das diferenças de desempenho médio dos estudantes. Os outros 94% refletem o modo como os recursos fazem a diferença.
As análises da OCDE sugerem que a relação entre investimento na educação e desempenho não tem mais impacto a partir de um patamar de US$ 35 mil de gasto cumulativo por aluno em sua educação dos seis aos 15 anos. Por exemplo: países que gastam mais de US$ 100 mil com seus estudantes, como Suíça e Estados Unidos, apresentaram níveis semelhantes de desempenho em comparação aos que gastam menos da metade desse valor por aluno, como a Hungria e a Polônia.
O Brasil destina a cada aluno US$ 18 mil em média, durante os nove anos de estudo do ensino fundamental. Comparando investimento dos países e o desempenho de leitura média no Pisa, estamos acima apenas do Kirguistão, um dos países mais pobres da Ásia Central, com 5 milhões de habitantes e às voltas com guerras étnicas. Portanto, o nível de investimento com educação básica no Brasil, além de estar num patamar baixo, é ineficaz porque não implica bons resultados e indica claramente que não estamos empregando bem os investimentos em educação.
Cabe, então, uma pergunta: como fazer para que a qualidade realmente chegue a todas as escolas do país? Coreia, Finlândia e Xangai sobressaem nas avaliações internacionais de matemática e linguagem e servem como exemplos de sucesso para quem busca melhorar o desempenho educacional. Como ponto de partida, esses países acreditam que todos os alunos são capazes de aprender e lhes dão essa oportunidade, com uma abordagem individualizada na aprendizagem, foco na aquisição de habilidades complexas do pensamento desde o início da educação infantil e alinhamento com as novas tecnologias.
Outra prática importante nesses países é o foco em gestão educacional, delegando aos próprios gestores o controle sobre recursos humanos, materiais e finanças. Esse modelo requer a contrapartida governamental no compromisso com a formação inicial e contínua dos educadores, além de planos de carreira que atraiam os profissionais mais qualificados.
Os exemplos estão postos e é preciso agir com urgência para superar esse histórico de perdas na área educacional. Não se trata mais da simples vontade de “querer mudar“, mas sim de uma indeclinável “exigência de mudanças” de uma sociedade em constante transformação, que nos conecta, em tempo real, em interações físicas e digitais a um mundo sem fronteiras. Não há mais tempo para retórica sobre a abertura da escola para um incrível mundo novo.
Correio Braziliense - 04/06/2012
A falta de qualidade da educação brasileira não é de hoje. Já na Primeira República, o educador paulista Orestes Guimarães liderava o movimento de cunho nacionalista chamado "Entusiasmo pela educação", e convocava a atenção da sociedade para o impacto socio-econômico e político do investimento na educação popular. No início do século 20, 80% dos brasileiros eram analfabetos e 46% da população entre sete e 14 anos se encontravam fora da escola. Segundo estatísticas da época, o Brasil estava em penúltimo lugar em índice de alfabetização entre as nações "civilizadas".
Quase um século depois, temos ainda 9,7% de analfabetos na população entre 15 e 64 anos de idade e 3% de crianças de sete a 14 anos fora da escola. Mais: somente 56,1% dos estudantes que concluem o 3º ano do ensino fundamental aprenderam o que era esperado em leitura; e 42,8%, em matemática. E continuamos a ocupar os últimos lugares nos rankings mundiais de educação, como o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).
É um contrassenso que o Brasil, considerado a 6ª economia do mundo, esteja na lanterna nos rankings internacionais de educação. Os últimos resultados do Pisa confirmam essa discrepância entre o poder econômico de um país e o nível educacional de seus cidadãos. A avaliação da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostra que o PIB per capita tem influência para o sucesso educativo, mas só explica 6% das diferenças de desempenho médio dos estudantes. Os outros 94% refletem o modo como os recursos fazem a diferença.
As análises da OCDE sugerem que a relação entre investimento na educação e desempenho não tem mais impacto a partir de um patamar de US$ 35 mil de gasto cumulativo por aluno em sua educação dos seis aos 15 anos. Por exemplo: países que gastam mais de US$ 100 mil com seus estudantes, como Suíça e Estados Unidos, apresentaram níveis semelhantes de desempenho em comparação aos que gastam menos da metade desse valor por aluno, como a Hungria e a Polônia.
O Brasil destina a cada aluno US$ 18 mil em média, durante os nove anos de estudo do ensino fundamental. Comparando investimento dos países e o desempenho de leitura média no Pisa, estamos acima apenas do Kirguistão, um dos países mais pobres da Ásia Central, com 5 milhões de habitantes e às voltas com guerras étnicas. Portanto, o nível de investimento com educação básica no Brasil, além de estar num patamar baixo, é ineficaz porque não implica bons resultados e indica claramente que não estamos empregando bem os investimentos em educação.
Cabe, então, uma pergunta: como fazer para que a qualidade realmente chegue a todas as escolas do país? Coreia, Finlândia e Xangai sobressaem nas avaliações internacionais de matemática e linguagem e servem como exemplos de sucesso para quem busca melhorar o desempenho educacional. Como ponto de partida, esses países acreditam que todos os alunos são capazes de aprender e lhes dão essa oportunidade, com uma abordagem individualizada na aprendizagem, foco na aquisição de habilidades complexas do pensamento desde o início da educação infantil e alinhamento com as novas tecnologias.
Outra prática importante nesses países é o foco em gestão educacional, delegando aos próprios gestores o controle sobre recursos humanos, materiais e finanças. Esse modelo requer a contrapartida governamental no compromisso com a formação inicial e contínua dos educadores, além de planos de carreira que atraiam os profissionais mais qualificados.
Os exemplos estão postos e é preciso agir com urgência para superar esse histórico de perdas na área educacional. Não se trata mais da simples vontade de “querer mudar“, mas sim de uma indeclinável “exigência de mudanças” de uma sociedade em constante transformação, que nos conecta, em tempo real, em interações físicas e digitais a um mundo sem fronteiras. Não há mais tempo para retórica sobre a abertura da escola para um incrível mundo novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário