quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Reencarnação

Autor(es): Roberto DaMatta
O Estado de S. Paulo - 29/02/2012


O Dalai Lama disse: só eu posso decidir sobre minha reencarnação! A frase perturbou-me. Seria possível decidir sobre a reencarnação? Curioso, descobri por meio de meu primo Ronaldo um médium chamado Álvaro Alvez, kardecista emérito que poderia confirmar se era mesmo possível decidir reencarnações.

Repito o que ouvi de mestre Álvaro: "A reencarnação anula o fosso entre o viver e o morrer porque ela vincula um estado com o outro. Em conformidade com a Lei do Eterno Progresso Espiritual, reencarnamos até o resgate satisfatório das dívidas contraídas em vidas passadas. Com a reencarnação - continuou Álvaro Alvez - recusamos definir a vida pela morte. Assim sendo, enquanto a maioria olha a morte pelo espelho retrovisor, os reencarnacionistas sabem que a morte leva a olhar para a frente porque teremos sempre novas vida para viver. A ideia de reencarnação muda tudo!"

Ao receber a pergunta sobre planejar reencarnações, mestre Álvaro foi claro como um ministro: "Roberto - falou - nada no campo espiritual, é impossível. Decida-se, como um Lama, relativamente às suas próximas existências e quem sabe você as realiza? Pois como já profetizava Quincas Berro D"Água, ao morrer pela terceira vez: "Cada qual cuide do seu enterro, impossível não há!"

Como, porém, iria reencarnar? Que papel escolheria para reexistir no mundo e, nele, no Brasil? As incertezas eram infinitas e maiores ainda as possibilidades.

Primeiro, veio-me a fantasia de voltar como craque de futebol, artista de TV, sambista e até mesmo como o Eike Batista ou o William Bonner. Um conselho do mestre, porém, obrigou-me a descartar essas escolhas iniciais.

Fixei-me então em regressar como alto funcionário do governo. Ministro de algum órgão sortido de recursos para obrar à vontade. Que tal chefe da Casa Civil? Ou diretor da Casa da Moeda? Ou representante do povo na Câmara ou no Senado? Nesses cargos teria não só a oportunidade de resgatar minhas obrigações passadas, mas de criar em dólares e falcatruas inúmeras dívidas futuras de modo que eu estaria sempre reencarnando (e assim vivendo) sem parar.

Nisso veio o recém-passado carnaval que me fez pensar em renascer como carnavalesco. Imaginei o sucesso de um enredo baseado nas "Mitológicas" de Claude Lévi-Strauss. O desfile abriria com uma alegoria baseada no Cru e o Cozido, sendo seguida pela ala Do Mel às Cinzas, para logo exibir o grande banquete inspirado na Origem dos Modos à Mesa para terminar sensacional e apoteoticamente com O Homem Nu! Que coisa incrível esses destaques, alas, e carros alegóricos no qual todas as transformações, reversões, torções e códigos dos mitos ameríndios estivessem em cena. Seria a carnavalização dos carnavais. Ademais, poria em foco o "homem nu" (esse ser esquecido dos carnavais) e não essas bundudas bombadas e, tenham dó, vestidas até o gargalo!

Muita fumaça e pouco fogo. Disse a mim mesmo em Angra dos Reis neste último fim de semana, quando gozei da grata hospitalidade de Romulo e Paula. Ali, diante de um mar transparente e de montanhas que me levavam para um céu infinito, uma tremenda inveja deliberou que eu iria reencarnar como dono de um daqueles modestos domicílios à beira-mar, com um BMW numa porta e um barco de 60 pés flutuando na minha praia. Viveria saindo de um veículo para entrar no outro e assim resgataria definitivamente minha dívida com o tal "trabalho" que os velhos romanos sabiam ser mais um castigo do que um chamado ou vocação.

Assim cogitava quando vi na TV a selvageria dos sambistas paulistanos diante da apuração de seu concurso de escolas de samba e, ato contínuo, ouvi as diversas possibilidades interpretativas do regulamento que as governa. Ao escutar as pérolas hermenêuticas diante de uma norma de concurso de carnavalesco, decidi-me. Se puder, prometi a mim mesmo, retornarei como foi meu avô Raul: juiz!

Como magistrado interpretaria as leis do carma. E dentro da nobreza republicana teria não apenas um excelente salário e outros auxílios mais do que justos para a serenidade requerida pela minha profissão, mas só poderia ser julgado por colegas e condenado unicamente por maioria absoluta. E, caso isso fosse possível, seria penalizado à prisão domiciliar com direito, eis um dano extraordinário, a salário integral. E, como tudo o que quero no momento atual de minha encarnação é ficar em casa, pois sair para o trabalho no Grande Rio é um inferno, encontrei minha perfeita futura vida.

Só me resta agora realizar os exercícios espirituais condizentes para determiná-la. Estou seriamente pensando em me encontrar com o Dalai Lama, pois ser juiz neste nosso Brasil republicano bem vale uma viagem ao Tibete.







Bolsa ou escola?


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Ari Cunha - Visto, Lido e Ouvido - Ari Cunha
Correio Braziliense - 29/02/2012

Foram muitos os governadores que abriram o verbo contra o cálculo do piso nacional para o magistério. Neste ano a previsão é que os professores tenham aumento de mais de 20% em relação a 2011. Há esperanças de que ainda nesta legislatura a Câmara dos Deputados recalcule o reajuste com base na inflação.

Alguns senadores já se mostraram reticentes com a proposta.

Enquanto isso, chegam as notícias. Vereadores de Maringá aumentam o próprio salário de R$ 5 mil para R$ 10 mil. Deputados cogitam aumento salarial no fim do ano. Auxílio-presidiário supera o salário mínimo e chega a R$ 810. Os professores amargam o contraste entre o reconhecimento e as responsabilidades que lhes são atribuídas. Na maioria dos estados, acordos com os professores não são cumpridos pelos governos em todas as esferas.

E, assim, as aulas começam como se uma bomba-relógio fosse disparada no início do ano letivo. Parece que o discurso da professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, vai ser atual por muito tempo. Ela disse mais ou menos o seguinte: "Estão me colocando dentro de uma sala de aula superlotada sem a mínima condição de trabalho...e dizem que nós, os professores, somos os redentores deste país. Não somos. Nosso salário não dá para comprar a bolsa que a esposa de vocês usa. Eu não tenho vergonha de falar isso. Vocês, que fazem as leis, é que deveriam ter". (Circe Cunha)

A frase que não foi pronunciada

"O Código Florestal é um projeto de beleza e paciência. Se der certo, beleza. Se não, paciência.""

Biólogo brincando enquanto estuda.

Protesto
» Tudo começou com a chegada do telegrama 130 de Consbras Frankfurt. De forma pouco polida para quem conhece o embaixador Cezar Amaral, tratou os oficiais de chancelaria até com preconceito. Disse que o pessoal prefere trabalhar em embaixadas que nos consulados por não ter rigor no horário. O pior é que, além de todo o trabalho que os oficiais já faziam na embaixada, agora também executam as tarefas de um cartório eleitoral. Faça sol ou neve, as portas para o público abrem às 8h30 da manhã. Uma injustiça. Só o Crivella na causa.

Fortaleza
» Obras do PAC, construções, habitações, metrô. A presidente Dilma Rouseff andou por muitas horas. Quis saber os detalhes das obras. Se o investimento do governo está bem aplicado. Uma das cerimônias com a presença da presidente foi na Estação Virgílio Távora, em Maracanaú. Disse que é legítimo que Fortaleza tenha uma estrutura comparada com a de grandes centros. Prometeu R$ 1 bilhão no Orçamento para o metrô e mais R$ 1 bilhão serão financiados.








terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uruguai assume crimes da ditadura

Correio Braziliense - 28/02/2012

O governo do presidente José Mujica assumiu perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU a responsabilidade do Estado uruguaio pela repressão durante o regime militar (1973-1985), do qual o próprio Mujica foi prisioneiro. O reconhecimento foi formalizado ontem em discurso do ministro de Relações Exteriores, Luis Almagro, em Genebra. "O governo uruguaio realizará um ato público de reconhecimento da responsabilidade do Estado pela violação dos direitos humanos ocorrida durante a ditadura", disse o chanceler, citando uma manifestação marcada para 21 de março. "Ele tem um valor singular para demonstrar a vontade e a convicção com que nosso governo encara a luta contra a impunidade e pelo cumprimento de suas obrigações internacionais", emendou.

Almagro explicou à agência de notícias France-Presse que a medida busca dar uma resposta adequada à decisão da Corte Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA) no caso do opositor argentino Marcelo Gelman. A sentença obriga o Uruguai a investigar o caso, punir os culpados e indenizar vítimas e familiares. Marcelo, filho do poeta Juan Gelman, desapareceu em 1976, ano do golpe militar na Argentina (a ditadura caiu em 1983). María Claudia García, companheira do militante, foi presa e enviada para o Uruguai enquanto grávida, deu à luz em cativeiro e foi morta.

Macarena, filha do casal, foi encontrada por seu avô, e os dois apresentaram uma denúncia à CIDH. Ela tornou-se ícone das vítimas da Operação Condor, o plano de ação conjunta das ditaduras do Cone Sul. A Corte interamericana acolheu a denúncia, instalou o processo e proferiu a sentença, que obriga o Uruguai a fazer o reconhecimento público em Genebra.

Apesar da decisão sobre os crimes do regime militar, o governo uruguaio se eximiu de responsabilidade pela violência exercida na época por grupos guerrilheiros como os Tupamaros, ao qual pertenceu o atual presidente. Almagro alegou que o tema já foi abordado no Uruguai pelos tribunais e pelo parlamento.

O ministro ainda aproveitou para convidar o relator especial da ONU contra a tortura, o argentino Juan Méndez, a visitar o Uruguai no segundo semestre de 2012, para "conhecer no local o monitoramento que o país tem realizado sobre as recomendações feitas em 2009, que nos impulsionaram a atender múltiplas necessidades em relação às condições de privação de liberdade".







domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mary Del Priore

MÃES&TRABALHO (revista crescer)
"As pessoas gostam de pensar nas mulheres como esse grupo uníssono, unânime, que está sofrendo para conseguir seu lugar ao sol. E esse problema maior é: há tensões e conflitos entre as mulheres."


Cíntia Marcucci




A historiadora Mary Del Priore, 59 anos, e mãe de Pedro, 36, Paulo, 34, e Isabel, 31, é especialista em História do Brasil e autora de um livro que fala sobre a realidade das mulheres e das crianças no país. Para ela, a sociedade passa por mudanças, os homens estão mais flexíveis com relação ao trabalho doméstico, principalmente nas classes A e B, mas a mulher ainda precisa se entender melhor, saber o que ela pode, quer e como reivindicar o que precisa.

CRESCER - Como é a sua visão desse dilema que a mulher vive hoje, entre se dedicar à maternidade e à carreira? Mary Del Priori - No Brasil, o dilema passa justamente no questionamento de interromper a profissão, voltar para casa, cuidar dos filhos, viver com essa culpa. E temos alguns pontos-chave. Primeiro, a carga de trabalho dupla, que talvez possa resultar em questões de medicina social, com mulheres tendo ataques cardíacos em idades mais baixas, casos de câncer e outras enfermidades. A segunda coisa é: mesmo tendo muitas mulheres na política, não temos políticas de empoderamento feminino, voltadas para as mulheres, para facilitar a vida delas, na forma de multiplicação de creches, ampliação dos direitos que vêm com a maternidade, a participação do homem na paternidade, o combate à maternidade precoce, na adolescência, essas políticas, que já vêm sendo reclamadas há muito (desde o século 19, quando educadoras como a Nísia Floresta pedem atenção do governo brasileiro). Elas podem até estar desenhadas, mas estão longe de atender às necessidades nas grandes capitais. A terceira questão, que acho importante, é a não consciência das empresas em termos de facilitar a vida das mulheres. Elas não estão pensando em soluções para manter as mulheres no trabalho. Uma quarta conseqüência disso, que já vemos em países como os EUA, onde esses casos vêm sendo estudados, é de aparecer mulheres que dizem simplesmente não à maternidade, com muitos casais que prosperam assim.

C. - É como se a brasileira, então, ainda não tivesse poder de escolher a maternidade. Ela é compulsória para a mulher daqui?
M.D.P. - Isso varia muito entre classes sociais e gerações. Para as da faixa de 30 a 40 anos, a maternidade ainda tem um valor simbólico muito grande, elas foram criadas por mães para quem a maternidade tem um valor simbólico que pesa. Já para as meninas de 20 a 30 anos, o questionamento é diferente. São pessoas que ainda não estão inseridas no mercado profissional, há uma ambiguidade muito grande sobre o que vão fazer em termos profissionais e também há números sobre ambiguidade sexual, é uma geração que transita bem na bissexualidade... Acho que esse pacote casamento mais casa é ainda muito ligado à geração dos anos 80/90. Não sei se a próxima, que está com cerca de 20 anos agora, tem a mesma significação.

C. - Às vezes, a gente fica com a sensação que não dá para fazer as duas coisas, que a mulher vai ter de escolher: ou ela vai ser mãe ou vai ser uma profissional obstinada...
M.D.P. - O carreirismo, o sucesso profissional, são coisas recentes aqui no Brasil. Até os anos 70, trabalhar era uma vergonha para uma mulher de classe média. Trabalhar como carreira vem com a chegada da pílula, nos anos 70/80. Só que esse objetivo é alimentado com a culpa de abandonar o paradigma anterior, da família burguesa, para trás.

C. - Por falar em culpa, a da mulher sempre existiu ou ela nasce quando se sai para o mercado de trabalho?
M.D.P. - É um erro dizer que a mulher brasileira não trabalhava, pois ela trabalhava em casa. Durante séculos, ela sobreviveu costurando, tingindo, bordando, fazendo doce, comida, mas em casa. Até se prostituindo, mas em casa. O trabalho feminino sempre existiu, pois somos um país paupérrimo em um continente paupérrimo. Então, a mulher sempre teve de reforçar o orçamento mensal. Só que, a partir da década de 60/70, ela passa a visualizar o trabalho profissional, o estudo universitário como uma carreira. E ela não é mais dona do seu tempo. Em casa, sim, ela pode varar a noite costurando, mas está ao lado dos filhos. O modelo para essas mulheres ainda é o da mãe em casa.

C. - Para aplacar essa sensação, o que seria preciso?
M.D.P. - O problema maior é dar às mulheres a consciência do que está acontecendo com elas. Não sei se você já teve a oportunidade de estar às 19 horas de uma sexta-feira no aeroporto de Congonhas. Das pessoas na fila, 80% são mulheres alucinadas com o que está acontecendo nas suas casas. Jovens, de 30, 40 anos, preocupadas com os filhos e com os maridos. Não é um tema prosaico, é extremamente doloroso. É até uma dor física que as mulheres têm. Por isso, eu comecei falando da questão da saúde e da medicina social. Elas sofrem, têm de escolher e quando sair do emprego. Devem sofrer uma depressão horrorosa por ter de abandonar uma carreira. Temos que começar por conscientizar as mulheres do que está ocorrendo com elas. As pessoas não gostam de tratar sobre isso, pois gostam de pensar nas mulheres como esse grupo uníssono, unânime, que está sofrendo para conseguir seu lugar ao sol. E esse problema maior é: há tensões e conflitos entre as mulheres.





Licença para pais é defendida por deputados

O Globo - 26/02/2012

Projetos surgiram com o caso do servidor que perdeu esposa no parto

O caso do servidor da Polícia Federal que perdeu a esposa depois do parto e conseguiu na Justiça o direito à licença-paternidade nos moldes da licença-maternidade levou à apresentação de dois projetos na Câmara. A decisão da Justiça Federal foi noticiada pelo GLOBO no dia 13 de fevereiro. No dia 14, a deputada Andreia Zito (PSDB-RJ) apresentou proposta concedendo o direito ao pai nos casos de falecimento da mãe, em decorrência de complicações no parto ou nos casos de invalidez permanente ou temporária da genitora. No dia 15, foi a vez de o deputado Marçal Filho (PMDB-MS) apresentar projeto de lei semelhante.

- A gente percebe que acontece o falecimento de algumas mães no pós-parto, e aí a criança fica na necessidade de um atendimento e não consegue. Então foi pura e simplesmente pelo exemplo desse pai que eu resolvi apresentar esse projeto - disse Andreia Zito.

É provável que os dois projetos passem a tramitar em conjunto por tratarem do mesmo tema. Ambos mexem no artigo 392, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que trata do direito à licença maternidade. Atualmente, as disposições transitórias da Constituição estipulam cinco dias para a licença paternidade, enquanto a licença maternidade dura 180 dias. O prazo de cinco dias é válido até que a questão seja regulamentada pelo Congresso. Porém, mais de duas décadas depois de promulgada a Constituição, isso nunca foi feito.

O deputado Marçal Filho (PMDB-MS) destaca que a regulamentação da licença paternidade pode trazer impactos previdenciários. Por isso, a escolha de mexer na legislação da licença maternidade. Ele crê que assim será mais fácil chegar a um acordo com o governo.

- Para não perder tempo, apresentei um projeto que mexe na licença-maternidade. É um projeto bem simples, curto, para que possa ser aprovado - afirmou.

Em 16 de fevereiro, a deputada Erika Kokay (PT-DF) apresentou projeto de lei proibindo a exigência de depósito prévio como garantia para o atendimento de urgência ou emergência na rede privada de saúde. Ela cita na justificação da proposta o caso do ex-secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento Duvanier Paiva Ferreira, que morreu em janeiro deste ano de parada cardíaca. Existe a suspeita de que ele teve o atendimento negado em dois hospitais privados em Brasília porque seu plano de saúde não era conveniado e porque não tinha na hora um talão de cheques que permitisse a emissão de um cheque caução.







sábado, 25 de fevereiro de 2012

Malvinas: pilar do colonialismo tardio

Autor(es): Tereza Cruvinel
Correio Braziliense - 25/02/2012

Jornalista

Merryl Streep é uma atriz completa e fascinante. Merece o Oscar para o qual está indicada. Sua atuação primorosa como Margaret Thatcher é que salva A dama de ferro da indecisão entre ser um filme intimista sobre glória, declínio e velhice, ou a cinebiografia de uma das maiores figuras políticas do século 20. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, reclamou em entrevista da inoportunidade do filme, que, de fato, traz desconfortos para seu governo. Por exemplo, ao recordar que foi tentando superar a impopularidade que Thatcher partiu para a Guerra da Malvinas contra a Argentina em 1982. Numa passagem, relatando as operações navais, o ministro da Defesa aponta no mapa o deslocamento do navio argentino General Belgrano rumo às ilhas. "Afunde-o", diz Thatcher glacial. Um Exocet fez o serviço, matando 323 argentinos.

Trinta anos depois, o mundo deu muitas voltas, mas não removeu esse último bastião do colonialismo. Numa Europa em crise, outro governo inglês, conservador e impopular, remonta o cenário bélico. A Argentina levou o assunto ao Conselho de Segurança da ONU e vem mobilizando apoios na América Latina e na comunidade internacional. A presidente Cristina Kirchner, reeleita com 53.04% dos votos e com a popularidade nas nuvens, não precisa de estratagemas, mas retomou, com seu vigor peculiar, uma causa cara aos argentinos.

A ofensiva inglesa, que somou às ações militares uma estapafúrdia declaração de Cameron, chamando a Argentina de colonialista, vem conseguindo a proeza de abrandar a crispação existente entre a presidente, a mídia, setores da classe média e a oposição partidária. Ontem, em Ushuaia, capital da Terra do Fogo, parlamentares de diferentes partidos que integram as comissões de relações exteriores das duas casas do Parlamento subscreveram documento ratificando a postulação argentina à soberania sobre as Malvinas.

Um grupo de 17 intelectuais argentinos, num movimento timidamente discrepante, anunciou um documento pregando a abertura de "instancias de diálogo real con los británicos y en especial con los malvinenses". Na mídia, e em especial no Clarin, ecoam pregações de diálogo com a Inglaterra e com os moradores das ilhas.

Nada indica que Cristina esteja buscando a guerra, como fizeram os generais da ditadura em busca de luz no fim do túnel. Mas o diálogo bilateral já não existe há muito tempo, e todos sabem disso. Resta agora a mediação da ONU e as ações multilaterais. Quanto aos malvinenses, como diz Filmus, hoje são ingleses transplantados, não ilhéus originais.

Aqui no Brasil tem-se criticado mais o "tom" usado pela Argentina do que a ostentação militar inglesa. Critica-se a posição adotada pelo Brasil (e demais membros do Mercosul) de fechar os portos a navios com bandeira das Malvinas. Mas isso também não é novo, nem coisa de governo do PT. Na Guerra de 1982, sendo presidente o general Figueiredo, o Brasil não só fechou os portos como negou pouso, até para abastecimento, a aviões ingleses rumo às Malvinas.

Por mais de uma razão, outra não poderia ser a posição do Brasil. Primeiro, pela aliança estratégica firmada com a Argentina sobre a qual erigiu-se o Mercosul e, mais tarde, toda a política de integração continental, preliminar para o futuro de nossa região no mundo multipolar que está surgindo.

Depois, porque a questão das Malvinas é um caso tardio de descolonização e assim já foi tratado pela ONU em Resolução de 1965. Uma ex-colônia, solidária na descolonização da África, não pode fechar os olhos ao que acontece aqui ao lado. O domínio inglês sobre as ilhas é comparável, para nós, a uma continuada presença de Portugal (ou de outra nação colonizadora) no arquipélago de Fernando de Noronha. Algo intolerável.

A palavra está com a ONU, mas a crise das Malvinas ainda vai exigir mais do Brasil este ano. Agora, porém, o tema está suplantado, momentaneamente, pela dor de uma tragédia — o acidente de trem de quarta-feira em Buenos Aires, com 49 mortos e mais de 600 feridos.







sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Senador vira réu no STF por trabalho escravo

O Globo - 24/02/2012

Supremo abriu ação contra João Ribeiro, dono de fazenda no PA

BRASÍLIA. O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu ontem ação penal contra o senador João Ribeiro (PR-TO) por manter em sua fazenda 35 trabalhadores em condições análogas à de escravo. Por sete votos a três, os ministros receberam a denúncia do Ministério Público e transformaram o parlamentar em réu. Ele também responderá por aliciamento fraudulento de trabalhadores e frustração de direito assegurado pela legislação. Também é réu no mesmo processo o administrador da fazenda, Osvaldo Brito Filho.

O inquérito foi aberto no STF em junho de 2004. Segundo o Ministério Público, a partir de uma denúncia anônima, o Ministério do Trabalho fez uma fiscalização em fevereiro de 2004 na Fazenda Ouro Verde, no município de Piçara, no Pará. Os trabalhadores eram aliciados em Araguaina, em Tocantins, para trabalhar no local mediante a promessa de boa remuneração e benefícios.

Foram constatadas irregularidades como ausência de registro na carteira de trabalho e ausência de recolhimento de contribuição previdenciária. Sem instalações sanitárias, os empregados faziam as necessidades fisiológicas ao ar livre. A comida era feita em fogareiros improvisados e as refeições, no chão. Não havia água potável - os trabalhadores bebiam a água dada aos animais e usada para lavar roupas. Os dormitórios eram ranchos úmidos cobertos de folhas.

Não havia assistência médica. Outro fator mencionado nos autos é a obrigação dos trabalhadores de comprar mercadorias na fazenda. As dívidas eram descontadas do pagamento. As jornadas foram consideradas excessivas: das 6 às 18 horas, de segunda a sábado, e das 6 às 12, aos domingos. Não havia o repouso semanal remunerado determinado pela Constituição Federal.

O julgamento começou em 2010, com o voto da ministra Ellen Gracie, hoje aposentada., pela abertura do processo, por considerar que os empregados viviam uma "repugnante e arcaica forma de escravidão por dívidas". Em seguida, Gilmar Mendes pediu vista e ontem defendeu no plenário o arquivamento do inquérito, sem sucesso.O senador já responde a outra ação no STF, por peculato.







2011: um ano que não terminou para a educação


Autor(es): Paulo Castro
Correio Braziliense - 24/02/2012

Economista, é diretor-presidente do Instituto C&A

O ano de 2011 chegou ao fim e deixou um sentimento de frustração para todos os que veem na educação o caminho inevitável para a construção de um Brasil socialmente justo e democrático. A votação do Projeto de Lei nº 8.035/2010, o nosso Plano Nacional da Educação (PNE), foi mais uma vez postergada, deixando em aberto temas decisivos que não podem mais aguardar. Estamos em atraso em relação ao documento legal que define as metas para a educação brasileira até 2020.

Mais do que lamentar a aparente falta de prioridade que a educação ocupa na agenda de setores do governo, é tempo de ressaltar aspectos que tornam esse PNE um capítulo à parte na história do país. Nunca houve uma oportunidade tão clara e decisiva de participação da sociedade nos rumos de seu sistema de ensino. Há quem demonstre não ter entendido bem esse fato, em uma espécie de miopia social, por exemplo, creditando o elevado número de emendas (mais de 3 mil) a mero jogo de interesses sindicais ou político-partidários.

Em primeiro lugar, é legítimo e democrático que todos os setores se manifestem e defendam seus interesses. Mas é preciso ver também que grande parte das emendas foi produzida após amplos e subsidiados debates em diferentes fóruns, como a Conferência Nacional da Educação (Conae), em 2010.

A Conae mostrou-se instância fecunda. Embora seja passível de aprimoramento, foi capaz de ampliar a voz e o protagonismo de diferentes atores sociais. Dessa conferência, que reuniu mais de 4,5 mil educadores, nasceu um documento com o consenso possível, de caráter construtivo e propositivo.

Do mesmo modo, o PNE deve ir à votação enriquecido em 2012 com as contribuições do movimento PNE pra Valer!, coordenado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, do qual participam instituições de diferentes segmentos, como a União Nacional dos Dirigentes Municipais (Undime) e a Associação Nacional de Pesquisadores em Educação (Anped).

A presença de representantes da sociedade civil nas diferentes fases de construção e tramitação do PNE é prova de que a educação definitivamente convoca a atenção dos brasileiros, não mais a reboque de problemas dramáticos, como filas por matrículas em portas de escola, nem atrás de longa lista de direitos sonegados pelo Estado, como saúde e segurança. É tema que se torna cada vez mais o prato do dia, num efeito em cadeia que só tende a se aprofundar.

Esse dado torna mais assombrosa a distância entre as demandas sociais na educação e a efetiva prioridade dedicada na agenda executiva do país. Tanto é assim que, na cobertura da imprensa, o grande destaque é conferido ao braço de ferro travado sobre qual deve ser o investimento público do setor em relação ao PIB — questão de suma importância, pois, pela primeira vez, as metas do PNE estarão costuradas com fontes de financiamento, assegurando sua exequibilidade.

O impasse é simbólico e, por si, educativo. Mostra que, como sociedade, precisamos vencer uma barreira sutil na história de nossa República: aquela segundo a qual a participação social é tratada como algo desejável e belo para dar "sensação de democracia", mas que não pesa efetivamente nas decisões, principalmente quando elas implicam disponibilização de recursos financeiros condizentes com as metas propostas.

O financiamento da educação não pode ser argumento para tornar a aprovação do PNE tema de gabinetes. Ao contrário, mais do que nunca é tempo de discutir com a sociedade como ela espera ver aplicadas as riquezas arrecadadas pelo país. Vamos em frente. A votação do PNE urge. É preciso reconhecer que a educação brasileira sofre pelo acúmulo de problemas ao longo de sua história e que o PNE, que findou em 2010, não cumpriu boa parte do que prometeu.

Para não repetirmos erros passados, precisamos considerar as instâncias de participação e controle social como elementos que potencializam tanto a qualidade do plano quanto sua execução. O texto a ser votado, se não é o ideal, já está inevitavelmente vitaminado pela atuação das representações da sociedade civil, uma seta que indica estarmos no caminho certo para garantir, enfim, o direito básico de educação de qualidade para todos.








Educação aquém das metas

Autor(es): Ruy Martins Altenfelder Silva
Correio Braziliense - 22/02/2012

Presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional e do Conselho de Administração do CIEE e presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas

O Plano Nacional de Educação 2011-2020 já começa com atraso. Enviado pela Presidência da República ao Congresso em dezembro de 2010, teve a apresentação do parecer da comissão especial da Câmara dos Deputados prorrogada no último dia 15 — dentro de um rito que prevê, ainda, votação em plenário, apreciação pelo Senado e sanção presidencial. Outro aspecto merece reflexão nesse processo de aprovação: a baixa repercussão na sociedade de um plano que afetará, para o bem ou para o mal, pelo menos as duas próximas gerações e constitui um dos gargalos mal resolvidos do país.

O CIEE, que há quase meio século cuida da inclusão profissional de jovens — e, portanto, atua na delicada intersecção entre os mundos do saber e do fazer —, vem detectando a constante queda de qualidade do ensino nas últimas décadas e sua influência negativa na empregabilidade jovem, que hoje bate na casa dos 12,6% na faixa etária de 20 e 24 anos e dos 22,9% no segmento 15 a 17 anos, segundo o IBGE, em contraponto aos cerca de 6% registrado entre a população economicamente ativa. E não é por falta de vagas, pois há milhares delas não preenchidas por falta de candidatos adequados.

Olhando o país como um todo, merecem elogio a universalização do acesso ao ensino fundamental e sua extensão para nove anos; o recente (embora ainda insuficiente) estímulo ao ensino técnico; a vinculação de benefícios assistenciais à frequência escolar dos filhos; o ProUni; e outras iniciativas que asseguram avanço na quantidade das matrículas nos três níveis da educação formal. A questão que se coloca, neste momento, é como as 20 metas do novo PNE poderão contribuir efetivamente para atenuar o sombrio cenário da educação embora até aqui as análises precisem se restringir ao campo das intenções, pois ainda não foram testadas na prática (lembrando que, nesta, a teoria pode ser outra).

Entre as metas, sete visam à valorização do professor, com iniciativas que vão desde a ampliação para 75% do número de mestres e doutores no corpo docente das instituições de ensino superior até a adoção de critérios técnicos para a nomeação de diretores de escolas — hoje feita por indicação política, planos de carreira, etc. Detalhe: o rendimento médio do profissional da educação não poderá ser inferior ao dos demais trabalhadores com escolaridade semelhante.

Com a questão praticamente resolvida no ciclo fundamental, o PNE fixa metas para o acesso à educação infantil e aos ensinos médio e superior — ponto em que o otimismo sofre uma queda, considerando o balanço de resultados do PNE atual. Por exemplo, aponta que 50% das crianças de até três anos devem ter acesso a creches. Entretanto, esse mesmo patamar já constava do atual PNE, mas o percentual concretizado não atinge 20%. O mesmo documento previa a erradicação do analfabetismo entre os brasileiros com mais de 15 anos até o final de 2010 — mas vergonhosa taxa ainda está em 9,7%. Isso sem falar do analfabetismo funcional e da incapacidade de os alunos da 3ª série do fundamental de resolver continhas de somar ou de interpretar um texto simples, por deficiência de leitura.

Também é ausência notável no novo PNE uma menção à necessária reestruturação do ensino médio regular, apontado por respeitados especialistas como ciclo de estudo sem foco preciso, sendo quase um curso preparatório para o vestibular, com excesso de matérias no currículo, em muitas das quais o aluno não vê utilidade para sua formação, entre outros aspectos que contribuem para inchar as taxas de evasão. Ponto positivo, entretanto, para a expansão do ensino médio técnico, com a duplicação do número de vagas, o que vem atender em parte à explosão da procura por parte de jovens que concluem o fundamental e já estão de olho nas oportunidades do mercado de trabalho.

Com sua permanente preocupação com o futuro dos jovens, o CIEE só tem a aplaudir a estratégia 3.6 da Meta 3 do PNE, dedicada ao ensino médio. Ela consagra expressamente o estímulo à expansão do estágio para estudantes do ensino médio profissionalizante e regular, preservando seu caráter pedagógico e alinhando-o à grade curricular da série em curso, "visando ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional, à contextualização curricular e ao desenvolvimento do estudante para a vida cidadã e do trabalho". Exatamente o que ocorre com os programas que administra em total sintonia com a Lei do Estágio (11.788/2008).






quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O FUTEBOL DE PONTA GROSSA


A cidade de Ponta Grossa, sempre teve o reconhecimento da imprensa estadual no que se refere à prática do futebol. No ano de 1923, o Operário Ferroviário teve seu primeiro vice-campeonato paranaense, registrando assim o primeiro grande feito de um time ponta-grossense no certamente estadual.

O ápice dos times princesinos deu-se entre fins da década de 20 e 30. Entre 1928 e 1937, Operário, Olinda, Nova Rússia e Guarani se revezaram em 2º lugar no certame estadual, acumulando assim, 10 vices-campeonatos paranaenses para a cidade. É interessante notar que Ponta Grossa já teve 4 times profissionais de futebol em período concomitante, numa época em que a cidade não possuía uma dinâmica econômica notável, como tem nos dias atuais.

Deste período em diante, somente o Guarani em 1956 e o Operário em 1958 e 1961 conseguiram um vice-campeonato. Portanto, são aproximadamente 41 anos que Ponta Grossa não tem um time disputando diretamente o título do campeonato paranaense.

Nos últimos anos, tentativas de colocar um novo time na cidade não deram certo. A Pontagrossense na década de 1970 e o Ponta Grossa Esporte Clube mais recentemente, são exemplos de times que surgiram e desapareceram de forma repentina. Para estes, faltou a alma, o espírito de uma equipe como o Operário, que tem raízes históricas e uma relação forte com a população local e até mesmo regional.

Com o retorno do Operário ao futebol profissional na década de 2000, a cidade vê somente neste time a esperança de que Ponta Grossa possa novamente reaparecer com força no cenário estadual.

Porém, no ano de seu centenário, o time vem realizando uma campanha pífia no campeonato paranaense de 2012. Com um orçamento relativamente magro, pouca participação do empresariado local e regional e uma torcida desconfiada com o atual presidente (por erros grotescos de gerenciamento cometidos no passado e no presente) o Operário amarga posição intermediária no certamente estadual.

Para a diretoria, a esperança é de que o público volte a comparecer maçicamente no Germano Kruger e, aliviar as contas do time, que segundo informações estão no vermelho. Outra luz no fim do túnel é a participação na Copa do Brasil, competição que tem início para o alvi-negro de Vila Oficinas no próximo dia 07 de março contra o Juventude do Rio Grande do Sul. Se avançar na competição, o time ponta-grossense recebe cotas da Confederação Brasileira de Futebol, o que de certa forma melhoraria a situação dos cofres do clube.

Para aqueles que torcem pelo Operário e por Ponta Grossa cada vez mais fortes no cenário estadual e nacional, vale a pena dar apoio ao time, comparecer no estádio e vestir a camisa alvi-negra no dia a dia, com o intuito de divulgar as cores do time que representa os Campos Gerais no futebol profissional.

ISONEL SANDINO MENEGUZZO (Professor de Geografia)




quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

SOBRE A BRIGA ENTRE AS TORCIDAS DO OPERÁRIO

Isonel Sandino Meneguzzo

Se já não bastasse a má campanha do Operário no certamente paranaense de 2012, membros das duas torcidas organizadas do time princesino foram atração à parte durante os primeiros minutos do jogo de Paranaguá. Após um instrumento musical de uma das torcidas ter se soltado, o mesmo acabou descendo rolando as arquibancadas e passou a aproximadamente um metro de uma simpatizante da outra torcida organizada que estava posicionada na parte mais inferior das arquibancadas do estádio “Gigante do Itiberê”.

O estopim para a selvageria foi quando um torcedor arremessou o instrumento musical para dentro do campo, numa atitude totalmente deseducada e inconveniente. O mais interessante disso tudo é que este torcedor é estudante universitário e mantém um blog sobre política e cidadania!

Após algumas discussões, um torcedor que acompanhava uma das torcidas atingiu covardemente com um soco um membro da Torcida Fúria Jovem, promovendo um corte e sangramento na cabeça desta pessoa. Consequentemente, mais membros das duas torcidas trocaram chutes e pontapés, promovendo uma imagem ridícula não somente para o Operário como para a cidade de Ponta Grossa.

Em segundos, a Polícia Militar fez a intervenção, acabando com a bizarra cena que os torcedores de ambos os times tiveram que presenciar. Após isso, a PM fez escolta da Torcida Fúria Jovem que estava em menor número, inclusive com crianças, mulheres e idosos.

Cabe a torcida realizar o seu papel de incentivar o time e neste momento protestar pacificamente contra a campanha ridícula que o time vem fazendo neste campeonato paranaense. Além disso, se filmagens ou fotos chegarem à federação paranaense de futebol, o Operário pode até mesmo perder mando de campo, tendo em vista que é proibido o arremesso de objetos dentro do campo. E este ato é um fator complicador, tendo em vista que após isso várias pessoas foram agredidas fisicamente.

Para o jogo de quarta-feira em Ponta Grossa um alerta à diretoria do Operário e ao órgão responsável pela segurança pública: novamente as duas torcidas estarão “lado a lado” e, a possibilidade de novo conflito é real.





Crer e perseverar - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

O ESTADÃO - 05/02/12

Nas duas últimas semanas apareceram alguns artigos na mídia que ressaltam o silêncio das oposições como um risco para a democracia. É inegável que está havendo uma "despolitização" da sociedade não só no Brasil, mas em geral. O "triunfo do mercado" levou às cordas as colorações políticas. Parece que tudo se deve medir pelo crescimento do PIB. Nos países bem-afortunados, ainda que cheios de "malfeitos", não há voz que ressoe contra os governos. Nos que caem em desgraça sem terem feito a "lição de casa" - sem terem gerado um "superávit primário" -, aí sim, os governos em exercício pagam o preço. Caem porque são vistos como incapazes de assegurar o bom pagamento aos mercados. Não importa ser de coloração mais progressista ou mais conservadora. Caem sem que tenha havido um debate político-ideológico que mostre suas fraquezas eventuais, mas porque o rancor das massas gerado pelo mal-estar econômico-financeiro se abate sobre os líderes do momento.

O Brasil esteve até agora ao abrigo da tempestade que desabou sobre os mercados dos Estados Unidos e da Europa. Por mais que nossos governos errem, os decibéis das vozes oposicionistas são insuficientes para comover as multidões. Pior ainda quando essas vozes estão roucas ou preferem sussurrar. Como entramos em céu de brigadeiro a partir de 2004, tanto pela virtude do que fizemos na década anterior como pelos acertos posteriores e graças à ajuda dos chineses, fazer oposição tornou-se um ato de contrição.

Mas que importa? Também era assim no período do milagre dos anos 1970, durante o regime militar. A oposição nada podia esperar, a não ser censura, cadeia ou tortura. Não obstante, não calou. Colheu derrotas eleitorais e políticas, resistiu até que, noutra conjuntura, venceu. Hoje a situação é infinitamente mais fácil e confortável. Só que falta, o que antes sobrava, a chama de um ideal: queríamos reabrir o sistema político. Hoje o que queremos? Ganhar as eleições? Mas para quê?

Eis o enigma. Não faltam candidatos. Ainda recentemente, em conversa analítica que fiz com uma jornalista da The Economist, ressaltei que há vários, e não só no PSDB. Neste o mais conhecido e denso, José Serra, amadurecido por êxitos e derrotas, não conseguiu deixar clara em 2010 sua mensagem, embora tenha obtido 44% dos votos. O isolamento em que sua campanha ficou, dadas as dissonâncias internas do PSDB e as dificuldades para fazer alianças políticas, impediu a vitória. Se o candidato tivesse expressado com mais força as suas convicções, mesmo desconsiderando o que as pesquisas de opinião indicavam ser a demanda do eleitorado, poderia ter sensibilizado as massas.

Quem sabe por este caminho se decifre o enigma: falar à sociedade, com força e veemência, tudo o que se sente, inclusive a indignação pela corrupção, pela incompetência administrativa e, sobretudo, pelo escândalo de uma sociedade que se faz mais rica com um governo que distribui muito pouco, faz propaganda do que não concretizou inteiramente e coloca no altar os "vencedores", mesmo quando estes ganham à custa do dinheiro do povo, que paga impostos cada vez mais regressivos.

Outro, mais óbvio provável candidato, graças à posição eleitoral dominante em seu Estado e ao seu estilo de fazer política, Aécio Neves, está em fase de teste: transmitirá uma mensagem que salte os muros do Congresso e chegue às ruas? Encarnará a mudança com a energia necessária e o desprendimento que é o motor da ousadia, arriscando-se a dizer verdades inconvenientes, e aparentemente custosas eleitoralmente, para que o povo sinta que existe "outro lado" e confie nele para abrir perspectivas melhores?

Refiro-me aos dois por serem os mais cogitados no momento. Não são os nomes que importam agora, mas a disposição de correr riscos e de sair da armadilha da briga partidário-eleitoral para entrar na grande cena da opinião pública e - façamos a distinção - da opinião popular. É evidente que o governo, qualquer governo, leva vantagens, principalmente desde que o lulopetismo instalou a regra de que tudo vale para manter o poder: clientelismo, propaganda abusiva, uso continuado da máquina pública, etc. Entretanto, também no regime militar o governo levava vantagens. Mas nós lutávamos não para ganhar no dia seguinte, mas para criar um horizonte de alternativas.

A elucidação do enigma requer perseverança e coragem. Eu ganhei duas eleições no primeiro turno contra Lula porque tinha uma mensagem: a da estabilização da economia com o Real e o início da distribuição de rendas. Mesmo sem propagandear, a pobreza deixou de atingir mais de 15 milhões de pessoas com a estabilização dos preços e a política de aumentos reais do salário mínimo, que começou em 1994. Não foi fácil ganhar os apoios para pôr em ação o Plano Real, precisei brigar muito. Lula ganhou porque pregou, no início no deserto, ser ele o portador da mensagem que levaria a um mundo melhor. Perseverou, rodou o Brasil, abandonou a tribuna parlamentar e, no começo, desprezou a mídia. Mostrou-se audacioso, desprendido e generoso. Se sinceramente ou não, é outra questão: a Carta aos Brasileiros está à disposição dos historiadores para que julguem. Mas o povo acreditou.

É esta a verdadeira questão da oposição, e deveria ser a preocupação dos pré-candidatos: mergulhar nos problemas do povo, falar de modo simples o que sentem e o que se pode fazer. Sem meias palavras e sem insultos. Sem falácia, com muita convicção. Politizar a cena pública para assegurar a democracia. Dizer quem é bom, ou melhor, o que é bom e o que é mau. Mas dizer nas universidades, nas organizações populares, nas associações profissionais, nas pequenas e médias cidades. Preparar nelas a mensagem - o discurso - para mais tarde falar com credibilidade na grande cena nacional.

Quem o fizer terá chances de ser o candidato da oposição e, eventualmente, ganhar as eleições. Isso independe de manobras de cúpula, simpatias e interesses menores.

Não se pense que nossa realidade será sempre o que hoje parece ser: uma sociedade conformada, legendas eleitorais disputando mordomias no dá-cá-toma-lá entre governo e congressistas e a voz do governo a tonitruar como um trovão divino, a que todos se curvam prestimosos. É só mudar a conjuntura e a cena muda, se a oposição apresentar alternativas. Mesmo que não mude, nada deve alterar nossos valores e convicções. Continuemos com eles, pois "água mole em pedra dura tanto bate até que fura". 



sábado, 4 de fevereiro de 2012

Inadimplência na sala de aula

Autor(es): Mariana Branco
Correio Braziliense - 02/02/2012

Mesmo com atraso no pagamento das mensalidades, escolas são proibidas de reter documentos e negar a transferência dos alunos. Mas não estão impedidas de negativar os nomes dos pais

As escolas particulares recomeçaram as aulas esta semana com mais de 300 mil estudantes. Com o retorno, os pais precisam se programar para manter em dia o pagamento das mensalidades escolares que, este ano, estão entre 11% e 14% mais caras. Nem todos conseguem. A inadimplência dos colégios particulares oscila de 15% a 25%, índices até cinco vezes maiores do que os do comércio. Mas os que têm dificuldade em quitar dívidas com as escolas possuem mais direitos que quem faz operações comerciais comuns, pois o acesso à educação é assegurado pela Constituição Federal. Especialistas aconselham pais e responsáveis e conhecerem a legislação sobre o assunto e tentarem negociar o débito quando possível.

A Lei nº 9.870, em vigor desde 1999, rege as relações contratuais entre os colégios e os pais dos alunos. Uma das questões que a norma regulou foi a forma de cobrança. Antes, práticas como impedir o estudante de fazer provas ou negar a liberação de documentos por causa da dívida eram comuns. Atualmente, procedimentos dessa natureza são proibidos (leia quadro). A escola que recorrer a eles para forçar o pagamento pode ser punida. Quem se sentir lesado deve procurar os órgãos de defesa do consumidor ou mover ação na Justiça.

O diretor-geral do Instituto de Defesa do Consumidor do Distrito Federal (Procon-DF), Oswaldo Morais, explica que quem desobedecer à legislação pode ser penalizado com multa de R$ 414 a R$ 6 milhões. Outra regra para a instituição de ensino é que ela não pode pedir ao inadimplente que se retire antes do fim do ano letivo. Mas está autorizada a não renovar a matrícula quando o período seguinte começar. Oswaldo Morais diz que o momento da transferência dos devedores para outras escolas provoca reclamações dos pais. "A instituição diz que só libera a documentação após o inadimplente efetuar o pagamento. E isso não pode", alerta.

Discussão
Além de não renovar a matrícula de quem não paga, os estabelecimentos têm direito a executar débitos na Justiça. Uma das medidas adotadas por eles para prevenir a inadimplência causa discussão. As instituições incluem o nome dos maus pagadores nos cadastros do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Centralizadora dos Serviços dos Bancos S.A (Serasa). Graças à prática, as pessoas correm o risco de ter a matrícula recusada em todo o mercado de ensino privado.

Segundo os especialistas, nada impede que a escola não aceite firmar contrato com quem está negativado. "A princípio, não teria impedimento na lei. Isso é próprio da atividade empresarial", analisa José Geraldo Tardin, presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec). Maria Inês Dolci, coordenadora da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), diz que a prática não é irregular. Por isso, acrescenta ela, é importante o consumidor zelar pelo bom nome também nas instituições de ensino. "O que temos orientado aos pais é para não deixar chegar a esse ponto. Se estiverem com dificuldades de pagar, devem avisar a escola e tentar um acordo", sugere.

A presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Distrito Federal (Sinepe-DF), Fátima de Mello Franco, garante que há espaço para negociação. "A gente sabe muito bem que pode haver uma emergência, um problema financeiro", diz. O presidente da Associação de Pais de Alunos do DF (Aspa-DF), Luiz Cláudio Megioren, afirma que, em geral, os donos das escolas são cuidadosos na hora de resolver questões de débitos. Mas reclama que alguns colégios ainda causam constrangimento aos pais e alunos.

"Não é certo constranger a criança. Ela deve ser preservada em todas as circunstâncias", ressalta a advogada Giovanna Larizzatti, 33 anos, mãe de Clara, 4. O administrador Thiago Lima Perdigão, 30, padrasto de Maria Clara, 5, acredita que o diálogo entre pais e as escolas é fundamental. "Se ainda assim não der certo, tudo bem negativar o nome", acredita.

Colaborou Roberta Abreu

Informe-se
Procon: 151







Novo perfil da ciência :

Autor(es): Wanderley de Souza
O Globo - 02/02/2012

Devido a razões históricas, a atividade científica no Brasil se concentrou principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em 1995, São Paulo contava com cerca de 40% dos grupos de pesquisa do país, tal como reconhecidos pelo CNPq e com 47% das publicações científicas brasileiras à época. O Rio de Janeiro ocupava a segunda posição, contando com 19% dos grupos de pesquisa e contribuindo com 22% dos artigos publicados.
Estes dados indicavam haver uma grande concentração da atividade científica no Brasil. Felizmente, iniciativas tomadas ao longo dos últimos 15 anos vêm, gradativamente, mudando o quadro da distribuição da atividade científica no Brasil. Entre elas, destacamos: (a) a exigência dos títulos de mestrado e doutorado para as posições acadêmicas nas universidades e institutos de pesquisa em todo o país; (b) o estímulo da Capes, do CNPq e de fundações estaduais de apoio à pesquisa para a criação de cursos de pós-graduação em todos os estados; (c) o estabelecimento pelo MCT, em 1999, dos fundos setoriais, com previsão legal de que 30% dos recursos deveriam ser aplicados em instituições do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste (como consequência, no período 2000-2010 houve um investimento da ordem de R$ 9 bilhões, sendo que um terço em instituições das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste), (d) a decisão do MCT, em 2003, de estabelecer convênios com as FAPs, repassando recursos desde que com contrapartida financeira; e (e) a criação pelo CNPq e pela Capes de programas conhecidos como "casadinho" e Procad, em que cursos de pós-graduação de excelência apoiam os cursos emergentes. Estas medidas estão levando a uma mudança significativa no quadro da atividade científica brasileira.
Os dados de 2010 apontam para a continuidade da liderança de São Paulo, mas agora com 23% dos grupos de pesquisa e 37,4% dos artigos publicados. O Rio vem em segundo lugar, com 12% dos grupos de pesquisa e 13,4% dos artigos publicados. Minas Gerais e Rio Grande do Sul ocupam a terceira e quarta posições, com 9,7% e 12% dos grupos de pesquisa e 10,6% e 10,5% dos artigos publicados, respectivamente. Ainda persiste um quadro de concentração, mas, obviamente, menos dependente de São Paulo e Rio de Janeiro.
Por outro lado, a análise da série histórica indica uma tendência de maior distribuição da atividade científica nos estados do Paraná, Ceará, Santa Catarina, Pernambuco, Bahia e no Distrito Federal. É importante assinalar que a queda no percentual relativo de publicações em São Paulo (de 46,73% para 37,4%) e Rio (de 22% para 13,3%) não reflete um decréscimo na atividade científica desses estados. Todos cresceram significativamente em valores absolutos, contribuindo para o aumento crescente da produção científica brasileira, que passou da 23 posição em 2002 para a 13 em 2009.







O jornalismo e a política no cinema

Nas Entrelinhas
Autor(es): Leonardo Cavalcanti
Correio Braziliense - 04/02/2012

Nas telas e na vida real, vale a crença de que denúncias contra malfeitos devem vir à tona de uma maneira ou de outra. Se acreditar em tal coisa é ser inocente ou romântico, melhor assim

Há certa inocência no filme Os homens que não amavam as mulheres. Uma inocência romântica de que o jornalismo vence no final. E isso vale cada minuto da película: a chance de o espectador acreditar que uma reportagem poderá mudar algo e revelar negociatas e malfeitos até então escondidos do público.

O filme, como se sabe, é uma adaptação de três livros de Stieg Larsson, jornalista e ativista político sueco. Em 2004, ao entregar à editora a trilogia chamada Millennium, Larsson sofreu ataque cardíaco e morreu. As vendas dos três volumes, com média de 500 páginas cada, já ultrapassam os R$ 50 milhões. Continuam em alta ainda mais com o lançamento do filme, em cartaz desde a semana passada no Brasil.

Tanto o livro como o filme começam com um erro. O personagem principal, o repórter Mikael Blomkvist, foi condenado a três meses de prisão por difamar um megaempresário. A reportagem equivocada abala não só a credibilidade de Mikael mas também da pequena e combativa revista onde ele trabalha.

Mikael acha a condenação injusta, mas assume o equívoco, larga a revista e aceita uma oferta para investigar a suposta morte de uma menina, ocorrida quatro décadas antes. Não se trata apenas de um livro de mistérios. Larsson fala sobre corrupção, tecnologia e jornalismo. Ele pensa jornal como poucos.

Não deve ter sido fácil adaptar a trilogia para o cinema. Antes da versão com Daniel Craig (o atual James Bond), os suecos tentaram levar, em 2009, os livros para as telas. O impacto não é o mesmo da nova versão. Até porque tratar de jornalismo numa película não é uma das atividades mais simples. Mesmo nesta última tentativa muita coisa, é evidente, ficou de fora.

Um exemplo é a crítica de Larsson a repórteres de economia, com os quais o autor tem broncas sérias: "Jamais ocorreria a um jornalista político transformar em ícone um chefe de partido, e Mikael tinha dificuldade em entender por que tantos repórteres econômicos, dos mais importantes veículos do país, estavam prontos a elevar medíocres arrivistas à categoria de vedetes do sowbiz", diz no livro. O recado é claro: desconfiem sempre das fontes. Só assim será possível fazer boas reportagens.

Detenho-me sobre Larsson e cito livro e filme — que possivelmente você, leitor, já tenha lido e visto — para tratar de investigações jornalísticas, algo difícil e caro de fazer. Mas em que os jornais brasileiros, incluindo este Correio, investem. Nos últimos 12 meses, há mais do que exemplos disso. Há quedas de ministros envolvidos em escândalos revelados por jornais e revistas. O último, Mário Negromonte, das Cidades.

Por mais que o agora ex-ministro tente demonstrar que caiu por uma mera falta de sustentação política, os fatos mostram que o desgaste começou depois de reportagens mostrando privilégios à base eleitoral de Negromonte na Bahia. Principalmente na cidade de Glória, onde a mulher dele é prefeita.

Reportagem deste Correio publicada em 28 de agosto do ano passado revelou por exemplo que, além de receber emendas de Negromonte quando ele era deputado federal, a prefeitura contratou empresa de fachada para construir um posto de saúde. Depois de cinco longos meses, o jornalismo venceu. Se acreditar em tal trabalho é ser inocente ou romântico, melhor. De mais a mais, o romantismo da imprensa precisa permanecer, principalmente quando o substituto de Negromonte vem da própria bancada.

Outra coisa
Hoje é o dia do Suvaco da Asa, o bloco responsável por mostrar que, se Brasília não tem carnaval, pelo menos um sábado animado de prévia momesca é possível ver na capital da República. A festa, ali no Cruzeiro, começa cedo, às 10h, com o Suvaquinho, para as crianças. Depois, é a vez dos suvaqueiros profissionais. Aproveite e brinque na paz.