Autor(es): Agencia o Globo
O Globo - 21/11/2010
Apresidente eleita, Dilma Rousseff, dias atrás, saiu-se com uma frase preocupante, no sentido de que a educação não seria problema em seu governo, porque estava bem.
Eis que uma notícia vem corrigir a anterior: Dilma diz que ministérios como Saúde e Educação não ficarão entregues aos sabores da política, e serão preenchidos por critérios técnicos, dentro da cota pessoal da presidente.
Bem melhor, se for assim. É preciso dizer e repetir que educação é matéria de salvação pública.
O país custa muito a aceitar essa verdade. Antes dos dois governos FHC, educação era simples peça do jogo político. Nomeava-se sem critério para a área; e a média de permanência no cargo era de ano e meio - prova suficiente de que o assunto não era levado a sério.
Nos dois governos FHC, a pasta ficou com o ex-ministro Paulo Renato, que entendia do assunto, e passou longos anos no cargo. Foi o que bastou para que alguns resultados bons se apresentassem, como, por exemplo, a quase universalização do ensino básico. Isso não tinha uma vantagem apenas pedagógica: representava, também, para as crianças, a garantia de uma refeição diária.
Isto feito, resta quase tudo por fazer. Pois essa educação básica, perto de ser universalizada, é de qualidade lastimável. E isso está provocando todas as distorções. Se uma criança, ou adolescente, sai dos ciclos básicos sem saber ler ou escrever corretamente, o empregador já não aceita o ciclo básico como padrão: passa a pedir curso universitário.
Idealmente, seria bom que todos fizessem universidade. Mas, até onde a vista alcança, a proposta é utópica. E nem é certo que todas as pessoas nasceram para frequentar universidades. Numa infinidade de casos, um bom curso técnico atenderia a vastos setores do mercado de trabalho, para os quais o diploma superior seria um luxo desnecessário.
O governo Lula passou oito anos discutindo universidade. Esse é um dos paradoxos de um governo que se afirmava defensor intransigente das camadas mais pobres.
Os mais pobres não estão na universidade. O que significa que, em matéria de educação, ficaram desamparados no governo que está para acabar.
O governo faz programas sociais que supõem a frequência à escola. Mas, e se essa frequência não resolve o problema, e acaba por criar o semianalfabeto, ou o semialfabetizado, o que dá no mesmo?
Em nenhum momento se lançou a educação básica como campanha de interesse nacional. Essa ofensiva ampla teria de ser liderada pelo governo federal - ainda que, constitucionalmente, a ele caiba o nível superior, ficando o ensino básico sob a responsabilidade de estados e municípios. Só uma intensa campanha nacional tiraria o ensino básico do atoleiro.
O mercado de trabalho já se ressente disso. No contexto de uma economia que quer crescer, que precisa crescer, falta mão de obra qualificada. Engenheiro virou artigo de luxo. Vamos voltar aos tempos de D. Pedro II, em que se fazia campanha para atrair imigrantes? Ou isso já nem é necessário, dada a disponibilidade de mão de obra chinesa, coreana, indiana?
Nenhum comentário:
Postar um comentário