Desigualdade faz País recuar e rendimento é área mais precária
O Estado de S. Paulo - 05/11/2010
País sobe quatro posições em um ano; no entanto, quando a ONU considera a distribuição de renda, média cai
O Brasil foi o país que mais avançou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas. Ocupa a 73ª colocação, entre 169 países - desempenho suficiente para que ele integre o grupo de nações consideradas de desenvolvimento humano elevado. Além do Brasil, outros 25 melhoraram a classificação. No entanto, quando são levadas em conta as desigualdades regionais - como a concentração de riqueza em uma parcela pequena da população, ou a falta de acesso universal a educação, saúde de qualidade ou saneamento básico -, o País perde 15 posições. Este segundo ranking, batizado de IDH-D, foi elaborado pela primeira vez neste ano, e por isso não é possível fazer comparações. No Brasil, 85% da população sofre de pobreza multidimensional (em várias áreas).
Dois novos índices apontam que distribuição de renda ruim faz IDH cair e que 8,5% da população sofre de pobreza multidimensional em várias áreas
Lígia Formenti
BRASÍLIA
O Brasil perderia 15 posições na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), caso fossem consideradas as desigualdades existentes no País.
Novo índice desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas, batizado de IDH-D, mostra em que áreas as diferenças são mais agudas e qual impacto elas teriam se fossem levadas em consideração. O Brasil, por exemplo, teria um desconto de 27,2% no índice geral: sua nota cairia de 0,699 para 0,509.
"O IDH-D é o nível de desenvolvimento humano real", explica o relatório deste ano. Isso porque ele não considera apenas a média de desenvolvimento, mas também a forma como é feita a distribuição dos recursos, seja na saúde, na educação ou no rendimento da população.
De acordo com novo indicador, a maior desigualdade no Brasil é registrada no rendimento: a perda provocada pelas diferenças nesta área seria de 37,6%. Em segundo lugar, vem a educação, com perda de 25,7%. O menor impacto foi registrado na área da saúde: 16,5%.
"Não há dúvidas de que o Brasil ainda apresenta grande desigualdade. Mas a situação já foi pior", resume o coordenador do relatório, Flávio Comim.
Caso o IDHD fosse aplicado em 2000, a perda do País seria de 31%. Em 2005, esse índice cairia para 28,5%.
A redução, que na avaliação de Comim é bastante significativa, é resultado de uma série de políticas adotadas nos últimos anos: Bolsa-Família, aumento do salário mínimo e a própria ampliação do mercado interno.
"Mesmo a recessão internacional, que poderia ter atuado desfavoravelmente, reduzindo o mercado externo, não impediu a redução da desigualdade", completa o pesquisador.
O ranking de desigualdade foi preparado a partir de dados detalhados do País. Eles permitem uma avaliação mais precisa, mas têm um inconveniente: nem todos os países têm informações necessárias. A saída foi reduzir o número de países analisados. Trinta dos 169 países que participaram do IDH ficaram de fora no IDH-D por falta de dados.
"Os índices reafirmam uma desigualdade que já é apontada por outros trabalhos", afirma o chefe de pesquisa do escritório mundial do Relatório de Desenvolvimento Humano, Francisco Rodriguez.
Embora elevada, a desigualdade apresentada pelo Brasil é menor do que apresentada por alguns países da América Latina. Bolívia, por exemplo, teria uma perda global de 38% no IDH, o que levaria o país a cair 17 posições na classificação da ONU. A Argentina, teria um desconto de 27,5% na nota geral e cairia 21 posições. Dos 15 países mais desiguais apontados pelo ranking, 9 estão o bloco latino-americano.
Mas é na África que as diferenças são ainda mais impactantes. Moçambique, por exemplo, teria uma perda no IDH de 45,3%, Guiné Bissau de 42,4% e República Centro Africana, de 42%.
Pobreza. Pelo índice, é possível saber que 8,5% da população brasileira sofre vários reflexos da pobreza de forma simultânea - como deficiências na saúde, educação, dificuldades de acesso a serviços de água e esgoto, eletricidade. É a chamada pobreza multidimensional. "As privações se sobrepõem. A ideia do índice foi verificar a frequência e intensidade dos problemas vividos pela parcela mais pobre da sociedade", explica Comim.
O Índice de Pobreza Dimensional, como foi batizado, varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, pior a situação do País. Nesta primeira edição, o índice do Brasil foi de 0,039. "Um valor baixo, em termos internacionais", afirma Isabel Pereira, integrante da equipe que preparou o relatório. Niger, por exemplo, tem 0,642. O resultado brasileiro, no entanto, é 2,6 vezes maior do que o mexicano e 3,5 maior do que o argentino.
O desempenho também preocupa quando se avalia a intensidade da pobreza. O porcentual alcançado foi de 46%. Um dos maiores índices no grupo de países de desenvolvimento humano elevado.
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