sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A escola em apoio à família

Gazeta do Povo 12/11/2010 | Paulo Sertek 



Sabe-se que o investimento em sintonia com as famílias é o que se reverte em resultados para todos os en­­­volvidos no processo educativo

Na Carta às Famílias em 2-II-1994 o então Papa João Paulo II destacava que: “Os pais são os primeiros e principais educadores dos próprios filhos e têm também uma competência fundamental: são educadores por serem pais.” Esse direito-dever dos pais deve ser ajudado e potenciado para a obtenção de melhores resultados educativos. A sociedade contemporânea exige dos seus cidadãos um sem fim de conhecimentos para que se possam inserir totalmente na sociedade. Não é tarefa fácil a dos pais.

Em qualquer modelo educativo que se adote, a missão educativa deve estar a serviço das famílias. João Paulo II ensinava também que “os pais não são capazes de satisfazer a todas as exigências do processo educativo inteiro, especialmente no que toca à instrução e ao amplo setor da sociabilização. A subsidiariedade completa, assim, o amor paterno e materno, confirmando o seu caráter fundamental, porque qualquer outro participante no processo educativo não pode operar senão em nome dos pais, com o seu consenso e, em certa medida, até mesmo por seu encargo.”

A escola, na atualidade, encontra uma grande oportunidade de inovação disruptiva, pois pode, na sua proposta de valor, oferecer o conceito de cocriação, permitindo agregar a vontade de cooperar dos pais com as suas possibilidades de tempo e formação cultural. Em vez de se oferecerem mais “elementos tecnológicos”, para o processo educativo, poderiam concentrar-se no que agrega maior valor humano, como são as estratégias e recursos para a interação entre a escola e a família.

Essas novas estratégias exigem a construção de um ideário de formação total, apoiada em valores morais universais, como por exemplo, a regra áurea: “querer o bem do outro como se quer o próprio bem”, e comprometer os pais com a formação dos valores morais na própria casa, de modo a haver sintonia entre o que se aprende na escola e o que se pratica em casa.

A adesão das famílias passa pelo processo de mudança de mentalidade que exige: a informação para a aceitação da mudança de paradigma; o querer mudar para isso ter as disposições de ação e participação, e, por último, o desenvolver hábitos ou virtudes. Sabe-se que o investimento em sintonia com as famílias é o que se reverte em resultados para todos os envolvidos no processo educativo: estudantes, pais e mães, professores, donos de escola, sociedade etc.

Hoje há uma demanda por ensino de qualidade e professores competentes, não obstante, apenas se desenvolvem as estratégias da “pedagogia visível” e descuida-se da “educação invisível”, que se realiza pelo exemplo de virtudes dos pais, dos professores e dos funcionários das escolas. Os professores, nesse novo paradigma, atuam principalmente como delegados dos pais e comprometidos com o ideário escolar sobre as questões acadêmicas e com os valores e virtudes pessoais e sociais. Essa necessidade premente da sociedade se aguça especialmente por causa da desorientação das famílias com relação à educação das virtudes.

O Papa Bento XVI destaca que “hoje cada obra de educação parece tornar-se cada vez mais árdua e precária”, isso se deve à crise de valores que permeia a sociedade cujo credo é o do relativismo moral. Conclui Bento XVI que “a educação tende amplamente a reduzir-se à transmissão de determinadas habilidades, ou capacidades de fazer, enquanto se procura anular o desejo de felicidade das novas gerações, cumulando-as de objetos de consumo e de gratificações efêmeras”.

Há no mundo inteiro escolas com um modelo educativo em que o princípio orientador é o de se colocar em primeiro lugar os pais, depois os professores e por fim, e não menos importante, os estudantes. Esse modelo de escola se desenvolve pela abordagem personalizada, em que se dá ênfase à educação da pessoa integralmente – dentro dos princípios gerais dos direitos humanos universais. A educação personalizada tem como instrumento a preceptoria, que é a estratégia de interação, integração e desenvolvimento personalizado. Consiste em dar apoio e orientações personalizadas a todos os estudantes e famílias, em um projeto comum.

Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR e autor dos livros Responsabilidade Social e Competência Interpessoal; Empreendedorismo; e Administração e Planejamento Estratégico. E-mail paulo-sertek@uol.com.br

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