domingo, 31 de outubro de 2010

Ciências Políticas podem virar disciplina

Projeto de lei prevê obrigatoriedade do ensino de política em disciplina exclusiva na grade escolar

Gzeta do Povo 20/10/2010 | Marina Fabri

Fale conoscoRSSImprimirEnviar por emailReceba notícias pelo celularReceba boletinsAumentar letraDiminuir letraDepois da inclusão das disciplinas de Sociologia e Filosofia na grade escolar em 2008, tramita em caráter conclusivo na Câmara o Projeto de Lei 7746/10, que prevê a entrada de Ciências Políticas no calendário do ensino médio. De acordo com o projeto, de autoria do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), os conteú­dos de Sociologia e Filosofia “não abarcam algumas noções imprescindíveis para a compreensão da realidade política brasileira presentes na área de estudo da Ciência Política.”

A ideia causa divergência entre professores. Maria Auxiliadora Schmidt, que é historiadora e coordena o Laboratório de Pesquisa em Educação e História do Departa­men­to de Teoria e Prática de Ensino (DTPEN) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), discorda da posição do deputado. “As disciplinas surgem das próprias ciências que foram se consolidando, como a Física, a Química, a Matemática, por exemplo. Sociologia é uma ciência séria e necessária para o processo educacional de hoje e ela já inclui noções de Ciências Políticas”, diz.

Mas se o assunto é a prática dentro de sala de aula, o professor Syllas Moreira da Fonseca Neto diz que a situação é diferente. Responsável pelas disciplinas de História e Sociologia do colégio Novo Ateneu, de Curitiba, ele é a favor da mudança proposta pelo projeto de lei. Para ele, a inclusão complementaria o conteúdo atual. “Existe uma gama incrível de assuntos relacionados às Ciências Políticas que temos que deixar de fora por falta de tempo – em duas aulas tivemos que tratar de conceitos como democracia e autoritarismo, o que não é suficiente para formar a consciência dos alunos quanto a isso”, explica.

Alguns desejos do professor, como organizar uma votação simulada e trabalhar mais a fundo autores clássicos como Maquiavel, por exemplo, são ideias para uma grade que reserve um tempo maior para o assunto.

Interdisciplinar

A modificação na grade horária não alteraria os calendários escolares apenas das disciplinas de Sociologia e Filosofia. No Colégio Estadual Padre Claudio Moreli, o professor Luciano Ezequiel Kaminski, responsável pelas duas matérias, diz que há questões referentes à disciplina também em História e Geografia. Para ele, não é necessário o desmembramento da disciplina, contanto que haja um esforço interdisciplinar para a inclusão do tema. “Enquanto em Filosofia tratamos das noções de poder, direito e cidadania, em Sociologia abordamos o papel do Estado. Em História, essas noções devem ser contextualizadas e, em Geografia, colocadas no espaço, por meio da geopolítica”, diz.

Segundo o Projeto de Lei, a disciplina de Ciências Políticas abrangeria temas como história do voto, atribuições dos três poderes e de cada cargo político, história da administração pública e sistemas políticos.

Para o professor Bernardo Kestring, técnico pedagógico da disciplina de Filosofia da Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED), os assuntos são suficientes para um curso de alguns dias ou de um fim de semana, mas não para a inclusão de uma nova disciplina no calendário escolar. Para ele, ainda é cedo para iniciar uma discussão a respeito da alteração na grade horária. “As disciplinas de Socio­logia e de Filosofia são novas. Só vamos notar algum reflexo na atitude dos jovens decorrente dessa nova grade curricular daqui dez anos”, explica.

A proposta do deputado Ronaldo Caiado tramita em caráter conclusivo, ou seja, dispensa a votação do Plenário e depende apenas da aprovação das comissões que irão analisá-la. No caso, são as de Educação e Cultura e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

História
Educação Moral e Cívica

Nem Filosofia, nem Sociologia, nem Ciências Políticas. A disciplina de Educação Moral e Cívica, como explica a professora Maria Auxiliadora Schmidt, foi criada no início do século 20 e compreendia noções ligadas à História e à Geografia, mas em um contexto diferente, como amor à pátria, atos institucionais, datas comemorativas, heróis da nação.

Tanto ela quanto as disciplinas de Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e a de Estudos de Problemas Brasileiros, que foram criadas durante a ditadura militar, foram usadas para transmissão de ideologias de acordo com o contexto da época. A professora explica que, “como a Sociologia tem hoje o papel de fornecer ferramentas para a compreensão da realidade, a Educação Moral e Cívica também tinha – com a diferença de que os livros presisavam ser aprovados pela censura.”

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