Gazeta do Povo 05/10/2010
Fechadas as urnas, ontem foi dia de vencedores e perdedores nas eleições reclamarem das divergências entre os números das pesquisas e os resultados da votação. Eleito para a Câmara dos Deputados pelo PPS, Rubens Bueno disse já está articulando com a bancada federal uma investigação sobre a conduta dos institutos de pesquisa em todo país. “Não podemos tolerar números completamente distorcidos da realidade”, afirmou Bueno, que também pretende levar o assunto à executiva nacional do PPS, com quem se reúne hoje. O deputado Abelardo Lupion (DEM), reeleito à Câmara Federal, prometeu apresentar um projeto de lei para impedir a divulgação de pesquisas eleitorais 15 dias antes do pleito.
Da Assembleia Legislativa também partiram ataques aos institutos de pesquisa. Na retomada dos trabalhos da Casa, depois de 20 dias de recesso branco, o deputado Ademar Traiano (PSDB) subiu à tribuna para reclamar dos resultados apresentados pelos levantamentos realizados por institutos nacionais. “O Ibope acabou tirando uma vaga do Senado, que poderia ser do Gustavo [Fruet]”, disse, em referência à pesquisa Ibope divulgada no último sábado.
A reclamação de Traiano foi acompanhada pelo presidente estadual do PSDB, Valdir Rossoni. O deputado voltou a afirmar que a decisão de contestar na Justiça as pesquisas eleitorais foi do partido e que não se arrependia da medida. A campanha do governador eleito Beto Richa recorreu à Justiça Eleitoral e conseguiu impedir a divulgação de sete levantamentos de intenção de voto durante a campanha eleitoral.
Richa, que já havia criticado as pesquisas eleitorais no domingo, voltou a fazer ataques ontem. Durante coletiva de imprensa, o tucano disse ainda ter sido prejudicado pelas pesquisas nas eleições de 2002 e 2004. “Pergunto para vocês: o que atrapalha a democracia? A nossa atitude, que foi comprovada na prática, ou a divulgação de pesquisas erradas que podem induzir o eleitor ao erro?”.
O principal alvo de críticas dos parlamentares e do próprio Richa foi a última pesquisa Ibope para o governo do estado e ao Senado. O levantamento foi contestado pela campanha tucana e liberado na noite de sexta-feira por uma liminar do ministro Marco Aurelio Mello do Tribunal Superior Eleitoral. Os dados, que foram recolhidos entre 30 de setembro e 2 de outubro, indicavam um empate entre Beto Richa (PSDB) e Osmar Dias (PDT), com 49% dos votos válidos cada um, o que poderia levar a um segundo turno. Richa levou a eleição no primeiro turno com 52,4% dos votos válidos.
Na avaliação da cientista política Luciana Veiga, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), neste caso o resultado da pesquisa não ficou distante da realidade. “Não me parece que a pesquisa tenha errado tanto para governador. Para mim, a de senador parece um pouco mais problemática”, diz.
Para o Senado, a pesquisa Ibope mostrou Gleisi Hoffmann a frente com 33% das intenções de voto válidos, o ex-governador Roberto Requião (PMDB) em segundo lugar com 31% e Gustavo Fruet (PSDB) com 18%. O resultado nas urnas confirmou a vitória de Gleisi, mas mostrou uma situação muito mais apertada entre Requião e Fruet: 24,8% conta 23,1%, respectivamente. De acordo com Luciana, numa eleição como a deste ano, em que são escolhidos dois senadores, fica mais complicado para os institutos preverem o resultado. Isso porque também é mais complicado para o eleitor fazer a escolha.
Gustavo Fruet (PSDB) diz acreditar que o resultado do Ibope influenciou na sua derrota para o Senado. Na avaliação dele, o porcentual negativo nas pesquisas desmotiva quem está envolvido na campanha, causa perdas de apoios políticos e também influencia no voto de alguns eleitores, que acabam optando pelo candidato que está a frente, com o intuito de “não perder” o voto – o chamado “voto útil”.
Metodologia:
A pesquisa Ibope entrevistou 2.002 eleitores entre 30 de setembro e 2 de outubro. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TRE-PR sob o protocolo: 22.938/2010 e no TSE: 33.339/2010.
Entrevista
Entrevista Márcia Cavallari, diretora do Ibope.
No Paraná houve muita reclamação em relação ao resultado das pesquisas. Uma das reclamações é que os números para o governo e o Senado não bateram com os resultados das urnas. Como explicar as diferenças?
É importante observar que ninguém no Paraná viu a evolução das pesquisas. Não foi observada a tendência. E em pesquisas o que vale é a tendência. Não o número exato, absoluto. Porque a pesquisa não é infalível, ela não é oráculo. Em relação à pesquisa de véspera para governador, ela mostrava um empate acirrado das duas candidaturas [Beto Richa e Osmar Dias]. A pesquisa de boca de urna já mostrava uma vantagem para o Richa, que foi confirmada nas urnas. Os resultados estão dentro da margem de erro da pesquisa.
Mas a diferença para a eleição para o Senado entre os candidatos Gustavo Fruet (PSDB) e Roberto Requião (PMDB) ficou bem acima da margem de erro, por quê?
O Senado é uma eleição muito difícil, são dois candidatos a serem votados. Mas as pesquisas já mostravam que a curva do Requião era uma curva de queda. Também mostravam uma ascensão do Gustavo Fruet e do Ricardo Barros (PP). Além disso, a pesquisa de véspera ainda tinha um índice muito elevado de indecisos. Na pesquisa da véspera, o Gustavo estava com 18% [dos votos válidos], na pesquisa de boca de urna com 22% e ele obteve 23%. Estava dentro da margem. O movimento de crescimento dos candidatos não termina quando eu termino de fazer a minha pesquisa. As pessoas continuam decidindo o seu voto, eu que interrompo o meu processo de perguntar.
Os políticos do estado reclamaram que o resultado da pesquisa de véspera teria influenciado na derrota de Gustavo Fruet. Qual avaliação a senhora faz disso?
Não existe nenhum estudo sobre essa influência direta das pesquisas na decisão de voto do eleitor. Não necessariamente o eleitor decide votar em determinado candidato porque as pesquisas estão mostrando ele à frente. Tanto é que, se fosse assim, quem sai na frente nas pesquisas acabaria sempre na frente. E não é isso que ocorre.
Abstenções influenciam na diferença dos resultados da pesquisa e o das urnas?
Quando a gente está fazendo a pesquisa, entrevista todo mundo porque o voto é obrigatório. Agora, o que a gente vê é que, se a abstenção não ocorre de forma homogênea nos vários segmentos, ela pode ter um efeito. Por exemplo, o eleitor do Requião é um eleitor muito menos urbano, de menor renda. Então, se há um nível de abstenções maior desse perfil de eleitorado e não no eleitorado do Gustavo, isso pode ter um efeito sim. (CO)
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