Reprovação no ensino médio cresce no país
Autor(es): » PAULA FILIZOLA
Correio Braziliense - 17/05/2012
Chega a 13,1% o índice de repetência entre alunos matriculados, o maior desde 1999. Distrito Federal está entre os piores no ranking
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) revelam a maior taxa de reprovação no ensino médio brasileiro desde 1999, primeiro ano disponível para consulta no portal do órgão do Ministério da Educação (MEC). No ano passado, 13,1% dos estudantes matriculados em algum ano do ensino médio no país não obtiveram nota suficiente para passar de ano. O Rio Grande do Sul desponta no ranking em uma situação bem mais alarmante do que a média nacional, em que 20,7% dos alunos repetiram a mesma série cursada em 2010. Com uma taxa de reprovação de 18,5%, o Distrito Federal ocupa a segunda posição da lista — ao lado do Rio de Janeiro — com um dos piores desempenhos do país. O recorte do Inep foi feito com base no Censo Escolar 2011 e leva em consideração as redes pública e privada.
Além do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Distrito Federal, outros 11 estados brasileiros apresentaram índices de reprovação acima da média nacional. Espírito Santo (18,4%), Mato Grosso (18,2%), Mato Grosso do Sul (17,1%) e Bahia (15,6%) também estão no topo da lista. No extremo oposto, encontra-se o Amazonas, com somente 6% de reprovação, seguido do Ceará (6,7%) e Santa Catarina (7,5%). Com 15,8% de reprovação dos alunos do ensino médio, o Centro-Oeste ocupa o primeiro lugar entre as regiões. Em seguida, está o Sudeste, com 14,5%.
O ministro Aloizio Mercadante disse que é necessário um estudo mais aprofundado para poder analisar o aumento da taxa de reprovação. "Oscilações de um ano para outro sempre acontecem. Para avaliar o ensino, a taxa de reprovação é um dos indicadores de fluxo. O outro é a qualidade do aprendizado. Como o ensino médio é predominantemente estadual, e nós tivemos mudanças de governo em muitos estados no ano passado, talvez tenha aí alguma explicação", disse.
Desde que assumiu a pasta, o ministro defende a implementação do programa "Alfabetização na Idade Certa", que prevê um exame nacional para estudantes de 7 e 8 anos, de todas as escolas públicas, para testar o desempenho dos alunos em leitura, redação e matemática. A ideia é garantir que os alunos não deem continuidade aos estudos sem os conhecimentos básicos.
Qualidade
O mau desempenho, segundo especialistas, é explicado por problemas como a falta de investimento nas escolas, um currículo pouco interessante e investimentos baixos na carreira do magistério. Porém, para o professor da faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Célio Cunha, o mais importante a ser analisado é a deficiência na trajetória escolar. Segundo o especialista, é preciso considerar a chamada "qualidade social da educação", que leva em conta o aprendizado infantil e no ensino fundamental, além do perfil social do aluno. "As deficiências vão se acumulando e aparecem lá na frente. São essas fragilidades que têm que ser objeto de estudo. É essencial que essa avaliação influencie os projetos pedagógicos das escolas estaduais e municipais", critica. Cunha defende uma maior sinergia entre as esferas de governo.
Muller Victor Pereira da Silva, 17 anos, relata os dois problemas que o levaram à repetência. Primeiro foi a dificuldade que enfrentou, assim que ingressou no ensino médio, em praticamente todas as matérias. "Eu estudava em um instituto federal bem puxado. Então realmente não dei conta de acompanhar e acabei reprovando", conta o rapaz. A segunda reprovação, de novo no primeiro ano, ele reconhece que ocorreu por falta de interesse. "Perdia aula, não estudava", admite. Agora, cursando o segundo ano do ensino médio em uma escola pública da Asa Sul, Muller conta que está levando a sério os estudos. Entre as disciplinas preferidas, está a temida Física.
Para Davi Araújo Morais, no primeiro ano pela quarta vez, não há matéria difícil ou fácil. "Gosto mesmo de Filosofia. Quero fazer faculdade nessa área e ser professor", afirma. Sobre as quatro reprovações, o garoto de 18 anos, que estuda à noite, não faz rodeios: "Foi matança de aula, vadiagem mesmo", diz Davi, com o livro A divina comédia nas mãos. "Não vou mais reprovar, cansei disso", promete. Atualmente, o adolescente se divide entre as aulas e o estágio remunerado em um tribunal. Quando terminar o contrato, ele quer trabalhar com computação em uma gráfica.
Rede pública
No Distrito Federal, assim como nos outros estados, o problema maior é na rede pública. Na capital federal, em 2011, 22,3% dos estudantes do ensino médio matriculados em instituições públicas reprovaram. Segundo o coordenador de ensino médio da Rede Pública da secretaria de Educação do DF, Gilmar Ribeiro, os indicadores refletem um período de falta de políticas públicas no setor. Dados de 2010 mostram que não houve evolução no desempenho dos últimos dois anos.
Colaborou Renata Mariz
"As deficiências vão se acumulando e aparecem lá na frente. São essas fragilidades que têm que ser objeto de estudo. É essencial que essa avaliação influencie os projetos pedagógicos das escolas estaduais e municipais"
Célio Cunha, professor da Universidade de Brasília
"Como o ensino médio é predominantemente estadual, e nós tivemos mudanças de governo em muitos estados no ano passado, talvez tenha aí alguma explicação"
Aloizio Mercadante, ministro da Educação
Polêmica
O Projeto de Lei nº 1530/11, que está sendo debatido na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, prevê a divulgação nos estabelecimentos de ensino básico do país do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Criado em 2007, o Ideb possui uma escala de zero a dez e mostra a aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. A proposta tem criado polêmica entre os parlamentares. A deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) acredita que isso vai gerar constrangimento entre as escolas.
18,5%
Índice de reprovação entre os estudantes do Distrito Federal
Autor(es): » PAULA FILIZOLA
Correio Braziliense - 17/05/2012
Chega a 13,1% o índice de repetência entre alunos matriculados, o maior desde 1999. Distrito Federal está entre os piores no ranking
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) revelam a maior taxa de reprovação no ensino médio brasileiro desde 1999, primeiro ano disponível para consulta no portal do órgão do Ministério da Educação (MEC). No ano passado, 13,1% dos estudantes matriculados em algum ano do ensino médio no país não obtiveram nota suficiente para passar de ano. O Rio Grande do Sul desponta no ranking em uma situação bem mais alarmante do que a média nacional, em que 20,7% dos alunos repetiram a mesma série cursada em 2010. Com uma taxa de reprovação de 18,5%, o Distrito Federal ocupa a segunda posição da lista — ao lado do Rio de Janeiro — com um dos piores desempenhos do país. O recorte do Inep foi feito com base no Censo Escolar 2011 e leva em consideração as redes pública e privada.
Além do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Distrito Federal, outros 11 estados brasileiros apresentaram índices de reprovação acima da média nacional. Espírito Santo (18,4%), Mato Grosso (18,2%), Mato Grosso do Sul (17,1%) e Bahia (15,6%) também estão no topo da lista. No extremo oposto, encontra-se o Amazonas, com somente 6% de reprovação, seguido do Ceará (6,7%) e Santa Catarina (7,5%). Com 15,8% de reprovação dos alunos do ensino médio, o Centro-Oeste ocupa o primeiro lugar entre as regiões. Em seguida, está o Sudeste, com 14,5%.
O ministro Aloizio Mercadante disse que é necessário um estudo mais aprofundado para poder analisar o aumento da taxa de reprovação. "Oscilações de um ano para outro sempre acontecem. Para avaliar o ensino, a taxa de reprovação é um dos indicadores de fluxo. O outro é a qualidade do aprendizado. Como o ensino médio é predominantemente estadual, e nós tivemos mudanças de governo em muitos estados no ano passado, talvez tenha aí alguma explicação", disse.
Desde que assumiu a pasta, o ministro defende a implementação do programa "Alfabetização na Idade Certa", que prevê um exame nacional para estudantes de 7 e 8 anos, de todas as escolas públicas, para testar o desempenho dos alunos em leitura, redação e matemática. A ideia é garantir que os alunos não deem continuidade aos estudos sem os conhecimentos básicos.
Qualidade
O mau desempenho, segundo especialistas, é explicado por problemas como a falta de investimento nas escolas, um currículo pouco interessante e investimentos baixos na carreira do magistério. Porém, para o professor da faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Célio Cunha, o mais importante a ser analisado é a deficiência na trajetória escolar. Segundo o especialista, é preciso considerar a chamada "qualidade social da educação", que leva em conta o aprendizado infantil e no ensino fundamental, além do perfil social do aluno. "As deficiências vão se acumulando e aparecem lá na frente. São essas fragilidades que têm que ser objeto de estudo. É essencial que essa avaliação influencie os projetos pedagógicos das escolas estaduais e municipais", critica. Cunha defende uma maior sinergia entre as esferas de governo.
Muller Victor Pereira da Silva, 17 anos, relata os dois problemas que o levaram à repetência. Primeiro foi a dificuldade que enfrentou, assim que ingressou no ensino médio, em praticamente todas as matérias. "Eu estudava em um instituto federal bem puxado. Então realmente não dei conta de acompanhar e acabei reprovando", conta o rapaz. A segunda reprovação, de novo no primeiro ano, ele reconhece que ocorreu por falta de interesse. "Perdia aula, não estudava", admite. Agora, cursando o segundo ano do ensino médio em uma escola pública da Asa Sul, Muller conta que está levando a sério os estudos. Entre as disciplinas preferidas, está a temida Física.
Para Davi Araújo Morais, no primeiro ano pela quarta vez, não há matéria difícil ou fácil. "Gosto mesmo de Filosofia. Quero fazer faculdade nessa área e ser professor", afirma. Sobre as quatro reprovações, o garoto de 18 anos, que estuda à noite, não faz rodeios: "Foi matança de aula, vadiagem mesmo", diz Davi, com o livro A divina comédia nas mãos. "Não vou mais reprovar, cansei disso", promete. Atualmente, o adolescente se divide entre as aulas e o estágio remunerado em um tribunal. Quando terminar o contrato, ele quer trabalhar com computação em uma gráfica.
Rede pública
No Distrito Federal, assim como nos outros estados, o problema maior é na rede pública. Na capital federal, em 2011, 22,3% dos estudantes do ensino médio matriculados em instituições públicas reprovaram. Segundo o coordenador de ensino médio da Rede Pública da secretaria de Educação do DF, Gilmar Ribeiro, os indicadores refletem um período de falta de políticas públicas no setor. Dados de 2010 mostram que não houve evolução no desempenho dos últimos dois anos.
Colaborou Renata Mariz
"As deficiências vão se acumulando e aparecem lá na frente. São essas fragilidades que têm que ser objeto de estudo. É essencial que essa avaliação influencie os projetos pedagógicos das escolas estaduais e municipais"
Célio Cunha, professor da Universidade de Brasília
"Como o ensino médio é predominantemente estadual, e nós tivemos mudanças de governo em muitos estados no ano passado, talvez tenha aí alguma explicação"
Aloizio Mercadante, ministro da Educação
Polêmica
O Projeto de Lei nº 1530/11, que está sendo debatido na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, prevê a divulgação nos estabelecimentos de ensino básico do país do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Criado em 2007, o Ideb possui uma escala de zero a dez e mostra a aprovação e média de desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. A proposta tem criado polêmica entre os parlamentares. A deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) acredita que isso vai gerar constrangimento entre as escolas.
18,5%
Índice de reprovação entre os estudantes do Distrito Federal
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