domingo, 22 de abril de 2012

Educação zero

Ari Cunha - Visto, Lido e Ouvido - Ari Cunha
Correio Braziliense - 20/04/2012

Surge em quase todos os estados o espectro da paralisação de trabalhadores. De onde parte ou de onde vem a ordem, faz pensar que a intenção é atrapalhar o curso do país. Pode-se prever que os homens dedicados à força-tarefa estão cruzando os braços, até mesmo os proibidos por lei. Em Brasília, voltam ao trabalho a polícia, enfermeiras e motoristas, enquanto os professores não arredam o pé pelo pequeno aumento prometido e não cumprido pelo governador Agnelo. O fato é que as férias da família com filhos na rede pública de ensino estão comprometidas. Aulas aos sábados servem para repor pouco tempo de paralisação. A criançada está ociosa há mais de um mês; e os pais, com a vida completamente mudada pela falta das aulas. O quadro está sem solução. Quem está de fora consegue enxergar que governo e professores, apesar das desavenças, têm algo em comum. Não pensam na educação em primeiro lugar.

A frase que não foi pronunciada

"Enquanto o PT homenageia Delúbio e tem José Dirceu como o grande andarilho das eleições, botamos para fora a segunda das nossas estrelas, flagrada em denúncias."

José Agripino Maia, presidente do DEM.

Polícia

» Jornais, rádios e televisões criam o hábito de divulgar em todos os horários notas sobre casos de extrema violência. Mães que vendem filhos, pais que espancam e são denunciados pela vizinhança, canibalismo, mortes, assassinatos, sequestros, brigas na rua são alguns exemplos. Quem tinha o hábito de acordar ouvindo rádio e tomar café lendo jornal ou assistindo à tevê sente a mudança. O que era sangrento, agora é normal.

Prestígio

» Voos de Sergipe para Brasília estão cheios de autoridades. Juízes, desembargadores, advogados e amigos vieram para dar um abraço no novo presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Carlos Ayres Britto.

Hino

» Infelizmente, Daniela Mercury criou as notas do Hino Nacional Brasileiro durante a solenidade de posse do ministro Ayres Brito. Mas, como sempre, a simpatia dos intérpretes criativos torna as notas certas detalhes irrelevantes.

Surpresa

» Gravado com a Orquestra Filarmônica de Londres, o Grupo Nero fez sucesso e é tocado constantemente na BBC de Londres. No aniversário de Brasília, a música, pouco conhecida no Brasil, vai tocar durante um grande evento. É contagiante.

Contrassenso

» Mike Krieger, paulista, coautor do Instagram, teve sorte. Registrou o aplicativo nos Estados Unidos. Sua patente é respeitada e por isso foi vendida por US$ 1 bilhão para o Facebook. Tem 30 milhões de usuários. Já Nelio Nicolai, inventor do Bina, brasileiro, sem o aval do próprio país, tem 6 bilhões de usuários pelo planeta e o Brasil deixa de ganhar US$ 6 por usuário/mês. O dispositivo brasileiro está há 20 anos na Justiça, tentando ser reconhecido pelo próprio país. Em contrapartida, recebeu a honraria Wipo, mais alto reconhecimento mundial que um inventor pode receber.

Perigo

» Casos escabrosos — como profissionais que trocam contraste por ácido, que cortam o dedo do paciente ao retirar curativo, que deixam equipamentos cirúrgicos no abdômen do doente — são o futuro do mercado que abriga profissionais formados em faculdades de péssima qualidade. Se houvesse uma prova como a adotada pela OAB, a qualidade dos profissionais passaria por uma seleção importante e favorável à sociedade.

Suspense

» Sem reconhecer o magnífico trabalho de Clara Takaki Brandão, o Ministério da Saúde deixa uma brecha para dúvidas. Por que não adotar a multimistura criada pela pediatra e preferir distribuir alimentos processados por multinacionais?

Abusado

» Incrível a postura tomada pelo Itamaraty no caso do iraniano Hekmatollah Ghorbani. Depois de molestar crianças em uma piscina, a esposa do diplomata apelou para que os pais retirassem a acusação. A explicação diplomática é que há uma diferença cultural. Há mesmo. Para não receber chibatadas no próprio país, a autoridade iraniana fugiu.

História de Brasília

Muita gente veio para cá contra a vontade, por força de lei, sofreu e sofre ainda. Não é justo que haja tratamento diverso, que haja a casta dos privilegiados que, a distância, à beira-mar, desfrutam as mesmas gratificações, as mesmas regalias. (Publicado em 13/5/1961)

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