terça-feira, 21 de setembro de 2010

Onde está o programa de governo do futuro presidente?

Época - 20/09/2010


A duas semanas das eleições, o brasileiro está diante de um cenário inusitado: dos três principais candidatos à Presidência, os dois mais bem colocados nas pesquisas (Dilma Rousseff e José Serra) não apresentaram um programa formal de governo e, depois de alguns tropeços para fingir que cumpriram as obrigações impostas pela lei eleitoral, suas campanhas nem querem ouvir falar nisso. E Marina Silva, a terceira candidata, apresentou um esboço de apenas 38 páginas sobre o que pretende fazer no poder.

Se você, portanto, planeja escolher seu voto com base no compromisso por escrito das candidaturas, está perdido. Os candidatos preferem que suas palavras em discursos ou no horário eleitoral gratuito sirvam de guia ao eleitor. E, evidentemente, nenhuma dessas palavras toca em temas da maior importância para a população, que deveriam ser tratados em qualquer programa de governo decente. Eles pretendem reduzir os impostos? Como vão deter a violência? Pretendem reformar o sistema de saúde? São contra ou a favor de demitir os professores incompetentes para melhorar a qualidade do ensino público? Como pretendem fazer valer a força do Brasil no novo cenário global?

Sobre tudo isso, as principais candidaturas apresentaram apenas palavras vagas e imagens de efeito para impressionar o eleitor. Em vez de discutir os temas relevantes para o futuro da nação, estamos assistindo a uma folclórica troca de insultos e ofensas, com direito à participação especial do próprio presidente da República. Nas palavras certeiras de nosso colunista Fernando Abrucio: Ou estamos na pior crise ética de nossa história, o que me parece um enorme exagero, ou o país está perdendo a chance de discutir seu futuro (leia sua coluna aqui).

Em ÉPOCA, acreditamos que é nosso dever elevar o nível da discussão sobre o futuro do país. Em vez de restringir a cobertura eleitoral a um concurso de beleza entre as personalidades dos candidatos, promovemos, ao longo dos últimos meses, cinco encontros com especialistas para debater os principais temas na agenda do futuro presidente: educação, saúde, segurança, política externa e economia. A série ÉPOCA Debate foi encerrada na semana passada, com a discussão sobre o peso dos impostos e o papel do Estado (leia mais aqui). Transmitidos ao vivo pela internet, seus vídeos estão disponíveis em epoca.com.br para todo eleitor que quiser entender melhor os problemas reais do Brasil antes de decidir seu voto.

O compromisso dos candidatos com ações concretas relacionadas a esses problemas deveria ser firmado por escrito, como acontece em todas as democracias maduras. De posse de um documento, o eleitor poderia depois avaliar se o candidato foi ou não fiel aos votos que o elegeram ou se mudou de ideia ao sabor da conveniência política da ocasião. A inexistência de programas de governo revela como nossa democracia ainda precisa evoluir se quisermos mesmo ser um país levado a sério.

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