domingo, 19 de setembro de 2010

Marmiteiros, do Zé Ninguém e das laranjas

Publicado em 16/09/2010 | Gazeta do Povo

Político que se preze tem de tomar muito cuidado com a língua, principalmente em períodos de campanha eleitoral. Os adversários estão sempre à espreita, ouvidos atentos, para gravar os deslizes e utilizá-los contra quem os pronunciou. A história brasileira registra casos emblemáticos, como aquele de que foi vítima o brigadeiro Eduardo Gomes, que concorria contra Getúlio Vargas à Presidência da República nas eleições de 1950.

Embora de período tão longínquo, o caso vale ser lembrado em razão de episódio presente na campanha para governador do Paraná. O brigadeiro, da UDN, representava a elite daquele tempo enfrentando Getúlio, do PTB, o “pai dos pobres”. Em discurso, Eduardo Gomes disse que não precisava dos “votos dessa malta” para se eleger presidente. Ele queria se referir aos companheiros mais próximos de Getúlio definindo-os como uma malta. No dicionário, malta é sinônimo de bando, de grupo de pessoas de condição inferior.

Acontece que malta, pelo mesmo dicionário, também é sinônimo da comida que trabalhadores rurais levam em marmitas para se alimentar na roça. Espertamente, os getulistas aproveitaram-se disso e passaram a espalhar que Eduardo Gomes “é bonito e é solteiro, mas não quer voto de marmiteiro”. No caso, imputava-se falsamente ao brigadeiro o preconceito contra os pobres trabalhadores que comiam na marmita. Deu resultado: o brigadeiro naufragou e Getúlio venceu a eleição.

Trazendo mais para perto, em 1965, no Paraná, eram candidatos ao governo Bento Munhoz da Rocha Neto e Paulo Pimentel. A TV Coroados, de Londrina, entrevistou os dois, separadamente, em programa comandado pelo então radialista Rafael Iatauro. O primeiro entrevistado foi Bento, mas o programa incluiu um depoimento do jovem José Richa (pai de Beto), tecendo críticas pesadas ao adversário Pimentel.

No programa do dia seguinte, Pimentel, irritado com José Richa, esbravejou: “Ontem esteve aqui um tal de José Richa. Quem é esse Zé? É um Zé Ninguém!”, exclamou. O dia amanheceu com as ruas cobertas de panfletos: “Paulo Pimentel não quer o voto de zé ninguém!” Paulo ganhou a eleição, mas teve muito trabalho para desfazer a imagem de que desprezava os votos dos mais humildes.

Tudo isso para informar que, neste sábado, professoras – sabe-se lá quantas estarão presentes – prometem fazer uma passeata na Rua XV de Novembro, em Curitiba, vestidas com camisetas de cor laranja. Será uma manifestação de protesto contra a afirmação de Beto Richa, em comício no interior do estado, que chamou de “laranjas podres” professores dirigentes de núcleos da Secretaria da Educação que estariam distribuindo cartas de apoio ao outro candidato. “Essas laranjas podres não vão contaminar os outros professores”, disse ele.

Tiradas do contexto, as palavras de Richa tornaram-se abrangentes para toda a categoria e se espalharam como rastilho de pólvora, justamente num dos segmentos mais importantes do eleitorado, tradicionalmente paparicado por qualquer candidato. Beto se esforça para apagar a má imagem junto aos professores – o que explica o precipitado anúncio de que já escolheu o senador Flávio Arns (vice da sua chapa) como futuro secretário da Educação.

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Falta cadeira

As coligações começam a fazer contas sobre quantos deputados elegerão. Fontes da coligação A União Faz a Força, de Osmar Dias, acreditam que seus partidos colocarão um total de pelo menos 36 parlamentares na Assembleia. Já a Novo Paraná, de Beto Richa, diz que garantirá a maioria, com no mínimo 30 deputados. Aí é que está o problema: como a Assembleia só tem 54 lugares, seria preciso criar outras 12 cadeiras para acomodar tanta esperança. Repete-se o mesmo otimismo em relação aos deputados federais: na soma, as duas coligações “elegerão” 38 parlamentares para 30 vagas!

Fidelidade e...

Reconheça-se: o ex-governador Roberto Requião parece ter de fato um eleitorado cativo. Em 2006, candidato à reeleição, fez 50% dos votos. E agora, candidato ao Senado, mantém, desde o início das pesquisas, rodada após rodada, praticamente o mesmo índice, à frente de todos os demais. Pelo Datafolha *, no fim de julho estava com 50% e agora, em 10 de setembro, marca 47%, exatamente dentro da margem de erro.

... indecisão

De qualquer modo, está parado por aí. Já sua adversária, Gleisi Hoffmann, começou com 28 e já chegou a 47. Projeções indicam que poderá ultrapassar o companheiro de chapa. Gustavo Fruet, que saiu de 16 e está com 22, mantém a esperança: 60% dos eleitores ainda não disseram em quem votarão para pelo uma das duas vagas.

* A Datafolha ouviu entre os dias 20 e 23 de julho 1.225 pessoas e entre os dias 8 e 9 de setembro, 1.229 eleitores. A margem de erro é de 3 pontos porcentuais. Os dois levantamentos estão registrados no TRE sob os números 15.687/2010 e 21.185/2010, respectivamente, e no TSE – 20.158/2010 e 28.834/2010.

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