Correio Braziliense - 28/07/2012
Queda do PIB ajudou a reduzir a competitividade internacional do Brasil nos últimos dois anos
Carlos Arruda e Fabiana Madsen *
Em 2010, o Brasil chegou à 38ª posição entre os países mais competitivos do mundo. Nos últimos dois anos, interrompeu essa ascenção e caiu para o 56º posto, apenas três na frente do lanterna. Os pesquisadores Carlos Arruda e Fabiana Madsen, da Fundação Dom Cabral (FDC), instituição que coordena a coleta de dados do estudo no Brasi, analisam essa retrocesso e apontam as saídas. Para que isso ocorra, é preciso que o país se antecipe ao futuro.
O índice geral do World Competitiveness Yearbook 2012 mostra que o Brasil está menos competitivo no cenário internacional. Com uma queda de duas posições em relação a 2011, o país chegou à 56ª colocação entre os 59 países analisados. Para retomar o ganho competitivo que acompanhou a economia nacional entre 2007 e 2010 – quando ocupou a 38ª colocação – e alavancar o crescimento do país, o curto prazo não pode ser o foco principal das medidas adotadas tanto por governos quanto por empresas. As ações devem ser planejadas considerando o longo prazo, e assim permitirem retorno positivo e sustentado para o Brasil. A análise detalhada do desempenho da economia brasileira em todos os indicadores que compõem o relatório mostra que em 2012 a perda de competitividade é consequência de deficiências acumuladas nos últimos anos.
Como principais destaques negativos, tem-se o crescimento tímido do PIB em 2011, de 2,7%, quando comparado com o crescimento de 2010, que chegou a 7,5%. Obviamente o baixo crescimento do PIB resulta em perda de competitividade em inúmeros outros fatores, como crescimento da renda per capita, participação no comércio internacional, etc. Revés também foi observado nos investimentos internacionais, em especial no fluxo de investimentos do Brasil no resto do mundo. Em 2011, resultante das crises econômicas vividas na Europa e EUA e uma perspectiva ainda positiva para a economia brasileira, houve uma inversão na direção dos investimentos diretos no exterior por empresas brasileiras que retornaram cerca de US$ 9,3 bilhões para o país, ao mesmo tempo em que investidores estrangeiros trouxeram cerca de US$ 66 bilhões em investimentos diretos. O indicador de comércio internacional também permanece desfavorável. No último ano, conforme dados do Banco Central, o Brasil apresentou um déficit de US$ 52,6 bilhões em seu balanço de transações correntes. Este déficit recorde no país ocorreu apesar do superávit de US$ 58,6 bilhões no balanço de pagamentos em 2011, e de um saldo de US$ 29,8 bilhões na balança comercial do mesmo ano.
Quando analisado o comportamento do indicador de crescimento real da produtividade total, verifica-se um ligeiro aumento no último ano. Em 2010, essa variável fechou em -0,96% (em relação ao PIB) e, em 2011, a taxa de crescimento foi de 0,62%. Ainda assim, esse valor é muito aquém do ideal, quando comparado à taxa de crescimento médio da produtividade das demais economias mundiais, que foi de 2,06%. A produtividade do trabalho em paridade do poder de compra (indicador que elimina a diferença entre o custo de vida dos países) indica que o trabalhador brasileiro produz, em média, o equivalente a US$ 12,56 por hora trabalhada, enquanto a média mundial é de US$ 31,84 por hora trabalhada.
A análise comparativa da competitividade brasileira sugere, no entanto, que o Brasil tem fortes fundamentos para uma potencial melhora em seu desempenho competitivo. Praticamente todos os indicadores de eficiência dos negócios (diversidade, qualidade da gestão, profissionalismo, etc.) indicam de forma consistente a existência de um ambiente empresarial positivo e confiante em seu desempenho – apesar da perda produtiva apresentada anteriormente. Em se tratando do mercado de trabalho, o Brasil se mantém entre os 20 países que têm seus mercados de trabalho mais competitivos. Em 2010 e 2011, conforme apresenta o relatório, a força de trabalho cresceu timidamente (3,05%), chegando a um patamar de 102,5 milhões de pessoas. Pesquisa de opinião realizada anualmente pela Fundação Dom Cabral sobre as práticas gerenciais, atitudes e valores das empresas mostra a confiança do corpo empresarial no potencial de suas atividades.
Ademais, o relatório apontou um ganho de seis posições no conjunto dos indicadores de infraestrutura, indicando a interrupção de um ciclo de três anos de declínio em relação aos 58 países pesquisados. Apesar disso, o Brasil ainda está entre as economias menos competitivas do grupo. O avanço geral em praticamente todas as variáveis relacionadas à infraestrutura sugere que o país está na direção correta, mas talvez a velocidade esteja aquém do necessário. O mesmo se pode observar nos ganhos relacionados ao desenvolvimento tecnológico e à capacidade de geração de novas tecnologias a partir da cooperação entre empresas e entre estas e as universidades. Estes ganhos, importantes, mas tímidos, não resultaram em aumento no número de patentes e novas tecnologias geradas no país, tampouco em exportações de produtos com maior valor agregado. Os ganhos competitivos existem, mas também sinalizam para um problema enfrentado pelo Brasil e do qual tanto o setor público quanto o privado estão cientes: o atraso do país na eficiência e técnica para a criação e desenvolvimento de novas tecnologias e inovações, principalmente devido à ineficiência nos sistemas educacionais, cooperação entre os setores público e privado, marco regulatório adequado para incentivo e apoio à pesquisa tecnológica, à inovação e ao empreendedorismo.
A combinação de marco regulatório inadequado, sistema tributário ultrapassado, sistemas educacionais de baixa qualidade e baixos investimentos no país, tanto por parte dos governos quanto da iniciativa privada, trava a competitividade brasileira no curto, médio e longo prazos. A produtividade deveria ser, em nossa opinião, a grande prioridade, uma vez que por ela passa uma série destes e outros aspectos que necessitam atenção imediata. A capacidade produtiva de um país é um dos fundamentos determinantes para avançar na competitividade. Quanto mais riqueza é obtida com a mesma quantidade de capital e com o mesmo número de trabalhadores, mais competitivo será o país. No caso brasileiro, o crescimento do emprego, tão necessário e tão citado como base dos avanços recentes, não tem gerado crescimento de riqueza na mesma proporção.
Em seu momento atual, o Brasil gera empregos mas não riqueza – a taxa de crescimento do emprego saiu do nível de 0,3% entre 2009 e 2010 para o nível de 2,1% entre 2010 e 2011. Estão sendo criados empregos que exigem menor qualificação do trabalhador, em setores que agregam pouco valor à economia. Ou seja, apesar dos óbvios benefícios econômicos e sociais que acompanham a positiva geração de postos de trabalhos estes não estão sendo adequados para a reestruturação e crescimento do setor produtivo brasileiro. Os dados do relatório mostram que é pequeno o número de profissionais com a qualificação necessária para transformar a simples pesquisa em um processo de desenvolvimento (os dados mais recentes apresentados, para 2007, mostram que o percentual de graduados em cursos de ciência e tecnologia no Brasil está em 15,2%, enquanto no resto do mundo esse percentual chega a 34,46%).
Além disso, os profissionais precisam desenvolver um comportamento empreendedor e inovador menos avesso ao risco, característica raramente encontrada no país. Uma pesquisa recente feita pela FDC com cerca de 220 gestores mostrou que aproximadamente 80% deles estão investindo em inovação para atender pressões competitivas do mercado. Apenas 9% estavam aplicando recursos no desenvolvimento de novos produtos e serviços que podem fazer a diferença nos mercados nacional e internacional.
Na busca pelo equilíbrio, a economia brasileira deverá alocar seus recursos de maneira mais eficiente. Para resultados mais imediatos, esses recursos precisam ser destinados, principalmente, à melhoria técnica no ensino do país, que carece de mão de obra qualificada, e na infraestrutura (tanto física como científica e tecnológica). Considerando o longo prazo, o investimento na educação básica é fundamental para garantia de melhorias na capacidade do capital humano que se forma, assim como na estruturação de um modelo de incentivos e cooperação voltado ao desenvolvimento e à inovação. No final dos anos 90, um estudo conduzido pelo Fórum Econômico Mundial perguntou que fatores determinavam a capacidade de um país de se tornar competitivo. Uma das principais conclusões foi a capacidade do país de se antecipar ao futuro. No Brasil o futuro é agora! Não podemos perdê-lo.
* Carlos Arruda é coordenador do Núcleo Bradesco de Inovação, diretor-executivo de Internacionalização e professor da Fundação Dom Cabral (FDC) na área de inovação e competitividade
* Fabiana Madsen é graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atua como pesquisadora no Núcleo Bradesco de Inovação e na equipe de competitividade da FDC
Queda do PIB ajudou a reduzir a competitividade internacional do Brasil nos últimos dois anos
Carlos Arruda e Fabiana Madsen *
Em 2010, o Brasil chegou à 38ª posição entre os países mais competitivos do mundo. Nos últimos dois anos, interrompeu essa ascenção e caiu para o 56º posto, apenas três na frente do lanterna. Os pesquisadores Carlos Arruda e Fabiana Madsen, da Fundação Dom Cabral (FDC), instituição que coordena a coleta de dados do estudo no Brasi, analisam essa retrocesso e apontam as saídas. Para que isso ocorra, é preciso que o país se antecipe ao futuro.
O índice geral do World Competitiveness Yearbook 2012 mostra que o Brasil está menos competitivo no cenário internacional. Com uma queda de duas posições em relação a 2011, o país chegou à 56ª colocação entre os 59 países analisados. Para retomar o ganho competitivo que acompanhou a economia nacional entre 2007 e 2010 – quando ocupou a 38ª colocação – e alavancar o crescimento do país, o curto prazo não pode ser o foco principal das medidas adotadas tanto por governos quanto por empresas. As ações devem ser planejadas considerando o longo prazo, e assim permitirem retorno positivo e sustentado para o Brasil. A análise detalhada do desempenho da economia brasileira em todos os indicadores que compõem o relatório mostra que em 2012 a perda de competitividade é consequência de deficiências acumuladas nos últimos anos.
Como principais destaques negativos, tem-se o crescimento tímido do PIB em 2011, de 2,7%, quando comparado com o crescimento de 2010, que chegou a 7,5%. Obviamente o baixo crescimento do PIB resulta em perda de competitividade em inúmeros outros fatores, como crescimento da renda per capita, participação no comércio internacional, etc. Revés também foi observado nos investimentos internacionais, em especial no fluxo de investimentos do Brasil no resto do mundo. Em 2011, resultante das crises econômicas vividas na Europa e EUA e uma perspectiva ainda positiva para a economia brasileira, houve uma inversão na direção dos investimentos diretos no exterior por empresas brasileiras que retornaram cerca de US$ 9,3 bilhões para o país, ao mesmo tempo em que investidores estrangeiros trouxeram cerca de US$ 66 bilhões em investimentos diretos. O indicador de comércio internacional também permanece desfavorável. No último ano, conforme dados do Banco Central, o Brasil apresentou um déficit de US$ 52,6 bilhões em seu balanço de transações correntes. Este déficit recorde no país ocorreu apesar do superávit de US$ 58,6 bilhões no balanço de pagamentos em 2011, e de um saldo de US$ 29,8 bilhões na balança comercial do mesmo ano.
Quando analisado o comportamento do indicador de crescimento real da produtividade total, verifica-se um ligeiro aumento no último ano. Em 2010, essa variável fechou em -0,96% (em relação ao PIB) e, em 2011, a taxa de crescimento foi de 0,62%. Ainda assim, esse valor é muito aquém do ideal, quando comparado à taxa de crescimento médio da produtividade das demais economias mundiais, que foi de 2,06%. A produtividade do trabalho em paridade do poder de compra (indicador que elimina a diferença entre o custo de vida dos países) indica que o trabalhador brasileiro produz, em média, o equivalente a US$ 12,56 por hora trabalhada, enquanto a média mundial é de US$ 31,84 por hora trabalhada.
A análise comparativa da competitividade brasileira sugere, no entanto, que o Brasil tem fortes fundamentos para uma potencial melhora em seu desempenho competitivo. Praticamente todos os indicadores de eficiência dos negócios (diversidade, qualidade da gestão, profissionalismo, etc.) indicam de forma consistente a existência de um ambiente empresarial positivo e confiante em seu desempenho – apesar da perda produtiva apresentada anteriormente. Em se tratando do mercado de trabalho, o Brasil se mantém entre os 20 países que têm seus mercados de trabalho mais competitivos. Em 2010 e 2011, conforme apresenta o relatório, a força de trabalho cresceu timidamente (3,05%), chegando a um patamar de 102,5 milhões de pessoas. Pesquisa de opinião realizada anualmente pela Fundação Dom Cabral sobre as práticas gerenciais, atitudes e valores das empresas mostra a confiança do corpo empresarial no potencial de suas atividades.
Ademais, o relatório apontou um ganho de seis posições no conjunto dos indicadores de infraestrutura, indicando a interrupção de um ciclo de três anos de declínio em relação aos 58 países pesquisados. Apesar disso, o Brasil ainda está entre as economias menos competitivas do grupo. O avanço geral em praticamente todas as variáveis relacionadas à infraestrutura sugere que o país está na direção correta, mas talvez a velocidade esteja aquém do necessário. O mesmo se pode observar nos ganhos relacionados ao desenvolvimento tecnológico e à capacidade de geração de novas tecnologias a partir da cooperação entre empresas e entre estas e as universidades. Estes ganhos, importantes, mas tímidos, não resultaram em aumento no número de patentes e novas tecnologias geradas no país, tampouco em exportações de produtos com maior valor agregado. Os ganhos competitivos existem, mas também sinalizam para um problema enfrentado pelo Brasil e do qual tanto o setor público quanto o privado estão cientes: o atraso do país na eficiência e técnica para a criação e desenvolvimento de novas tecnologias e inovações, principalmente devido à ineficiência nos sistemas educacionais, cooperação entre os setores público e privado, marco regulatório adequado para incentivo e apoio à pesquisa tecnológica, à inovação e ao empreendedorismo.
A combinação de marco regulatório inadequado, sistema tributário ultrapassado, sistemas educacionais de baixa qualidade e baixos investimentos no país, tanto por parte dos governos quanto da iniciativa privada, trava a competitividade brasileira no curto, médio e longo prazos. A produtividade deveria ser, em nossa opinião, a grande prioridade, uma vez que por ela passa uma série destes e outros aspectos que necessitam atenção imediata. A capacidade produtiva de um país é um dos fundamentos determinantes para avançar na competitividade. Quanto mais riqueza é obtida com a mesma quantidade de capital e com o mesmo número de trabalhadores, mais competitivo será o país. No caso brasileiro, o crescimento do emprego, tão necessário e tão citado como base dos avanços recentes, não tem gerado crescimento de riqueza na mesma proporção.
Em seu momento atual, o Brasil gera empregos mas não riqueza – a taxa de crescimento do emprego saiu do nível de 0,3% entre 2009 e 2010 para o nível de 2,1% entre 2010 e 2011. Estão sendo criados empregos que exigem menor qualificação do trabalhador, em setores que agregam pouco valor à economia. Ou seja, apesar dos óbvios benefícios econômicos e sociais que acompanham a positiva geração de postos de trabalhos estes não estão sendo adequados para a reestruturação e crescimento do setor produtivo brasileiro. Os dados do relatório mostram que é pequeno o número de profissionais com a qualificação necessária para transformar a simples pesquisa em um processo de desenvolvimento (os dados mais recentes apresentados, para 2007, mostram que o percentual de graduados em cursos de ciência e tecnologia no Brasil está em 15,2%, enquanto no resto do mundo esse percentual chega a 34,46%).
Além disso, os profissionais precisam desenvolver um comportamento empreendedor e inovador menos avesso ao risco, característica raramente encontrada no país. Uma pesquisa recente feita pela FDC com cerca de 220 gestores mostrou que aproximadamente 80% deles estão investindo em inovação para atender pressões competitivas do mercado. Apenas 9% estavam aplicando recursos no desenvolvimento de novos produtos e serviços que podem fazer a diferença nos mercados nacional e internacional.
Na busca pelo equilíbrio, a economia brasileira deverá alocar seus recursos de maneira mais eficiente. Para resultados mais imediatos, esses recursos precisam ser destinados, principalmente, à melhoria técnica no ensino do país, que carece de mão de obra qualificada, e na infraestrutura (tanto física como científica e tecnológica). Considerando o longo prazo, o investimento na educação básica é fundamental para garantia de melhorias na capacidade do capital humano que se forma, assim como na estruturação de um modelo de incentivos e cooperação voltado ao desenvolvimento e à inovação. No final dos anos 90, um estudo conduzido pelo Fórum Econômico Mundial perguntou que fatores determinavam a capacidade de um país de se tornar competitivo. Uma das principais conclusões foi a capacidade do país de se antecipar ao futuro. No Brasil o futuro é agora! Não podemos perdê-lo.
* Carlos Arruda é coordenador do Núcleo Bradesco de Inovação, diretor-executivo de Internacionalização e professor da Fundação Dom Cabral (FDC) na área de inovação e competitividade
* Fabiana Madsen é graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atua como pesquisadora no Núcleo Bradesco de Inovação e na equipe de competitividade da FDC
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