quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Dossiê Golpe de 64" saiu da gaveta

Élio Gaspari - Élio Gaspari
O Globo - 29/07/2012

Está chegando às bancas a edição de agosto da "Revista de História" da Biblioteca Nacional. Nela desfaz-se um mistério: o que havia nas 22 páginas do "Dossiê - O Golpe de 1964" que foram retiradas da edição de abril, por decisão comunicada em nome do Conselho Editorial da revista, depois de elas estarem prontas, editadas e diagramadas? Resposta: Nada além de um trabalho competente de jornalistas e professores.

O "Dossiê", organizado por Bruno Garcia e Nashla Dahás, foi publicado por decisão de todos os profissionais da redação (cinco jornalistas e 12 pesquisadores). Aparece com três meses de atraso, mas tira da revista a macumba de ter engavetado a História.

Há no "Dossiê" cinco artigos, dos professores Daniel Aarão Reis (UFF), João Roberto Martins Filho (UFSCar), Jorge Ferreira (UFF), Luis Antonio Dias (PUC-SP), e Mateus Henrique de Faria Pereira (UFMG). São textos de historiadores, só isso. Não revelam onde estão desaparecidos da ditadura, nem quem deu a ordem para matar todos os militantes do PCdoB que estavam no Araguaia a partir de outubro de 1973.

Ainda há gente que se inquieta com 1964. É compreensível. Aarão Reis ensina em seu artigo que "é inútil esconder a participação de amplos segmentos da população no movimento que levou à instalação da ditadura em 1964. É como tapar o sol com a peneira."

Resta a pergunta das razões que levaram conselheiros a se associar, ou verem-se associados, ao engavetamento. Eram oito historiadores, sete dos quais professores de universidades. O conselho estava envolvido num conflito com a entidade que edita a revista, a Sociedade Amigos da Biblioteca Nacional. Em meados de junho, ele demitiu-se. O conflito nada teve a ver com o conteúdo da publicação. Em abril a revista circularia com artigos que relembrariam um fato histórico ocorrido há 48 anos. Saiu com um levantamento sobre mercenários. Em maio, mês da Abolição, a capa foi para a princesa Isabel.

A redação deu final adequado a uma história que deixaria mal uma revista chamada História.

À época do engavetamento do "Dossiê", era a seguinte a composição do conselho editorial: Alberto da Costa e Silva (presidente), José Murilo de Carvalho (UFRJ), Lília Moritz Schwarcz (USP), João José Reis (UFBA), Laura de Melo e Souza (USP), Caio César Boschi (PUC-BH), Ricardo Benzaquen (PUC- RJ), Ronaldo Vainfas (UFF), Marieta Moraes Ferreira (CPDOC-FGV) e Luciano Figueiredo (UFF).

Lula

O comissariado petista diz que Lula vai bem, em relação a seja lá o que for. Apesar disso, reconhece que, com a chegada de agosto, as coisas não evoluíram como se previa.

Em outubro passado, quando o câncer de Lula foi diagnosticado, a doutora Dilma previu que no carnaval ele desfilaria com os Gaviões da Fiel. Em abril, Lula achava que em duas semanas estaria nas campanhas de Fernando Haddad e Luiz Marinho.

José Dirceu

Na quarta-feira, a decisão de José Dirceu era a de não ocupar a tribuna do Supremo para se defender. A tarefa ficaria com seu advogado.

O conde Ciano

Para quem gosta de histórias da Segunda Guerra, do fascismo ou de espertalhões, saiu um bom livro. É "O Conde Ciano - Sombra de Mussolini", do jornalista americano Ray Moseley.

Galeazzo Ciano era um nobre italiano, boa-pinta e vigarista. Casou-se com a filha do ditador Benito Mussolini e tornou-se ministro das Relações Exteriores aos 33 anos.

Em 1943, traiu e ajudou a depor o sogro. Foi capturado pelos fascistas, julgado e condenado à morte, junto com quatro outros hierarcas. Na hora de ser passado nas armas, escreveu a melhor página de sua biografia (e do livro). Primeiro, arrumou a disposição dos colegas de viagem de acordo com o cerimonial da precedência, como se acomodasse convidados para um jantar. Recusou a venda e, sentado de costas para o pelotão de fuzilamento, na hora certa virou-se e encarou-o.

A tradução é do general Gleuber Vieira, comandante do Exército durante o tucanato.

FILME PARA O STF
Um curioso sugere que os ministros do Supremo aproveitem as vésperas do julgamento do mensalão para ver o filme "Dois são Culpados" ("La Glaive et la Balance"), do francês André Cayatte. É de 1963, difícil de achar. Dois sujeitos sequestraram um menino e, perseguidos pela polícia, esconderam-se num farol. Quando o prédio foi invadido o menino estava morto e havia nele três pessoas. Durante o julgamento os advogados dos três sustentaram que seu cliente estava lá quando chegaram os criminosos. Foram convincentes, e todos os réus foram absolvidos. Terminado o julgamento, entraram num camburão. A choldra queimou o carro onde estavam Anthony Perkins, Jean Claude Brialy e Renato Salvatori. Assaram os culpados e o inocente.

TUNGA
O comissariado promete um reordenamento tributário. Poderia dar atenção a um capítulo irracional e retrógrado da barafunda de tungas que impõem aos contribuintes.

Um cidadão quer ver um filme que ainda não chegou ao Brasil e resolve importar um DVD pela Amazon. Ele custa US$ 24, mais US$ 17 pelo frete da caixinha. Em cima do total de US$ 42 a empresa cobra, adiantado, US$ 40 de impostos brasileiros. O pobre-diabo toma uma tunga equivalente ao valor da compra.

O problema é que outro cidadão pode comprar por R$ 400 um aparelho Apple TV, ou trazê-lo na mala, comprado nos Estados Unidos, por US$ 99. Com essa máquina aluga o filme no iTunes e paga US$ 5. Se quisesse comprá-lo, baixaria a peça por US$ 20, a quarta parte do que pagou a primeira vítima.

Proteger a indústria nacional de distribuição de DVDs é uma coisa. Punir os contribuintes com tamanha tributação é outra. Os impostecas nacionais ainda não descobriram o alcance democratizador do comércio eletrônico. Como diziam que os iPads não eram computadores porque não tinham teclado, são capazes de tudo.

O CONDE CIANO
Para quem gosta de histórias da Segunda Guerra, do fascismo ou de espertalhões, saiu um bom livro. É "O Conde Ciano - Sombra de Mussolini", do jornalista americano Ray Moseley.

Galeazzo Ciano era um nobre italiano, boa-pinta e vigarista. Casou-se com a filha do ditador Benito Mussolini e tornou-se ministro das Relações Exteriores aos 33 anos.

Em 1943 traiu e ajudou a depor o sogro. Foi capturado pelos fascistas, julgado e condenado à morte, junto com quatro outros hierarcas. Na hora de ser passado nas armas escreveu a melhor página de sua biografia (e do livro). Primeiro arrumou a disposição dos colegas de viagem de acordo com o cerimonial da precedência, como se acomodasse convidados para um jantar. Recusou a venda e, sentado de costas para o pelotão de fuzilamento, na hora certa virou-se e encarou-o.

A tradução é do general Gleuber Vieira, comandante do Exército durante o tucanato.

O PLANALTO INCENTIVA MAIS UMA GREVE

Desde 18 de junho há auditores da Receita Federal namorando uma greve. Por enquanto, fazem operações-padrão e reduzem o lançamento de cobranças. O sindicato da categoria não gosta da ideia, e o movimento não empolgou os servidores.

Na quarta-feira os sábios do Planalto ameaçaram substituir eventuais grevistas com funcionários das fazendas estaduais. A ideia não tem base legal sólida e serve apenas para acirrar os ânimos. Em 2002 uma hierarca insultou os auditores dizendo que não precisavam de melhorias porque entre eles havia muitos corruptos. Deu fôlego à greve.

Num caso desses, a Receita, silenciosamente, mexe nos canais e reprograma o índice de fiscalização, sem anúncios marqueteiros que apenas estimulam contrabandistas e larápios.

A ideia de terceirizar grevistas deu certo nos Estados Unidos em 1981, quando pararam os controladores de voo. O presidente Ronald Reagan convocou militares e interessados nos postos, desempregou 11 mil, quebrou o movimento e destruiu o sindicato. Dilma Rousseff não é Ronald Reagan.

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