segunda-feira, 26 de março de 2012

A EDUCAÇÃO PÚBLICA: PARTE II



Teoricamente, todas as ações que envolvem dinheiro nas instituições públicas de ensino devem ser realizadas por instâncias colegiadas, de forma transparente e com a participação pública nas tomadas de decisão. Infelizmente não é o que muitas vezes acontece nas escolas estaduais do Paraná.

Exemplificando, a APMF (Associação de pais, mestres e funcionários), órgão de representação que funciona com uma equipe de professores, funcionários e membros da comunidade escolar eleitas por pais de alunos e demais profissionais das escolas deve funcionar harmonicamente diante dos princípios éticos, de responsabilidade financeira, de democracia e de cidadania. Porém, não é o que muitas vezes ocorre.

De notas fiscais frias, passando por compras de produtos em empresas de amigos (clientelismo em pleno século XXI) e até mesmo alguns próprios funcionários públicos estaduais prestando serviços para as instituições de ensino são algumas das muitas práticas errôneas adotadas por gestores(as) de escolas públicas. Além disso, são comuns também as assinaturas de atas de reuniões que nunca existiram. Ou seja, a direção toma uma decisão, redige uma ata e os membros a assinam como se realmente tivessem participado de todas as decisões tomadas na reunião.

Nesse sentido, o estatuto do servidor e os princípios éticos básicos parecem inexistir. Por mais paradoxal que possa parecer, esta é a realidade de muitas escolas públicas paranaenses. Isso mesmo caro leitor: educadores que tanto criticam políticos corruptos e incompetentes não estão fazendo sua parte a contento!

Denúncias são feitas ao Ministério Público, à ouvidoria da Secretaria de Estado de Educação e aos próprios Núcleos Regionais de Educação do Paraná. Porém, a resposta para a comunidade em geral muitas vezes demora a chegar e medidas efetivas não são tomadas.

Por sua vez, os docentes não fazem a sua parte: Alguns compram atestados médicos para ficarem sem trabalhar, outros simplesmente não seguem as normas das instituições de ensino no que tange a cumprimento das horas-atividade, os docentes (se é que se pode chamar de docente) de educação física simplesmente “jogam a bola” na quadra e se encaminham para a cozinha para fumarem um cigarro e tomar um café enquanto seus alunos ficam literalmente largados na quadra praticando qualquer coisa que se possa chamar, menos educação física.

Pergunta-se: O que realmente deve ser feito para que pessoas que exercem cargos públicos e adotam condutas totalmente errôneas sejam punidas de forma efetiva? Espero que não seja escrevendo um texto como este evidenciando o que vem ocorrendo nos ambientes escolares! Pelo contrário, enquanto cidadão e professor disponibilizo-me a falar do que sei “dando nome aos bois” se for o caso!


ISONEL SANDINO MENEGUZZO (Professor de Geografia)

A EDUCAÇÃO PÚBLICA: PARTE I



Nos últimos anos, nas diferentes esferas administrativas, investimentos maciços na educação pública têm sido efetivados. Na ânsia de contribuir para o crescimento econômico e promover o desenvolvimento social, escolas vêm sendo construídas e reformadas, docentes recebendo qualificação profissional gratuita, entre muitas outras ações meritórias.

Porém, um longo caminho ainda deve ser trilhado por toda a sociedade, ou seja, poder público e população em geral, no sentido de que a educação se torne realmente de qualidade.

Infelizmente, o sistema educacional possui diversas lacunas, falhas e ao mesmo tempo, a má vontade dos gestores educacionais contribui para que problemas graves acabem atingindo as instituições de ensino.

Vamos aos fatos da realidade dura que muitas pessoas desconhecem: Os índices de repetência devem ser o mais reduzido possível, tendo em vista que, se não existirem números “bonitos” fica difícil do país e do estado conseguir empréstimos financeiros junto a organismos internacionais. Nesse sentido, a reprovação só ocorre em casos extremos, quando um educando reprova em três ou mais disciplinas, por exemplo; Aí cabe um questionamento: Se nas escolas particulares reprova-se em uma disciplina, porque na escola pública isso não ocorre? Muitas escolas não possuem bibliotecários, sendo que um importante espaço de difusão do conhecimento e até mesmo de aprendizagem acaba virando depósito de carteiras e cadeiras quebradas; Outra prática bastante comum refere-se à merenda escolar, literalmente roubada por funcionários da escola; Além disso, no Programa Leite das Crianças do governo estadual, muita gente que não tem direito à levar este precioso alimento para casa o leva, tendo em vista seus “conhecidos e camaradas” dentro das escolas. Ao leitor que desconhece, cabe explicar: as escolas fazem a distribuição gratuita do leite para aqueles que realmente têm direito e são cadastrados para receber esta assistência.

Diante desse breve contexto, cabe questionar o que os profissionais lotados em secretarias de educação, bem como nos núcleos regionais de educação realmente estão fazendo. Exercendo seu trabalho de que forma? Como ocorre a fiscalização? E os profissionais da educação (professores, equipe pedagógica, direção) que assistem isso e nada fazem e nada falam?

Para finalizar esta primeira parte, uma última consideração: Como o professor, em sua prática docente pode falar em cidadania, democracia, direitos iguais se a poucos metros de distância, debaixo do mesmo teto, pessoas estão realizando práticas incoerentes e incorretas com o produto oriundo de nossos impostos?


ISONEL SANDINO MENEGUZZO (Professor de Geografia)

sábado, 24 de março de 2012

Educação: quando o Estado não cumpre o dever

Ari Cunha - Visto, Lido e Ouvido - Ari Cunha
Correio Braziliense - 24/03/2012

Um dos maiores problemas enfrentados pelos professores é a falta de interesse dos pais pela vida escolar dos filhos. Isso não varia com a renda per capita. Há pais com baixo poder aquisitivo que estão sempre atentos às atividades dos pequenos. Sabem dizer não e são respeitados. Mesmo trabalhando fora, acompanham o passo a passo dos filhos, o rendimento escolar, o comportamento em sala de aula, as faltas, os amigos, as pesquisas e os deveres de casa. Participam com carinho e atenção, mesmo que mal saibam ler e escrever. Sempre que podem vão à escola, conversam com os professores e orientadores. São conhecidos e falados nas reuniões do conselho de classe. Dão autoridade para que os professores ajam com energia. Evitam superproteger os filhos sabendo que a educação entre casa e escola deve ter continuidade. Educam com a simplicidade de quem pensa que "se filho não precisasse de pai e mãe, nasceria em uma árvore". Ouvem os professores com respeito, conversam quando discordam e pedem ajuda quando não sabem lidar com alguma situação. São respaldados por um projeto de lei que resguarda os pais necessitados de faltar ao trabalho para participar da reunião na escola dos filhos. Há também os professores que conhecem os problemas e, quanto mais experientes, mais conseguem a participação da família na relação com a escola. Quadro ideal. Acontece que a cada início do ano letivo professores da rede pública entram em greve. A criançada fica sem rumo. A rotina da casa é alterada. O futuro dos filhos é engessado até que a situação se resolva. Os profissionais que receberam promessas de melhorias salariais não são atendidos. Alguns titubeiam quando pensam nos alunos. Trabalham com a mente, mas o coração fala mais alto. Certo é que, desde os menores aos mais velhos, todos são prejudicados. Adolescentes que conseguiram o primeiro emprego não poderão ter aulas repostas aos sábados. Quem não pode pagar colégio particular perde. Mesmo que a educação seja constitucionalmente um dever do Estado.

A frase que foi pronunciada
"A pressa é inimiga da procissão."
Chico Anysio

Sobradinho I
» Nesta segunda feira, a Secretaria de Justiça vai comemorar, pela manhã, os quatro anos do Na Hora em Sobradinho. Trata-se da prestação de serviço realizada pelo governo local mais elogiada pela população, pela qualidade do atendimento, agilidade e solução. A festa será na Quadra Central, no Serra Shopping. O convite chegou pela assessora de imprensa Anna Catyara Araújo.

Lago
» Da QL 2 à QL 6 do Lago Sul, o lago já não existe. Estamos assistindo, com pesar, à morte do nosso mais belo cartão postal. Essa é a opinião dos [moradoresedefensoresdolagodf]. E-mail assinado por José Alves.

Pegadona
» Tudo aconteceu no programa do Faustão. O quadro, com câmera escondida, contratava profissionais para consertar uma televisão. O conserto seria simples e, pelo defeito causado pela produção, não deveria custar muito. Na verdade, o preço final por causa de um fusível foi de R$ 30 mil. É que um dos técnicos não gostou da brincadeira e entrou na Justiça por dano moral.

Automotivo
» Continua a reclamação. No parque ao final da Asa Norte, perto da Ponte do Braguetto, as madrugadas são regadas a muita bebida e som automotivo. Não há fiscalização. Moradores de muitos quilômetros à volta já não sabem mais o que fazer.

Silêncio
» É lei. Toda escola tem que ter uma biblioteca. Deveria ser lei também as bibliotecárias autorizarem a saída dos livros e confiarem nos alunos. O medo é tanto que eles ficam fechados nas prateleiras para continuarem bonitinhos.

Garantia
» Por falar em lei, se o papel que garante ao cliente que ele pagou a conta pode desbotar ao ser exposto no calor, deveria ser lei os bancos usarem um papel de melhor qualidade que pudesse manter a impressão eternamente.

Leitores
» Pelas correspondências que recebemos sobre ataques sexuais em escolinhas de futebol, vem bomba por aí. Não vamos publicar o que não é provado.

Ditadura
» Nenhuma consequência para os alunos da UnB que torturaram os novatos? Se enquanto estudantes foram capazes de uma brincadeira dessas, imagine que profissionais a universidade colocará no mercado. A penalização precisa ser exemplar.

Segredo
» Joaquim Campelo, que também assina o dicionário Aurélio, tem um hobby que pouca gente sabe. É cuidadoso colecionador de azulejos antigos.

História de Brasília
Há quem diga que eu estou exagerando, mas o presidente precisa saber desta: a guarda do Palácio terá, proximamente, mais oito guaritas que serão construídas em redor do Alvorada, e mais um alambrado em frente ao lago. É proteção demais para um regime democrático.

quinta-feira, 8 de março de 2012

10 SEGREDOS PARA SER FELIZ


Época - 05/03/2012


O que mães, profissionais e parceiras que alcançaram o equilíbrio entre seus vários papéis têm a ensinar

MARCELA BUSCATO, MARTHA MENDONÇA, NATHALIA ZIEMKIEWICZ E TONIA MACHADO. COM LUÍZA KARAM
SANDRA GARCIA, 27 anos I Modelo e atriz Ela usa os momentos de cuidados com a beleza para descansar do trabalho e da atenção com a família  (Foto: Marcos Lopes. Tratamento de Imagem: Caio Vasques (studio.ml)  Hair & Make-up: Leticia de Carvalho. Assistente de foto: André Melo )SANDRA GARCIA, 27 anos I Modelo e atriz
Ela usa os momentos de cuidados com a beleza para descansar do trabalho e da atenção com a família (Foto: Marcos Lopes. Tratamento de Imagem: Caio Vasques (studio.ml) Hair & Make-up: Leticia de Carvalho. Assistente de foto: André Melo )
A felicidade, claro, não é uma aspiração apenas feminina. A miragem de um tempo perfeito e de uma vida perfeita faz sonhar e inquieta homens e mulheres. Mas, de alguma forma, e de maneira surpreendente, essa miragem parece mais inalcançável para o sexo feminino. Mesmo depois de beneficiadas, nas décadas passadas, por aquilo que o historiador Eric Hobsbawm chamou de a mais vigorosa transformação da história recente – aquela que as emancipou da servidão doméstica, permitindo que estudassem, trabalhassem e assumissem funções públicas antes reservadas aos homens –, as mulheres ainda sofrem com suas próprias dificuldades e contradições, tanto ou mais do que sofrem com as restrições impostas pela sociedade. “Toda mulher é uma rebelde, normalmente em revolta selvagem contra ela mesma”, escreveu, com infinito sarcasmo e muita perspicácia, o escritor irlandês Oscar Wilde. As mulheres do século XXI parecem de fato ser as juízas mais severas de si mesmas – em casa, no trabalho, nas relações com os homens e no trato dos filhos. O resultado disso é que a palavra culpa ocupa um espaço desproporcional em suas vidas e atrapalha ainda mais a busca da felicidade.
selo Especial mulheres (Foto: reprodução)
Na reportagem especial a seguir, ouvimos pesquisadores e profissionais de diversas áreas – dentro e fora do Brasil – para entender como as brasileiras de carne e osso, em sua enorme diversidade, podem ser mais felizes do que são. Os especialistas revelaram muitas coisas – como a relação surpreendente entre o poder das mulheres e a quantidade de sexo que elas praticam ou sobre o erro que o feminismo cometeu ao subordinar a maternidade à realização profissional. Mas nada se compara à experiência das próprias mulheres em organizar melhor suas vidas. Por isso fomos ouvi-las.
Para a empresária Aline Cardoso Barabinot, de 33 anos, o segredo que leva à sua forma particular e inestimável de felicidade é trabalhar muito, mesmo que isso signifique perder momentos preciosos ao lado das duas filhas. A dentista Patrícia Azevedo Dotto, de 40 anos, deixou sua profissão para ser mãe em tempo integral e se descobriu em seu melhor papel. A administradora de empresas Mônica Nascimbeni, de 32 anos, divide-se entre o trabalho como gerente de marketing numa multinacional e o papel de mãe e companheira. Mas não hesita em deixar tudo para trás, nem que seja por algumas poucas horas, para praticar corrida ou simplesmente ficar sozinha. A artista plástica Nuria Casadevall, de 48 anos, descobriu uma liberdade com que nunca tinha sonhado ao romper com as pressões sociais para ficar solteira – e muito bem acompanhada dos amigos e dos parceiros que partilhem seus valores de vida, dos quais ela não abre mão por ninguém. Para a publicitária Florencia Lear, de 23 anos, a felicidade está em deixar o namorado a cargo da cozinha. E até do tanque, se necessário. A atriz e modelo Sandra Garcia, de 27 anos, transformou as exigências de sua profissão em relação a seu corpo numa forma de valorização. Sabe que as horas diárias gastas na academia e as calorias economizadas ao se privar de uma sobremesa são formas de cuidar dela mesma numa vida corrida, em que divide as atenções entre o marido e a filha Manuela, de 6 meses.
Da conversa com essas mulheres – e das novas pesquisas –, extraímos as dez orientações que formam a espinha dorsal desta reportagem especial. Uma primeira conclusão, que atravessa a vida de todas elas e permeia o trabalho dos pesquisadores, é a necessidade de equilíbrio. Encontrar equilíbrio é o maior anseio das mulheres adultas. Numa pesquisa inédita realizada pela consultoria de comunicação Cappellano, de São Paulo, mais de 30% das mulheres consideraram o equilíbrio como a parte mais essencial de uma vida plena (leia os resultados no quadro abaixo). O amor, segundo colocado, aparece na preferência de 11%. O equilíbrio precede até mesmo o desejo pela felicidade, almejada por 3% das mulheres. Ele é visto como o caminho – ou o primeiro sintoma – da plenitude. “O que resume equilíbrio para mulher é ser capaz de lidar com os obstáculos impostos pelo cotidiano”, diz a psicóloga Ana Mercês Bock, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Para quem se sente longe do equilíbrio, a boa notícia é que atingi-lo não exige revoluções, apenas ajustes. As mulheres desta reportagem já erraram no balanço diário das doses de estresse e riso, de família e trabalho. Mas descobriram como acertar a mão. Cada uma é detentora de um pequeno segredo para facilitar o malabarismo do dia a dia, afrouxar o cabo de guerra e domar o caos doméstico. Os segredos das mulheres felizes, apresentados a seguir, podem servir também ao homem moderno, que nasceu a partir da transformação do papel feminino nas últimas décadas. “O perfil da nova mulher e do novo homem está sendo criado ao mesmo tempo”, afirma Ana, da PUC-SP. Para eles – e sobretudo para elas –, eis os segredos das mulheres que encontraram o equilíbrio.
1. DESCUBRA O QUE VOCÊ QUER

Para equilibrar as forças que nos dividem, primeiro é preciso reconhecê-las. “Não há como estabelecer prioridades e dosar tempo e dedicação se não temos clareza sobre os valores que estão em jogo e quem somos”, diz a psicóloga Lilian Frazão, da Universidade de São Paulo (USP). O processo pode ser longo e árduo – e doer quando a balança pender para o lado errado. Mas, com o passar do tempo, a dor leva à inevitável descoberta de quanto cada elemento da vida – a família, o trabalho e a individualidade – contribui para sua satisfação pessoal.
ALINE BARABINOT, 33 anos I Empresária Prestou atenção em si para descobrir o que mais a satisfazia. Entendeu  que seria mais feliz e uma mãe melhor se investisse sem culpa na carreira   (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)ALINE BARABINOT, 33 anos I Empresária
Prestou atenção em si para descobrir o
que mais a satisfazia. Entendeu que seria
mais feliz e uma mãe melhor se investisse
sem culpa na carreira
(Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
A empresária Aline Cardoso Barabinot teve a sorte de descobrir cedo que, para ela, o trabalho era tão ou mais importante do que qualquer aspecto da existência. Ela é casada há 12 anos com o francês Jean-Luc. É mãe de duas meninas – a mais velha tem 5 anos, a mais nova 2 meses – e se considera uma workaholic sem cura. Dirige uma consultoria de negócios internacionais, onde trabalha, em média, dez horas por dia. Mesmo em licença-maternidade, já se pegou lendo e-mails pelo celular enquanto amamentava. As viagens ao exterior são frequentes, quase uma a cada dois meses. Tanto que sua filha mais velha, Isabelle, está acostumada a falar com a mãe pelo Skype. Quando a menina ficou doente e Aline estava fora, algo que já aconteceu duas vezes, o coração de mãe apertou. Mas Aline lembrou que precisava confiar nas pessoas com quem deixara a filha: o marido e a babá. “Comecei a trabalhar cedo, aos 17 anos. Nunca consegui ficar longe do trabalho, até durante um intercâmbio na França”, afirma. A confirmação sobre a importância da carreira para ela veio quando a filha mais velha, Isabelle, nasceu. “Era um momento importante para mim, mas sentia que não sou só mãe”, afirma Aline. “A maternidade é uma parte do que sou, mas não a única. Ficaria infeliz se tivesse de abrir mão das minhas responsabilidades profissionais.”
A psicóloga americana Cheryl Buehler, pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte, concluiu que mulheres de vida atribulada, como Aline, podem, sim, ser felizes. Ela acompanhou 1.300 mulheres durante dez anos e se surpreendeu com os resultados de seu estudo, publicado em dezembro no jornal da Associação Americana de Psicologia. As mulheres que trabalhavam fora e conciliavam a dura rotina de mãe e profissional se diziam mais felizes e tinham menos sintomas de depressão do que as mulheres que não trabalhavam. A explicação, segundo Cheryl, é que as executivas tinham mais recursos financeiros do que as donas de casa para contratar babás e empregadas. Mas a felicidade feminina vai além da possibilidade de contar com ajuda em casa, algo cada vez mais raro. Para sentir-se completa, Aline e outras mulheres precisam aceitar o segundo e, talvez, mais difícil mandamento da mulher plena.
2. COMBATA O SENTIMENTO DE CULPA

Foram décadas de luta por oportunidades iguais na educação e no mercado de trabalho. Não é justo que agora as mulheres se punam por não dedicar o tempo que deveriam ao trabalho aos filhos. Ou ao trabalho. Ou ao marido. Ou aos três. “A culpa é o sentimento mais forte da mulher contemporânea”, diz a economista Regina Madalozzo, estudiosa das relações de trabalho e gênero do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
Há dois componentes para explicar a culpa feminina. O primeiro vem da biologia, como resumiu a escritora americana Erica Jong numa de suas frases mais famosas: “Mostre uma mulher que não sinta culpa, e eu apontarei um homem”. As regiões do cérebro responsáveis por notar expressões faciais têm quatro vezes mais neurônios nelas do que neles. A cara de choro de um bebê ao ser deixado pela mãe na escola ou o olhar de reprovação do chefe por uma saída durante o expediente as afetam com mais intensidade. O psicólogo Itziar Etxebarria, pesquisador da Universidade do País Basco, confirmou na prática a maior empatia feminina. Ele mediu a reação de 360 voluntários, entre homens e mulheres, a situações como esquecer o aniversário de alguém importante. No geral, elas se condoíam mais do que eles.
O segundo componente tem origens sociais. A pesquisa A batalha pelo talento feminino no Brasil, publicada neste ano pela organização internacional Center for Work-life Policy, que estuda o mercado de trabalho, rastreou as origens da culpa em 1.100 brasileiras com curso superior, que trabalham em multinacionais. Cerca de 60% se dizem culpadas por não dar mais atenção aos filhos; 44% sentem mais culpa por não cuidar dos pais idosos. Em torno de 40% admitiram pensar em frear a carreira ou desistir dela por causa das dificuldades para conciliar trabalho e família – e por sentir preconceito no ambiente de trabalho. “Algumas mulheres desistem, acreditando que foi uma opção. Não foi”, afirma Regina, do Insper. “Muitas vezes, desistir da carreira é uma defesa feminina para o fato de que não são oferecidas opções para a mulher driblar os obstáculos da vida doméstica.” Uma pesquisa feita em 2010 pelo Fórum Econômico Mundial e conduzida em 20 países, entre eles o Brasil, elencou as barreiras para que as mulheres alcancem os melhores postos de trabalho. A ausência de políticas corporativas para equilibrar a vida pessoal e profissional das funcionárias e a falta de horários flexíveis foram campeões de queixas.
Conformar-se (ou apenas queixar-se) não é solução. “Reduzir os obstáculos à realização profissional feminina não depende apenas de uma mudança cultural, mas também da disposição da mulher para encarar as dificuldades”, diz a socióloga Natália Fontoura, coordenadora de Igualdade e Gênero do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Um bom começo é não se deixar abalar pelas próprias cobranças, ao entender que a origem da sensação de culpa é, em parte, externa. “Na história e na literatura, a mulher foi considerada culpada desde tempos imemoriais”, afirma a filósofa Márcia Tiburi. Na Bíblia, é ela quem provoca a expulsão de Adão do Paraíso, por dar ouvidos à serpente. Na mitologia grega, é quem abre a caixa de Pandora, liberando todos os males do mundo. “As mulheres de hoje herdam esse discurso histórico e se sentem obrigadas a provar que podem ser excelentes profissionais, mães, companheiras e, claro, ainda precisam ser lindas”, afirma Márcia. “Quem não consegue ser essa heroína se sente em dívida, como se não tivesse cumprido seu dever.”
3. APRENDA A ABRIR MÃO

Não há nada de errado em renunciar a algum aspecto da vida quando a escolha é consciente (e autônoma). Pelo contrário. “A mulher precisa entender que o equilíbrio pode implicar fechar alguns caminhos, perdas”, diz a psicanalista Walkiria Helena Grant, da USP. Não dá para ser “supermulher”, por mais que todas tentem e sofram com isso. O termo faz referência à figura do herói dos quadrinhos Super-Homem, mas foi usado em contexto sério pela escritora americana Marjorie Hansen Shaevitz. Em 1984, ela descreveu a síndrome da supermulher, no livro de mesmo nome. Fez sucesso ao criticar a ilusão de que a mulher deve sobressair tanto nos traços naturalmente femininos (como carinho ou beleza) quanto nas características atribuídas aos homens, como segurança e sucesso profissional.
PATRÍCIA DOTTO, 40 anos I Dentista Ela aceitou abrir mão da profissão para se sentir uma mãe completa para  o filho Khess, de 11 meses. Descobriu-se em seu melhor papel  (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)PATRÍCIA DOTTO, 40 anos I Dentista
Ela aceitou abrir mão da profissão para
se sentir uma mãe completa para o filho
Klauss, de 11 meses. Descobriu-se em
seu melhor papel
(Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
A dona de casa Patrícia Azevedo Dotto, de 40 anos, enfrentou sua síndrome de supermulher há dois, quando deixou seu trabalho como dentista e empresária para dedicar-se exclusivamente à família. Casada há dez anos, ela cuidou do enteado Khess e agora se dedica ao filho Klauss, de 11 meses. “As pessoas me questionavam por ter estudado tanto e ter deixado a profissão”, afirma. Ela diz ter sentido insegurança no primeiro momento, mas hoje afirma estar contente com sua escolha. “Entendi que precisava abrir mão de alguma coisa para me sentir realizada como mãe.”
No início do século passado, as mulheres já eram criticadas por ficar em casa, enquanto os homens morriam na guerra. As donas de casa viraram “ameaças à sociedade”, mas não se ofereciam muitas alternativas a esse papel doméstico. Um dos livros que ajudaram a reforçar o preconceito foi o best-seller Generation of vipers (Geração de víboras), do escritor Philip Wylie. As víboras em questão eram as mães amorosas, tidas como responsáveis por mimar os filhos e torná-los fracos. Não era uma crítica feminina, mas sim uma manifestação antifeminina. As feministas do fim da década de 1960 também não perdoavam a escolha pelo papel de mãe em tempo integral. Acusavam essas mulheres de desperdiçar educação. Hoje, a ditadura da mulher profissional começou a esmorecer. “Depreciar a mulher que quer ser mãe é uma distorção”, afirma a intelectual americana Camille Paglia (leia a entrevista completa). “O feminismo deveria encorajar escolhas e ser aberto a decisões individuais.” Isso nos leva a outro mandamento importante:

4. NÃO CEDA ÀS PRESSÕES

Todo mundo tem uma opinião sobre o que as mulheres deveriam fazer com suas vidas. Das feministas que lutam pela igualdade de oportunidades aos conservadores, que defendem a combinação “casamento & filhos”. É duro resistir a essas pressões. Elas tendem a moldar de forma inconsciente as expectativas das mulheres. No passado, as mais estudadas, que ingressavam no mercado de trabalho, ficavam sem casamento. Os homens recusavam atitudes assertivas e independentes. Alguns manuais pós-guerra recomendavam às moças que se fizessem de bobas. Hoje, as demandas são mais variadas e sutis, mas existem.
Nos Estados Unidos, um estudo a ser publicado nas próximas edições do Journal of Family Issues comparou o que os homens desejavam de uma mulher em 1939 e mais recentemente, em 2008. O trabalho revelou que, em 1939, eles preferiam uma boa cozinheira (8º lugar hoje) virgem (10º lugar hoje). Continuam no alto da lista coisas como “ser uma pessoa com quem se pode contar” (era 1º e virou 2º), “estabilidade emocional e maturidade” (foi de 2º para 3º) e “temperamento agradável” (de 3º para 5º). Escolaridade e inteligência estavam em 11º lugar em 1939, saltaram para 4º lugar em 2008. Agora, o que os homens acham mais importante na hora de escolher uma mulher é “atração mútua e amor”. Antes, isso vinha em 4º lugar. Claramente, as coisas estão mudando, mas nem sempre na direção de valorizar o conteúdo das mulheres. A beleza, que no passado era o 14º item da lista masculina, agora está em 8º lugar – e subindo!
NURIA CASADEVALL, 48 anos I Artista plástica Resistiu às pressões da sociedade que sugeriam que ela tinha de casar e ter filhos. Solteira, é feliz ao aproveitar a vida sem limites  (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)NURIA CASADEVALL, 48 anos I Artista plástica
Resistiu às pressões da sociedade que
sugeriam que ela tinha de casar e ter filhos.
Solteira, é feliz ao aproveitar a vida sem limites
(Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
A artista plástica Nuria Casadevall, de 48 anos, comprou a briga contra as pressões sociais. Especificamente, contra a ideia de que mulher tem de casar e ter filhos. Solteira convicta, Nuria é presidente de um portal na internet. Diz que nunca sentiu que seria realizada como mãe. Ela aprendeu que seus valores – como o apreço pelo desenvolvimento intelectual e pela liberdade – não podem ser violentados para atender a preconceitos sobre a felicidade feminina. “Estou sozinha porque quero”, diz. “Procuro um homem que tenha afinidades comigo, caso contrário não há razões para me casar.” O preconceito ainda existe. “As pessoas pensam que mulher solteira é uma rejeitada. Ou homossexual”, diz Nuria. “Mas você vai se importar com o que as pessoas falam de você? Prezo muito a liberdade de fazer o que quiser quando bem entender.” Hoje, Nuria está mais preocupada em cuidar de si mesma. Faz parte de um grupo que pedala à noite pela cidade de São Paulo, parou de fumar, vai à academia três vezes por semana e viaja sempre que pode. Segundo um estudo divulgado em 2010 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento, em países como Reino Unido, Áustria e Holanda, cerca de um quinto das mulheres na faixa dos 40 anos não tem filhos. No Brasil, 40% das mulheres com mais de 15 anos são solteiras e 34%
ainda não tiveram filhos.
5. VALORIZE-SE

Cuidar de si mesma não é mais uma questão de se adequar a padrões estéticos (leia a reportagem sobre as mudanças nos padrões de beleza). É uma forma de proteger nosso bem mais precioso, o corpo. “Hoje, o conceito de beleza está atrelado à saúde”, diz a psicanalista Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza, da PUC-Rio. Uma vida saudável se traduz no bem-estar mental e social. Os cuidados com o corpo da atriz e modelo Sandra Garcia, de 27 anos, cujas fotos ilustram esta reportagem, são exigências da profissão. Mas ela conseguiu transformá-los em ponto de equilíbrio, em meio a seu cotidiano atribulado. Casada há três anos, concilia os cuidados com a filha Manuela, de 6 meses, com a rotina de trabalhos e testes diários, muitos em horários pouco convencionais. “Faço questão de tirar um tempo para mim e de me cuidar”, diz Sandra. A questão não é ficar bonita. É sentir-se bem. Seus hábitos incluem ginástica todos os dias, sessões de drenagem linfática duas vezes por semana e passeios de bicicleta com o marido aos fins de semana – uma forma de temperar com diversão os cuidados com a saúde. “Para estar bem com minha família e com os outros, preciso estar de bem comigo”, diz Sandra. Para conseguir o tempo necessário para cuidar-se, há uma exigência:
MÔNICA NASCIMBENI, 32 anos I Administradora Concilia marido, enteado, filha e cachorro com o trabalho de executiva  em uma multinacional. Mas sabe que precisa ter momentos só seus.  Corre para desestressar  (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)MÔNICA NASCIMBENI, 32 anos I Administradora
Concilia marido, enteado, filha e cachorro com o
trabalho de executiva em uma multinacional. Mas
sabe que precisa ter momentos só seus. Corre
para desestressar (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
6. SEJA EGOÍSTA

Não é preciso ser egoísta no sentido mesquinho da palavra, mas é importante lembrar que você tem direito a algumas horas de seu dia só para você. Sentiu culpa? (Se a resposta for sim, releia o segundo mandamento e coloque a culpa de lado.) A administradora de empresas Mônica Nascimbeni, de 32 anos, já foi uma workaholic e comandante estressada de uma casa com marido, uma filha bebê, um enteado pré-adolescente e um cachorro. Ela percebeu que precisava se lembrar dela mesma quando pequenos imprevistos cotidianos começaram a tirá-la do sério – um sinal inequívoco de estresse. Hoje, sua rotina continua longe de ser tranquila. Mônica deixa diariamente a filha de 1 ano com a avó para encarar um expediente de dez horas numa multinacional. Mas conseguiu encontrar brechas para, simplesmente, pensar em si mesma. Às terças-feiras e quintas-feiras, participa de um grupo de corrida com percursos de uma hora e meia. “As mulheres não sabem dizer não e, por isso, costumam se anular”, diz Christian Barbosa, presidente da consultoria de produtividade Tríade. “Elas precisam urgentemente encontrar brechas para elas mesmas no dia a dia para se equilibrar.” Na receita de bem-estar de Mônica e de qualquer mulher também não pode falar sexo. Por isso:

7. MARQUE HORA PARA FAZER SEXO, SE FOR PRECISO

As mulheres costumam se esquecer desse ingrediente à medida que suas responsabilidades aumentam – um dado preocupante numa sociedade em que a influência feminina cresce. Um estudo divulgado em outubro na publicação científica Journal of Sex Research mostrou que, quanto maior a influência das mulheres nas decisões familiares, menor é a frequência com que elas fazem sexo. A pesquisa foi feita em países africanos por cientistas da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos. Os pesquisadores preferem não arriscar explicações sobre a relação entre poder, sexualidade e as famosas dores de cabeça. Simplesmente anunciaram que farão mais estudos para responder à questão.
No dia a dia, as mulheres sabem intuitivamente a resposta procurada pela ciência: conforme elas ganham poder de decisão e responsabilidades, o desgaste físico e emocional também é maior. Maior inclusive que nos homens. Elas sentem necessidade de abraçar todas as tarefas (culpa, lembra?), enquanto os homens se dão por satisfeitos em fazer bem uma coisa só. Manter a libido sob pressão permanente é mais difícil. A ginecologista Carolina Ambrogini, da Universidade Federal de São Paulo, coordenadora do Projeto Afrodite, que estuda sexualidade feminina, afirma que marcar hora para fazer sexo é (por incrível que pareça) uma boa medida. Ela garante que o compromisso com o prazer e o bem-estar não vai virar outro compromisso chato do cotidiano. “Tem de colocar na agenda”, diz Carolina. A única recomendação é que o sexo programado não vire o único tipo de sexo da relação. Ele é apenas um lembrete prático de que a satisfação sexual é ingrediente básico de uma vida plena. A mesma regra vale para as saídas com os amigos, os jantares a dois, as idas ao cinema e ao teatro.
8. MANTENHA A VIDA SOCIAL ATIVA

A cada duas semanas, Mônica e o marido deixam as crianças com babás ou alguém da família para pegar um cinema ou jantar. Uma regra semelhante é seguida pela publicitária Florencia Lear, de 23 anos, e pelo namorado, o também publicitário Luiz Felipe Villas, de 30. Os dois moram juntos há um ano, depois de quatro de namoro. Estabeleceram que, ao menos uma vez por semana, o destino deles depois do trabalho não é o apartamento do casal. Juntos ou separados, eles rumam para encontros com amigos. Os passeios não precisam ser a cada duas semanas, como os de Mônica, ou semanais, como os de Florencia. Não há receita. Eles querem evitar que o lazer se transforme em outro compromisso. “É preciso dar espaço à espontaneidade, senão até a diversão vira obrigação”, diz Barbosa, da consultoria Tríade.
9. MANDE O MARIDO PARA A COZINHA

Dividir as tarefas domésticas é a melhor medida para combater uma das maiores fontes de insatisfação feminina: o acúmulo das responsabilidades. Aqui, o recado é para os homens. Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, um instituto americano de opinião pública, 62% das pessoas casadas acreditam que dividir as tarefas domésticas é o terceiro elemento mais importante para a felicidade no casamento, atrás apenas de confiança e sexo. A relevância tem explicação lógica. “De forma geral, a mulher e o homem trabalham, mas ele descansa quando chega em casa, enquanto ela começa outro expediente”, afirma a psicóloga Leila Tardivo, da USP. “Essa sobrecarga traz sentimentos de insatisfação e frustração.” No Brasil, segundo um estudo do Instituto de Política Econômica Aplicada, homens e mulheres ainda não dividem as tarefas como deveriam. Um estudo do ano passado mostrou que as mulheres dedicam 25,4 horas semanais ao lar, enquanto os homens 10,1.
FLORENCIA LEAR, 23 anos I Publicitária Há um ano morando com o namorado, percebeu que a vida ficava melhor se ele ajudasse nas tarefas domésticas. Agora, ele é o encarregado do fogão  (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)FLORENCIA LEAR, 23 anos I Publicitária
Há um ano morando com o namorado,
percebeu que a vida ficava melhor se ele
ajudasse nas tarefas domésticas. Agora, ele
é o encarregado do fogão
(Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
Florencia, a jovem publicitária, é novata na rotina a dois. Mas conseguiu o que muitas brasileiras julgam impossível: incluiu o namorado no cronograma de afazeres domésticos. “O Luiz já havia morado sozinho. Ele sabe o trabalho que dá cuidar de uma casa”, diz. Enquanto ela arruma a cama do casal, ele prepara o café da manhã. Quatro vezes por semana é ele quem pilota o fogão (quem chega antes do trabalho compra os ingredientes para o jantar). Ele tira o lixo diariamente. Ela lava a louça e mantém cada coisa em seu lugar para o apartamento não virar uma bagunça. A limpeza pesada fica a cargo de uma faxineira, contratada duas vezes por semana. A ajuda de Luiz Villas não só alivia possíveis tensões, como permite que Florencia tenha tempo para si. Quatro vezes por semana, pelas manhãs, ela faz aulas de ioga para cuidar do corpo e relaxar.
10. TENTE VIVER COM MAIS LEVEZA

É essencial diminuir as cobranças, (consigo mesma e com os outros) e superar o estereótipo da supermulher. “A perfeição não existe”, afirma Leila, a psicóloga da USP. “Administrar nossas falhas não significa se acomodar na incompetência.” Um jeito de diminuir a ansiedade de abraçar o mundo é aproveitar o momento presente, cada um deles. Pela simples razão de que o futuro é essencialmente incontrolável. Planejar, prever e antecipar são verbos conjugáveis até certo limite. Depois disso, é preciso relaxar e desfrutar a vida como ela se apresenta. “As mulheres costumam idealizar o futuro e, por isso, ficam ansiosas com a vida que vem pela frente”, diz Artur Scarpato, psicólogo da PUC-SP. Combater essa ansiedade – assim como a culpa – é um dos segredos das mulheres felizes.
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Uma seleção de produtos para facilitar a vida (exclusiva para assinantes)
O que elas querem (Foto: reprodução)


Educação melhora em SP, mas ritmo é lento


O Estado de S. Paulo - 08/03/2012
 

Mesmo no 5º ano, que teve o maior progresso, crescimento é inferior ao do período 2008-2009

O ensino básico da rede estadual paulista registrou, por meio do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), uma pequena melhora entre 2010 e 2011. Mesmo assim, as notas ainda são inferiores às obtidas nas avaliações de 2008 e 2009. Entre as séries analisadas, os melhores resultados estão novamente no 5.º ano do ensino fundamental.
As notas divulgadas ontem são dados preliminares do Saresp 2011, avaliação anual da rede, e se referem ao desempenho do 5.º e 9.º anos do ensino fundamental e 3.º do médio, em matemática e língua portuguesa (mais informações nesta página).
O 5.º ano foi o que mais avançou em 2011, registrando uma melhora de 4,6 pontos na média de português e 4,4 em matemática. O aumento é quase metade do registrado na pontuação entre 2008 e 2009, quando houve crescimento de 10,4 pontos em português e 11 em matemática.
As notas d0 9.º ano e do 3.º do ensino médio também aumentaram em 2011, mas de forma ainda mais tímida que no 5.º ano. No último ano do fundamental, por exemplo, a nota de matemática foi de 243,3 em 2010 para 245,2 em 2011 - em 2009 era 251.
"Houve uma queda de 2009 para 2010, mas em 2011 conseguimos reverter a tendência", afirma o secretário adjunto da Educação do Estado, João Cardoso Palma Filho. "Ainda não superamos 2009, mas estamos sinalizando um avanço muito importante, especialmente do 1.º ao 5.º ano do fundamental, no aumento do número de alunos nos níveis adequado e avançado."
Em português, o 9.º ano ficou praticamente estacionado, com aumento de 0,4. O ensino médio tem os piores índices: progrediu 0,5 em matemática e nada em língua portuguesa.
O Saresp avalia também os alunos do 3.º e 7.º do fundamental e o desempenho da rede em outras disciplinas. As notas dos estudantes são interpretadas por meio de uma escala de proficiência, em que se vê, por meio da pontuação atingida, o que os alunos sabem ou não em cada disciplina. No entanto, diferentemente dos anos anteriores, a Secretaria Estadual de Educação não divulgou a descrição das habilidades correspondentes à pontuação no nível de escala. Ou seja, não é possível saber qual conhecimento o aluno adquiriu ou não na avaliação de 2011.
De acordo com a gestão Geraldo Alckmin (PSDB), a descrição varia anualmente, de acordo com a avaliação, e "só será possível conhecer a descrição detalhada dos níveis de proficiência após elaboração das análises pedagógicas dos resultados".
Problemas crônicos. Para educadores, apesar da pouca melhora, os dados devem ser vistos de forma positiva. "É pouco, mas avançou", diz a presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha. Ela atribui o progresso ao trabalho dos professores.
Priscila Cruz, diretora executiva do movimento Todos pela Educação, afirma que o melhor desempenho do ciclo I do ensino fundamental ocorre porque existe mais clareza sobre o que o aluno deve aprender nos primeiros anos. "Por isso é importante ter um currículo nacional, que oriente o trabalho do professor em sala de aula", explica.
Os dados do ensino médio, para especialistas, são preocupantes. Para Wanda Engel, do Instituto Unibanco, não adianta ensinar conteúdos dessa etapa se o aluno não desenvolveu as competências no fundamental. "É tentar colocar coisas em cima de uma base inexistente", diz.

Mulheres à beira de um avanço


Autor(es): Heidi Hautala e Janamitra Devan
Valor Econômico - 08/03/2012
 

Em 2010, duas quenianas, Jamila Abbas e Susan Oguya, ficaram irritadas ao ler reportagens sobre a exploração de pequenos agricultores por intermediários. Em resposta, as duas profissionais de TI fundaram a M-Farm, uma empresa que envia em tempo real, para agricultores, os preços de produtos agrícolas e outras informações de mercado por meio de mensagens SMS, interligando-os diretamente a exportadores de alimentos e eliminando intermediários. Agora, menos de dois anos depois, a M-Farm chega a mais de 2 mil agricultores no Quênia, inclusive a muitas mulheres que cultivam pequenas propriedades - e ganhou vários prêmios internacionais.
Abbas e Oguya representam uma nova classe de mulheres inovadoras. Elas construíram um empreendimento lucrativo que dá poder às mulheres e contribui para uma sociedade mais aberta e inclusiva. São mulheres como elas - empreendedoras que fundam empresas, criam empregos e são pioneiras no estabelecimento de igualdade entre homens e mulheres no mundo em desenvolvimento - que comemoraremos no 101º Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.
Forbes publicou na sua lista das "100 Mulheres Mais Poderosas" um novo elenco de mulheres: capitalistas de risco, CEOs de jovens empresas de TI e engenheiras na dianteira de inovações tecnológicas
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2012, do Banco Mundial, que analisa a igualdade entre os sexos, os 3,5 bilhões de mulheres e meninas no mundo ainda enfrentam desigualdades nos campos da educação, emprego, salário e poder de decisão.
O relatório mostra que a desigualdade entre homens e mulheres tem um custo, ao passo que para as mulheres a igualdade pode criar oportunidades econômicas e aumentar a eficiência e a produtividade. Por exemplo, a Organização de Alimentos e Agricultura (FAO, sigla em inglês) das Nações Unidas estima que se as mulheres no meio rural tivessem o mesmo acesso a tecnologia, terra, serviços financeiros, educação e mercados que têm os homens, a produção agrícola poderia ser aumentada e o número de habitantes famintos seria reduzido em 100 a 150 milhões de pessoas.
Há sinais animadores no horizonte. A lista publicada pela revista Forbes - "100 Mulheres Mais Poderosas" - no ano passado listou seu tradicional elenco de autoridades, ativistas e líderes empresariais, mas também incluiu um novo elenco de mulheres no setor de tecnologia: capitalistas de risco, administradoras de jovens empresas de TI e engenheiras na dianteira de inovações tecnológicas.
Mulheres empreendedoras nos países em desenvolvimento enfrentam dificuldades especiais para fundar empresas na economia formal e expandí-las para formar empresas com potencial de crescimento. O relatório do Banco Mundial "Mulheres, Negócios e Direito" (2011), observou que as mulheres em 103 das 141 economias analisadas ainda sofrem discriminação jurídica com base em sexo. O fato de a M-Farm ter se originado no Quênia não é coincidência: segundo o mesmo relatório, o Quênia liderou o mundo em reformas promovendo igualdade entre os sexos nos últimos dois anos.
Novas tecnologias de comunicação também ajudam, não apenas como meio de fazer negócios, mas também em baixar as barreiras sociais. Abbas e Oguya conceberam a M-Farm como membro da AkiraChix, uma organização sediada em Nairóbi constituída por mulheres empresárias e tecnólogas determinadas a "mudar o futuro de África".
Programas de desenvolvimento inteligentes também desempenharam um papel. O programa Criação de Negócios Sustentáveis, um esforço colaborativo criado pelo governo finlandês, pela Nokia e pela InfoDev - uma parceria do Banco Mundial em nível internacional - apoiou a AkiraChix com verbas visando reforçar esse modelo para outras incubadoras empresariais e polos sociais sob gestão de mulheres.
Novas tecnologias também podem gerar empregos para o bilhão de mulheres mais pobres do mundo. Pessoas com nível de escolaridade limitado podem gerar sua própria renda realizando microtarefas, como entrada de dados. Isso muitas vezes requer acesso a um computador, mas um número crescente de firmas estão distribuindo microatividades que podem ser executadas via telefones celulares. Nos países em desenvolvimento estão 80% dos atuais seis bilhões de telefones celulares no mundo, e microatividades podem resultar na criação substancial de emprego e oportunidades para jovens, mulheres e pessoas com deficiências.
A população mundial está hoje em sete bilhões de pessoas e precisamos de homens e mulheres para reagir aos desafios de nosso tempo, como alterações climáticas, segurança alimentar e crescimento econômico sustentável. A história de Abbas e Oguya no Quênia pode ser uma inspiração para as mulheres em todo o mundo. O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para homenagear mulheres como elas - e lembrar que, tendo em vista que as mulheres representam metade das soluções do mundo, tecnologia e inovação também devem ser de sua alçada. (Tradução de Sergio Blum)
Heidi Hautala é ministra de Desenvolvimento Internacional da Finlândia e foi membro do Parlamento Europeu de 1995 a 2003 e de 2009 a 2011.
Janamitra Devan é vice-presidente de Desenvolvimento dos Setores Financeiro e Privado no Banco Mundial.

Educação: futuro em jogo


Autor(es): Mozart Neves Ramos
Correio Braziliense - 08/03/2012
 

Professor da UFPE, é conselheiro do Todos Pela Educação e membro do Conselho Nacional de Educação
Uma análise dos dados acumulados dos quatro primeiros relatórios de monitoramento das cinco metas do movimento Todos Pela Educação, o De Olho nas Metas, revela avanços importantes nas séries iniciais do ensino fundamental (EF), tanto no atendimento quanto na aprendizagem e conclusão escolar. Por seu lado, esses mesmos dados mostram uma nítida estagnação na aprendizagem escolar nas séries finais do EF e no ensino médio (EM), especialmente em matemática. De acordo com análise realizada pelo professor Tufi Machado Soares, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), para a publicação deste ano, se a taxa de conclusão continuar no atual nível de crescimento, teremos apenas 65% de nossos jovens concluindo o EM na idade correta (até 19 anos) em 2021, muito abaixo da meta desejável de 90%.
É importante ressaltar que as metas do movimento são para 2022 e, se alcançadas, colocarão o Brasil no estágio em que se encontravam, em 2005, os países da União Europeia. Portanto, um crescimento discreto ou mesmo uma estagnação, em alguns casos, significa aqui retrocesso, pois o fosso que já nos separa dos países mais desenvolvidos continuará crescendo. Daí o caráter de urgência que precisa ser dado à educação.
Um ponto alarmante que deve ser destacado desse relatório é o percentual de aprendizagem escolar dos alunos da rede pública ao final do EM em matemática. Na média nacional, apenas 5,8% deles saem dessa etapa sabendo o que era esperado. Isso sem falar que muitos ficaram no meio do caminho, ou seja, não conseguiram sequer terminar a EB (como o nome aponta, o básico para a sua educação). Porém, mesmo entre esses que conseguiram concluir o básico, o percentual de aprendizagem adequada é absolutamente vergonhoso para o nosso país. Se esses resultados, como veremos a seguir, ocorressem em outros países, que entendem o verdadeiro papel de uma educação de qualidade para todos, seria caso de "parar" o país para repensar o que está acontecendo.
No Piauí, por exemplo, o percentual de alunos das escolas públicas com aprendizado adequado em matemática, ao final das séries iniciais do EF, é de 15,7%; quando concluem essa etapa, o percentual já cai para 6,4%, e, ao final do EM, vem o pior desempenho, o percentual é de apenas 1,3%. Ou seja, de cada 100 alunos que concluem o EM nesse estado, apenas um aprendeu o que seria esperado em matemática. A situação do Piauí se repete em outros estados. No Amapá, por exemplo, o percentual é de 1,8%; no Rio Grande do Norte, de 1,6%; em Mato Grosso, de 1,5%.
Mesmo no estado mais rico do país, São Paulo, o percentual é de apenas 7,5%. Em língua portuguesa, os percentuais são um pouco melhores, mas nada que nos permita comemorar, tendo a média nacional da rede pública sido de 23,3% para o 3º ano do EM. Mesmo quando contemplamos também os alunos das escolas particulares, os dados não são animadores, atingindo percentual de apenas 11% em matemática e 28,9% em língua portuguesa no 3º ano do EM.
Esse é o verdadeiro drama juvenil. Não querer enxergar esse drama é negar a própria capacidade do Estado brasileiro de cuidar de seus jovens. Em vez de uma boa educação, é preferível cuidar (e mal) dos problemas que decorrem de sua ausência, como as drogas, o alcoolismo e as elevadas taxas de homicídio juvenil.
Os números mostram que é o momento para lançar a versão 2.0 do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que, na primeira fase, estabeleceu um indicador de qualidade para a EB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Esse índice trouxe a cultura de metas para as escolas, municípios, estados e União, e produziu avanços importantes nas séries iniciais do EF, mas ainda não vem produzindo o efeito esperado nas séries finais dessa etapa, e, muito menos, no EM, que vive uma grave crise.
Presidente Dilma, ministro Mercadante, é chegada a hora de convocar os governadores e tomar decisões estratégicas e compactuadas para o enfrentamento, trazendo no bojo o compromisso da sociedade, em especial dos pais e das famílias. Caso contrário teremos um país de economia próspera, mas incapaz de formar os nossos jovens para aproveitá-la. É o futuro que está em jogo.

terça-feira, 6 de março de 2012

Os labirintos do Enem

Claudio de Moura Castro
Veja - 05/03/2012

Todo ministro vive o mesmo dilema: fazer o seu grande projeto, rapidinho, mas com risco de tropeço sério, ou fazer com prudência, mais lentamente, arriscando-se a vê-lo abortado pelo seu sucessor? Apressar o Enem foi uma escolha, diante desses dois riscos. Mas a fragilidade da máquina publica acentuou o perigo de um passo maior do que as pernas, ou seja, um projeto que tenta atingir demasiados objetivos. De fato, apesar dos avanços, o Enem tem falhas técnicas (assunto cuja análise não caberia aqui), de logística e de concepção. Depois que o Enem se propôs a substituir os vestibulares, venceu a licitação um consórcio improvisado e que derrapou para o escândalo do roubo das provas. Só então foi aprovada a escolha, sem licitação, do grupo que incluía o Cesgranrio, a instituição mais experiente no ramo. As aplicações subsequentes tiveram falhas, ainda que bastante limitadas, considerando a magnitude do projeto. Mas os ásperos decibéis das críticas procedentes se mesclaram aos ruídos gerados pela politização do exame, de ambos os lados.


Lamentavelmente, as missões do novo Enem foram ignoradas por quase todos. Ou seja, a discussão erradamente se polarizou em torno do ensino superior, quando a intenção era aliviar o médio da maldição de ser modelado pelo dilúvio curricular dos vestibulares das universidades públicas. Essa é sua função nobre e a justificativa para sua existência. Nas boas universidades, os vestibulares não são mais provas de “decoreba”. De fato, selecionam praticamente os mesmos candidatos que o Enem. Alias, a hipótese de que o Enem seria uma prova socialmente mais justa não resiste a nenhuma análise seria. Então, por que substituir os vestibulares por um Enem gigantesco e caríssimo? E que as universidades são livres para criar seus vestibulares e optam por provas difíceis. Foram feitas para selecionar também os melhores dos melhores candidatos aos cursos mais cobiçados. O excesso de conteúdos envia uma mensagem equivocada para o ensino médio. A 1ógica é simples, embora errada: se cai na prova, e preciso ensinar no ensino médio. Preparando uma prova menos enciclopédica, o MEC poderia conter a corrida do ensino médio, forjado a uma maratona curricular. Cobrindo poucos tópicos, permitiria a ênfase na profundidade.

É por esse critério que o Enem deveria ser julgado. Infelizmente, a análise preliminar das provas sugere que não foi freada a enxurrada de assuntos. A meu ver, essa é a acusação mortal, o resto é detalhe. O Enem tem outras vantagens, como reduzir a correria daqueles que desejam tentar a sorte em varias instituições. Permite também o acesso a instituições em outras cidades. Mas tais aspectos são secundários. Uma decisão imprudente foi optar, prematuramente, por uma prova que permite comparações entre anos diferentes, pois exige que cada questão seja testada com alunos reais. Se houvesse um grande banco de perguntas, a prova seria feita com itens testados há mais tempo. Como o banco é pequeno, obriga a testar as perguntas com os mesmos alunos que vão fazer o Enem, uma opção de alto risco de vazamentos. De fato, isso aconteceu, inflamando a opinião pública. A epopeia de um exame único e gigantesco foi também o preço da decisão de testar perguntas, para obter comparabilidade de um ano para o outro. Sem isso, poderíamos ter várias aplicações, escalonadas no tempo.

Um erro estratégico do Inep foi não sugerir uma ponderação baixa para a redação. Soma-se o caráter subjetivo da correção à logística de lidar manualmente com milhões de provas e a pouca experiência das equipes. Isso gerou uma considerável margem de erro. Se tivesse um peso menor, quando nada, os enganos na sua correção trariam menos dores de cabeça jurídicas para o MEC. Outro equívoco foi trombetear um escore único, no momento em que se fala de diversificação do ensino médio. O correto seria, por exemplo, instruir os cursos de letras para valorizar os pontos em português e os de engenharia, os pontos em matemática. Noves fora? No meu julgamento: (1) as trapalhadas logísticas foram menos importantes do que sugerido pela imprensa; (2) os problemas técnicos com as provas são reais, mas não insolúveis; (3) ainda não foi demonstrada a sua maior contribuição, que seria reduzir distorções no ensino médio. Se falhar nisso, não vejo por que deva existir.







“No Brasil, me sinto fora da jaula”, diz Camille Paglia

Ensaísta participa de congresso sobre jornalismo cultural e diz que quer levar a música brasileira para a TV americana

Entrevista, Vida Urbana - Regiane Teixeira - 17/05/2011



Camille Paglia quer se dedicar a pesquisa sobre música brasileira

Época São Paulo – Você começou a estudar português há algum tempo. Já fala a nossa língua?
Camille Paglia – Sim, eu gostaria de estudar de um jeito mais sistemático e focado, mas nos últimos anos estou tentando aprender tudo que posso. Eu sei muito vocabulário de ouvir música brasileira, mas ainda tenho problemas em entender e falar. Vou bem na hora de ler revistas, jornais e artigos na internet. Um dos meus objetivos é nos próximos anos aprender português e conseguir conversar.

Do que você mais gosta no Brasil?
Essa é a minha sétima viagem ao Brasil. Gosto das pessoas, me sinto muito em casa. A minha família é ítalo-americana. Meus avós e minha mãe nasceram na Itália. Na América você tem de ter cuidado com o que fala. É muito menos expressivo, emocional e livre. Quando eu vou para o Brasil, posso ser eu mesma, gesticulando, falando alto. Principalmente, quando estou no Nordeste. Tenho sorte de dar aulas em universidades de artes porque os alunos estão acostumados a um certo nível de energia. No Brasil, me sinto fora da jaula. A segunda coisa que mais gosto é da comida! Amo feijoada, moqueca, queijo de Minas, as frutas lindas.

Algo a incomoda aqui?
Todo mundo adora te ver, adora o momento, mas depois é muito difícil manter contato com os brasileiros. Vocês são muito do momento, do presente. Eu também gosto de que todo mundo é físico e dá abraços. Nos EUA, você tem que ter muito cuidado. Não há esse tipo de contato físico caloroso. Na América, as pessoas estão sempre analisando tudo, sua relação com os seus pais, com seus amigos, com o mundo. Igual ao programa da Oprah. Isso não faz parte da cultura brasileira. O que, provavelmente, é bom! Quando vocês tem um problema, se fala sobre isso, mas se segue para outra coisa. O estilo americano é muito neurótico.

Como é sua relação hoje com a cantora Daniela Mercury?
Eu a verei na semana do evento em São Paulo. Isso tudo começou há exatamente três anos quando participei de uma conferência na Bahia sobre arte. A Daniela estava em turnê na Europa, mas pessoas que trabalham com ela me deram um DVD dela. Quando voltei para a Filadélfia fiquei absolutamente eletrificada. Pesquisei sobre ela na internet, no YouTube, escrevi sobre ela. Depois ela me escreveu e me convidou para visitar o Carnaval de Salvador. Foi aí que eu a conheci juntamente com o seu namorado, Marco Scabia, que agora é seu marido. Desde então somos amigas e nos encontramos sempre que ela vem aos EUA. Fui ao casamento da filha dela no ano passado. Há alguns projetos de livros sobre os quais estamos conversando. Devo escrever a introdução de um livro. Ela é um tesouro do Brasil, mas quando leio os jornais acho que não há um senso sobre isso, sobre a grande artista que ela é.

Antes desse momento, há três anos, eu estava muito entediada com a arte contemporânea, filmes, artes visuais. Estava desiludida com o estado da cultura contemporânea até conhecer Salvador. Nunca tinha ouvido falar de artistas como a Elis Regina e descobri toda essa música muito rica. Estou terminando um livro sobre artes e depois disso quero voltar toda minha atenção à música brasileira. É simplesmente errado as pessoas do mundo não estarem expostas à música brasileira. As pessoas não deveriam viajar até Salvador para descobrir isso.

Esse seu projeto seria sobre música brasileira contemporânea?
Não. Eu gostaria de mostrar todo o “corpo” da música brasileira. Nos EUA, todo mundo tem TV à cabo e há muitos canais de músicas que vem automaticamente em qualquer plano. Há country, música eletrônica, seis tipos de rock, blues, rap. E música brasileira você só vê de vez em quando no canal de jazz. Os ritmos brasileiros tem de ser representados e deveriam estar aqui em seis canais diferentes, um para cada estilo. Esta é minha ambição. Colocar a música brasileira nos canais a cabo americanos. Só não tive tempo ainda de fazer isso como uma campanha. Talvez precise da ajuda do consulado brasileiro. Quando as pessoas tiverem contato com isso será uma revolução na música.

Hoje, os jovens não sabem o que procurar na internet. Eu adoro seguir a Daniela no Google Alert. Ela é o único Google Alert que eu sigo. Quando o nome dela aparece na mídia eu sou informada por e-mail. Eu sei se ela teve um concerto ontem à noite num lugar escondido no Amazonas. E se alguém coloca um vídeo na internet, 12 horas depois eu já estou vendo.

Há algum artista brasileiro novo na música ou nas artes visuais que você tem acompanhado?
Não, um amigo me enviou CDs do Zeca Baleiro, Céu, Maria Rita e alguns outros. Eu gosto de acompanhar as divas da Bahia. Eu conheci a Margarete Menezes no trio da Daniela e a Ivete (Sangalo), que é a maior estrela pop de lá.

Não há como descrever como isso foi uma revolução para mim. Eu sempre me interessei por arte, filmes de Hollywood, rock. Depois de um momento achei que tudo tinha terminado e não veria mais nada criativo, mas quando cheguei a Salvador fiquei tão animada porque tem tanta coisa para aprender. Não sei o que está acontecendo em artes visuais aí agora. Mas quando estiver em São Paulo, irei aos museus e galerias.

Você sabe algo sobre o movimento gay no Brasil? O que pensa dele?
Eu soube da aprovação da união gay na semana passada. Eu adorei e fiquei surpresa. Esse é o caminho certo a seguir falando de união civil e não de casamento. Nos últimos 20 anos eu critiquei o ativismo gay nos EUA por causa da frase “casamento gay”. Aqui a religião é muito mais poderosa do que na Europa. O casamento gay gerou muitos problemas e o governo não deveria estar envolvido em casamentos, isso é um assunto de igrejas. O governo não deveria se envolver em nenhum tipo de casamento nem homossexual nem heterossexual. Mas a união civil é justa.

Na sua opinião, quais são hoje as diferenças sociais entre homens e mulheres?
As mulheres estão bem colocadas em políticas e negócios. Elas alcançaram o posto mais alto do governo de diversos países. O verdadeiro trabalho precisa ser feito no terceiro mundo, onde as mulheres ainda são tratadas como propriedade e são submetidas a violência doméstica. É muito complicado lidar com o mundo mulçumano. Há muitos conflitos e diferentes valores e princípios entre o Ocidente e o Oriente. O que está acontecendo na França com as mulheres mulçumanas, por exemplo, que foram proibidas de usar véus. É uma grande questão. Não sei o que irá acontecer.

Na semana passada o presidente americano Barack Obama afirmou que o mundo é um lugar mais seguro com a morte de Osama Bin Laden. Qual sua opinião sobre isso?
Estou feliz por eles terem pego o Bin Laden depois de dez anos, mas eu teria preferido que eles o tivessem capturado e o mandado a julgamento. Não sei como foi a situação na qual ele foi morto, mas o modo como ele foi enterrado, a coisa toda não faz sentido para mim. Todo o poder mítico dele teria sido diminuído se ele tivesse sido feito prisioneiro. Estou feliz por ele ter sido pego, mas não acho que muda nada. Não acho que ele estava controlando o movimento, há grupos pequenos pelo mundo todo. Não sei o que muda, só que agora temos que nos proteger de um ataque de vingança este ano, provavelmente próximo a data dos dez anos.

Como você vê o público nas conversas e palestras das quais você participa? Algumas opiniões ainda te surpreendem?
Claro, sempre. O Brasil não é só outro país, é outro universo. Estou tentando aprender tudo o que puder. Essa conferência é sobre jornalismo cultural e vendo o que acontece no Brasil acho que os jovens têm pouca informação histórica das coisas pela mídia. O jornalismo cultural poderia melhorar. Nos EUA, quando um jornal grande fala do lançamento do CD de um artista conhecido há informação histórica, com datas, um contexto para o novo álbum. Isso é muito útil para os jovens. Acredito na importância da história em todos os setores das nossas vidas.


segunda-feira, 5 de março de 2012

MEC vai criar força-tarefa para acelerar creches

Autor(es): agência o globo:Demétrio Weber

O Globo - 05/03/2012

Apenas 221 das 633 unidades que o ministério dá como prontas estão concluídas; PPS quer explicações de Mercadante


BRASÍLIA. O Ministério da Educação (MEC) anunciou ontem que criou uma força-tarefa para, em 60 dias, ajudar as prefeituras a acelerarem a construção de creches e pré-escolas financiadas pelo ProInfância em todo o país. Como O GLOBO mostrou no domingo, um balanço do próprio MEC mostra que só 221 unidades estão concluídas, do total de 633 que a pasta dá como prontas.


"O Ministério da Educação esclarece que o ministro Aloizio Mercadante já havia reconhecido publicamente que as prefeituras conveniadas encontravam dificuldades na execução do programa", diz nota da pasta. "É fato que o aquecimento do setor de construção civil e a morosidade dos processos licitatórios têm levado a um atraso na implantação das creches."


O PPS quer que Mercadante vá à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados explicar por que o número de unidades prontas foi inflado. O deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ), que integra a comissão, deverá pedir a convocação do ministro.


Em nota, o líder do PPS, deputado Rubens Bueno, acusou o governo de propaganda enganosa e de usar a máquina pública com fins políticos: "Está claro que essa foi mais uma manobra para beneficiar o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pré-candidato a prefeito de São Paulo. Trata-se de um estelionato, pois até uma creche inaugurada por ele e pela presidente Dilma, em janeiro deste ano, em Angra dos Reis, não está funcionando".


Como O GLOBO mostrou, o Centro Municipal de Educação Infantil Júlia Moreira da Silva, inaugurado em janeiro pela presidente Dilma Rousseff e por Haddad, em Angra, acabou servindo a outro propósito: recebeu alunos de uma escola municipal que está em obras. Assim, nenhuma criança de 0 a 5 anos pôde ser atendida até o momento.


O MEC admite não saber o número exato de creches em funcionamento, já que a gestão das unidades cabe aos municípios. Pelas contas do ministério, creches que ultrapassam a marca de 80% de execução das obras são dadas como prontas, mesmo que não estejam aptas a receber crianças. É que os repasses federais são feitos no início e durante a obra, com a última parcela paga quando o projeto atinge a marca de 80%.


A ideia da força-tarefa é fazer um levantamento das pendências do programa, que prevê a construção de 8,9 mil unidades até o fim de 2014 - das quais seis mil são promessa de campanha de Dilma. O déficit é de 19.766 unidades. O ministério pediu ao Inmetro alternativas de métodos construtivos para erguer as creches. Com investimento de R$ 7,6 bilhões, o ProInfância aprovou a construção de 4.035 creches de 8,9 mil programadas.






MEC SÓ ENTREGA UM TERÇO DAS CRECHES QUE DIVULGA

CONSTRUÇÃO DE CRECHES, PROJETO QUE ENGATINHA
Autor(es): Agência o globo:Sérgio Marques
O Globo - 04/03/2012

MEC anuncia entrega de 633 unidadesdo ProInfância, mas só 221 estão prontas Embora o Ministério da Educação (MEC) anuncie que já entregou 633 creches e pré-escolas desde o lançamento do ProInfância, programa que pretende construir 8,9 mil unidades até o fim de 2014, o número real é bem menor. O MEC diz não saber quantas creches efetivamente estão em funcionamento, já que a gestão, após o término das obras, cabe às prefeituras. Mas um balanço do próprio MEC revela que, até o mês passado, só 221 unidades estavam 100% prontas. Se forem consideradas outras 37 que apareciam com pelo menos 99% de execução - caso do estabelecimento de Angra dos Reis, inaugurado em janeiro pela presidente Dilma Rousseff e pelo então ministro Fernando Haddad -, o total sobe para 258. As 221 creches completamente prontas correspondem a 5% das 4.035 obras aprovadas pelo MEC desde 2007, quando o programa foi lançado. O número divulgado pelo ministério é maior porque inclui obras que superaram a marca de 80% de execução física, mesmo não finalizadas. O controle do MEC é feito com base na liberação da última parcela do cronograma de repasses. E a derradeira liberação de verbas ocorre quando a construção atinge os 80%. Em nota, o MEC diz não saber o número de unidades abertas, já que cabe às prefeituras tocar as creches. "A princípio, todas as 633 podem estar em funcionamento. Caso alguma não esteja, se deve a uma circunstância localizada", afirma. O MEC sustenta ainda que creches com menos de 100% de execução estão aptar a matricular alunos: "As escolas podem começar a atender crianças quando a empreiteira entrega a obra para a prefeitura. Isso não significa necessariamente que a supervisão da obra esteja em 100%. Muitas obras com percentual abaixo dos 100% estão concluídas e em funcionamento." Não é o que ocorre em Anápolis (GO), a 50 quilômetros de Goiânia, onde só uma creche financiada pelo ProInfância funciona. A unidade, construída no bairro Residencial das Flores, aparece com 80,12% de execução física, mas está longe de poder receber crianças. Na quarta-feira, quando o GLOBO foi ao local, cerca de 25 operários trabalhavam no prédio. Faltava assentar os pisos interno e externo, terminar a pintura e instalar a caixa d"água. Uma placa do governo federal na frente do terreno informava que o término estava previsto para 3 de novembro do ano passado, ao custo de R$ 1,19 milhão. O convênio foi assinado em 2009. O mestre de obras Nivaldo Paulo Cardoso disse que o prazo foi prorrogado para 27 de abril, embora ele pretenda encerrar o serviço no fim de março. - O que está pesando é a caixa d"água - afirmou Nivaldo. Mesmo que a conta do MEC estivesse correta, e as 633 unidades já funcionassem, o ritmo do programa continuaria lento, avalia a coordenadora-geral de Educação Infantil do ministério, Rita Coelho. - Seiscentas também é bem devagar - diz Rita. No Adriana Parque, outro bairro de Anápolis, a desempregada Priscilla Vieira já passou madrugadas na porta de uma creche, em busca de vaga para a filha. Nunca foi atendida. Aos 19 anos, diz não ter com quem deixar a menina. Resultado: não trabalha nem estuda. Priscilla é vizinha do terreno onde está sendo erguida uma creche e pré-escola do ProInfância. A exemplo do que ocorre em todo o país, porém, a obra está atrasada. Com apenas 46% de execução, ela não consta na lista de concluídas do MEC. O convênio também foi assinado em 2009. - Meu medo é que minha menina nem vá precisar mais de creche, quando esta ficar pronta - disse Priscilla na última quarta-feira, ao passar diante da construção, ao lado da filha Fernanda, de 4 anos. Passos de tartaruga não são novidade no ProInfância. As unidades são financiadas pelo MEC, mas a construção fica sob responsabilidade das prefeituras. Cada estabelecimento oferece creche e pré-escola. O Palácio do Planalto teme não cumprir a promessa de Dilma de abrir pelo menos seis mil novas unidades em seu mandato. O MEC estima que o atual déficit no Brasil é de 19.766 creches e pré-escolas. A educação infantil foi historicamente negligenciada no Brasil. Só depois da criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), em 2007, é que essa etapa passou a receber maior atenção, ao ganhar uma fonte específica de financiamento para o atendimento em creches e pré-escolas. O ProInfância foi lançado neste mesmo ano, no maior programa já concebido pelo governo federal para suprir as carências do setor. A falta de vagas no Brasil é crônica. O censo do IBGE mostra que, em 2010, apenas 23,6% das crianças com idade até 3 anos frequentavam creches. Na pré-escola, eram 80%. O público não atendido na faixa de 0 a 5 anos era de 9,5 milhões de crianças. Em Formosa (GO), na divisa de Goiás com o Distrito Federal, o eletricista João Braz Rodrigues tenta uma vaga para o neto Eduardo, de 2 anos. A mãe do menino é sua filha e está desempregada. Sem ter com quem deixar a criança, ela não pode trabalhar. - Minha filha me pediu pelo amor de Deus. Ela quer trabalhar - disse o eletricista na última quinta-feira. Funcionário da prefeitura, ele foi à sede da Secretaria municipal de Educação de Formosa. Queria matricular o neto no Centro Municipal de Educação Infantil Maria Aparecida Hamu Opa, o único do ProInfância em funcionamento no município. Saiu sem a vaga. O ProInfância prevê investimento federal de R$ 7,6 bilhões até 2014. O MEC fornece o projeto arquitetônico, paga a construção, os móveis e eletrodomésticos. A prefeitura dá o terreno. Antes do PAC-2, o ProInfância era tocado por meio de convênios com prefeituras. De 2007 a 2011, foram assinados 2.528. Desde o ano passado, o MEC firma termos de compromisso. Já foram celebrados 1.507 termos, mas nenhuma unidade ficou pronta no primeiro ano do governo Dilma. Estão previstos mais 4.920. Se todos forem assinados e executados no prazo, assim como os convênios, o país terá 8.955 creches e pré-escolas até 2014 - 6.670 contratadas no governo Dilma.

Nas creches já inauguradas, horário integral e um professor em cada sala


Autor(es): Agência o globo:Sérgio Marques
O Globo - 04/03/2012

Em Goiás, unidades ensinam brincando; em PE, expectativa pela inauguração Demétrio Weber, Letícia Lins e Marcelle Ribeiro ANÁPOLIS e FORMOSA (GO), SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE e SURUBIM (PE), ITU e TATUÍ (SP). O centros de educação infantil do ProInfância que já começaram a funcionar são disputados pelos pais e recebem elogios. Além de prédios amplos e limpos, com banheiros infantis separados por turma e faixa etária, eles servem até quatro refeições diárias e podem funcionar em horário integral. Cada sala tem uma professora e uma auxiliar de educação. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) fornece dois modelos padronizados de projeto arquitetônico para 120 e 240 crianças. Existe a opção de reduzir o número de alunos, caso a prefeitura opte por atender as crianças em horário integral. É assim que funcionam as duas unidades do ProInfância já inauguradas em Anápolis e Formosa, em Goiás. Em Anápolis, a creche foi batizada de Zilda Arns e atende 138 crianças, a maioria em horário integral, com entrada às 7h e saída às 17h, podendo ir até as 18h. Nas oito salas, ilustrações com números e letras são coladas nas paredes. As crianças ouvem histórias, desenham, pintam, brincam com massinha e escrevem. - Nosso lema é ensinar brincando - resume a diretora Sandra Costa. Secretária de Educação de Anápolis, Virgínia Maria Pereira de Melo é uma entusiasta do modelo. Ela admite demora no início das obras, mas diz que a experiência dos últimos anos permitirá acelerar a execução do programa. A meta é ter 25 unidades do ProInfância até 2014. Virgínia conta que um dos convênios ainda não saiu do papel porque a primeira e a segunda empresas contratadas por licitação desistiram da obra. Em Formosa, o Centro Municipal de Educação Infantil Maria Aparecida Hamu Opa chegou a ser inaugurado em janeiro de 2011, mas só começou a funcionar em setembro. A secretária de Educação Ione Magalhães Antonini diz que a demora foi causada por supostas falhas apontadas pela vistoria do MEC. Depois, o Tribunal de Contas dos municípios de Goiás teria impedido a contratação de profissionais de apoio, por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal. - Estava com a creche inaugurada, mas não tinha servidores para trabalhar. É uma linha de duas mãos de culpas. Hoje ninguém nos pega mais - diz Ione, prometendo maior celeridade na construção de três unidades. Ana Paula Costa do Nascimento, de 3 anos, gosta tanto da creche do ProInfância em Formosa que chora na hora de ir embora. O pai, José Durval Costa, de 55 anos, conta que a menina faz questão de acordar cedo para ir de manhã: - Ela adora. Para a empregada doméstica Greice Kelle Sousa Porto, de 20 anos, que leva e busca o filho de bicicleta, a creche é o que permite que ela trabalhe: - Sem, não ia ter como. Em duas creches, 590 crianças atendidas Construídas com verbas federais em parcerias com as prefeituras a custos superiores a R$1 milhão, as creches das cidades de Santa Cruz do Capibaribe e Surubim, ambas no Agreste, estão praticamente concluídas, segundo o relatório do MEC. No entanto, as creches Terezinha Figueiroa de Siqueira, em Santa Cruz, e Maria Isabel ainda não estão recebendo as 590 crianças já matriculadas. Mas as secretarias de Educação dos dois municípios asseguram que até o final da primeira quinzena deste mês os dois estabelecimentos entram em operação. Na Terezinha Figueiroa, a mobília está instalada e até a despensa já está abarrotada de alimentos não perecíveis. - Vamos receber 290 alunos e só aguardamos a chegada de 300 brinquedos educativos, livros e computadores para o laboratório de informática - conta a diretora Mônica Miriam Gonçalves de Araújo, que semana passada administrava curso de capacitação para os 47 funcionários, enquanto uma nutricionista ensinava as merendeiras a preparar o alimento do bebês. Na creche Maria Isabel, em Surubim, que o MEC também classificou como praticamente concluída, o mato já exige poda. Secretaria de Educação do município, Maria Berenice Pessoa conta que a unidade já recebeu os brinquedos, mas aguarda os computadores e os livros, que estão em processo de licitação. Ao todo, 300 crianças entre 0 e 4 anos estão matriculadas.












Crianças fora da escola

Autor(es): Mônica Sifuentes
Correio Braziliense - 04/03/2012

Desembargadora Federal - TRF 1ª Região

Há uma frase atribuída a Millôr Fernandes segundo a qual "as estatísticas são iguais aos biquínis: mostram tudo, mas escondem o essencial". Foi mais ou menos com esse sentimento que os brasileiros receberam a notícia, no início do mês passado, de que havia no país, em 2010, 3,8 milhões de crianças e jovens, entre 4 e 17 anos, fora da escola. A informação, divulgada pela imprensa nacional, causou espanto. Isso porque as estatísticas até então apresentadas com euforia pelo Ministério da Educação mostravam um Brasil que caminhava a passos largos para a eliminação completa do analfabetismo, com crescimento expressivo e ascendente das vagas oferecidas para os ensinos fundamental e médio. Se a coisa andava tão bem assim, por que tantas crianças e adolescentes se encontravam do outro lado do muro que separa a vida escolar do mero vaguear pelas ruas?

Os dados revelados pelo movimento Todos pela Educação, com base no resultado preliminar do Censo de 2010, foram realmente preocupantes: há pelo menos 1.156.846 crianças entre 4 e 5 anos sem atendimento escolar e 1.728.015 jovens de 15 a 17 anos fora das salas de aula. Conclui-se, portanto, que pelo menos dois fatores de fundamental importância foram desconsiderados pelos números oficiais: de um lado, a carência no oferecimento de creches e pré-escolas para as crianças pequenas e, de outro, o alto índice de evasão escolar.

A face oculta da moeda, representada pelo número significativo de crianças e adolescentes fora da escola, confirma a assertiva de que, para se garantir o direito pleno de acesso à educação, não basta a abertura de vagas nos estabelecimentos de ensino. Há 40 anos o grande pedagogo Paulo Freire alertava que o problema da educação no Brasil não se resolveria com a aritmética, que chamou de "bancária", resumida na simples equação de quantos estavam dentro e quantos estavam fora da escola. Tampouco funcionaria a aplicação de medidas coercitivas, impostas a pais e alunos, obrigando à frequência. O efetivo compromisso com a educação somente se realizaria com o fornecimento do ensino fundamental de qualidade, apto a favorecer a construção da cidadania e o desenvolvimento integral do homem.

No entanto, o que se tem visto no Brasil é que, uma vez ultrapassada a barreira do acesso à escola, a criança tem pouco ou nenhum incentivo para nela permanecer. As causas da evasão são variadas, e vão desde a falta de transporte escolar e de material didático até à necessidade de trabalhar ou de ajudar os pais em casa. A falta de interesse em permanecer na escola, entretanto, parece ser a maior delas.

De fato, a dinâmica da comunicação e das informações na sociedade de hoje, com a internet e redes sociais, mudou a forma tradicional de transmissão do conhecimento. Com isso, tanto o mundo virtual, como o mundo real, do lado de fora do muro, se apresenta para o jovem muito mais atrativo e interessante. A maior parte das escolas ainda não está pronta para esse desafio, muito embora se lhes destinem computadores e laptops para uso dos alunos. A formação de professores motivados e capacitados a lidar com as novas ferramentas é fator essencial para a transformação do ambiente escolar em algo mais dinâmico e inovador.

Outro fator que merece reflexão é a questão do currículo, muitas vezes distante da realidade e do cotidiano vivido pelos alunos. A relação entre a cultura da escola e a cultura local é fundamental para a consolidação da cidadania. Como esperar que os cidadãos do futuro participem da votação de planos diretores municipais, de orçamentos e projetos comunitários, se desconhecem o ambiente geográfico e social em que vivem?

O Brasil está hoje entre as seis maiores economias do mundo e os otimistas dizem que chegará à 5ª posição, em 2015. A presidente Dilma afirmou mais de uma vez que o desenvolvimento do país depende da educação. Devemos, pois, depositar nesse ponto o nosso maior empenho. Para isso não basta colocar as crianças dentro da escola. É preciso fazer que elas gostem de ficar lá






domingo, 4 de março de 2012

Trabalhadores da Adidas, Nike e Puma em Bangladesh foram maltratados



AFP

Trabalhadores de Bangladesh que fabricam artigos esportivos para Puma, Nike e Adidas foram agredidos fisicamente, afirma o jornal britânico The Observer.

Os bengaleses que trabalham em fábricas destas três marcas, que patrocinam os Jogos Olímpicos de Londres-2012, afirmaram que foram agredidos, insultados e assediados sexualmente, segundo o jornal.

"Em uma fábrica da Puma, dois terços dos trabalhadores entrevistados foram agredidos, socados, empurrados ou insultados", afirma o Observer, que investigou as fábricas em conjunto com a organização War on Want.

Em uma fábrica da Adidas, muitas funcionárias afirmaram que foram obrigadas a retirar as peças que usavam para cobrir os seios.

Trabalhadores das três empresas tinham horários superiores ao limite legal, com remunerações inferiores ao salário mínimo.

Uma porta-voz da Nike afirmou que a empresa está investigando as acusações.

"A Nike leva muito a sério as condições de trabalho de nossas fábricas", disse.

A Adidas destacou que suas fábricas de Bangladesh estavam submetidas a inspeções regulares e que no ano passado identificou "pontos críticos" a respeito dos horários de trabalho e dos salários em uma de suas unidades.

A empresa garantiu ao Observer que a questão dos salários foi solucionada. Também destacou que estava preocupada com as informações de assédio ou agressão física dos trabalhadores, e que investigará as acusações.

A Puma informou ter detectado provas de que funcionários estavam trabalhando mais horas do que o previsto em uma de suas fábricas e se comprometeu a resolver o problema.






sábado, 3 de março de 2012

O papa em Cuba


Ações do documentoAutor(es): Frei Betto
Correio Braziliense - 02/03/2012

Escritor, é autor de Sinfonia Universal %u2013 a cosmovisão de Teilhard de Chardin (Vozes), entre outros livros

Para desgosto e fracasso das pressões diplomáticas da Casa Branca, o papa Bento XVI chega a Cuba em 26 de março. Fica três dias na ilha, após entrar na América Latina pelo México. A 28 de março, celebra missa na Praça da Revolução, em Havana. Bento XVI celebrará, em Santiago de Cuba – histórica cidade do Quartel Moncada, onde Fidel iniciou a luta revolucionária, em 1953 – os 400 anos da aparição da Virgem da Caridade do Cobre.

Em 1998, logo após o papa João Paulo II encerrar sua visita a Cuba, participei de almoço oferecido por Fidel a um grupo de teólogos. Em certo momento, um teólogo italiano manifestou, do alto de seu esquerdismo, indignação pelo fato de o pontífice haver presenteado a Virgem da Caridade com uma coroa de ouro.

Fidel não escondeu seu desconforto. E reagiu: "A Virgem do Cobre não é apenas padroeira dos católicos de Cuba. É padroeira da nação cubana". E passou a relatar como sua mãe, Lina Ruz, católica devota, fez ele e Raúl prometerem que, se saíssem vivos de Sierra Maestra, haveriam de depositar suas armas junto ao santuário para pagar a promessa que ela fizera. Em 1983, ao visitar o santuário pela primeira vez, vi ali as armas.

Por essas "cristoincidências" que só a fé explica e as pesquisas elucidam, a Virgem da Caridade e Nossa Senhora Aparecida têm tanto em comum quanto Cuba e Brasil. Como disse Inácio de Loyola Brandão, "Cuba é uma Bahia que deu certo". As duas imagens foram encontradas durante a colonização: lá, em 1612, a espanhola; aqui, em 1717, a portuguesa. As duas, na água. As duas achadas por três pescadores. Lá, no mar; aqui, no Rio Paraíba. As duas são negras.

O papa chega a Cuba no momento em que o país passa por mudanças substanciais, sem, no entanto, abandonar seu projeto socialista. Há um processo progressivo de desestatização, abertura à iniciativa privada, e mais de 2 mil prisioneiros foram soltos nos últimos meses.

Hoje, as relações entre governo e Igreja Católica podem ser qualificadas de excelentes. Já não há na ilha resquícios do clero de origem espanhola e formação franquista, que tanto incrementou o anticomunismo nos primeiros anos da Revolução, quando um padre promoveu a criminosa Operação Peter Pan: convenceu os pais de 14 mil crianças de que haveriam de perder o pátrio poder e que seus filhos passariam às mãos do Estado...

Carregou as crianças para Miami, sem pais e mães, e o resultado, como se pode imaginar, foi catastrófico. A revolução não foi derrotada pela invasão da Baía dos Porcos, patrocinada pelo governo Kennedy, nem todas as crianças escaparam de um futuro de delinquência, drogas e outros transtornos. Milhares jamais foram localizadas depois pelas famílias.

Tanto o Vaticano quanto os bispos cubanos são contrários ao bloqueio que os EUA impõem à ilha. Pode-se discordar de muitos aspectos do socialismo daquele país, mas ninguém jamais viu a foto de uma criança cubana jogada na rua, famílias morando debaixo da ponte e máfias de drogas. Em Havana, um outdoor exibe um menino sorridente com esta frase abaixo da foto: "Esta noite 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é cubana".

Cuba tem muitos defeitos, mas não o de negar a 11 milhões de habitantes os direitos humanos fundamentais: alimentação, saúde, educação, moradia, trabalho e arte (vide o cinema e o Buena Vista Social Club). O que mereceu elogios de João Paulo II durante sua visita de sete dias – uma das mais longas de seu pontificado.

Hoje, Cuba recebe, proporcionalmente, mais turistas que o Brasil. O que é uma vergonha para nosso país de dimensões continentais e com tantos atrativos. A diferença é que Cuba promove não apenas turismo de lazer (suas praias são paradisíacas), mas também turismo científico, cultural, artístico e desportivo.

A Revolução Cubana resiste há 54 anos, malgrado os atos terroristas contra aquele país, descritos em detalhes no best-seller de Fernando Morais, Os últimos cinco soldados da guerra fria (Companhia das Letras, 2011). E o fato de suportar, no seu litoral, a base estadunidense em Guantánamo, que lhe rouba parte do território, para utilizá-lo como cárcere de supostos terroristas sequestrados mundo afora. Quem sabe a resistência cubana seja mais um milagre da Virgem da Caridade...




Obama pede cautela a Israel


documento
Autor(es): » CAROLINA VICENTIN
Correio Braziliense - 03/03/2012

À espera do premiê Netanyahu, presidente insiste na diplomacia para isolar o regime islâmico

A três dias de receber em Washington o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o presidente Barack Obama deixou ontem evidente a preocupação dos Estados Unidos com um possível ataque de Israel a instalações nucleares do Irã. Enquanto Netanyahu, em visita ao Canadá, convocou a comunidade internacional a conter o regime islâmico em sua "busca implacável por armas nucleares", Obama recomendou cautela para não "ajudar" o adversário, agora que, avalia, o regime de sanções imposto pelas Nações Unidas coloca o país em dificuldades econômicas e isolamento diplomático.

"Em um momento no qual o Irã não goza de muita simpatia, e no qual seu único aliado (a Síria) está em plena ebulição, vamos querer uma distração que permita ao Irã se apresentar como vítima?", questionou Obama, em entrevista publicada ontem pela revista The Atlantic. O tema iraniano, sobre o qual os dois governos têm discordado, será o principal assunto durante o encontro com Netanyahu, na próxima segunda-feira.

"O governo iraniano sente essa pressão e percebe que o custo de seu programa nuclear está aumentando. Isso dá aos EUA uma oportunidade de dissuadir o regime da ideia de se armar com esse tipo de tecnologia", avalia Alireza Nader, especialista em conflito Irã-Israel na consultoria Rand Corporation. "Além disso, não há nenhuma evidência de que o Irã realmente tenha decidido criar essas armas, embora ele esteja desenvolvendo essa capacidade", lembrou ele, em entrevista ao Correio. Mesmo com as diferenças quanto à condução da crise, o presidente americano ressaltou a amizade entre os dois países e a disposição de conter a nuclearização do Irã até por meios militares, se necessário.

"O governo israelense reconhece que, como presidente dos EUA, eu não blefo", assegurou Obama. "Tanto o Irã como Israel reconhecem que, quando os EUA dizem ser inaceitável que o Irã tenha uma arma nuclear, queremos dizer exatamente isso", frisou. As tentativas do presidente, no entanto, podem não ser suficientes para evitar uma guerra. Quanto mais o tempo passa, mais Israel faz questão de ressaltar sua disposição de atacar. O Irã, por sua vez, não dá sinais de que pensa em retroceder. "É como um jogo de pôquer. A gente não sabe quem está blefando e quem está disposto a mostrar as cartas. Mas vamos descobrir isso nas próximas semanas ou meses", disse à reportagem James Lindsay, analista do Conselho de Relações Exteriores.

Eleições
Enquanto isso, na República Islâmica, milhões de eleitores foram às urnas escolher os novos componentes do Majlis (parlamento). A votação está sendo encarada como um novo teste para o regime, que sofre com um racha interno e com a descrença de boa parte da população. O governo não divulgou nenhum número sobre o comparecimento, mas o Ministério de Relações Exteriores afirmou que houve grande participação. "A população está protegendo o país", disse oporta-voz Ramin Mehmanparast. Segundo ele, a presença dos iranianos "frustrou" as expectativas do Ocidente. A emissora britânica BBC informou, em seu site, que alguns apoiadores do presidente Mahmud Ahmadinejad teriam sido orientados a boicotar a eleição. A oposição reformista, cujos principais candidatos foram vetados, decidiu boicotar o pleito.