Autor(es): Heidi Hautala e Janamitra Devan |
Valor Econômico - 08/03/2012 |
Em 2010, duas quenianas, Jamila Abbas e Susan Oguya, ficaram irritadas ao ler reportagens sobre a exploração de pequenos agricultores por intermediários. Em resposta, as duas profissionais de TI fundaram a M-Farm, uma empresa que envia em tempo real, para agricultores, os preços de produtos agrícolas e outras informações de mercado por meio de mensagens SMS, interligando-os diretamente a exportadores de alimentos e eliminando intermediários. Agora, menos de dois anos depois, a M-Farm chega a mais de 2 mil agricultores no Quênia, inclusive a muitas mulheres que cultivam pequenas propriedades - e ganhou vários prêmios internacionais. Abbas e Oguya representam uma nova classe de mulheres inovadoras. Elas construíram um empreendimento lucrativo que dá poder às mulheres e contribui para uma sociedade mais aberta e inclusiva. São mulheres como elas - empreendedoras que fundam empresas, criam empregos e são pioneiras no estabelecimento de igualdade entre homens e mulheres no mundo em desenvolvimento - que comemoraremos no 101º Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Forbes publicou na sua lista das "100 Mulheres Mais Poderosas" um novo elenco de mulheres: capitalistas de risco, CEOs de jovens empresas de TI e engenheiras na dianteira de inovações tecnológicas De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2012, do Banco Mundial, que analisa a igualdade entre os sexos, os 3,5 bilhões de mulheres e meninas no mundo ainda enfrentam desigualdades nos campos da educação, emprego, salário e poder de decisão. O relatório mostra que a desigualdade entre homens e mulheres tem um custo, ao passo que para as mulheres a igualdade pode criar oportunidades econômicas e aumentar a eficiência e a produtividade. Por exemplo, a Organização de Alimentos e Agricultura (FAO, sigla em inglês) das Nações Unidas estima que se as mulheres no meio rural tivessem o mesmo acesso a tecnologia, terra, serviços financeiros, educação e mercados que têm os homens, a produção agrícola poderia ser aumentada e o número de habitantes famintos seria reduzido em 100 a 150 milhões de pessoas. Há sinais animadores no horizonte. A lista publicada pela revista Forbes - "100 Mulheres Mais Poderosas" - no ano passado listou seu tradicional elenco de autoridades, ativistas e líderes empresariais, mas também incluiu um novo elenco de mulheres no setor de tecnologia: capitalistas de risco, administradoras de jovens empresas de TI e engenheiras na dianteira de inovações tecnológicas. Mulheres empreendedoras nos países em desenvolvimento enfrentam dificuldades especiais para fundar empresas na economia formal e expandí-las para formar empresas com potencial de crescimento. O relatório do Banco Mundial "Mulheres, Negócios e Direito" (2011), observou que as mulheres em 103 das 141 economias analisadas ainda sofrem discriminação jurídica com base em sexo. O fato de a M-Farm ter se originado no Quênia não é coincidência: segundo o mesmo relatório, o Quênia liderou o mundo em reformas promovendo igualdade entre os sexos nos últimos dois anos. Novas tecnologias de comunicação também ajudam, não apenas como meio de fazer negócios, mas também em baixar as barreiras sociais. Abbas e Oguya conceberam a M-Farm como membro da AkiraChix, uma organização sediada em Nairóbi constituída por mulheres empresárias e tecnólogas determinadas a "mudar o futuro de África". Programas de desenvolvimento inteligentes também desempenharam um papel. O programa Criação de Negócios Sustentáveis, um esforço colaborativo criado pelo governo finlandês, pela Nokia e pela InfoDev - uma parceria do Banco Mundial em nível internacional - apoiou a AkiraChix com verbas visando reforçar esse modelo para outras incubadoras empresariais e polos sociais sob gestão de mulheres. Novas tecnologias também podem gerar empregos para o bilhão de mulheres mais pobres do mundo. Pessoas com nível de escolaridade limitado podem gerar sua própria renda realizando microtarefas, como entrada de dados. Isso muitas vezes requer acesso a um computador, mas um número crescente de firmas estão distribuindo microatividades que podem ser executadas via telefones celulares. Nos países em desenvolvimento estão 80% dos atuais seis bilhões de telefones celulares no mundo, e microatividades podem resultar na criação substancial de emprego e oportunidades para jovens, mulheres e pessoas com deficiências. A população mundial está hoje em sete bilhões de pessoas e precisamos de homens e mulheres para reagir aos desafios de nosso tempo, como alterações climáticas, segurança alimentar e crescimento econômico sustentável. A história de Abbas e Oguya no Quênia pode ser uma inspiração para as mulheres em todo o mundo. O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para homenagear mulheres como elas - e lembrar que, tendo em vista que as mulheres representam metade das soluções do mundo, tecnologia e inovação também devem ser de sua alçada. (Tradução de Sergio Blum) Heidi Hautala é ministra de Desenvolvimento Internacional da Finlândia e foi membro do Parlamento Europeu de 1995 a 2003 e de 2009 a 2011. Janamitra Devan é vice-presidente de Desenvolvimento dos Setores Financeiro e Privado no Banco Mundial. |
quinta-feira, 8 de março de 2012
Mulheres à beira de um avanço
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