segunda-feira, 5 de julho de 2010

calcanhar de aquiles do Brasil

calcanhar de aquiles do Brasil
Correio Braziliense - 04/07/2010

Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados na quinta-feira mostram progressos, mas mantêm acesa a luz vermelha nas escolas. Nos primeiros anos do ensino fundamental fundamental (destinados a crianças entre 6 e 10 anos), a média em 2009 foi 4,6. A nota representa avanço de 0,8 ponto em relação a 2005 e de 0,4 em relação a 2007. No nível médio, o quadro revelou cores mais sombrias — evolução de 0,2 e 0,1 ponto, respectivamente, no mesmo período.

O país atingiu as metas de desempenho fixadas para o Ideb, mas tem pouco a comemorar. A melhora nos últimos quatro anos não foi suficiente para superar os índices registrados em 1995 — ano em que o MEC começou a avaliar a educação básica. Mais: o Brasil mantém-se longe dos países desenvolvidos. Na 4ª série, eles têm média 6; nós, 4,6. Na 8ª, 5 contra 4. No ensino médio, 5,2 contra 3,6.

Segundo o Ministério da Educação, mais de uma década separa os dois mundos. Mantido o ritmo traçado, em 2021, véspera do bicentenário da Independência, estaremos com o mesmo nível de aprendizagem atingido pelas nações centrais em 2003 (média 6). É pouco. Sobretudo se levarmos em conta que os países que nos servem de parâmetro não ficarão parados. Distanciar-se-ão mais e mais de nós e, claro, se ampliará o hiato que caracteriza desenvolvimento e atraso.

A educação representa o maior desafio para o salto ambicionado pelo Brasil. Sem pesquisa de ponta e mão de obra qualificada, o país não tem condições de transpor a barreira do Terceiro Mundo. Apesar da consciência do calcanhar de aquiles nacional, governos se sucediam sem atentar para as fragilidades do sistema. Investiam na universalização do acesso à escola, mas ignoravam a excelência. De olho no número de matrículas, deixavam em segundo plano a repetência e a evasão.

Criou-se a cultura do faz de conta. Professores fingiam que ensinavam, alunos fingiam que aprendiam, autoridades fingiam que acreditavam. A introdução de avaliações do ensino mostrou que o rei estava nu. Os brasileiros, em testes internacionais, ficavam atrás não só de estudantes do Primeiro Mundo mas também de vizinhos sul-americanos. Em exames nacionais, as médias situavam-se aquém, muito aquém das expectativas.

A reação chegou com atraso. Impõe-se avançar com passos de gigante. Às vésperas de escolher novos dirigentes para o país, o eleitor deve atentar para as propostas dos candidatos. E, passadas as eleições, cobrar o cumprimento das promessas. O Brasil já perdeu muito tempo. A era do faz de conta não pode encontrar eco no século 21.

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