16 de maio de 2011 Valor Econômico
Opinião: O monopólio do quadro-negro
Melhorar a Educação é uma das formas mais claras dos governos deixarem um impacto econômico positivo duradouro
* Raghuram Rajan e Brian Barry
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assim como muitos líderes ocidentais atuais, incluiu a melhora na Educação entre as principais promessas aos eleitores em sua campanha eleitoral.
Outras questões domésticas - reforma da assistência médica, batalhas sobre o orçamento e alto desemprego -, no entanto, acabaram ganhando mais espaço. E os EUA não estão sozinhos: a reforma educacional também está parada no Reino Unido e Europa continental.
Melhorar a Educação é uma das formas mais claras dos governos deixarem um impacto econômico positivo duradouro. Um sistema educacional que funcione bem é a forma mais eficiente de ajudar a equipar as pessoas com o conhecimento e capacitação necessários para aumentar a renda e concorrer na economia globalizada.
Isso significa também levar em conta o papel de sindicatos de professores - uma questão que produz reações muito diferentes da esquerda e direita.
À esquerda, muitos se preocupam que o presidente Obama, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, e outros líderes, se concentram para aumentar a prestação de contas: veem com suspeita qualquer reforma que trate os professores como parte do problema.
À direita, frequentemente a impressão é a oposta: qualquer política - como a de vales educacionais - deve ser boa se os professores se opõem a ela.
Pode ser difícil encontrar algo em comum nesse tipo de debate, onde ambos os lados discordam ferozmente sobre princípios básicos. A concorrência, no entanto, é um princípio que deveria merecer amplo apoio político, pelos benefícios que proporciona às pessoas comuns.
Muitos à esquerda atualmente parecem sentir-se especialmente confusos sobre as vantagens da competição e a abordagem de muitos progressistas para a Educação é um exemplo excelente disso.
Nos EUA, por exemplo, a esquerda hoje vê com estima o "New Deal", de Franklin Roosevelt - e o governo "grande", que o conduziu durante a Grande Depressão e posteriormente.
A esquerda, contudo, deveria também prestar atenção aos eventos anteriores no século XX, durante a Era Progressista, quando a "caça aos monopólios" era a última moda.
Melhorar o sistema educacional é uma das formas mais claras de os governos deixarem um impacto econômico positivo duradouro e de prepararem eficientemente as pessoas para concorrer em um mundo cada vez mais globalizado.
Um dos motivos para as grandes empresas serem consideradas uma ameaça naquela época era seu poder monopolista sobre ativos cruciais para muitos americanos comuns. Os agricultores não queriam pagar preços muito altos para transportar suas colheitas ao mercado e se ressentiam do poder de mercado das ferrovias.
Da mesma forma, os trabalhadores queriam que os empregadores competissem pelos seus serviços oferecendo maiores salários e melhores condições. Eles lutavam contra alianças de grandes empresas que ameaçavam monopolizar o acesso ao capital físico: as fábricas, máquinas e equipamentos que os trabalhadores precisavam para ser mais produtivos.
A arena política importava tanto quanto as políticas de governo: quando seu poder de preços era combinado com influência política, o poder das grandes empresas parecia ficar ainda mais ameaçador.
O medo de que as grandes empresas estivessem prejudicando o bem-estar geral ao coibir a concorrência - e de que fossem politicamente poderosas o suficiente para arraigar seu poder de monopólio - permitiu que reformistas de esquerda e direita encontrassem algum terreno comum.
Os progressistas modernos, analisando o cenário político e econômico dos últimos anos, veem potencial para outra investida sobre as grandes empresas, casando a indignação populista com a força política da esquerda organizada, como os sindicatos. Mas, embora sua antipatia pelas grandes empresas pareça honrar suas raízes intelectuais, os progressistas perderam o fio da meada no que se refere à competição.
Diferentemente de um século atrás, quando o acesso ao capital era a forma mais óbvia de ampliar a produtividade e renda do trabalhador, o ativo mais importante do trabalhador comum hoje é a Educação.
Ainda assim, em vez de encorajar Escolas e professores a concorrer entre si, em nome dos estudantes (os trabalhadores de amanhã), muitos insistem em defender o monopólio dos professores ao acesso à Educação - ou seja, ao acesso a investimentos em capital humano impulsionador de renda.
Da mesma forma que com os primeiros empresários industriais, sindicatos de professores em muitos países têm influência política suficiente para resistir a reformas que corroam seu poder de monopólio.
Alguns sindicatos vêm compreendendo a necessidade de mudança, ou pelo menos fazendo concessões. Em Illinois, os sindicatos de professores apoiaram projeto de lei que incluía regras dificultando greves e facilitando a demissão de professores com mau desempenho. O Chicago Teachers Union, no entanto, posteriormente retirou seu apoio.
É claro, apenas afrouxar o poder dos sindicatos sobre as políticas e encontrar formas de queprofessores e Escolas concorram para ver quem pode oferecer a melhor Educação não proporcionará o conhecimento e capacitação que os trabalhadores modernos precisam.
Os reformistas também precisarão continuar experimentando para encontrar a forma correta de medir padrões - para certificar que os professores concorram nas dimensões corretas - e proporcionar os vários outros tipos de inovações organizacionais e apoio que Escolas,professores e estudantes precisam.
Mais concorrência, contudo, claramente parece ser parte do caminho para se avançar. Ao aceitar isso, progressistas poderiam construir um consenso com centristas e ajudar a trazer melhores resultados para um público central: o trabalhador comum. Chegou a hora de eles reconhecerem que vêm erroneamente defendendo um monopólio poderoso que limita as possibilidades para esses trabalhadores.
* Raghuram Rajan e Brian Barry lecionam na Booth School of Business, da University of Chicago, onde Barry é diretor executivo da Iniciativa sobre Mercados Globais.
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