O Globo - 11/04/2011
Economistas comentam artigo de Arminio Fraga e Pedro Cavalcanti, da FGV, e apontam desafios
A necessidade de se ampliar investimentos em educação e a preocupação com a trajetória da política fiscal nos próximos anos do governo Dilma, tratadas na edição de ontem do GLOBO em artigo de Pedro Cavalcanti Ferreira (FGV) e do ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga, encontram respaldo na opinião de economistas. O controle da inflação, também analisado no artigo "O Brasil na encruzilhada", é outro ponto considerado essencial por especialistas.
Entretanto, a avaliação de que o Brasil pode repetir erros cometidos no fim do milagre econômico, nos anos 70/80 - que levaram o país a viver a "década perdida" -, divide os especialistas, que enxergam um bom momento econômico com desafios menores que os vividos pelo país há 30 anos.
Carlos Langoni, ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, acredita que o desafio da educação no Brasil ainda é gigantesco:
- O Brasil continua investindo mais em capital físico que em capital humano. É necessário infraestrutura, mas o grande desafio é o capital humano, que vem desde a década de 70.
"Brasil precisa radicalizar na gestão fiscal", diz analista
Para ele, entretanto, os atuais desafios do país são bem menos complexos que os vividos nos anos 80, quando comandava o BC. Langoni lembra que naquele momento o país dependia de petróleo do exterior, tinha um déficit externo de cerca de 6% do PIB, não possuía estabilidade econômica e ainda vivia um conturbado processo político.
- Foram registrados muitos avanços, inclusive no modelo de Estado. Naquela época, o Estado liderava os investimentos da economia, hoje é coadjuvante neste processo - disse, afirmando que até o grande peso do BNDES na economia será transitório, diminuindo à medida que o mercado de capitais cresce e surgirem mecanismos de financiamento de longo prazo.
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e atual economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), afirma que a atual situação do país é muito diferente do período pós-milagre, pois o Brasil está muito mais sólido:
- Não temos um abismo à nossa frente - resume.
Em sua opinião, contudo, há necessidade de se ampliar e aperfeiçoar a educação no Brasil. E dois pontos merecem atenção especial do governo: a inflação, que pode começar a gerar um ciclo de reindexações, e a política fiscal, que deve continuar a ser austera nos próximos anos.
A situação fiscal também traz preocupação a Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios. Mas ele acredita que o momento é favorável ao Brasil. Diz que o país avançou nos últimos anos e há um contexto mundial que torna os atuais desafios mais fáceis de serem enfrentados:
- Mesmo o temor do grande peso do Estado na economia é algo para se ficar alerta, mas a sociedade evoluiu nos últimos anos e não aceitará retrocessos.
O economista Paulo Rabello de Castro, vice-presidente do Instituto Atlântico, não vê semelhanças entre os desafios atuais e os vividos pelo país no início dos anos 80. Mas ele diz que "o Brasil precisa radicalizar na gestão fiscal".
- Isso tanto na simplificação dos tributos como nos gastos dos recursos, para obter a eficiência e, por consequência, melhoria educacional - afirmou.
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