segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma breve história do bullying

Época - 28/03/2011


Em contexto




Para enxergar além dos fatos



Camila Guimarães



A história do garoto australiano que ganhou fama na internet e nas redes de TV do mundo inteiro por revidar uma agressão de um colega da escola poderia ter tido um final trágico. Aos 14 anos, Casey Heynes sofria o mesmo tipo de agressão física e verbal que sofrem milhões de crianças e adolescentes em escolas de todo o mundo. Sistematicamente e sem motivo, era atacado física e verbalmente por colegas apenas por ser gordo. Até que, numa espécie de catarse (como mostra o vídeo que virou hit on-line), Heynes contra-ataca seu algoz, o franzino Richard Gale, de 13 anos. O revide foi de tal ordem que poderia ter quebrado o pescoço de Gale. Era a vingança das vítimas de perseguição – especialmente dos gordinhos, que, segundo uma pesquisa americana, têm 60% mais chance de ser atacados.



A prática da perseguição repetida – conhecida pelo termo inglês bullying – é tão antiga quanto a própria escola. Mas só começou a ser estudada como fenômeno com consequências dramáticas a partir da década de 70. De lá para cá, o que era tratado como brincadeira normal de criança virou uma questão tão séria que, em alguns países, como nos Estados Unidos, é considerada assunto de saúde pública.



O próprio Heynes, em entrevista a uma rede de TV australiana, mostrou a exata medida do sofrimento de uma vítima de bullying. “Pensei em me suicidar”, disse. Ele contou que era alvo dos colegas desde o 2o ano do ensino fundamental. “Eles me chamavam de gordo, me davam tapas na nuca (...). Praticamente todos os dias.” Felizmente, a única consequência foi uma suspensão de quatro dias para ambos.



O revide é justificável? Não há consenso entre psicólogos e educadores. Alguns acreditam que sofrer as agressões em silêncio estimula o agressor a repetir seus atos, além de arrasar a autoestima da vítima. Por isso, o revide poderia ser saudável. Se for frequente, funcionaria como uma bomba de pressão cuja válvula é aberta de pouco em pouco, em vez de acumular raiva até uma explosão desastrosa. Mas há quem argumente que o revide apenas intensifica a perseguição. A saída ideal seria denunciar o bullying à escola e aos pais dos envolvidos e promover ações que modifiquem a cultura em que a perseguição floresce.



O bullying ganhou maior atenção das escolas, pais e até de governos quando a violência praticada nos corredores e pátios escolares começou a desencadear reações muito mais violentas e radicais que a de Heynes. Como a dos colegas Eric Harris e Dylan Klebold, que, no dia 20 de abril de 1999, entraram na escola em que cursavam o ensino médio, o Instituto Columbine, nos Estados Unidos, mataram 14 pessoas, deixaram outras 23 feridas e cometeram suicídio.



No Brasil, onde um em cada três estudantes já sofreu bullying, houve um caso parecido em 2003, na cidade de Taiúva, em São Paulo. Um ex-aluno de 18 anos atirou em sete pessoas e depois se matou na escola onde estudava. Na ocasião dos crimes, a polícia considerou o bullying como um dos principais motivadores dos assassinatos.




Universalização da pré-escola esbarra na falta de mais de 100 mil professores

Autor(es): Lisandra Paraguassu
O Estado de S. Paulo - 26/03/2011



O Brasil precisa universalizar o atendimento na pré-escola nos próximos anos e incluir quase 2 milhões de crianças de 4 e 5 anos. A meta, no entanto, esbarra em um enorme problema: faltam, no País, mais de 100 mil professores de pré-escola apenas para suprir essa nova demanda - não entram na conta a substituição de eventuais desistências, aposentadorias ou mudanças de área.



Os números constam de um estudo feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que mostra a necessidade de um aumento de quase 40% no número de professores em todo o País.



Em algumas regiões, no entanto, esse número passa dos 50%. É o caso do Centro-Oeste, em que o aumento precisa ser de 62,3%; da Região Norte, que precisa de mais 58,7% professores; e do Sul, onde a demanda é de mais 53,9%. No Sudeste, o aumento percentual é de apenas 32%. No entanto, esse índice mais baixo representa, em números absolutos, mais de 30 mil professores. No Nordeste são mais 25,7 mil docentes.



O cálculo do Inep leva em conta que, hoje, 75% das pré-escolas estão em redes municipais e 23% em escolas privadas, a maior parte conveniada com o poder público. Com a criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica, que remunera mais as prefeituras que tiverem escolas infantis, a necessidade de professores nas redes públicas pode ser maior.



A formação de professores para a educação infantil é feita pelas escolas de magistério de nível médio. A partir da aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a formação mínima para o professor alfabetizador passou a ser o nível superior.



Já as antigas escolas normais passaram a formar os docentes de escolas infantis. No entanto, o número de alunos dessas escolas vem caindo aceleradamente, o que apenas piora o déficit.



Perda de alunos. Dados levantados pelo Inep a pedido do Estado mostram que em apenas cinco anos as escolas de magistério perderam 155,7 mil alunos, uma queda de quase 45%. Em 2004, eram 350,2 mil. Em 2009, 194,5 mil.



Em algumas unidades da Federação, como Distrito Federal, Rondônia, Roraima, Espírito Santo, Mato Grosso e Acre, já não existem alunos em escolas de magistério. Em São Paulo, são apenas 630.



Apenas o Rio de Janeiro tem, hoje, um número considerável de alunos de magistério. O Estado concentra quase um quinto de todas as matrículas do País, pouco mais de 40 mil alunos. Pernambuco ainda tem 35 mil matrículas e o Paraná, pouco mais de 25 mil.



No Distrito Federal, a formação de nível médio se tornou obsoleta: mesmo para a educação infantil, o governo local não contrata professores sem curso superior. A realidade na maior parte das cidades, no entanto, não é essa - principalmente nas redes municipais de educação. Apesar de um aumento relativo na formação de pedagogos, o déficit de professores em todos os níveis além da educação básica ultrapassa os 200 mil docentes.



Fora da escola. De acordo com informações do estudo do Inep, existem hoje no País 1.832.953 crianças de 4 e 5 anos fora da escola. Até dois anos atrás, a educação primária obrigatória era apenas de 7 a 14 anos - o ensino fundamental.



Uma emenda constitucional aprovada em 2009 ampliou essa faixa para incluir a educação infantil e o ensino médio.



O cálculo do Inep leva em conta a atual realidade das turmas de pré-escola, que varia de 13 a 20 crianças por turma, dependendo do Estado ou da região. O número ideal é de 15 crianças, mas essa não é a realidade na maior parte das regiões.

Educadores reforçam valor do ensino infantil

O Estado de S. Paulo - 26/03/2011


O ensino infantil tem recebido mais importância nos últimos anos no País. Se até há alguns anos a preocupação com o aprendizado da criança costumava acontecer a partir do momento em que ela completava 6 anos e entrava na pré-escola, esse panorama tem mudado bastante.



Segundo os educadores, os primeiros anos de vida também são anos de educação. A construção da inteligência, bem como a aquisição de habilidades, são desenvolvidas nessa fase. Por isso, é importante que a criança tenha acesso a conteúdos lúdicos e possa socializar e ter experiências sensoriais e motoras. Não se trata de acelerar a aprendizagem, mas de trabalhar o que a criança já pode absorver.



O essencial, segundo os especialistas, é que isso aconteça em instituições de caráter educacional e não assistencial, como ainda é comum no Brasil. Creches e escolas, no entanto, devem apenas complementar e não substituir a família.

Escola integrada desafia limitações da rede pública

Escola integrada desafia limitações da rede pública
Autor(es): Ocimara Balmant

O Estado de S. Paulo - 27/03/2011



Pablo Henrique de Sousa, de 7 anos, ganhou um acessório novo neste ano. Sobre o uniforme da escola municipal de Sorocaba, ele ostenta um colete verde limão. É o que mostra que ele é um aluno de tempo integral: fica das 8h30 às 17h30 no colégio.



Por enquanto, ele é exceção. Atualmente, só 6% dos alunos têm ao menos sete horas diárias de jornada escolar. Mas, uma das metas do Plano Nacional de Educação, em trâmite no Congresso, é que até 2020 metade das escolas públicas ofereça educação básica em tempo integral.



Para isso, o governo aumentou o repasse de verbas para as escolas públicas com jornada ampliada. O acréscimo do Fundo da Educação Básica (Fundeb) é de 25% para o fundamental e 30% para o médio. Porém, a implementação ainda esbarra em problemas de infraestrutura e de formatação de conteúdo.



"Precisamos agir porque o Brasil está a reboque. Os países desenvolvidos oferecem isso há séculos e nações vizinhas, como o Chile, universalizaram a educação básica integral", diz Silvia Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. "Mas precisa ser benfeito, com projeto pedagógico adequado."



Como o Ministério da Educação não prevê um currículo único, as experiências são variadas. "Cada cidade se planeja de acordo com suas peculiaridades", explica Isabel Santana, gerente da Fundação Itaú Social. Em seminário sobre o tema nesta terça e quarta-feira, o órgão vai lançar o documento "Perspectivas de Educação Integral", em que mapeia tendências espalhadas pelo País.Foram consideradas 16 iniciativas que mostram que a educação integral deve considerar tempo, espaço e conteúdo.



Formatos. Não há um número de horas estipulado, mas é preciso que o tempo seja suficiente para execução das atividades. Em Apucarana (PR), por exemplo, os alunos chegam às 7h30 e ficam até as 16h. "Como nossa cidade é pequena e eles moram perto, ainda sobra tempo para brincarem na rua", explica Cláudio Silva, diretor da autarquia municipal de Educação.



A cidade foi uma das pioneiras na prática. Implantou o formato em 2001 e hoje todos os alunos do ensino fundamental passam o dia na escola. Em 2009, a nota de Apucarana no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), foi de 6,0, meta do governo federal para 2020.



Crescer na avaliação não depende só do número de horas, mas também do que é feito nesse tempo extra. "Fazer a articulação dos dois currículos é uma coisa bastante difícil. O aluno não pode ficar a manhã toda achando muito chato assistir às aulas de matemática e compensar a canseira se divertindo à tarde", diz Maria Estela Bergamin, do Centro de Estudos e Pesquisa de Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). "A ideia integral não pode ser formar artistas ou esportistas. Se vai ter oficina de dança moderna, ele estuda hip hop na aula de português."



Outro desafio na questão do conteúdo curricular é evitar que a jornada ampliada se transforme em reforço escolar. Estudo do MEC que ouviu 500 escolas em 2009 mostrou que 61,7% delas usavam o tempo para isso.



Sem espaço. Com escolas públicas que atuam no limite de seu espaço físico, mesmo com turnos de quatro horas, conseguir espaço para abrigar alunos o dia todo é a questão mais complexa, segundo especialistas. "Não dá para esperar que sejam construídas escolas adaptadas para a educação integral. O custo é alto e o processo iria demorar. É bom utilizar escolas com boa infraestrutura para testar modelos, mas tem de usar outras alternativas", diz Isabel, do Itaú Social.



É o que acontece em Sorocaba. A experiência começou em 2007 e, em três anos, o programa, conhecido como "Escola do Saber" atende a 6 mil alunos do ensino fundamental em três formatos diferentes: quatro escolas foram construídas exatamente para esse fim - ginásio poliesportivo e anfiteatro -; outras utilizam espaços como salões paroquiais e clubes e algumas ganharam um anexo, espaço onde se realizam atividades extraclasse.



Pela complexidade do processo é que educadores ponderam sobre a meta do MEC de, em dez anos, ter 50% das escolas com jornada ampliada. "Advogamos uma mudança gradativa. Não adianta ampliar sem dar condições e treinamento para os professores", diz Estela, do Cenpec.



Para Cleonara Schwartz, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, não se pode usar o tempo integral para resolver uma questão social. "A escola não existe para evitar que a criança fique na rua. Essa não é sua função. Se isso acontecer, vai ser mais uma medida paliativa dessas que a gente vê no cenário educacional."



Planejamento



1.400

municípios de todos os Estados do País devem receber recursos do Fundeb para a educação em tempo integral neste ano



7h

diárias de estudo é o tempo mínimo que uma escola de jornada ampliada deve oferecer ao aluno, dentro ou fora de seus muros

A universidade brasileira e a excelência internacional

Autor(es): Luiz Cláudio Costa

Correio Braziliense - 28/03/2011



Ex-reitor da Universidade Federal de Viçosa, é secretário de Ensino Superior do MEC



Em uma sociedade do conhecimento, as universidades de excelência internacional são instituições cruciais para a formação de profissionais criativos e cidadãos plenos, capazes de promoverem avanços na ciência e tecnologia, bem como na construção de um sistema eficiente de inovação tecnológica. A inserção das universidades de um país no ranking das universidades de excelência internacional é um indicador claro da importância dessas instituições como agentes de desenvolvimento de uma nação. No Brasil, apesar do claro entendimento e dos investimentos do governo federal nos últimos anos na área de educação, a inserção das universidades entre as melhores do mundo ainda não é realidade.



Diversos índices foram criados para comparar e ranquear as universidades de diferentes países do mundo. Desde então, tornar-se uma universidade de excelência internacional deixou de ser simplesmente uma questão de tradição ou desejo. Entre os índices mais aceitos e divulgados pela comunidade internacional estão o Times Higher Education (THES) e o Shanghai Jiao Tong University (SJTU). Apesar das críticas e dos questionamentos sobre a filosofia e a metodologia desses índices, algumas delas muito legítimas, um fato é evidente, as universidades mais bem ranqueadas por eles são aquelas que ao longo da história mais têm contribuído para o desenvolvimento social e econômico de seus países e, na maioria dos casos, da humanidade.



Os avanços do Brasil na área de educação vêm sendo, nos últimos anos, destaque em diferentes organismos internacionais. Relatórios do Banco Mundial apontam o Brasil como o país que mais avançou em aumento de escolaridade e, segundo dados da OCDE, o terceiro país que mais evoluiu em qualidade da educação básica. O último relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), publicado em novembro de 2010, destaca, em capítulo pela primeira vez dedicado a um país da América do Sul, a grande evolução da produção científica brasileira nos últimos anos.



Segundo o relatório, o Brasil produziu 26.482 artigos científicos em 2008, colocando o país na destacada posição de 13º produtor de conhecimento novo do mundo. O relatório indica ainda que 90% das publicações científicas brasileiras são oriundas das universidades públicas, que ao mesmo tempo detém 57% dos pesquisadores brasileiros, outros 6% estão em institutos de pesquisas e 37% em instituições privadas. Da mesma forma, o Brasil conseguiu avançar em muito a sua formação de doutores, alcançando, em 2008, 10.711 titulados, contra apenas 554 em 1981. Com tais indicadores, seria de se esperar que as universidades brasileiras figurassem entre as melhores universidades do mundo. No entanto, isso não ocorre. O índice THES foi publicado pela primeira vez em 2004 e desde então nenhuma universidade brasileira esteve entre as 200 primeiras.



Acadêmicos que se dedicam a definir o que seria uma universidade de excelência internacional identificam algumas características básicas: professores altamente qualificados; excelência em pesquisa; alto nível de investimento do governo e privado; estudantes altamente qualificados com alto nível de internacionalização; autonomia acadêmica, estrutura de gestões eficientes e autônomas e bem estruturadas instalações de ensino, pesquisa, extensão, administração e assistência estudantil.



Uma agenda estratégica de incentivo à internacionalização, com fluxo de professores e estudantes de excelência internacional, e o fortalecimento da agenda da autonomia na gestão das atividades de ensino, pesquisa e extensão podem levar, dentro em breve, o Brasil a ter algumas de suas universidades figurando entre as melhores do mundo.



Buscar o reconhecimento internacional para o ensino superior brasileiro não é simplesmente uma questão de status, mas uma ação estratégica para um país que tem dado ao longo dos anos uma efetiva contribuição científica e tecnológica para a melhoria das condições de vida no planeta.