Observatório da Imprensa
Por José Alexandre em 8/6/2010
No jornal O Estado de S. Paulo de 24/05/2010, em "A educação vem em sexto lugar", temos uma entrevista com o empresário e presidente do movimento Todos pela Educação, Jorge Gerdau Johannpeter. Num país que não priorizou a educação pública, vemos como saudável a iniciativa do empresário de encampar seu movimento após sentir que seus operários, com pouca educação formal, não produziam o suficiente. Vale registrar que certa feita o historiador Evaldo Cabral de Melo afirmou que nossa elite sempre foi burra. truncado noção de que falta investimento e a necessidade de gestão adequada na educação: "Faltam recursos para a educação? Falta gerenciamento? Eu diria que os recursos são insuficientes em relação ao PIB. Mas o problema hoje é menos de recursos e mais de gestão. O Brasil precisa de mais recursos com melhoria de gestão."
Que em nosso país a coisa pública é mal gerida não chega a ser novidade. Entretanto, o problema maior talvez seja de outra ordem. Exemplo disso tivemos no jornal O Globo em "A educação passada para trás". Na matéria, técnicos do MEC afirmam que 21 estados deixaram de repassar 1,2 bilhão de reais ao ensino básico através do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), direcionando o montante a outros setores. Algumas secretarias de Educação se manifestaram, afirmando que o MEC errou. As justificativas poderiam nos deixar tranquilos caso não soubéssemos que no Brasil a desonestidade é prática corrente.
Já em Veja, edição 2164, de 12 de maio de 2010, temos mais um ataque ao emprego das teorias construtivistas na educação. Infelizmente, um assunto que merece ser discutido de forma aprofundada recebe tratamento superficial no semanário da editora Abril. Muitos educadores já perceberam que algo vai mal na educação infantil, dado o número de egressos no sexto ano, ou quinta série, com defasagens que não se esperam nesta fase. Evidente que tal situação não é culpa apenas do construtivismo, que tem bastante força no Brasil, mas demonizar este conjunto teórico em benefício de uma suposta "pedagogia tradicional" não ajuda em nada.
Indignação passa depressa
Como vimos, O Estado de S. Paulo se preocupa em entrevistar um empresário preocupado com a educação no país. Isso não deixa de ter valor simbólico, considerando que o histórico da elite nacional não registra nenhum tipo de preocupação com a educação das camadas desfavorecidas, ainda que para explorar sua mão-de-obra. Ainda que não sejamos tão entusiastas das favorecidas, ainda que para explorar sua truncado visão empresarial de Gerdau sobre a educação, ponto para o jornal e a colunista.
Sobre a reportagem de O Globo, mesmo que a contabilidade do MEC tenha falhado em algum ponto a respeito do repasse das federações ao Fundeb, de forma alguma soa implausível que os estados desviem verbas da educação para outros setores. Não percebemos isso como um absurdo justamente pelo fato de a educação nunca ter recebido a devida importância em nosso país, tanto pelos dirigentes políticos quanto pelas pessoas simples. Ainda que nos sintamos indignados diante de uma reportagem que noticie desvios de verbas públicas que poderiam reformar e ampliar escolas, a indignação passa depressa.
A elite sempre foi burra
Nesse cenário parece importar menos ainda as discussões sobre como ensinar, seja na educação infantil ou nas outras fases da educação básica. Se contamos com escolas mal aparelhadas e com acomodações insuficientes para a população escolar além de professores mal remunerados e desmotivados, por que alguém daria a devida importância então para as teorias cognitivas que norteiam a ação dos mesmos professores? A questão é que na visão peessedebista de Veja, o principal problema para a educação é a má gestão dos recursos, idéia também presente na entrevista com Gerdau (este último ao menos admite que faltam investimentos).
Em resumo, podemos afirmar que o sistema educacional brasileiro não consegue proporcionar formação adequada à população. Mesmo a formação que leva à maior produtividade nas grandes indústrias. Alguns empresários começam perceber isso de forma tardia. Como de certa feita afirmou o historiador Evaldo Cabral de Melo, nossa elite sempre foi burra.
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